sábado, 30 de maio de 2009

Deus e o Diabo - Histórias da Criação

No primeiro dia, Deus criou o sol - então, o diabo contra-atacou e criou a queimadura de sol. No segundo dia, Deus criou o sexo. Em resposta, o diabo criou o casamento. No terceiro dia, Deus criou um economista. Este foi um golpe duro para o diabo, mas, afinal, depois de muito pensar, ele criou um segundo economista!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Abelhas

Lá pelo século XVIII, não existia o que hoje chamamos de Economia. Esta começou, como hoje a conhecemos, com Adam Smith. Tudo bem, se antes existia a vontade de acumulação de riqueza e de inveja do próximo, mas não podemos chamar isso de Economia. Mercados primitivos de troca, não eram "o mercado", sem falar na igreja, que considerava o lucro, um tremendo pecado. Tudo isso, já foi brilhantemente escrito e explicado por Robert Heilbroner, em seu "The Wordly Philosophers" (1ª edição em 1953), que numa tradução livre seria: Os Filósofos Profanos, mas no Brasil foi publicado como "A História do Pensamento Econômico". Se você não gosta de Economia, leia este livro, caso não mude de opinião, não há esperanças, pois que continuará um alienado neste assunto para sempre...
O que eu queria realmente dizer, é que esta nova ciência (ou será filosofia?), nasceu com um grande problema: Como manter os pobres pobres. Pois era admitido que, se os pobres não fossem pobres, como seriam ferramentas honestas para o trabalho diário?

"Para formar a Sociedade Feliz..., é necessário que um grande número de pessoas continue a ser ignorante e pobre", assim escreveu Bernard Mandeville, ainda no século XVIII, em seu "The Fable of the Bees".

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Pirata's Blues

Jeff Healey Band - Roadhouse Blues, live 1989

Jens e Halem, respondo breve as questões econômicas, pois...
Perdi-me, confesso. Após o post do Pirata me inundando de BLUES (e rádio idem), fiquei horas e horas vagando pelo Youtube, vendo vários vídeos de blues e lembrando de mim mesmo.
Lembrando de menino quase imberbe, percorrendo os sebos de vinil do centro do Rio atrás de artistas nunca (ou pouquíssimos) falados por estas bandas. Maravilhado ao escutar e conhecer George Thorogood cantado o clássico one Bourbon, one Scotch, one Beer de John Lee Hooker e tempos depois confirmar toda a ferocidade na música tema do filme Terminator 2, "Bad To The Bone". A guitarra de Thorogood tem mais pancada que o exterminador do Arnoldão.
Alucinado ao som de Stevie Ray Vaughan , tocando (?) o som hiper-soul (vale o hífem?) de Stevie Wonder - Supersticion.
Subindo o Morro da Urca, noites cariocas, para ver o Blindman Jeff Healey (o cara tocando aí em cima, se você clicar...), de quem tinha ficado chapado certa vez com o som, ao ver o filme Road House ( o cara é cego e toca sentado, com a guitarra deitada no colo...), uma porcaria ( o filme, diga-se), mas quando jovem adorei, não por causa do Patrick Swayze, claro, mas por conta da história, onde ele encarnava um professor de filosofia, magro e franzino, mas muito versado em artes marciais, além de dar uma comida espetacular na mocinha, em pé, que confesso, repeti, quando tinha pernas fortes, com várias namoradas.

Continuei lembrando de mim, quando meu finado violão pedia "piedade aos caretas e covardes" e eu queria "cantar como o pastor com o bumbo na praça..."

No meu mundo havia mais roqueiros que economistas, mas foram estes últimos que finalmente, após tanta andança, me ajudaram a compreender (tentar) este mundo sem deus.

domingo, 17 de maio de 2009

Chutando a Escada, Novodesenvolvimentismo e uma História de Trânsito...

Dois economistas, certa vez, se dirigiam de automóvel para o centro da cidade e encontraram um monstruoso engarrafamento no trânsito. Um deles argumentou:
- Este problema (dos engarrafamentos) só pode ser resolvido pela abertura de novas avenidas.
Ao que o outro retrucou:
- Ou pela redução do número de carros...

Somente o sentimento nacionalista, vide EUA, Alemanha ou Japão, pode encampar um projeto de desenvolvimento, mas não um nacionalismo cego, pois deverá conter certa lógica globalizada. Não basta defender o capital e o trabalho do seu país no mundo, é necessário permitir a inserção do país na economia internacional, porém de forma soberana.
Historicamente não há capitalismo forte sem empresas nacionais fortes, competindo de igual para igual com as empresas do comércio internacional.
Há que se tomar cuidado, com os discursos monetaristas/neoliberais, que muitas vezes tentam associar pejorativamente nacionalismo com autoritarismo e protecionismo primitivo e isolacionista, dando como tábua de salvação cartilhas de cega integração comercial e liberalização financeira plena, um paradoxo, como muito bem aponta Ha-Joon Chang em seu livro Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica (Ed. Unesp 2004), pois foram os EUA o berço da ideologia da proteção à indústria e um dos mais protecionistas até a 2ª Grande Guerra, ou seja, prega-se uma coisa para os subdesenvolvidos, mas em casa, adota-se outra política.
Chang bebe na fonte de Friedrich List, economista alemão do séc. XIX: “... quem chegou ao topo, chuta a escada pela qual subiu a fim de impedir os outros de fazerem o mesmo...”, assim, constata-se que a evolução econômica dos países desenvolvidos difere extraordinariamente dos procedimentos que hoje, recomendam às nações mais pobres, impedindo que os países em desenvolvimento adotem as políticas e as instituições que eles próprios usaram.
Há que se evitar um projeto globalizante de desintegração nacional e enfraquecimento intelectual, econômico e cultural de todos os segmentos da sociedade e buscar uma estratégia de não evitar a ligação ao mercado internacional, mas inseri-lo de forma soberana, neste processo inexoravelmente irreversível.
A pergunta crucial é como assegurar uma melhor distribuição da renda e da riqueza? O novodesenvolvimentismo busca mesclar a visão de Keynes (e de keynesianos contemporâneos) de complementaridade entre Estado e mercado com a visão cepalina neoestruturalista, para compatibilizar um crescimento econômico sustentável com uma melhor distribuição de renda.
Mas observar, que políticas sociais não devem se transformar em meras políticas assistencialistas. Reais políticas de emprego, sociais e educacionais, fundamentais para inclusão, crescimento e finalmente distribuição de renda, somente gerarão um ciclo virtuoso quando existir demanda pelas atividades que promovem, pois de nada adiantará haver qualificação sem crescimento.
Por fim, não se deve ignorar os problemas do lado da demanda por trabalho, que depende, por sua vez, crucialmente da demanda efetiva da economia, neste ponto coadunando com premissas de cunho liberal (voltadas exclusivamente para os problemas do lado da oferta), onde as oportunidades de trabalho muitas vezes não são aproveitadas por carência tanto de qualificação, como de acesso ao crédito.

sábado, 9 de maio de 2009

A CRISE: Texto final (por enquanto...)

Desempregados fazem fila para tomar a sopa gratuita em Chicago (EUA), durante a crise econômica da década de 1930.
A CRISE

Difícil situar o início da crise, (desde 1970, podermos contabilizar 124 crises bancárias sistêmicas, mas em 2001, quando desabou a Bolsa de Nova York, o governo americano adotou através do Fed (diga-se Alan Greenspan), políticas monetárias, que sob a ótica liberal, soaram irresponsavelmente frouxas, quando foi baixando a taxa básica de juros, indo de 6,24% em 2000, para 3,90% em 2001, 1,67% em 2003 e finalmente 1,13%, o que, descontando a inflação, significa praticamente uma taxa de juros negativa.
Após a adoção destas políticas, foram criaram duas empresas: A Fannie Mae e a Freddie Mac, atuando no mercado de construção de imóveis e sua contrapartida financeira, o de hipotecas. Assim, o americano médio, ou pior que este, os chamados pejorativamente de Ninjas (No Income, No Jobs, no Savings), em vez de adquirir bens e serviços, que mantém acesso o fogo da economia, resolveram comprar suas casas, diante da enorme facilidade oferecida. Estes bens e serviços passaram então a serem financiados, cada vez mais, por diversas linhas de crédito (assim como as casas), desta forma o crédito, que efetivamente é um instrumento de dinamização da economia, na sua concessão, pois aumenta a capacidade de compra das famílias, na realidade é apenas uma antecipação de consumo e não o seu aumento, pois cada dívida significará em determinado momento, o reembolso e após algum tempo, teremos além do principal (objeto do consumo), também o pagamento obrigatório dos juros do financiamento deste consumo, assim, com a redução final do fim almejado, no fim das contas, o que se consegue com endividamento é uma inversão.
Só que quando a estrada é por demais sinuosa e a velocidade muita, uma hora o trem descarrila, ou se preferirem outra analogia, uma hora a bolha estoura. “Não é a velocidade que mata, mas sim a parada brusca”, este foi o provérbio cunhado por banqueiros, após a crise mexicana de 1995, mas aplicável a qualquer crise especulativa...
Na atual, os tomadores acreditavam que o preço das casas tenderia a subir e assim realizar novas hipotecas, reajustando seus valores, desta forma “rolando a dívida”.
Esta manutenção do “status quo” americano, obviamente custa caro e os Estados Unidos acumularam uma dívida pública de 10,5 trilhões de dólares, não só por conta dos últimos anos, mas inexoravelmente plantada há mais tempo, bancando tanto o consumismo, como os gastos bélicos, via Pentágono, estimulando os gastos do governo, caminho já dado por Keynes, lembrando que o PIB mundial é da ordem de 55 trilhões de dólares. Ou seja, a dívida pública norte-americana representa cerca de um quinto do PIB mundial.
Se houve boa intenção dos EUA (e não é crível creditar ao mais capitalista de todos, algum paternalismo ou tendência a um welfare state), este bem inicial, com aquisição da sonhada casa própria, já custou à própria casa (tomada pelos bancos), custou o dinheiro já pago (tomado pelos juros) e já está custando o emprego das famílias, tomado pela crise.
Em meados de 2007, a crise se transmitiu aos títulos lastreados naqueles empréstimos e no início de 2008 a contaminação atingiu também os mercados de crédito (os bancos fazem uma espécie de “seguro”, agrupando as hipotecas em papéis e fazendo um rateio no setor financeiro, no intuito de dividir o risco).
É como se existissem duas economias, uma real (produção) e outra imaginária (financeira), o problema é que a segunda tem gerência sobre a primeira. Grosso modo, é como se uma fábrica de carros construísse 30 carros, vendem-se os 30, mas somente recebe-se o valor correspondente a um carro. Onde está o dinheiro dos outros 29? É dinheiro virtual, a base de financiamentos de ambas a partes, tanto a que compra, como a que fabrica e vende.
A explicação... não é somente o Banco Central que cria meios de pagamento, os bancos comerciais também o fazem... cria moeda escritural em uma quantidade superior a reserva que possuem”.
Tornou-se este o grande problema, a migração da crise, do setor financeiro/especulativo, para o chamado setor real da economia, vide em janeiro de 2009, quando a Sadia demitiu 350 funcionários, “responsabilizando” a crise (a sedução do jogo envolveu até gerentes de empresas industriais, como os da Sadia, que perdeu R$670 milhões apostando em derivativos, e a Aracruz, que perdeu R$1,85 bilhão” – Bernardo Kucinski, Revista do Brasil, Novembro 2008, p. 18), não por eventual baixa de consumo, ou escassez de crédito para geração de fluxo de caixa, mas por migração de investimentos que deveriam ser canalizados para produção, para investimentos no mercado financeiro. Ficando clara a desproporção do retorno de capital ser maior no segundo que no primeiro.
Keynes aborda esta questão em sua “Teoria Geral”, utilizando o termo eficiência marginal do capital, designando a taxa de rendimentos esperados de um ativo de capital, assim “uma máquina somente é adquirida quando o seu rendimento esperado é superior à taxa de juros”(CWJMK:5, p.189).
Tecnicamente, investimento é quando alguém constrói uma fábrica, por exemplo, e com o lucro da produção financiará a restituição do empréstimo e os juros correspondentes. À movimentação financeira correspondeu uma atividade produtiva. No caso da aplicação financeira apenas se transferem ativos financeiros de uma área para outra, não se gera produto ou serviço algum.
Então fica aí explícito, o grande problema, na essência, a absoluta ausência de regulação, quando já parece muito distante os idos de Bretton Woods e Basiléia, pois com a globalização financeira, os papéis passaram a circular no planeta todo, enquanto os instrumentos de regulação, os bancos centrais nacionais, estão fragmentados em cerca de 190 nações. Na prática, ninguém está regulando coisa alguma, pois se algum país decide controlar os capitais, estes fugirão para lugares mais hospitaleiros (em processo muito parecido com os mecanismos de guerra fiscal entre municípios).
O canto do cisne veio no final dos anos 90 quando se liquidou a separação entre os bancos comerciais, de investimentos, corretoras e seguradoras. Todos passaram a fazer o que quisessem, surgindo grandes “supermercados” de produtos financeiros.
Gera-se assim um amplo efeito multiplicador, em que a irresponsabilidade da especulação financeira atinge áreas de atividades produtivas.“Especulação” é o termo tecnicamente correto, porém, o inglês não tem, como temos em português, a diferença entre investimento e aplicação financeira. O Economist, que sempre considerou este último tipo de aplicação como “investment”, e durante décadas declarou que a especulação ajudava na mobilidade dos capitais e, portanto, no seu uso mais produtivo, hoje enfrenta grandes dificuldades gramaticais, cunhando o termo “speculative investors”.

ATÉ QUANDO ESPERAR?

Há os que são contra o livre mercado, taxado de impossível e injusto, pois é inerente ao homem a exploração, dividem o mundo em países exploradores e países subdesenvolvidos (explorados), um conceito (entre alguns economistas) totalmente ultrapassado. Outros olham o mundo (em teoria) de forma harmônica, onde as forças atuantes levam em longo prazo, a redução do lucro e eficiência na distribuição (estes seriam favoráveis ao mercado livre). Claro que esse mundo de laissez-faire poderá não se afinar com nosso senso particular de justiça distributiva, mas sempre será possível ao Estado ajustá-lo, sem atrapalhar o livre jogo. E sim! Com possibilidade de formação de riqueza e não simples (e simplista idéia) de transferência. Porém, o nosso mundo moderno fica bem distante dos belos edifícios matemáticos, projetados pelos economistas...
O ponto básico, é que a busca pelo lucro máximo, quando praticada pelo pequeno empresário, conduz a uma harmonia natural do sistema, mas quando posto em prática pelo monopolista ou oligopolista, dará margem a consideráveis distorções na (má) distribuição de renda, necessitando obviamente da dita intervenção governamental, visando conciliação, ou simplesmente coibir monopólios. Mas como? Se por várias vezes, o Estado é o primeiro a estimular os mesmos? Temos um ciclo infernal...Voltando: Os pontos centrais da controvérsia, entre os méritos das (diversas) escolas econômicas, envolvem questões éticas, jurídicas e filosóficas muito mais amplas do que as questões puramente do universo da economia, apesar (como dito antes) das segundas (questões) serem fruto da primeira. Em seu livro "A História do Pensamento Econômico", Robert Heilbroner, escreve sobre o período em que Engels andou por toda Manchester (berço da revolução industrial), vendo em que condição se encontrava a recente massa de trabalhadores. Certa vez, comentando sobre a miséria da cidade e as "bases" em que ela havia sido construída, com um cavalheiro, seu amigo, ouviu como resposta: “E, no entanto, se ganha uma fábula de dinheiro aqui; tenha um bom dia, sir".
O que mudou de lá para cá? Acredito que nós estamos aqui para isso, apesar de podermos “acusar” uma decisão heterodoxa (grosso modo, a escola à favor da intervenção do governo) do pontapé inicial da crise, afinal foi uma intervenção na taxa de juros, foi propagada de outra forma, paradoxalmente seguindo preceitos ortodoxos, neoliberais, quando em novo rumo, vejo novas (antigas) propostas heterodoxas capazes de nos (res) guardarem de todo o mal que está por vir.
É necessário analisar a economia, não como apologia da ordem existente (ou objeto do desejo), mas com uma visão equilibrada, realçando o positivo e combatendo o negativo de cada "tratado" econômico, buscando corrigir as distorções do sistema, seja ele qual for.
Robert Lucas, Nobel de economia em 1995, nos faz pensar (e questionar), quando coloca que “ao se afirmar que as expectativas são racionais... os agentes sendo informados de que uma política econômica será implementada, eles devem alterar suas expectativas, alterando o resultado esperado...”, porém, Heilbroner nos instiga a continuar buscando:
“Determinado grau de intervenção governamental sem um corpo de burocratas;
A vitalidade (competitiva) do capitalismo, sem uma classe de poderosos capitalistas;
Uma bolsa de valores, sem um cassino...”
.

http://dowbor.org/
http://www.nber.org/papers/w14631
Working Paper 14631, National Bureau of Economic Research
http://www.ethicalmarkets.com
Diagnosing the economic body politic

CARVALHO, Fernando “et al”, Economia Monetária e Financeira - Teoria e Política, Rio de janeiro, Ed. Campus, 2007
HEILBRONER, Robert, A História do Pensamento Econômico, São Paulo, Ed. Civita, 1996
IPEA, A Crise Internacional e Possíveis Repercussões, nº 16 – janeiro 2009
CARDOSO, Eliana, Fábulas Econômicas, 2006, Financial Times – Prentice Hall
CAMPOS, Roberto, Na Virada do Milênio, 1999, TopBooks

domingo, 3 de maio de 2009

A Fantástica Fábrica de Ganhar Dinheiro

“A segunda melhor forma de se ganhar dinheiro é um banco mal administrado”.
(Mesmo com as possibilidades da Internet, não consegui achar o autor)

Primeiro vamos revisar nosso conceito do que é um banco.
Os clássicos e suas variações definiam banco como um intermediário entre os que detinham alguma reserva em dinheiro e alocavam esta reserva nos bancos no intuito de auferirem algum ganho (lucro), e o banco, emprestando este capital para terceiros, com uma taxa, obviamente maior do que remunerava, assim, o ganho do banco seria a diferença, entre o que ele remunera e o que cobra de juros, chamada pelos economistas de spread.
Keynes foi o primeiro a olhar com outros olhos esta falácia. Aos bancos eram muito mais do que isso, não sendo uma simplória dicotomia reservas/empréstimos. Ha um “milagre” da multiplicação, não dos peixes, mas sim do dinheiro em caixa, pois os bancos não emprestam somente o dinheiro que possuem em caixa, mas sim, faz uma promessa de que este papel-moeda estará disponível para o cliente se ele achar necessário, o que nós sabemos e o banco mais ainda, raramente acontece. Vou explicar:
Para simplificar, vamos considerar apenas um banco (o raciocínio será válido para vários, pois haverá troca entre eles) e a inexistência de impostos, tarifas ou depósito compulsório, a serem recolhidos pelo Banco Central.
Para cada depósito de R$ 100, o banco estima (e nisso tem-se um trabalho exato de estatística-no campo econômico cognominado de econometria) que o depositante irá necessitar de 10% de seu saldo, para operações com papel-moeda e podem, assim, desejar fazer retirada neste valor, onde para satisfazer esta possível demanda, o banco mantém em caixa os mesmos 10% dos valores dos depósitos que aceita, assim, mantendo R$ 10 em caixa, como reserva voluntária, restando aos bancos R$ 90 para fazerem empréstimos.
Ao ser efetuado o empréstimo de R$ 90, o tomador deste empréstimo terá os R$ 90 creditados em sua conta e a exemplo do primeiro depositante, o banco deixará R$ 9 em caixa, sobrando R$ 81 disponíveis para novo empréstimo e assim sucessivamente. Note que o ciclo se repete, pois ninguém toma dinheiro emprestado e o mantém embaixo do colchão, tendo como destino, sempre o banco, desta forma, gerando o que Keynes chamou de multiplicador bancário. Mas aí os bancos terão um perigo: E se todos resolverem sacar seu dinheiro ao mesmo tempo? Numa situação atípica, fugindo dos modelos econométricos anteriormente planejados? No exemplo, de um depósito inicial de R$ 100, o banco deve estes R$ 100 depositados (mais os juros da remuneração) e mais os R$ 90 já emprestados ao segundo, assim, o banco teria que dispor de R$ 190 para os seus 2 clientes, mas como se só dispõe “fisicamente” de R$ 100?
A capacidade de multiplicar depósitos faz do banco a instituição mais importante do universo capitalista, pois foi à oferta de crédito, que efetivamente o fez deslanchar, pois libertou, como já dito por Schumpeter, o empreendedor da necessidade de nascer rico. Por esta importância, não podemos deixar o sistema falhar (bem, aí depende de suas convicções ideológicas), assim os governos tem tido tanta preocupação e vem injetando trilhões nos bancos de todo o mundo...
Ganho para a sociedade, mas, sobretudo, um irrefutável ganho para o banqueiro. O pecado é quando o banqueiro quer ganhar de forma irresponsável, ou seja, emprestando m-u-i-t-o mais da sua capacidade. Felizmente no decorrer dos anos, buscaram-se formas de tentar coibir isso.

(Continuarei falando em risco sistêmico, confiança, acordo de Basiléia e necessidade imperiosa de regulação bancária, pois ao mesmo tempo em que o sistema não pode falhar, também é inconcebível financiar a irresponsabilidade dos banqueiros...).