Delfim
Netto na introdução de “O espírito animal” de Akerlof e Shiller (2010), sugere
que devemos abandonar a suposta racionalidade dos mercados, para com base
nas teorias do comportamento coletivo (...) entender o comportamento de manada,
quando o consumidor voraz passa a ser parcimonioso e o empresário
excessivamente prudente.
[Qual]
a razão pela qual a coerência deixa de existir, de tempos em tempos, ou seja, o
motivo que torna a economia tão suscetível a ameaças ou até mesmo a verdadeiras
e profundas depressões?(MINSKY, 2010, p.161).
À medida que a euforia do boom se propaga, as empresas aceitam planos
de financiamentos cada vez mais arriscados. A partir daí, o menor choque,
aparentemente acidental, já revela este desequilíbrio latente entre rendimento
financeiro e rendimento de capital produtivo e precipita uma crise (BOYER,
1990, P. 32).
Da
mesma forma que a teoria do multiplicador keynesiano explica como cada dinheiro pode ser criado, também elucida
como a cada dinheiro não gasto,
corresponderia uma cadeia de corte de despesas. O mesmo multiplicador, que foi
denominado antes por Marx de capital fictício, quando haveria uma necessidade
de estender e transpor os obstáculos da circulação e da esfera da troca, mas
não somente em função especulativa de mercado de capitais, mas em razão também da
valorização das marcas, pois a aceitação tácita desta valorização,
necessariamente ajudaria o capital a transpor os limites da sua necessidade de
multiplicação.
Podemos
enxergar tanto determinado fetiche marxista, observações de Smith sobre a
emulação das classes sociais, questionamento sobre a perenidade da demanda
agregada keynesiana, o modo de despertar o desejo de consumir na visão schumpeteriana,
last but not least,
o
fomento ao crédito de Kalecki. Porém perguntas sempre ficarão no ar: até que
pondo poderá ir à desigualdade do consumo?
A
atual vem sendo combatida (e também o foi em 1929) por vigorosos incentivos
governamentais e no Brasil estímulo a tomada de crédito, objetivando alavancar a
demanda, face que em nossas observações, a dificuldade não está em fazer
comprar, mas sim em como conseguir pagar, pois será que este desejo de consumir
não é latente na maioria de nós?
O
que faremos, nesta brincadeira de dança das cadeiras, quando a música parar?
(Eu
acredito que) a prosperidade exige mais do que livres mercados...
Referências (Além da óbvias: Marx, Kalecky, Keynes e Schumpeter) :
BOYER, Robert. A teoria da regulação – Uma análise crítica, São Paulo: Nobel, 1990.
MINSKY, Hyman P., Estabilizando uma economia instável, São Paulo: Novo Século Editora, 2010.
SCHILLER, Robert, AKERLOF George, O
espírito animal: como a psicologia humana impulsiona a economia e a sua importância
para o capitalismo global, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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