sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desenvolvimento: Inovação, Tecnologia e Schumpeter

O catching-up tecnológico não é fácil, sobretudo se os detendores de tecnologia de ponta não forem generosos no compartilhamento, ou seja, uma série de conhecimentos não são facilmente transferíveis, vide a época da Revolução Industrial, onde se tentava solucionar este problema com a importação de mão-de-obra especializada, pois nesta época ela incorporava a maior parte das tecnologias-chave.

Até recentemente, a redução ou isenção de tarifas de importação a certos bens de capital (que, curiosamente, coexistiam com restrições a importações de outros) foram um dos instrumentos-chave da política industrial dos países do Leste Asiático.

Num período marcado pela crescente incorporação de conhecimentos nas atividades produtivas, a inovação passou a ser entendida como variável ainda mais estratégica para a competitividade de organizações e países.

Economistas do “peso” de Joseph Schumpeter colocaram o processo de inovação no centro de suas teorias de desenvolvimento, com a evolução econômica se caracterizando por rupturas e descontinuidades com a situação presente se devendo à introdução de novidades na maneira de o sistema funcionar, ou seja, inovações.

O desenvolvimento dessa idéia leva Schumpeter a procurar estabelecer de onde provêem as inovações, quem as produz e como são inseridas na atividade econômica. Do plano, Schumpeter descarta a hipótese de que elas se originem no âmbito dos desejos e necessidades dos consumidores, esses atores são passivos em relação à pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos e processos. No que se refere a quem vai tomar a iniciativa dessa mudança, Schumpeter credita a um personagem particular: o empresário. O empresário é uma figura que se distingue na sociedade por ser portador de uma energia e capacidade de realizar coisas novas que não estariam presentes de maneira (proposital ou não?) difundida entre a população (muitas vezes “enfiada” goela abaixo, porém, digerida pelo nosso pacato populacho).

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[A]s inovações no sistema econômico não aparecem, via de regra, de tal maneira que primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão. Não negamos a presença desse nexo. Entretanto, é o produtor que, igualmente, inicia a mudança econômica, e os consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar. Portanto, apesar de ser permissível, e até mesmo necessário, considerar as necessidades dos consumidores como uma força independente e, de fato, fundamental na teoria do fluxo circular, devemos tomar uma atitude diferente quando analisamos a mudança (Schumpeter, 1911, p. 48)

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Nesse sentido, a ênfase dada à industrialização como elemento propagador do processo de desenvolvimento por autores como Furtado e Presbisch é exatamente a mesma que aquela dada à revolução das novas tecnologias pelos neo-schumpeterianos.

O papel do Estado é fundamental para o desenvolvimento. Nega-se a visão neoclássica tradicional - que considera os mercados como se surgissem espontaneamente, caracterizados por uma pretensa auto-organização. Para cepalinos e neo-schumpeterianos, a emergência dos mercados é resultado de intervenções de política estabelecidas tanto do lado da oferta (desenvolvimento de instituições, quadro de referências legal, estabelecimento de infra-estrutura, etc.), quanto do lado da demanda.

Cabe ao Estado o caráter pró-ativo voltado para coordenação e indução dos processos de transformação produtiva, visando internalizar os benefícios potenciais proporcionados por tecnologias de um novo paradigma tecnológico, afinal, quem está no topo da cadeia alimentar internacional, pois mais que negue, chegou lá assim e não pelo cantado laissez-faire...

domingo, 25 de abril de 2010

Desenvolvimento Sustentável

Ilustração de Gérard Dubois, pescada no site: O Silêncio dos Livros

Desenvolvimento sustentável implica usar os recursos renováveis naturais de maneira a não degradá-los ou eliminá-los, ou diminuir sua utilidade para as gerações futuras. O estoque de recursos naturais, não pode declinar ao longo do tempo, ou seja, os recursos utilizados hoje não devem reduzir a renda real no futuro.

Existem basicamente dois grupos de informação e análise a respeito dos conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável, um grupo formado por conceitos emitidos por cientistas (áreas humanas e biológicas), técnicos do governo e políticos, com diversidade de opiniões e soluções para o binômio desenvolvimento/meio ambiente. Outro são as organizações internacionais com enorme capacidade de influenciar políticas, tanto localmente como de forma global.

O crescimento sustentável de um lado é adotado como um objetivo operacional maior, que é consistente duplamente, com a remoção da pobreza e a sustentabilidade e de outro, os conceitos são de certa forma articulados pobremente, tornando difícil definir que tipo de participação levará a que tipo de resultado social e conseqüentemente ambiental.

O empresário, o trabalhador urbano, o trabalhador rural, o burocrata, o ecologista, o político, o tomador de decisão, não tem os mesmos interesses e principalmente as mesmas idéias do que seja desenvolvimento sustentável, assim, o debate inicial hoje faz parte de um novo paradigma a ser alcançado, onde apenas sabemos que o modelo atual de desenvolvimento é incompatível com nossa própria sobrevivência, devemos obter razoável consenso, amplamente entendido e aceito.

Sendo assim, torna-se inexorável elevado grau de responsabilidade sócio-ambiental, por parte de todos, incluindo aí a determinação que o desenvolvimento econômico não pode gerar desigualdades, distorções na distribuição de renda e reconhecer limites a este desenvolvimento, pois a redução da pobreza depende não somente dos limites da natureza, que são reais, mas da nossa capacidade de lidar com eles.


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Desenvolvimento: Inovação, Tecnologia e Schumpeter


domingo, 18 de abril de 2010

Desenvolvimento X Crescimento

Não poderá haver desenvolvimento sem crescimento, porém, haverá casos inversos, de crescimento sem desenvolvimento? Na resposta de Celso Furtado: “O desenvolvimento compreende a idéia de crescimento, superando-a”. Assim colocado, fica óbvia a maior complexidade do desenvolvimento em relação ao “puro” crescimento econômico.

Com razão, alguns colocam que na realidade dificilmente haverá crescimento, sem ser acompanhado de desenvolvimento, que seria desnecessária a diferenciação, mas a questão é: será que ambos são sempre na mesma proporção?

A “teoria do crescimento econômico” mostra como ocorre o crescimento de renda per-capita a partir de um número mais limitado e formalizado de variáveis, tenta-se compreender este dito crescimento via “modelos” e embora seja seminal o Keynesiano, temos também o “simples” de Solow, onde, porém, críticos destacam sua fragilidade, que antes de ser uma robusta construção teórica, seria por demais insipiente ao confrontado com a realidade, como um castelo de cartas, termo utilizado pelo prof. Simonsen, ex-ministro da fazenda nos governos militares, ao referir-se a modelos sem força teórica e matemática.

De fato, o desenvolvimento econômico implica mudanças estruturais, culturais e institucionais, visando diretamente atender o “bem-estar” da sociedade moderna e indiretamente buscando como objetivos: segurança, liberdade, justiça social e proteção ao meio ambiente.

O desenvolvimento econômico implica aumento de renda per capita (o crescimento em si), mas também melhoria no padrão de vida, este último ponto, de mais complexa mensuração, onde podemos utilizar a comparação de diferentes níveis de desenvolvimento entre os países, índice de Gini, ou a formulação de Amartya Sem, o índice de desenvolvimento humano.

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O desenvolvimento que interessa não é somente o de curto prazo, que pode, por exemplo, ocorrer quando de uma alta súbita dos preços da commmodities, mas da capacidade de manter este crescimento e transformá-lo em desenvolvimento, ao colocar a riqueza em benefício para toda a população.

Os países que mais crescem apresentam, em média, características comuns, como a abertura, não somente aos mercados, mas às idéias, tecnologias e recursos disponíveis globalmente. Outro fator são os investimentos, pois nenhum país consegue crescer sem altas taxas de poupança, com recursos sendo obtidos tanto no mercado internacional, como no mais importante, a poupança doméstica.

Os governos devem trabalhar assim, pelo fortalecimento dos mercados, fazendo as reformas institucionais que sejam necessárias, porém, compreender a sinergia, que não existe mercado forte, sem um governo também forte.

Para que as mudanças possam ser implementadas, são necessárias a capacidade de liderança política e a legitimidade dos governos, os quais sabem da importância de vários fatores, mas via de regra parece não se importarem (aos olhos do povo), mas quando se importam (ou acertam nas decisões?) as mudanças acontecem. São esses fatores: cuidar da educação, da pobreza, do meio ambiente e da infra-estrutura de comunicação e transportes. Mas para plena realização de aos olhos de uns, utópicas metas, os governos precisam ser honestos, tecnicamente competentes e capazes de desenvolver políticas de longo prazo, de forma pragmática, que possam ir além dos ciclos eleitorais.

Michal Kalecki, com sua teoria denominada “Ciclo Político”, observa que existe uma gangorra de interesses e de manipulação macroeconômica, em função de eleição e reeleição. Podem-se apontar muitos exemplos nacionais, vide Plano Cruzado, FHC II e recentemente o PAC.


"...Talvez Fernando Pessoa lhe responda, como outras vezes, Você bem sabe que eu não tenho princípios, hoje defendo uma coisa, amanha outra, não creio no que defendo hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei..." (Saramago).


O país que pleiteia o desenvolvimento, não pode tampouco ser refém de países já desenvolvidos, que utilizando termo do economista Frederich List, “chutam a escada”, ao insistir para que países em desenvolvimento adotem políticas e instituições “diferentes” das que eles adotaram para se desenvolver.


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O desenho acima é ilustração da capa do livro: Desenvolvimento: Includente, Sustentável, Sustentado de Ignacy Sach, que ainda não li, mas provavelmente trata do mesmo tema.



quinta-feira, 15 de abril de 2010

Modelos Econômicos


Qualquer teoria econômica é necessariamente uma abstração do mundo real, devendo-se ao fato irrefutável de que a complexidade (enorme) da economia concreta torna impossível a compreensão de todas as interelações de uma só vez (ainda mais no caso de estudantes, recém iniciados nos estudos econômicos).

Selecionamos alguns elementos para a compreensão (tentativa) de algum fenômeno econômico específico, formando via de regra, uma estrutura analítica (deliberadamente) simplificada, sendo uma representação da economia real, temos então, o chamado modelo econômico.

Essencialmente uma estrutura teórica, porém, ao ser “encorpado” de um viés matemático, constituído de equações que descrevem a estrutura deste e relacionando algumas variáveis entre si, acabamos por “derivar” um conjunto de conclusões (lógicas) desses supostos.

As variáveis frequentemente usadas em economia são: preço, lucro, receita, custo, consumo, investimento, importação e exportação; podendo existir independente uma das outras e assumindo valores diversos, mas (o mais importante) ao construirmos um modelo de forma apropriada, buscamos não só uma compreensão “ex-post”, mas acima de tudo, uma visão do futuro comportamento destas variáveis e seus efeitos políticos e econômicos, para enfim, a construção de um mundo melhor, com mais renda e melhor distribuição, passando inexoravelmente pelo caminho do pleno emprego de todos os fatores de produção.

No livro intitulado Um projeto para o Brasil, publicado em 1968, Celso Furtado discute como a elevada desigualdade da distribuição da renda no país condiciona um perfil da demanda global que inibe o crescimento econômico, porém, há que ser levada em conta, irrefutável datação do livro, já que o mesmo foi escrito logo após o golpe militar de 1964 e quanto a este período temos (hoje) diversos trabalhos acadêmicos que comprovam e endossam as palavras do mestre, corajoso, ao ser um dos primeiros a colocar o dedo nesta ferida, quando o crescimento muitas vezes não corresponde ao desenvolvimento.

Usando termos do Prof. Simonsen, apesar de eventualmente simples, nosso modelo deve ser sólido, para que nosso edifício dedutivo não seja uma “caricatura da realidade” e não desmorone ao ser confrontado com todas as complicações do mundo real, como um castelo de cartas.


Continua com: Crescimento x Desenvolvimento