sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Mendigo

Ontem à noite, vi caminhando pela Avenida Rio Branco, a principal rua do centro da cidade do Rio de Janeiro, uma das figuras da qual falei em outra postagem.
Não via a figura há muito tempo, somente tendo escutado algo a seu respeito. Ele era da “turma dos mais velhos”, mas apesar do andar arrastado, pude reconhecê-lo vindo em minha direção.
Propositalmente fui de encontro e a cada passo que eu dava, me aproximava, percebendo seu olhar perdido, seus pés sujos, calçando velhos chinelos, sua roupa chinfrim, um tosco chapéu de palha e uma grande sacola plástica às costas, levando sabe-se lá o quê...
Cruzei por ele lentamente, encarei-o e ele a mim, mas não com ar desafiador, mas sim com ar manso. Não sei se não me reconheceu ou se teve vergonha de falar, por quem já havia sido e pelo que era hoje: Mendigo.
Eu também não falei. Perplexo com o destino, mudo fiquei e só agora, aqui na madrugada, com a maquininha, tento dividir o que não sei...
Percebo que nunca soube seu nome, só seu apelido...
Nunca foi meu amigo, só um conhecido de bar, da “turma dos mais velhos”...
Assim, eu tento aplacar minha consciência.
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Torço para os meninos acordarem logo e que digam:
- Vamos jogar xadrez, papai?
A tempestade se aproxima e eu estou de volta ao ventre do bicho...
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Obs.: Aos amigos blogueiros, prometo entrar em todos vocês (no bom sentido) no fim de semana, com fartos comentários. Como disse acima, estou de volta ao "ventre do bicho", portanto com muito trabalho...

domingo, 26 de outubro de 2008

Espelho



Findo o curso, fomos procurar um canto para despedidas e beberagem, não necessariamente nesta ordem. Claro que de uma turma de vinte e cinco pessoas, de várias cidades e várias idades, indo dos 20 aos 55 (este último não sou eu), a formação heterogênea influenciava na escolha do lugar. Após breves desistências, por parte dos (mal?) casados e dos mais controlados financeiramente, fomos inicialmente a uma pizzaria, onde o farto rodízio preencheu nossos estômagos, mas não meu espírito, ainda necessitando de ser preenchido por um tanto de álcool.

Em seguida, o grupo dissolveu-se, com alguns voltando para o hotel, impressionante como há um inexorável medo do Rio de Janeiro, especialmente à noite, por parte de algumas pessoas. Outro(a)s, por conta de seus relacionamentos, não poderiam se estender na bebida e na camaradagem noite adentro, também foram embora. Quem sabe os pares destas pessoas, um dia compreendam que possuir uma pessoa, não é possuir seu tempo e sua presença ou possuir seus relacionamentos “fora relação”, mas sim, possuir sua alma, de uma forma sadia, sem medo, quem sabe vejam um dia que amor e liberdade não são incompatíveis.

Mas voltando, aos heróis que sobravam, obviamente eu fazia parte e nosso grupo caminhou até a Lapa, a velha Lapa dos boêmios e não tão velha Lapa das putas e travestis. Só que esta Lapa, está revitalizada, com vários bares, vários estilos, jovens em profusão e uma saudosa “velha guarda” ainda marcando terreno.
Procuramos um bar que atendesse a todos os gostos dos que lá estavam, pois o grupo, apesar de reduzido, ainda era um pedaço heterogêneo (continuava) do grande grupo inicial. Após algumas análises, resolvemos entrar onde nos pareceria mais aconchegante, com boa música (escutável) e onde poderíamos também conversar.Acertamos.
Meu pecado foi não ter anotado o nome do Bar, mas digo que tocava uma música luxuosa, fomos recebidos com “O Mundo é um Moinho” de Cartola, falar mais o que? Em seguida, um repertório de primeira, onde pude criar coragem e pedir um dos meus sambas favoritos: Espelho.
Peguei um guardanapo, escrevi e após dez minutos o cantor, um negro de meia idade e forte, disse:
- Atendendo a pedidos, vamos tocar uma do João Nogueira...

“...Um dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
Me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Ê vida à toa, vai no tempo, vai
Eu sem ter maldade
Na inocência de crianca de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai

Assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambam da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Ê vida voa, vai no tempo, vai
Ah, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai

Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso

E o meu medo maior é o espelho se quebrar”

sábado, 18 de outubro de 2008

Curso

Amigos blogueiros desculpem estes dias, onde até demorei a colocar os comentários, mas estou em curso pelo trabalho, portanto, com pouco acesso à micro (Internet). Assim não ando lendo vossos textos e poemas, mas prometo depois do dia 25, voltar a normalidade...
O problema é que nestes cursos, terminada a aula, existem sempre umas pessoas que conseguem me influenciar a beber uma cerveja e como sou altamente sugestionável nesta parte, acabo ficando "nos bares da vida" até tarde, mas tudo em prol do bom relacionamento e cordialidade, já que algumas pessoas do curso, não são deste estado, devendo ser devidamente ciceroneadas...
Portanto, nos próximos dias, posso ser encontrado na Lapa, nos bares da Rua do Lavradio ou nos bares do Arco do Telles.

domingo, 12 de outubro de 2008

Recife and Lenine



Lá pelos anos 80, fui passar um mês de férias na capital de Pernambuco, por convite de meu amigo Caé, que na época vivia na cidade, graças ao seu início de carreira futebolística, onde jogava no Santa Cruz. Coincidentemente, calharam minhas férias bancárias com o carnaval e imagine, se carnaval é bom em qualquer lugar (menos no hospital e no presídio), pense como será em Recife...
Lá além do que já esperava: Trios, frevo, birita, alguns alucinógenos e muitas mulheres, pude presenciar alguns shows sensacionais, vide que ao passar um mês em Recife, cheguei antes do carnaval e fui embora um pouco depois. Por lá vi Geraldo Azevedo e seu Dia Branco, Alceu Valença e seu Cavalo Doido e um desconhecido para mim, na época: Lenine.
De lá trouxe a camaradagem do futebol, com peladas sensacionais com a turma do Sport e do Santa em plena praia de Boa Viagem, devorei deliciosas “mão-de-vaca”, regada a muita cachaça de Vitória do Santo Antão, tive a hospitalidade de Dona Amara, mãe do amigo Caé e sua (e) terna paciência com meus porres e seus deliciosos cuscus e outros quitutes de lanche e café da manhã...Putz! Tanta coisa boa.
Mas a razão do post é falar do moço que canta aí em cima, pois ao ver este vídeo no Youtube, me fez lembrar disso tudo e mais, lembrar que o vi, ainda jovem, fazendo um show na cidade natal e pensar: Com tanta bosta tocando lá no Rio, como esse cara ainda não explodiu por lá? Esse cara é bom demais...
Talvez o motivo, é que no ido dos 80, a rádio estava massificada demais pelo tal de “rock Brasil” e Lenine já fazia uma coisa mais à frente, pegava uma levada também rock, mas com uma sonoridade b-r-a-s-i-l-e-i-ra, além de melodias e arranjos sofisticados demais pra época, extremamente pobre nesse quesito. Em Recife também deixei um grande amor, ainda falo mais dessa viagem...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Bodhidharma

Até hoje, a história da origem das artes marciais orientais, não se encontra totalmente elucidada e talvez nem seja, já que são ancestrais demais seus fundamentos. Uma das versões (resumida), é que um monge indiano, chamado Bodhidharma, numa de suas viagens, hospedou-se no templo Shaolin e lá transmitiu alguns de seus ensinamentos, que seriam uma espécie de ginástica, para fortalecer o corpo, no intuito de resistir aos enormes períodos de meditação. Essa dita ginástica, seriam movimentos inspirados nos próprios movimentos dos animais. Todo o resto desenvolvido, foi a partir daí...Esta é uma versão de "origem" chinesa, existem outras, de origens japonesa, coreana, tailandesa, etc. Mas o que eu queria mesmo era (re) lembrar uma história atribuída a este monge, Bodhidharma. O caçula dos três filhos de um rei, aos oito anos já afirmavam ser um iluminado, situam sua vida lá pelo ano de 500 DC e esta precocidade nos lembra as histórias do Nazareno (que acabei lembrando por conta do filme de Saramago e seu outro livro-O Evangelho Segundo Jesus Cristo). Havia um velho monge (sempre há) que servia de tutor aos três príncipes e certa vez, de posse de um imenso diamante, presente do rei, perguntou se conheciam algo mais valioso que aquela pedra? O príncipe mais velho e o "do meio" responderam que não havia, que somente o mestre poderia ter aquele belo presente e outras bajulações semelhantes ao que o pequeno Bodhidharma disse: - Realmente meus irmãos estão certos, pois é um belo tesouro, mas compreender o valor, é uma sabedoria sem preço, portanto compreender que um diamante vale muito mais que um caco de vidro, é de grande valia tanto quanto a pedra em si.Porém, é um conhecimento vazio, tratando-se apenas do conhecimento material do mundo, a verdadeira sabedoria consiste em compreender-nos a nós mesmos.
Assim como as artes marciais, no fundo, são galhos da mesma árvore, escutamos tantas histórias (similares) das religiões, que nos levam a crer o mesmo. Quantas histórias do pequeno "Bodhi" são similares as do pequeno filho de Maria ou do jovem Sidarta?
Outro aspecto é a colocação do pequeno Buda quanto ao valor, tanto do vidro, como do diamante e do conhecimento. Observa-se um importante rascunho da teoria econômica de utilidade marginal, para desgosto dos que colocam todas as fichas na teoria de valor de Marx, mas isso é outra história, afinal eu já misturei demais alhos com bugalhos...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Tirei uns dias de folga, vou curtir as crianças, colocar os "filmes" em dia e os livros não necessito colocar, pois não me deixam mesmo, talvez deve-se eu deixa-los um pouco, mas como? Se ouço vozes vindo da estante a me chamar. Ontem fui assistir Ensaio Sobre a Cegueira, já havia lido faz tempo. Seria babaquice de minha parte falar de Saramago, o final do nome já diz tudo, mas o filme achei muito bom e não entendi a razão de algumas críticas negativas, talvez porque alguns esperavam um filme a altura do livro, o que seria inexoravelmente difícil. O próprio Saramago achou o filme ótimo, destacando que a obra escrita é uma e a filmada é outra, que se o filme fosse cópia fidelíssima de um livro, qual a razão de filma-lo? Bem, talvez para ser "visto" por aqueles que não sabem ler. E se Saramago (sabiamente) colocou esta blindagem no filme, que bom não é Meirelles? Os críticos é que sentem em suas confortáveis poltronas, pois é mais fácil bater que colocar a cara para apanhar.

Lembrei de uma parábola zen, na qual vinham dois homens pela floresta, um deles cego, sendo guiado pelo outro. Uma escura floresta, numa fria montanha de densa vegetação, quando de repente um demônio assomou no caminho. O cego não experimentou o menor receio, mas o companheiro ficou paralizado de medo, totalmente apavorado! Foi então que o cego passou a conduzir o amigo...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Culpa é do Gerente ou Quanto "custa" US$ 1,00 ?

Desempregados fazem fila para tomar a sopa gratuita em Chicago (EUA), durante a crise econômica da década de 1930.

Houve, como em qualquer período de expansão econômica, extraordinários ganhos privados, agora, na fase de contração, iremos socializar as perdas... (Ubiratan Iorio - Ferrenho defensor da Escola Austríaca )
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A história da crise em voga, não difere em sua essência, daquela de 1929, sendo carinhosamente plantada pelas políticas do Fed ao manter as taxas de juros artificialmente, numa tentativa de aceleração forçada da prosperidade, com as autoridades americanas colocando a idéia errada de que, se qualquer pessoa desejasse um empréstimo para comprar uma casa, o governo teria a obrigação de concedê-lo (logo eles?), mesmo que indiretamente, idéia que operacionalizou criando a Freddie Mac e a Fannie Mãe.
Inexoravelmente, as empresas de financiamento imobiliário sofreram os impactos desta política irresponsável, com a inadimplência das hipotecas, pois como conciliar o aumento previsto em contratos da taxa de juro (os juros eram mais baixos nos primeiros anos do contrato, sendo depois reajustados para taxas mais altas), com o aumento do custo de vida, afinal tudo sobe, mesmo lá, planos de saúde, gasolina, alimentos, etc? Os tomadores destes créditos acreditavam que o preço das casas iria subir e assim realizar novas hipotecas, reajustando seus valores, desta forma “rolando a dívida”, porém (e sempre existe um), esta alta dos preços era uma “bolha” especulativa e como toda bolha estourou, com os preços das casas caindo. Assim as famílias não conseguiram pagar suas casas e o banco não conseguiu reaver o dinheiro emprestado (mesmo tomando de volta a casa), pois esta não vale mais o quanto foi pago.
Em meados de 2007, a crise se transmitiu aos títulos lastreados naqueles empréstimos e no início de 2008 a contaminação atingiu também os mercados de crédito (os bancos fazem uma espécie de “seguro”, agrupando as hipotecas em papéis e fazendo um rateio no setor financeiro, no intuito de dividir o risco).

É como se existissem duas economias, uma real (produção) e outra imaginária (financeira), o problema é que a segunda tem gerência sobre a primeira. A grosso modo, é como se uma fábrica de carros construísse 30 carros, vendem-se os 30, mas somente recebe-se o valor correspondente a um carro. Onde está o dinheiro dos outros 29? É dinheiro virtual, a base de financiamentos de ambas a partes, tanto a que compra, como a que fabrica e vende.
Aqui na terra dos índios (não é Jens?), não deve haver muito impacto sobre os bancos, já que estes atuam somente no mercado interno, mas a nossa produção, girando em torno de 90% de matérias-primas (comodittes), ficará comprometida, não para agora, mas lá na frente, com a falta de liquidez (dinheiro) no mercado internacional, quem comprará nossos produtos? E quando comprar a que preço será? O que faremos com toda essa soja, aço, álcool...

No mundo real não existe “a” taxa de juros, mas centenas delas, uma para cada tipo de operação e prazo.

A culpa é de quem? Quem não soube entender que dinheiro também tem preço e obedece a lei da oferta e da procura, ou pior, entende e maldosamente concedeu crédito fácil, porém, não calculando que fosse estourar tão cedo a crise, antes das eleições, afinal uma economia feliz e próspera seria um bom cabo eleitoral para uma reeleição republicana, não? Lembro minha mãe, aqui no Rio, que sempre votou no César Maia, por conta da liberação de crédito na Prefeitura, para aquisição de casa própria...