terça-feira, 30 de junho de 2009

"Eu vou bater em minha mulher até ficar satisfeito..."



Me and The Devil Blues (tradução livre)
Robert Johnson

"Hoje de manhã cedo quando você bateu na minha porta
E eu disse "Olá, Satan, acho que é hora de ir"
Eu e o demônio andávamos lado a lado
Eu vou bater em minha mulher até ficar satisfeito
Ela diz que não sabe porque aquilo
Vou tratar ela como um cachorro
Deve ser aquele velho demônio tão enterrado no chão
Você pode enterrar meu cadáver na beira da estrada
Então meu velho demônio pode pegar um ônibus e dirigir"

Filho de lavradores, Robert Leroy segundo alguns e Robert Lee por outros (Johnson era apenas um nome artístico-ou não?), nasceu (?) em 1911 no Mississipi, trabalhou, ou melhor, foi explorado nos campos de algodão americanos até os 16 anos, me lembrando as palavras do economista-filósofo Rodbertus (1805-1875): "Originalmente, foi a escravidão...Quando toda a terra se tornou propriedade privada, todo o capital passou aos particulares...assim, em lugar do dono de escravos, surgiu o contrato entre trabalhadores e empregadores...quase sempre a fome substitui a chibata e o que era chamado ração dos escravos agora se chama salário".
Resolveu então ganhar o mundo, tocando seu rústico violão, viajando e se apresentando em qualquer lugar que pudesse, a saber: puteiros e inferninhos.
Tocava mediocremente, mas preferia esta vida livre a sua outra, até que uma noite, quando esperava solitário um ônibus, numa encruzilhada, surgiu um homem que mudaria sua vida, este perguntou se ele era músico, tendo o sim como resposta, mais uma vez quis saber:
- Você gostaria de tocar como nenhum outro jamais tocou?
Robert fez que sim com a cabeça, talvez por não saber a pergunta, a resposta ou se teria algum preço. Talvez simplesmente, por estar bêbado demais, encharcado de Jake (uma bebida feita do extrato de um gengibre jamaicano, com um teor altíssimo de álcool etílico (de 70 a 85 %) e que era comercializado no início do século XX como um tônico medicinal para todo tipo de doença, o que evitava sua proibição pelas leis americanas, além de ser muito mais barato que o whisky...).
O tal homem pediu o violão de Robert, mexeu nas cravelhas de afinação e o devolveu:
- Seu ônibus está chegando, vai...que você nunca mais irá precisar afinar sua "guitarra"...
O fato (?) é que quem o viu tocar um mês antes, não acreditava na sua evolução como músico, o instrumento afinado um tom abaixo, deixando as cordas mais soltas, riffs mais elaborados e maior ênfase no uso das cordas graves para criar um ritmo regular.
Em 1936, Robert gravou em somente 5 dias, todas as suas músicas conhecidas (e que mudariam o blues). Aos 27 anos, dois anos depois, partiu desta, de forma incerta, uns contam que foi um marido ciumento (raça desgraçada esta) que o envenenou, outros uma amante, alguns que foi um tiro no abdome, sangrando lentamente por três dias. Também existem versões de morte por espancamento e apunhalamento...

domingo, 21 de junho de 2009

Igrejas Evangélicas – Propaganda e Excedente do Consumidor

Loba disse...
Pela lógica da tese cética de que tudo tem seu preço, a fé é bem cara, né?Pensando aqui: quem vai pra igreja com a carteira cheia não estará, inconscientemente, querendo comprar o céu? O que mais se compra com o dinheiro que se leva?

Cherry disse...
Renato...Eu trabalho num lugar infestado (rs) de evangélicos... O q mais me irrita é o fato deles se acharem superiores ao resto (resto?) da humanidade. E são tão humanos, cheios de defeitos, qtos os demais mortais. Essa coisa deles apontarem o dedo e gritarem: Pecador, já pro inferno!" sabe? Enfim...Mais religião cada um tem a sua, né?Beijos!
Com toda certeza, as igrejas conhecidas por evangélicas, possuem algum tipo de mensuração, para avaliar a arrecadação das mesmas, versus seu tempo de televisão, isto sem contabilizar a otimização do mesmo tempo, via aquisição direta de canais, eliminando assim a intermediação. Quanto mais tempos os pastores tem na telinha, diretamente proporcional, deve crescer o rebanho e a contribuição deste, ou seja, o produto é vendido e comprado. Este tempo televisivo, seria a propaganda, medida em sua eficiência por um coeficiente chamado "elasticidade de propaganda", em bom português, o quanto a propaganda influencia (ou não) o aumento do consumo.
Um breve parêntese de economes: Mas por que nem todas as empresas investem em propaganda? Uma empresa perfeitamente competitiva não tem razões para investir, porque adota o "preço de mercado", como premissa para vender o que produz, por essa razão, produtores de milho, soja, etc., não fazem propaganda.
Pulando demais informações matemáticas (porém, academicamente fundamentais), a dificuldade na aplicação de "regras para propaganda", está justamente na disponibilidade de informações sobre esta "elasticidade de propaganda" citada. Intuitivamente, porém, até os que não sentaram nos bancos escolares da economia, podem perceber que qualquer empresa deve investir (muito) em propaganda quando a demanda for muito sensível a propaganda ou a demanda não é muito preço-elástica, calma, vamos lá, no caso de alguns produtos, a publicidade amplia o mercado, atraindo uma grande gama de consumidores, se a propaganda puder ajudar a vender mais, ela provavelmente justificará seu custo, obviamente atrelado este vender mais a sua receita marginal.
Uma estratégia de preços tem por objetivo ampliar a base de clientes para os quais a empresa pode vender e captar o máximo possível de excedente do consumidor. Existem diversas formas de se atingir estes objetivos e eles normalmente envolvem a determinação de diversos preços.
Por definição, excedente do consumidor é a diferença entre o preço que um consumidor estaria disposto a pagar por uma mercadoria e o preço que realmente paga ao adquirir a mercadoria. O comerciante tem por objetivo, "capturar" este excedente para si, e não deixando este "excesso" para o próprio consumidor. Tome por exemplo a venda de um carro, que custa em média 20 mil (preço de mercado), o consumidor estaria disposto a pagar por ele até 21,5 mil, porém se o vendedor, com base em seus argumentos, consegue vender este carro por 23 mil, conseguiu para si um excedente do consumidor de 1,5 mil, por outro lado, se o comprador se mostra um bom negociante e consegue reduzir o preço final para 19,5, este sim, conseguiu um excedente de consumidor de 2 mil. Fecha parêntese.
Nas igrejas evangélicas ocorre o mesmo, vide um culto (entre tantos iguais) que me foi relatado: Um pastor pergunta quem teria 10,00 para "dar", com parte da audiência dando este valor, em seguida ele questiona quem tem realmente Deus no coração e teria 50,00 para "contribuir" em nome "do senhor", após a colheita, volta a carga e quer saber quem deseja "Jesus ao seu lado", devendo assim "entregar a carteira aos irmãos" (que estão na colheita), assim acontecendo, vemos que o pastor está praticando simplesmente microeconomia, capturando o excedente do consumidor, pois quantos fiéis foram dispostos naquele dia, a contribuírem somente com 10,00 e acabaram deixando todo o seu dinheiro? Finalmente, o pastor perguntou quem tinha talão de cheques e que verdadeiramente a fé seria provada, deixando um cheque pré-datado para o dia do pagamento...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O fim do dólar

"O economista americano Joseph Stiglitz, vencedor do Premio Nobel de 2001, pediu ontem na sede da ONU em Nova York a substituição do dólar como moeda corrente em transações internacionais ..." (O Globo, 27/03/2009)

Nem sempre o dólar foi a moeda padrão de conversibilidade do mundo. Começou (ou melhor, foi ratificado) no fim da 2ª Grande Guerra, em 1944, no vilarejo de Bretton Woods, nas montanhas de New Hampshire, no nordeste dos EUA. Mas será para sempre?
E se os chineses quisessem desafiar o dólar?
O endividamento crescente dos EUA acabou por transformar a China em seu maior credor e falamos em US$ 2 trilhões em reservas do tesouro americano! Cabe bem a analogia do economista Jório Dauster (ex-presidente da Vale), quando compara a China com a formiguinha da fábula de La Fontaine e os EUA com a cigarra...
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Parêntese de economês. Qualquer transação de comércio internacional envolve o dólar, é o que em economia chamamos de Paridade do Poder de Compra, assim, tem-se o real valor de uma moeda em relação ao dólar, levando em conta não só a (des) valorização, como os reajustes internos dos preços (inflação) de cada país. Pois que numa transação entre o Brasil e a China, necessariamente será considerado tanto a taxa de câmbio do real em relação ao dólar, como a taxa de câmbio do yuan (a moeda chinesa) em relação também ao dólar. Tem-se uma regrinha simples, se x reais valem 1 dólar e y yuens valem 1 dólar, então x = y. Fecha parêntese de economês.
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Novamente: E se os chineses, tão decantados como nova potência mundial, quisessem colocar o yuan em competição com o dólar? Vamos aos fatos:
No mês passado, o governo chinês concluiu uma série de swaps cambiais – fornecendo yuans para outros bancos centrais para uso em transações comerciais com a China – com a Argentina, Hong Kong, Malásia e outros países. Isso remove (teoricamente) qualquer necessidade destes parceiros comerciais a usarem o dólar como moeda intermediária nos negócios com a China;
As reservas cambiais chinesas, em títulos do tesouro americano, que tinham vencimento de longo prazo, começam a ter suas posições transferidas para vencimentos mais curtos, com prazo de um ano ou menos, assim os chineses começam a expor menos seus ativos dolarizados;
Em março o inflexível presidente do banco central chinês, Zhou Xiaochuan, sugeriu substituir o dólar, como moeda de reserva internacional, por uma cesta de moedas supervisionada pelo FMI.
Porém, se a China tem intenção em transformar o yuan em moeda conversível, teria que aceitar o valor ditado pelo mercado, com investidores, operadores de câmbio e todas as partes do mundo comprando e vendendo sua moeda (e sua divisa), algo hoje inconcebível (acho), pelo regime chinês, que conduz com mãodeferro seu sistema financeiro.
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Não há como saber o que o futuro reserva, somente podemos usar as informações disponíveis e tomar a melhor decisão possível (ou fazer a melhor previsão, no caso de uma analista de cenário), mas temos aquela história já batida, em que o ideograma chinês para crise, significa o mesmo que oportunidade...

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Algo sobre pobres e miseráveis

Diretamente das páginas do Jornal do Brasil:

"...No caso brasileiro, por mais dolorosa seja a assunção dessa verdade, os pobres e miseráveis são vistos, da mesma forma que os judeus, muçulmanos, negros e ciganos, na Europa racista, como pertencentes a uma outra etnia. Não têm a mesma natureza do reduzido grupo dos milionários, nem da classe média ascendente, em muitos aspectos, mais preconceituosa do que os ricos. A sua presença ameaça, quando vão para o trabalho, malvestidos; quando vagam em busca do que viver, ou se amontoam, como mandruvás, sob as marquises dos majestosos e arrogantes edifícios das metrópoles..."

"...no fundo, as guerras entre as favelas, da mesma forma que as guerras tribais na África, são vistas, pela sociedade bem-estante, como forma de eliminar os inimigos potenciais..."

(Mauro Santayana, Jornal do Brasil, 11/12/2008)