sexta-feira, 20 de junho de 2014

Grande Demais para Quebrar (com legendas)


Ben Bernanke, o economista que presidia o Federal Reserve, Fed, o Banco Central americano, na época em que a ação se passa, e preside até hoje, diz lá pelas tantas, no filme, que passou toda a sua vida acadêmica tentando estudar e compreender os fatores que levaram à grande crise financeira iniciada em 1929, a origem da Grande Depressão, a maior crise da história do capitalismo.
Grande Demais Para Quebrar – uma beleza de produção, com um elenco cheio de grandes atores – tem a ousadia de retratar como se deu a grande crise financeira de 2008, aquela cujos efeitos perduram até hoje, e que só encontra paralelo com a de 1929.
É uma ousadia e tanto...

Link com o filme completo e com legendas: https://archive.org/details/Grande.Demais.Para.Quebrar

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Vantagem da Renda Fixa fica melhor ainda em Fundos de Previdência


Voltou o otimismo com a Renda Fixa face a perspectiva de estabilidade da Selic. Depois das sucessivas altas dos juros, iniciadas na reunião do Copom de abril de 2013, tudo indica que o Banco Central deve interromper o ciclo de aumento da taxa básica.

O indicador que mede o retorno dos títulos de renda fixa emitidos pelo Tesouro Nacional negociados no mercado secundário (IMA) acumula alta de 5,23% em 2014, até dia 16 de maio. No mesmo período, a variação do CDI foi de 4,54% e o Ibovespa subiu 4,79%.

A ótima rentabilidade da Renda Fixa neste ano contrasta com o péssimo retorno no ano passado, por conta do movimento de redução da taxa básica de juro. O desempenho em 2013 foi tão ruim que, pela primeira vez desde que começou a ser calculado, o IMA teve variação negativa em um período de janeiro a dezembro, quando mesmo os investidores que alocaram somente em papéis do governo amargaram prejuízos.

Talvez o “pior” exemplo tenha sido as NTN-Bs, corrigidas pelo IPCA, pois mesmo com alta da inflação, os títulos com vencimento em 2035 com distribuição de rendimentos semestrais tiveram variação negativa de -19% de janeiro a dezembro de 2013 e os títulos de mesmo prazo, mas com pagamento de principal e juros apenas no resgate, negociados exclusivamente no Tesouro Direto, tiveram perdas ainda maiores: -32% no período.

Uma das consequências mais visíveis da queda de preço dos papéis foi a queda do retorno dos fundos de previdência. O que ocasionou a diminuição do fluxo de recursos para a modalidade. Mas observe que esta “queda” foi apenas para quem realizou venda de cota neste prazo (2013), ou seja, efetuou resgates. Quem manteve posição, está recuperando as perdas neste semestre e melhor ainda, quem aproveitou o momento e aportou recursos (face a precificação menor das cotas) está ganhando (em previdência) este ano, comparado a outros ativos de risco semelhante.

A rentabilidade, como de costume, está influenciando o fluxo de aplicações e resgates das diferentes modalidades. Os fundos de previdência voltaram a captar de forma mais significativa e a poupança registrou o primeiro mês com resgates desde 2012, ou seja, começa a ocorrer migração de capital de valores alocados em Poupança para Fundos de Previdência, face a expectativa de melhor rentabilidade, aumentando significativamente o Patrimônio Líquido deste perfil de fundo.
A justificativa econômica é o fraco ritmo de expansão dos negócios. A inflação, apesar de continuar em nível elevado, não parece mostrar tendência de alta, o comércio começa a “chiar”, as principais linhas de produção idem com o crédito – fomentador do consumo – mostrando desaceleração no último mês.


Mantida a interrupção de alta da Selic (até mesmo porque já se enxerga um gargalo na ponta final: o consumidor e tomador de crédito), a taxas dos títulos públicos irão recuar, sendo propício para aplicações em Renda Fixa, sendo o melhor “produto” os Fundos de Previdência, por conta da vantagem tributária, além de outras especifidades, como o planejamento sucessório.

domingo, 8 de junho de 2014

Demolição sem projeto





Demolição sem projeto

Carlos Lessa
(jornal Valor Econômico em 04/06/2014)

                                      
O massacre, no mês passado, de uma dona de casa em Guarujá, perto de São Paulo, é apavorante. Houve o vazamento de um retrato falado, feito em 2012 pela polícia do Rio de Janeiro, de uma suposta assassina de crianças em rituais de magia negra na Baixada Fluminense. Um periódico local o reproduziu e a imagem circulou pela internet nas mídias sociais.

Uma dona de casa cristã recolhe sua pequena Bíblia que estava esquecida na igreja local, faz compras no mercado e, ao sair, dá uma fruta para uma menina que estava na calçada. Alguém gritou "é a bruxa" e a senhora foi imediatamente silenciada, teve sua bolsa aberta e revistada, onde encontraram o retrato de duas crianças e um livro de capa vermelha. A partir daí, foi imobilizada e mortalmente agredida por um grupo de homens, sendo que mais de cem moradores assistiram ao massacre. Os retratos eram das duas filhas da senhora, e o livro de capa vermelha era sua Bíblia.

Queimar bruxas foi frequente na Idade Média. Em 1692, em Salém, perto de Boston, 19 mulheres foram enforcadas e uma delas esmigalhada pela população em pânico quanto a bruxas. O episódio em Salém-Guarujá é a mais dramática evidência noticiada da total e absoluta desconfiança no ser humano, na Justiça e na polícia. O justiçamento histérico é um pesadelo. É indicador de uma terrível desagregação da confiança na ordem pública; marca a evolução dos homicídios registrados que, nas estatísticas dos últimos 12 meses, atingiu 56 mil brasileiros.

O justiçamento histérico é indicador de uma terrível desagregação da confiança na ordem pública e na Justiça

Os indicadores de desordem exigem uma recuperação da trajetória genética. Em 1930, tem início a Era Vargas que - com Vargas, contra Vargas e sem Vargas - se prolongou até os anos 80. Havia um projeto nacional, que perseguia a industrialização e a urbanização como um movimento transformador que iria produzir uma transformação social no Brasil. A década dos 80 foi um período balizado pelo fim negociado com a ditadura militar e a promulgação da Constituição de 1988. 

O desvio da eleição direta evitou passar a limpo o autoritarismo brasileiro e a Constituição recolheu o sonho da justiça social, com a preservação dos instrumentos ligados a meio século de nacional-desenvolvimento. A devastadora aceleração inflacionária passa a ser acompanhada de uma rápida desconstrução da Constituição; a prática das Medidas Provisórias permite distorções no sistema de poderes republicanos. A soberania começa a ser erodida pela adoção de orientações do Consenso de Washington.

Fernando Henrique Cardoso, eleito presidente da República, afirma que "terminou a Era Vargas" e incorpora procedimentos demolidores da soberania e corrosivos do Estado nacional. O binômio privatização-desnacionalização modifica as forças produtivas do país. O modesto crescimento econômico é aceito sem a formulação de nenhum projeto nacional, a não ser que se aceite a adesão irrestrita à globalização e à consigna de "exportar é a solução". A exportação crescente de matérias-primas e alimentos corresponde a uma atrofia do sistema produtivo industrial e à redução significativa da taxa de investimento. A figura do empreiteiro é substituída pela do banqueiro.

Na entrada do novo milênio, sem a explicitação de qualquer novo projeto nacional, o Brasil, após as vicissitudes do opressor endividamento externo, entra numa fase singular, aonde a relação de trocas se move a favor dos preços de matérias-primas e alimentos, combinada com a queda de preço das importações.

A partir de 2002, tem início a prioridade aos sonhos sociais. Entre 2003 e 2012, com as condições excepcionalmente favoráveis do comércio exterior, houve um crescimento da renda da população brasileira, calculada pelo IBGE (Pnad), maior que o crescimento da economia. O Instituto Data Popular estima que 54% da população do país fazem parte da classe média. Porém, na ausência de qualquer projeto nacional, a macroeconomia permaneceu atrelada aos critérios do Consenso de Washington: houve continuidade nas privatizações, foram mantidas as regras para os vitoriosos bancos, e ausência de qualquer visão estratégica de longo prazo. O Projeto Bolsa Família é socialmente meritório; faz contraponto com a espetacular lucratividade patrimonial dos bancos e a trajetória fugaz das empresas X, de Eike Batista.

O endividamento das famílias sustentou a atividade econômica e garantiu a modesta evolução do segmento metal-mecânico e eletro-eletrônico. Ao mesmo tempo, as cadeias produtivas se atrofiaram e as facilidades de importação, combinadas com o jogo financeiro, mantiveram em nível medíocre a taxa de investimentos. Houve a combinação de uma melhoria social com uma estagnação relativa.

Krugman diria que "as ações de governo restauraram a confiança financeira, porém não repuseram a prosperidade". Nos EUA, deplora-se a carga do alto endividamento das famílias como o legado perverso da crise imobiliária. O Fed foi a favor de salvar todos os bancos, mas contra salvar famílias endividadas. No Brasil, estamos no limiar da alta e crescente dívida familiar ver corroído seu sistema de sustentação da atividade econômica. Isto colocará o dilema da "autonomia" do Banco Central.
Salém-Guarujá explicita dramaticamente a crise de representatividade política, de confiabilidade nas instituições.

A demolição da superestrutura institucional do Estado nacional-desenvolvimentista não abriu caminho a nenhum projeto de reestruturação do setor público. Infelizmente, multiplicam-se também os indícios de demolição da superestrutura cultural brasileira.

Desenho: Tubarões Voadores (Luiz Gê)