domingo, 3 de maio de 2009

A Fantástica Fábrica de Ganhar Dinheiro

“A segunda melhor forma de se ganhar dinheiro é um banco mal administrado”.
(Mesmo com as possibilidades da Internet, não consegui achar o autor)

Primeiro vamos revisar nosso conceito do que é um banco.
Os clássicos e suas variações definiam banco como um intermediário entre os que detinham alguma reserva em dinheiro e alocavam esta reserva nos bancos no intuito de auferirem algum ganho (lucro), e o banco, emprestando este capital para terceiros, com uma taxa, obviamente maior do que remunerava, assim, o ganho do banco seria a diferença, entre o que ele remunera e o que cobra de juros, chamada pelos economistas de spread.
Keynes foi o primeiro a olhar com outros olhos esta falácia. Aos bancos eram muito mais do que isso, não sendo uma simplória dicotomia reservas/empréstimos. Ha um “milagre” da multiplicação, não dos peixes, mas sim do dinheiro em caixa, pois os bancos não emprestam somente o dinheiro que possuem em caixa, mas sim, faz uma promessa de que este papel-moeda estará disponível para o cliente se ele achar necessário, o que nós sabemos e o banco mais ainda, raramente acontece. Vou explicar:
Para simplificar, vamos considerar apenas um banco (o raciocínio será válido para vários, pois haverá troca entre eles) e a inexistência de impostos, tarifas ou depósito compulsório, a serem recolhidos pelo Banco Central.
Para cada depósito de R$ 100, o banco estima (e nisso tem-se um trabalho exato de estatística-no campo econômico cognominado de econometria) que o depositante irá necessitar de 10% de seu saldo, para operações com papel-moeda e podem, assim, desejar fazer retirada neste valor, onde para satisfazer esta possível demanda, o banco mantém em caixa os mesmos 10% dos valores dos depósitos que aceita, assim, mantendo R$ 10 em caixa, como reserva voluntária, restando aos bancos R$ 90 para fazerem empréstimos.
Ao ser efetuado o empréstimo de R$ 90, o tomador deste empréstimo terá os R$ 90 creditados em sua conta e a exemplo do primeiro depositante, o banco deixará R$ 9 em caixa, sobrando R$ 81 disponíveis para novo empréstimo e assim sucessivamente. Note que o ciclo se repete, pois ninguém toma dinheiro emprestado e o mantém embaixo do colchão, tendo como destino, sempre o banco, desta forma, gerando o que Keynes chamou de multiplicador bancário. Mas aí os bancos terão um perigo: E se todos resolverem sacar seu dinheiro ao mesmo tempo? Numa situação atípica, fugindo dos modelos econométricos anteriormente planejados? No exemplo, de um depósito inicial de R$ 100, o banco deve estes R$ 100 depositados (mais os juros da remuneração) e mais os R$ 90 já emprestados ao segundo, assim, o banco teria que dispor de R$ 190 para os seus 2 clientes, mas como se só dispõe “fisicamente” de R$ 100?
A capacidade de multiplicar depósitos faz do banco a instituição mais importante do universo capitalista, pois foi à oferta de crédito, que efetivamente o fez deslanchar, pois libertou, como já dito por Schumpeter, o empreendedor da necessidade de nascer rico. Por esta importância, não podemos deixar o sistema falhar (bem, aí depende de suas convicções ideológicas), assim os governos tem tido tanta preocupação e vem injetando trilhões nos bancos de todo o mundo...
Ganho para a sociedade, mas, sobretudo, um irrefutável ganho para o banqueiro. O pecado é quando o banqueiro quer ganhar de forma irresponsável, ou seja, emprestando m-u-i-t-o mais da sua capacidade. Felizmente no decorrer dos anos, buscaram-se formas de tentar coibir isso.

(Continuarei falando em risco sistêmico, confiança, acordo de Basiléia e necessidade imperiosa de regulação bancária, pois ao mesmo tempo em que o sistema não pode falhar, também é inconcebível financiar a irresponsabilidade dos banqueiros...).

2 comentários:

Jens disse...

Bretch estava certo, Renato, "melhor do que roubar um banco é fundar um banco". Infelizmente, se o sistema bancário afundar leva junto o restante da economia para o buraco. Assim, eles fazem a festa e, na hora da conta, todos nós ajudamos a pagar. Quero entrar para o ramo.
Um abraço.

Disimo disse...

Excelente texto, Renato. No dia 29/04/2009 Antonio Delfim Netto publicou um artigo de opinião na Folha, falando justamente de Keynes e Marx:

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/4/29/antonio-delfim-netto

Abraços