quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Ano Novo (Old Man - Neil Young)



Velho, olhe para a minha vida
Eu sou um pouco do que você era
Velho, olhe para a minha vida
Eu sou um pouco do que você era

domingo, 14 de dezembro de 2014

Da Hiperinflação Alemã ao Plano Real (uma longa história de aprendizagem) Parte Um


Antes do lançamento do Plano Real (1994), o Brasil a partir dos anos 80, tentou vários planos de estabilização, que em sua quase maioria buscavam manter estável a taxa de câmbio real, no intuito de preservar nossa competitividade externa.
O sistema cambial realizava pequenas desvalorizações ou minidesvalorizações no jargão econômico comum, com a periodicidade sempre acompanhando o ritmo da inflação passada.
Num dos piores momentos de nossa inflação, no final dos anos 80 (ultrapassou 80% ao mês no começo de 1990), estes intervalos de minidesvalorizações chegaram a ser diários, inexoravelmente mantendo nossa economia indexada a uma taxa de câmbio, no “limite” da própria indexação.
Processos com elevada taxa inflacionária, sempre nos farão buscar na história paralelos e tanto a experiência alemã de indexação da moeda em 1923 (rentenmark), como a húngara em 1945-46, resultaram nas maiores inflações do mundo moderno. Nesta última, “de julho de 1945 até agosto de 1946, os preços aumentaram por um fator de 3 x 10²³” (Bomberger e Makinen, apud Castro, Lavínia).
Basicamente os economistas ortodoxos traçam como características comuns de toda hiperinflação, o aumento colossal da oferta da moeda, seja pela necessidade de financiamento dos imensos déficits orçamentários (daí hiperinflações após as Grandes Guerras – pelo financiamento bélico), e para o núcleo heterodoxo, seria a fuga à moeda nacional, por conta da perda de poder de compra, face o aumento dos preços.
Mas para ocorrer esta fuga (no segundo caso) e tentativa de reposição (no primeiro), houve um determinado ponto de inflexão – ou seguidos e ininterruptos pontos – de aumento dos preços, por que ocorre(m)?
Um consenso, endossado por Simonsen (apud Costa, Fernando Nogueira,) é que existiria um “coeficiente de realimentação”, indicando um “grau de automatismo” crônico, ou seja, “parte da inflação de um período se transmite ao período seguinte”.
Este diagnóstico de inflação inercial, leva André Lara Resende e Pérsio Arida a delimitarem um plano de ação, onde propuseram a implementação de uma nova moeda (Novo Cruzeiro), indexada com paridade fixa, de um para um, com a ORTN diária pró-rata, sendo que neste período de transição, a taxa de câmbio relativa a esta nova moeda, se manteria constante.
Não há qualquer experiência de hiperinflação que tenha terminado gradualmente. Todas terminaram de forma abrupta. É possível identificar a semana em que acabou a hiperinflação alemã de 1923 (...) de 20.000% ao mês e de repente, num dia, a taxa caiu a zero... (Lopes, Francisco, p.149)

Não há referência a nenhum choque específico, simplesmente os agentes econômicos, em determinado lapso temporal, passam a substituir à moeda local “fraca” por moeda estrangeira “forte”, assim, por exemplo, o agente econômico que recebe – por exemplo – dólar, torna-se “independente da taxa de inflação”, sendo afetado somente por oscilações da taxa de câmbio real. Nos dias de hoje temos notícias da avidez de comerciantes argentinos por dólar e até mesmo por Real, em detrimento do peso local.
A taxa de inflação torna-se cada vez menos representativa diretamente proporcional a não utilização da moeda local como meio de pagamento, enfim a taxa de inflação efetiva torna-se a taxa de valorização do câmbio real.
Não trata-se de uma mera troca de nomes, no caso húngaro, a simples troca de moeda, fez o cenário econômico saltar de uma alta inflação, para uma hiperinflação. Em janeiro/46 a taxa de inflação era de 74% ao mês, após a introdução da nova moeda em fevereiro/46, a taxa salta para 1,8 x 10³ em abril do mesmo ano, continuando a crescer literalmente de forma exponencial, ou seja, a inflação da moeda “velha”, contaminou a “nova”.
A estabilização húngara somente ocorreu após um rígido controle de preços, culminando com a introdução de “mais” uma nova moeda.
Assim, a Proposta Larida, lidava com o componente inercial da inflação e da mesma forma que as experiências européias, buscava a substituição de uma moeda corroída, por outra, “forte”, com paridade cambial, a nova moeda era assim um “quase dólar” e a inflação nesta nova moeda seria nula (por princípio).
A URV (unidade real de valor) foi criada para cumprir o mesmo papel que o dólar desempenhou nas hiperinflações alemã e húngara. Variava diariamente de acordo com uma taxa de inflação esperada pró-rata, com o qual se fazia o reajuste do câmbio.
Esta “dolarização programada” não colhe plenamente os frutos desejados, se nos deixa em situação melhor em comparação com outros países latinos de “dolarização descontrolada” e há um imediatista sucesso do plano, a proposta atacava basicamente o componente inercial da inflação, contudo sem eliminar os efeitos colaterais do próprio choque (explosão da demanda) e uma necessária (re)distribuição de renda, afim de (re)alimentar um ciclo virtuoso.
Como é muito difícil determinar o “tempo de transição” até a efetivação da nova moeda como única, os efeitos colaterais com relação a demanda não são mensurados e continuam tanto o desequilíbrio fiscal, como a permanente alavancagem do déficit público, assim o processo inflacionário recrudesce.
Passados dez anos, a Proposta Larida volta à cena, servindo de “lastro teórico” na elaboração no Plano Real, no que tange a tentativa de “decinercialização” da nossa inflação.
Para evitar que ocorresse a fuga da “velha moeda” para a “nova” (...) no Plano Real (...) não existiria uma “nova moeda”, mas apenas uma nova unidade de conta. A URV foi então racionalizada como um processo de recuperação das funções de uma mesma moeda (...) uma estratégia de desindexação (...) só seria bem-sucedida se elevasse juros no imediato pós-Plano (...) o fim da inflação leva a uma explosão natural do consumo (Barros, Lavínia p. 148-149)
 
A valorização cambial foi a verdadeira âncora do programa de estabilização, apoiada ainda pela abertura comercial e outras medidas, como controle monetário e do crédito e alta dos juros (Cano Wilson, p.238)
   
Em suma, o Plano Real procurou evitar o erro dos demais choques heterodoxos, adotando um conjunto de medidas, aproximou-se da Proposta Larida de moeda indexada, onde os efeitos da inflação ficariam na moeda “velha”, entretanto não fixou a paridade R$ = US$, deixando o Real valorizar em relação ao dólar, dada a continua entrada de recursos. A valorização do Real, não permitiu que ocorre-se pressão inflacionária sobre os bens transacionados no mercado internacional (bens tradeables), voltando determinado grau de confiança e expectativas positivas, indispensáveis para novo ciclo virtuoso.


Bibliografia:

 

·       BOMBERGER, William A; MAKINEN, Gail E. “A Hiperinflação Húngara e a Estabilização de 1945-46”. In: José M. Rego (org.). Inflação e Hiperinflação: interpretações e retórica. São Paulo: Bienal,1988.

·       CANO, Wilson. Soberania e Política Econômica na América Latina (Cap. 3: Brasil – O Sonho Acabou?). São Paulo: Editora UNESP, 2000.

·       CARDOSO, Eliana. A Economia Brasileira ao Alcance de Todos. São Paulo: Brasiliense, 1990.

·       CARVALHO, Fernando J. Cardim...et al.]. Economia Monetária e Financeira: teoria e política (cap. 25: Regime Cambial e Mercado de Câmbio no Brasil). Rio de janeiro: Elsevier, 2007.

·       CASTRO, Lavínia Barros. Cap. 5 “Esperança, Frustação e Aprendizado: A História da Nova República” e “Cap. 6 “Privatização, Abertura e Desindexação: a primeira metade dos anos 90”. In: Fabio Giambiagi...et al.]. Economia Brasileira Contemporânea, Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

·       COSTA, Fernando Nogueira. Economia Monetária e Financeira: uma abordagem pluralista (Cap. 8: Teorias de Inflação Moderada, Inercial, Acelerada e Hiperinflação). São Paulo: Makron Books, 1999.

·       LOPES, Francisco. O Choque Heterodoxo: combate à inflação e reforma monetária, Rio de Janeiro: Campus, 1986.

·       SIMONSEN, Mário Henrique. Inflação: gradualismo x tratamento de choque, Rio de janeiro: Anpec, 1970.

 

 

 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Por que eu voto (novamente) em Dilma Rousseff?


Não podemos tampar o sol com a peneira. Houve erro e provavelmente muito roubo na gestão da Petrobrás. O caso da refinaria de Pasadena é o paradigma disso e este é o calcanhar do valente guerreiro Aquiles do atual Governo.
 
Entretanto, mantendo minha posição de 2010, quando firmei meu voto em Dilma Rousseff, não tenho simpatia nem pelo PT, nem pelo PSDB. Ambos os partidos sempre fizeram alianças espúrias e cometeram atos nefastos em nome da governabilidade, rezando pela cartilha de Maquiavel de que os fins justificam os meios...
 
Só que no governo do PSDB, o Brasil avançou na miséria e na desigualdade social, enquanto o PT, criou escolas, faculdades, concedeu bolsas de estudos e retirou 42 milhões de pessoas da extrema pobreza.
 
Para mim, este continua a ser o argumento definitivo.
 

O BRASIL REAL - DE 2002 A 2013
Por Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira. Fonte: Pátria Latina
Tirado de: http://blogdomello.blogspot.com.br/2014/09/quadro-comparativo-do-brasil-de-2002.html?m=1


1. Produto Interno Bruto:
2002 – R$ 1,48 trilhões
2013 – R$ 4,84 trilhões

2. PIB per capita:
2002 – R$ 7,6 mil
2013 – R$ 24,1 mil

3. Dívida líquida do setor público:
2002 – 60% do PIB
2013 – 34% do PIB

4. Produção de veículos:
2002 – 1,8 milhões
2013 – 3,7 milhões

5. Safra Agrícola:
2002 – 97 milhões de toneladas
2013 – 188 milhões de toneladas

6. Investimento Estrangeiro Direto:
2002 – 16,6 bilhões de dólares
2013 – 64 bilhões de dólares

7. Reservas Internacionais:
2002 – 37 bilhões de dólares
2013 – 375,8 bilhões de dólares

8. Empregos Gerados:
Governo FHC – 627 mil/ano
Governos Lula e Dilma – 1,79 milhões/ano

9. Taxa de Desemprego:
2002 – 12,2%
2013 – 5,4%

10. Falências Requeridas em Média/ano:
Governo FHC – 25.587
Governos Lula e Dilma – 5.795

11. Salário Mínimo:
2002 – R$ 200 (1,42 cestas básicas)
2014 – R$ 724 (2,24 cestas básicas)

12. Dívida Externa em Relação às Reservas:
2002 – 557%
2014 – 81%

13. PROUNI – 1,2 milhões de bolsas

14. Salário Mínimo Convertido em Dólares:
2002 – 86,21
2014 – 305,00

15. Exportações:
2002 – 60,3 bilhões de dólares
2013 – 242 bilhões de dólares

16. Inflação Anual Média:
Governo FHC – 9,1%
Governos Lula e Dilma – 5,8%

17. PRONATEC – 6 Milhões de pessoas

18. Taxa Selic:
2002 – 18,9%
2012 – 8,5%

19. FIES – 1,3 milhões de pessoas com financiamento universitário

20. Minha Casa Minha Vida – 1,5 milhões de famílias beneficiadas

21. Luz Para Todos – 9,5 milhões de pessoas beneficiadas

22. Capacidade Energética:
2001 - 74.800 MW
2013 - 122.900 MW

23. Brasil Sem Miséria – Retirou 22 milhões da extrema pobreza

24. Criação de Universidades Federais:
Governos Lula e Dilma - 18
Governo FHC - zero

25. Criação de Escolas Técnicas:
Governos Lula e Dilma - 214
Governo FHC - 11
De 1500 até 1994 - 140

26. Desigualdade Social:
Governo FHC - Queda de 2,2%
Governo PT - Queda de 11,4%

27. Produtividade:
Governo FHC - Aumento de 0,3%
Governos Lula e Dilma - Aumento de 13,2%

28. Taxa de Pobreza:
2002 - 34%
2012 - 15%

29. Taxa de Extrema Pobreza:
2003 - 15%
2012 - 5,2%

30. Índice de Desenvolvimento Humano:
2000 - 0,669
2005 - 0,699
2012 - 0,730

31. Mortalidade Infantil:
2002 - 25,3 em 1000 nascidos vivos
2012 - 12,9 em 1000 nascidos vivos

32. Gastos Públicos em Saúde:
2002 - R$ 28 bilhões
2013 - R$ 106 bilhões

33. Gastos Públicos em Educação:
2002 - R$ 17 bilhões
2013 - R$ 94 bilhões

34. Estudantes no Ensino Superior:
2003 - 583.800
2012 - 1.087.400

35. Risco Brasil (IPEA):
2002 - 1.446
2013 - 224

36. Operações da Polícia Federal:
Governo FHC - 48
Governo PT - 1.273 (15 mil presos)

37. Varas da Justiça Federal:
2003 - 100
2010 - 513

38. 40 milhões de pessoas ascenderam à Nova Classe Média (Classe C) e 42 milhões de pessoas saíram da miséria.

FONTES:
http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas
http://www.washingtonpost.com
OMS, Unicef, Banco Mundial e ONU
índice de GINI: www.ipeadata.gov.br
Ministério da Educação
IBGE
Banco Mundial
 

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

"Voto Dilma, uma questão de bom senso" por Ladislau Dowbor

 
E o que importa mesmo é a dinâmica estrutural e de longo prazo. Aqui os dados são avassaladores. Temos os quase 40 milhões de brasileiros que saíram do buraco negro em que se encontravam, e isto em si já é quase milagroso, num país onde se criou uma ditadura por um miserável aumento de salário mínimo e fragmento de reforma agrária. Temos também os 20 milhões de empregos formais criados, um aumento do salário mínimo real da ordem de 70% e o menor desemprego da história, da ordem de 6%, dados que apontam para um marco de transformação estrutural. Aqui não há voo de galinha. Eu, por ofício de economista, acompanho os números. A esperança de vida ao nascer, efeito de alimentação, saúde e outros direitos básicos, passou de 65 para 74 anos: ou seja, o brasileiro tem praticamente 10 anos de vida a mais para falar como era bom antigamente.
 
Texto na íntegra em:



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Por que eu voto em Dilma, algo sobre o Dólar e a Doença Holandesa


Recentemente li lúcido texto do Professor Bresser Pereira na “Carta Maior”, o qual transcrevo parte, onde ele justificou (e endosso) porque este votaria em Dilma, em detrimento de Aécio ou Marina.
Observo que ele nem entra no mérito das propostas de Marina e Aécio de "independência" do Banco Central, que na verdade seria a total dependência ao "grande capital", digo total, pois hoje temos um misto de dependência ao capital com dependência (melhor seria influência) política. Mas (nem que seja assim) é nesta forma (atual) que acredito, o Bacen utilizado como instrumento de política monetária, ajustando as torneiras da liquidez, onde conseguimos algum equilibrio nos fundamentos macroeconomicos.
 
Independência do Bacen, é deixar a raposa tomar conta do galinheiro, já não basta termos tido o Sr. Armínio Fraga como presidente da instituição no governo FHC?

No mesmo texto o Professor Bresser, talvez a maior autoridade no que os economistas denominam de “Doença Holandesa”, (do inglês Dutch disease) situação econômica relacionada entre a exportação de recursos naturais e o declínio do setor manufatureiro, quando a abundância de recursos naturais geraria vantagens comparativas para o país que os possui, levando-o a se especializar na produção desses bens e consequentemente a não se industrializar ou mesmo (numa situação crítica) a se desindustrializar – o que, a longo prazo, inibiria (inibirá) o processo de desenvolvimento econômico.

Discorreu sobre nossa apreciada taxa de câmbio, correlacionando a mesma com o problema acima:
“A política de crescimento com poupança externa (de déficit em conta-corrente) e a política de âncora cambial para controlar a inflação apreciam o câmbio no longo prazo. Elas são responsáveis por cerca de mais 10 pontos percentuais de apreciação da taxa de câmbio que devem ser somados aos 25% acima referidos. Logo, a desvantagem total das empresas brasileiras em relação às empresas de outros países que exportam para os mesmos mercados que nós é, em média, de 35% ( 25% 10%), e a desvantagem total em relação às empresas estrangeiras que exportam para o mercado brasileiro é de 23% (35% – 12%). Estas duas desvantagens desaparecem nos momentos de crise financeira, que, mais cedo ou mais tarde, decorrem necessariamente dessa sobreapreciação”.
Enfim, justificou sua posição em Dilma:

“Vou votar pela reeleição de Dilma Rousseff, não por que seu governo tenha sido bem sucedido, mas porque é ela quem melhor atende aos critérios que adoto para escolher o candidato. São dois esses critérios: quanto o candidato está comprometido com os interesses dos pobres, e quão capaz será ele e os partidos políticos que o apoiam de atender a esses interesses, promovendo o desenvolvimento econômico e a diminuição da desigualdade.
$
Dilma atende ao primeiro critério melhor do que Marina Silva e muito melhor do que Aécio Neves. Isto nos é dito com clareza pelas pesquisas de intenção de voto, onde ela vence na faixa dos salários mais baixos, e reflete a preferência clara pelos pobres que os três governos do PT revelaram. O mesmo se diga em relação ao segundo critério na parte referente à desigualdade. O grande avanço social ocorrido nos doze anos de governo do PT tem um valor inestimável”.
 

sábado, 19 de julho de 2014

Pequenas Considerações sobre Mercados, Crise, Consumo e Crédito...

Delfim Netto na introdução de “O espírito animal” de Akerlof e Shiller (2010), sugere que devemos abandonar a suposta racionalidade dos mercados, para com base nas teorias do comportamento coletivo (...) entender o comportamento de manada, quando o consumidor voraz passa a ser parcimonioso e o empresário excessivamente prudente.
 
[Qual] a razão pela qual a coerência deixa de existir, de tempos em tempos, ou seja, o motivo que torna a economia tão suscetível a ameaças ou até mesmo a verdadeiras e profundas depressões?(MINSKY, 2010, p.161).
 
À medida que a euforia do boom se propaga, as empresas aceitam planos de financiamentos cada vez mais arriscados. A partir daí, o menor choque, aparentemente acidental, já revela este desequilíbrio latente entre rendimento financeiro e rendimento de capital produtivo e precipita uma crise (BOYER, 1990, P. 32).
 
Da mesma forma que a teoria do multiplicador keynesiano explica como cada dinheiro pode ser criado, também elucida como a cada dinheiro não gasto, corresponderia uma cadeia de corte de despesas. O mesmo multiplicador, que foi denominado antes por Marx de capital fictício, quando haveria uma necessidade de estender e transpor os obstáculos da circulação e da esfera da troca, mas não somente em função especulativa de mercado de capitais, mas em razão também da valorização das marcas, pois a aceitação tácita desta valorização, necessariamente ajudaria o capital a transpor os limites da sua necessidade de multiplicação.
 
Podemos enxergar tanto determinado fetiche marxista, observações de Smith sobre a emulação das classes sociais, questionamento sobre a perenidade da demanda agregada keynesiana, o modo de despertar o desejo de consumir na visão schumpeteriana, last but not least, o fomento ao crédito de Kalecki. Porém perguntas sempre ficarão no ar: até que pondo poderá ir à desigualdade do consumo?
A atual vem sendo combatida (e também o foi em 1929) por vigorosos incentivos governamentais e no Brasil estímulo a tomada de crédito, objetivando alavancar a demanda, face que em nossas observações, a dificuldade não está em fazer comprar, mas sim em como conseguir pagar, pois será que este desejo de consumir não é latente na maioria de nós?
 
O que faremos, nesta brincadeira de dança das cadeiras, quando a música parar?
(Eu acredito que) a prosperidade exige mais do que livres mercados...



Referências (Além da óbvias: Marx, Kalecky, Keynes e Schumpeter) :

BOYER, Robert. A teoria da regulação – Uma análise crítica, São Paulo: Nobel, 1990.

MINSKY, Hyman P., Estabilizando uma economia instável, São Paulo: Novo Século Editora, 2010.

SCHILLER, Robert, AKERLOF George, O espírito animal: como a psicologia humana impulsiona a economia e a sua importância para o capitalismo global, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.




sexta-feira, 20 de junho de 2014

Grande Demais para Quebrar (com legendas)


Ben Bernanke, o economista que presidia o Federal Reserve, Fed, o Banco Central americano, na época em que a ação se passa, e preside até hoje, diz lá pelas tantas, no filme, que passou toda a sua vida acadêmica tentando estudar e compreender os fatores que levaram à grande crise financeira iniciada em 1929, a origem da Grande Depressão, a maior crise da história do capitalismo.
Grande Demais Para Quebrar – uma beleza de produção, com um elenco cheio de grandes atores – tem a ousadia de retratar como se deu a grande crise financeira de 2008, aquela cujos efeitos perduram até hoje, e que só encontra paralelo com a de 1929.
É uma ousadia e tanto...

Link com o filme completo e com legendas: https://archive.org/details/Grande.Demais.Para.Quebrar

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Vantagem da Renda Fixa fica melhor ainda em Fundos de Previdência


Voltou o otimismo com a Renda Fixa face a perspectiva de estabilidade da Selic. Depois das sucessivas altas dos juros, iniciadas na reunião do Copom de abril de 2013, tudo indica que o Banco Central deve interromper o ciclo de aumento da taxa básica.

O indicador que mede o retorno dos títulos de renda fixa emitidos pelo Tesouro Nacional negociados no mercado secundário (IMA) acumula alta de 5,23% em 2014, até dia 16 de maio. No mesmo período, a variação do CDI foi de 4,54% e o Ibovespa subiu 4,79%.

A ótima rentabilidade da Renda Fixa neste ano contrasta com o péssimo retorno no ano passado, por conta do movimento de redução da taxa básica de juro. O desempenho em 2013 foi tão ruim que, pela primeira vez desde que começou a ser calculado, o IMA teve variação negativa em um período de janeiro a dezembro, quando mesmo os investidores que alocaram somente em papéis do governo amargaram prejuízos.

Talvez o “pior” exemplo tenha sido as NTN-Bs, corrigidas pelo IPCA, pois mesmo com alta da inflação, os títulos com vencimento em 2035 com distribuição de rendimentos semestrais tiveram variação negativa de -19% de janeiro a dezembro de 2013 e os títulos de mesmo prazo, mas com pagamento de principal e juros apenas no resgate, negociados exclusivamente no Tesouro Direto, tiveram perdas ainda maiores: -32% no período.

Uma das consequências mais visíveis da queda de preço dos papéis foi a queda do retorno dos fundos de previdência. O que ocasionou a diminuição do fluxo de recursos para a modalidade. Mas observe que esta “queda” foi apenas para quem realizou venda de cota neste prazo (2013), ou seja, efetuou resgates. Quem manteve posição, está recuperando as perdas neste semestre e melhor ainda, quem aproveitou o momento e aportou recursos (face a precificação menor das cotas) está ganhando (em previdência) este ano, comparado a outros ativos de risco semelhante.

A rentabilidade, como de costume, está influenciando o fluxo de aplicações e resgates das diferentes modalidades. Os fundos de previdência voltaram a captar de forma mais significativa e a poupança registrou o primeiro mês com resgates desde 2012, ou seja, começa a ocorrer migração de capital de valores alocados em Poupança para Fundos de Previdência, face a expectativa de melhor rentabilidade, aumentando significativamente o Patrimônio Líquido deste perfil de fundo.
A justificativa econômica é o fraco ritmo de expansão dos negócios. A inflação, apesar de continuar em nível elevado, não parece mostrar tendência de alta, o comércio começa a “chiar”, as principais linhas de produção idem com o crédito – fomentador do consumo – mostrando desaceleração no último mês.


Mantida a interrupção de alta da Selic (até mesmo porque já se enxerga um gargalo na ponta final: o consumidor e tomador de crédito), a taxas dos títulos públicos irão recuar, sendo propício para aplicações em Renda Fixa, sendo o melhor “produto” os Fundos de Previdência, por conta da vantagem tributária, além de outras especifidades, como o planejamento sucessório.

domingo, 8 de junho de 2014

Demolição sem projeto





Demolição sem projeto

Carlos Lessa
(jornal Valor Econômico em 04/06/2014)

                                      
O massacre, no mês passado, de uma dona de casa em Guarujá, perto de São Paulo, é apavorante. Houve o vazamento de um retrato falado, feito em 2012 pela polícia do Rio de Janeiro, de uma suposta assassina de crianças em rituais de magia negra na Baixada Fluminense. Um periódico local o reproduziu e a imagem circulou pela internet nas mídias sociais.

Uma dona de casa cristã recolhe sua pequena Bíblia que estava esquecida na igreja local, faz compras no mercado e, ao sair, dá uma fruta para uma menina que estava na calçada. Alguém gritou "é a bruxa" e a senhora foi imediatamente silenciada, teve sua bolsa aberta e revistada, onde encontraram o retrato de duas crianças e um livro de capa vermelha. A partir daí, foi imobilizada e mortalmente agredida por um grupo de homens, sendo que mais de cem moradores assistiram ao massacre. Os retratos eram das duas filhas da senhora, e o livro de capa vermelha era sua Bíblia.

Queimar bruxas foi frequente na Idade Média. Em 1692, em Salém, perto de Boston, 19 mulheres foram enforcadas e uma delas esmigalhada pela população em pânico quanto a bruxas. O episódio em Salém-Guarujá é a mais dramática evidência noticiada da total e absoluta desconfiança no ser humano, na Justiça e na polícia. O justiçamento histérico é um pesadelo. É indicador de uma terrível desagregação da confiança na ordem pública; marca a evolução dos homicídios registrados que, nas estatísticas dos últimos 12 meses, atingiu 56 mil brasileiros.

O justiçamento histérico é indicador de uma terrível desagregação da confiança na ordem pública e na Justiça

Os indicadores de desordem exigem uma recuperação da trajetória genética. Em 1930, tem início a Era Vargas que - com Vargas, contra Vargas e sem Vargas - se prolongou até os anos 80. Havia um projeto nacional, que perseguia a industrialização e a urbanização como um movimento transformador que iria produzir uma transformação social no Brasil. A década dos 80 foi um período balizado pelo fim negociado com a ditadura militar e a promulgação da Constituição de 1988. 

O desvio da eleição direta evitou passar a limpo o autoritarismo brasileiro e a Constituição recolheu o sonho da justiça social, com a preservação dos instrumentos ligados a meio século de nacional-desenvolvimento. A devastadora aceleração inflacionária passa a ser acompanhada de uma rápida desconstrução da Constituição; a prática das Medidas Provisórias permite distorções no sistema de poderes republicanos. A soberania começa a ser erodida pela adoção de orientações do Consenso de Washington.

Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente da República, afirma que "terminou a Era Vargas" e incorpora procedimentos demolidores da soberania e corrosivos do Estado nacional. O binômio privatização-desnacionalização modifica as forças produtivas do país. O modesto crescimento econômico é aceito sem a formulação de nenhum projeto nacional, a não ser que se aceite a adesão irrestrita à globalização e à consigna de "exportar é a solução". A exportação crescente de matérias-primas e alimentos corresponde a uma atrofia do sistema produtivo industrial e à redução significativa da taxa de investimento. A figura do empreiteiro é substituída pela do banqueiro.

Na entrada do novo milênio, sem a explicitação de qualquer novo projeto nacional, o Brasil, após as vicissitudes do opressor endividamento externo, entra numa fase singular, aonde a relação de trocas se move a favor dos preços de matérias-primas e alimentos, combinada com a queda de preço das importações.

A partir de 2002, tem início a prioridade aos sonhos sociais. Entre 2003 e 2012, com as condições excepcionalmente favoráveis do comércio exterior, houve um crescimento da renda da população brasileira, calculada pelo IBGE (Pnad), maior que o crescimento da economia. O Instituto Data Popular estima que 54% da população do país fazem parte da classe média. Porém, na ausência de qualquer projeto nacional, a macroeconomia permaneceu atrelada aos critérios do Consenso de Washington: houve continuidade nas privatizações, foram mantidas as regras para os vitoriosos bancos, e ausência de qualquer visão estratégica de longo prazo. O Projeto Bolsa Família é socialmente meritório; faz contraponto com a espetacular lucratividade patrimonial dos bancos e a trajetória fugaz das empresas X, de Eike Batista.

O endividamento das famílias sustentou a atividade econômica e garantiu a modesta evolução do segmento metal-mecânico e eletro-eletrônico. Ao mesmo tempo, as cadeias produtivas se atrofiaram e as facilidades de importação, combinadas com o jogo financeiro, mantiveram em nível medíocre a taxa de investimentos. Houve a combinação de uma melhoria social com uma estagnação relativa.

Krugman diria que "as ações de governo restauraram a confiança financeira, porém não repuseram a prosperidade". Nos EUA, deplora-se a carga do alto endividamento das famílias como o legado perverso da crise imobiliária. O Fed foi a favor de salvar todos os bancos, mas contra salvar famílias endividadas. No Brasil, estamos no limiar da alta e crescente dívida familiar ver corroído seu sistema de sustentação da atividade econômica. Isto colocará o dilema da "autonomia" do Banco Central.
Salém-Guarujá explicita dramaticamente a crise de representatividade política, de confiabilidade nas instituições.

A demolição da superestrutura institucional do Estado nacional-desenvolvimentista não abriu caminho a nenhum projeto de reestruturação do setor público. Infelizmente, multiplicam-se também os indícios de demolição da superestrutura cultural brasileira.

Desenho: Tubarões Voadores (Luiz Gê)

sábado, 1 de março de 2014

Notícias do Mercado - Já é Carnaval




O Yuan a moeda chinesa sempre foi previsível, quando desde 2005 vinha margeando positivamente contra o dólar, chegando a ter 33% efetivos.
Mas eis o revés que a moeda chinesa sofreu esta semana:



O Banco Central chinês está flexibilizando o regime de câmbio fixo, num momento mundial (sempre a globalização) com tendência de valorização do dólar antes todas as moedas internacionais. Entretanto nos últimos 15 dias, apesar do dólar se valorizar contra todas as moedas dos países emergentes, não vingou contra o real.
Será que os maciços leilões de swaps cambiais e os recentes aumentos da Selic concretizados pelo nosso BACEN surtiram tanto efeito assim?
Mas aí ficamos numa encruzilhada: Se temos como expectativa (e necessidade) de que o aumento das taxas internas de juros atraia capital estrangeiro, não perderiam estes capitais no câmbio destes últimos dias?

Outra: A grande atração ainda é nossa Bolsa e ela não é inversamente correlacionada ao câmbio? Podem os dois caírem juntos?

Aqui cabe perfeitamente o argumento do professor de economia da Universidade de Columbia, Sr. Guillermo Calvo: “os mercados emergentes sofrem de interrupções súbitas de fluxos de capitais, com consequentes rápidas desvalorizações em suas taxas de câmbio”.
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Petrobras como sempre puxando o mercado, seja para o bem, seja para o mal. E será sempre assim, ou você pensa que pode ser diferente, quando falamos de uma empresa que representa quase (ou mais) de 10% do investimento produtivo do país? Ou seja, não é só o tamanho da empresa em relação à Bolsa, mas o tamanho da empresa em relação ao Brasil.
Com a divulgação do seu programa de investimentos, a empresa tenta reduzir seus custos (muito dolarizados), um primeiro passo que ajuda, mas que não resolve a enorme alavancagem (3,5x dívida líquida/ebitda) e a queima de caixa (queimou US$ 22 bilhões em 2013).
Juntou os pontos? Apesar da valorização do dólar ser excelente para exportadores, é péssima para nossa principal empresa! Desta forma fica cada vez mais difícil saber para onde vamos.

Resumo das últimas semanas: O dólar que vinha forte nos últimos 4 meses, perdeu força, pelos motivos acima (mas ainda acredito que não será possível segurar por muito mais tempo esta tensão), os “fundos índice”, que foram sensacionais em 2011 e 2012 e péssimos em 2013 por conta da subida da taxa de juros, voltaram a aparecer (positivamente) em fevereiro, justamente porque o mercado apostou mais forte nos juros futuros do que se refletiu na própria Selic. Bolsa em baixa, com perspectivas nada animadoras (pelo menos até as eleições) e os fundos DI, mantendo o seu “devagar e sempre”, porém não tão devagar assim, pois os spreads bancários estão em movimento ascendente com algumas instituições financeiras necessitando captar fortemente.
Bom Carnaval.
Ajuda preciosa: 
www.empiricus.com.br/
www.bcb.gov.br/