segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Carta ao economista e amigo Renato Couto

Continuação do post anterior (original do blog Sociologando)

Prezado Renato,

Penso que Marx percebeu, como nenhum outro estudioso do capital, a fome desesperada da burguesia em expandir seus negócios, a necessidade imperiosa de permanentemente revolucionar as forças produtivas (ou sucumbir). Novos mercados não param de surgir!? Sim, mas em condições cada dia mais desumanas e artificiais (destruidoras da própria natureza e do meio ambiente). Marx, graças a sua visão dialética (tudo é transitório) e materialista (todo pensamento - e até o dinheiro, este símbolo de valor - necessariamente parte de uma base concreta, real) percebeu como é finita a natureza (e o homem, que é parte dela) frente a ganância desmedida que é própria da lógica capitalista. O capital é uma força social criada por trabalhadores alienados do processo e no processo produtivo.
Sou convicto de que a bicicleta do capital tem fim, porque ela destrói e dilacera os músculos de quem a pedala (o trabalhador), desvaloriza qualquer coisa que lembre "trabalho", para especular para muito além da ética e da razão. Gosto muito do filme de Michael Moore, onde ele mostra até que ponto pode chegar a ganância das grandes corporações: uma empresa emprega milhares de trabalhadores e faz um seguro de vida em nome de cada um deles, sendo que o beneficiado em caso de morte do trabalhador é a própria empresa. O capital já não é capaz de esconder seu desejo de morte: transformou a morte de seu trabalhador em mais uma fonte de lucro (aprimorando a máquina mortífera de Hitler!). Outro dado é que não há sustentação econômica para o desgarramento da atividade especulativa frente a atividade produtiva, cada dia mais destrutiva: enquanto a primeira beira os 600 trilhões de dólares, a segundo está em 60 trilhões (PIB mundial).
Nesta lógica os bancos se assenhoram dos estados, dos governos (vide Grécia - com Papademos - e Itália - com Mário Monti, homens da Goldman Sachs, para citar dois exemplos bem recentes de apropriação mundial de riqueza), numa lógica autofágica. Aliás, até isso, Marx nos ensinara: o Estado capitalista é o local onde a burguesia administra seus negócios. Só que agora reduzida ao mínimo, terceirizado em favor da própria burguesia e sua ânsia de mais valia. A conclusão desta guerra contra o ser humano (os 99%) e o que resta da natureza é a nazifascistização atual, que aponta para uma III Guerra Mundial, porque até a guerra está privatizada. E durma-se com um barulho desses!

Renato Fialho Jr.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma Carta do Sociólogo ao Economista

O amigo Renato Fialho é amigo há mais de 40 anos e isso basta para, acredito, confirmar tanto a liberdade em reproduzi-lo como os saudáveis (porém poucos) papos que temos batido via “email”. Algum tempo atrás lhe respondi um email, sobre um artigo cujo tema era as igrejas evangélicas, ele mandou outro que acabou numa bela carta publicada em seu blog, que reproduzo breve, junto com os emails (que acredito originou a mesma).
Primeiro o email que Fialho me enviou:

Em 12/12/2011 18:44, rfialhojr < rfialhojr@uol.com.br > escreveu:
Agora, a Globo também tem seu braço evangélico!

http://odia.ig.com.br/portal/rio/html/2011/12/informe_do_dia_louvor_oficial_211729.html


Informe do Dia: Louvor oficial
POR FERNANDO MOLICA
Rio - A conta do louvor foi rachada entre todos os cariocas: a Riotur, empresa da prefeitura que cuida de turismo, pagou R$ 2,9 milhões pelo patrocínio do Festival Promessas, o espetáculo gospel ocorrido ontem no Aterro.

Promovido pela Rede Globo, que exibirá trechos do show no dia 18, o festival foi batizado com o nome de uma coleção de CDs evangélicos da Som Livre, gravadora das Organizações Globo. A organização do Promessas coube à Geo Eventos, que recebeu a verba da prefeitura. A empresa pertence às Organizações Globo e ao Grup o RBS.

Outros contratos

Em 2011, a Riotur patrocionou outros dois eventos organizados pela Geo:destinou R$ 15 milhões para o sorteio dos grupos das eliminatórias da Copa e R$ 4 milhões para uma etapa do circuito mundial de surfe, o Billabong Rio Pro.

Turismo divino

Uma visita ao Rio Transparente — site que registra receitas e despesas da prefeitura — mostra que a Riotur é ecumênica. Também em 2011, deu R$ 3,206 milhões para a Mitra Arquipiscopal, que representa a Arquidiocese do Rio.

Então respondi:

Xará,
Sabemos a "lição de casa" que onde há $$$$ existe a possibilidade de multiplicá-lo (quem sabe da mesma forma que o filho de Maria fez com os peixes?). Desta forma, o poder na sua forma midiática (mas nem por isso gostando menos de dindin) fica babando sangue toda vez que percebe uma nova oportunidade (leia-se mercado), pois dada a saturação dos existentes, qual a única forma de expanção? Senão a conquista de novas "colônias" ?
O velho e barbudo Mouro escreveu, assim como um ícone do liberalismo (nem por isso o "cara" não foi um dos melhores economistas...): Schumpeter, com sua visão do empreendedorismo e da busca da inovação, como forma de perpetuação da utilidade do capital. A palavra utilidade (tradução de nãoseioquedealemão) é conceito econômico, próximo de "lucro do lucro", seria um valor % superior a taxa de empréstimo bancário, etc..., desta forma um tanto diferente do conceito de mais-valia, que você domina melhor do que eu. Enquanto um determina que o capitalista "usa"(explora seria melhor) o valor trabalho do proletariado o outro determina que o capitalista "usa" (também) a poupança interna do sistema. Mas de onde surge essa poupança interna, já que o proletariado ganha somente para seu sustento? Kalecki explica, que a poupança interna não passa de uma "reinvenção" da mais-valia obtida anteriormente, ou seja, novamente temos a multiplicação como mágica. Mas até quando eles podem pedalar essa bicicleta? Indefinidamente (para tristeza de Marx), já que novos mercados não param de surgir (este foi o brilhante insight de Schumpeter). Você tem celular? Gastou quanto com ele? Pensava em comprar um há 20 anos atrás? E DVD? E a pasta de dente que clareia os dentes? Você acredita em deus? Tenho um livro óóóóóotimo aqui, quer comprar? E este CD Gospel, tem aquela música do $ilas Malafaia...
Aí você pode argumentar que o DVD somente substituiu o vinil, sim, o trabalhador do vinil ficou desempregado, sujeitou-se a um salário menor, e salário menor = mais-valia maior, e a bicicleta continua...
Cadê aquele chopp ?????

Abraços,

Couto

No próximo post, reproduzo "Carta ao Economista e Amigo Renato Couto"

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Notas sobre Karl Marx (fim da primeira parte)

Notas sobre Karl Marx
II - (Primeiro manuscrito – Salário do trabalho) continuação de post's anteriores

Talvez devêssemos entrar no que Marx chamou de “fetichismo das mercadorias”, de leve, pois ainda não chegamos ao Marx maduro, autor de “O Capital”, mas vamos lá, pois sem essa concepção, fica difícil entender tanto o endosso de Smith assim como o combate de Marx ao “deus mercado”, este escreve (O Capital): “... temos que recorrer às regiões nebulosas do mundo religioso. Nesse mundo, os produtos da mente humana aparecem como seres independentes (...) O mesmo se dá no mundo das mercadorias...”
Destarte, Marx coloca lado a lado o mercado e a vontade divina, numa crítica a que o mercado operaria segundo “leis eternas” às quais, a exemplo da religião, os homens deverão aceitar e já que são eternas, não poderão mudar. Ao capitalista interessa manter cada um no seu papel social, a fim de manter a ordem vigente. Não há como não associar aqui a idéia de Smith tão propagada da “mão invisível”.
Marx continua: “a natureza não produz, de um lado, donos do dinheiro ou de mercadorias e, do outro, homens que não produzem senão sua força de trabalho (...) Essa relação (...) resulta claramente, de um desenvolvimento histórico”.
E assim como escreveu em “Crítica da filosofia do direito de Hegel”, que “a base da crítica irreligiosa é esta: o homem faz a religião, a religião não faz o homem”, se aplica também ao mercado, onde o homem é que faz o mercado e não o mercado faz o homem.

Algumas passagens de Marx me lembram o filme Matrix, quando a própria classe dominada se mantém iludida “pelos mitos propagados”, sem forças (e sem vontade) para combater.

Voltando ao “Primeiro Manuscrito” Marx, nas páginas finais de “Salário do Trabalhador” destila uma série de citações, basicamente de três autores: Wilhelm Schulz, Charles Loudon e Eugène Buret (somente Buret tem alguma expressão, definidor de proletariado), com fartos dados numéricos sobre a situação dos trabalhadores ingleses, seja a quantidade de horas trabalhadas, a idade absurda que as crianças ingressavam no trabalho – 8 a 12 anos, o aumento da prostituição, ou seja, Marx expões a situação desumana das fábricas inglesas, o que sabemos não ocorrer hoje, graças a políticas trabalhistas, quando no Brasil, de certa forma recentes, implantadas por Vargas.
Exatamente um ano depois (1845), de conhecer Marx em Paris, Engels escreveria “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”.
Marx nesse trecho faz uma crítica a própria economia política, onde esta não se preocupa com o homem como homem, mas apenas como “proletário” e argumenta face aos dados numéricos que apresentavam crescimento econômico, apesar de toda mazela social, que não passavam de pura demagogia, já que o crescimento do PIB per capita (Marx ainda não utilizava esta moderna expressão) nunca irá representar redução das desigualdades sociais: “... é com estes cálculos médios superficiais que nos iludimos...”
Marx já apresentava um questionamento do que hoje escrevemos como se há ou não uma dicotomia entre crescimento e desenvolvimento e principalmente uma preocupação com o homem ser tratado como homem e não como máquina.
“Uma nação que procura desenvolver-se espiritualmente com maior liberdade não pode continuar vítima das suas necessidades materiais, escrava do seu corpo. Acima de tudo, precisa de tempo livre para criar e usufruir cultura...”
“O sistema econômico atual (...) aperfeiçoa o trabalhador e degrada o homem”.

fim do "Salário do Trabalho, continua com "Lucro do capital" ...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Marx, a voz da liberdadade (continuação de "Notas sobre Karl Marx")


Notas sobre Karl Marx
II - (Primeiro manuscrito – Salário do trabalho) continuação de post anterior

Marx apud Smith, tenta amarrar a sociedade em três tipos de situação e o trabalhador dentro destas conjeturas:

1) Quando diminui a riqueza da sociedade (toca-se na questão da crise), pois “ao diminuir a riqueza da sociedade, o trabalhador é mais sacrificado”, novamente citando Smith: “ninguém sofre tão cruelmente com o seu declínio como a classe trabalhadora”. Sabemos que a corda irá sempre arrebentar do lado mais fraco, pois proprietários/capitalistas sempre terão alguma poupança para estas horas. Me pergunto, quem levou Smith a ser apóstolo do liberalismo? Pois até agora, Marx não discorda deste, apenas dá um verniz social em sua abordagem econômica, como na passagem [o trabalhador] se vê diminuído espiritual e fisicamente à condição de uma máquina e se transforma de ser humano em simples atividade abstrata”.

2) Quando a sociedade em que a riqueza aumenta, com a pergunta chave: “quando determinada sociedade se encontra numa condição de aumento de riqueza?” A resposta encontrada por Marx, totalmente referendada por uma política liberal, é de que é necessário acumular, seja capital, seja trabalho, “porque o capital é trabalho acumulado”, ou seja, aqui Marx apóia a idéia ortodoxa da economia, da necessidade fundamental de que para haver crescimento (nesta ótica) é necessário haver poupança.
Malthus e posteriormente Keynes, derrubam esta idéia, com o paradoxo da parcimônia, ou seja, se há um excesso de poupança, não há consumo e se não há consumo, por que produzir?

Kalecki chegará à mesma conclusão, porém abordando de outra forma o problema, numa análise que podemos encontrar no décimo capítulo de “Crescimento e Ciclo das Economias Capitalistas”`, ele inverte, não é a poupança que determina a acumulação e conseqüente investimento, mas é o investimento, apoiado no consumo dos capitalistas (os únicos que irão consumir bens que não sejam de primeira necessidade) que irá gerar o lucro e posteriormente poupança, mantendo-se o ciclo.
Assim enquanto para os clássicos (e Marx entre eles) a poupança é ex-ante, gerando investimento, para Kalecki (e também Keynes), o investimento apoiado em financiamento é que será ex-ante, gerando poupança de igual valor.

Na visão clássica, encampada por Marx, a situação de empréstimo de dinheiro a juros não se observa com muita freqüência, porém, hoje nos deparamos com uma realidade bastante diferente, pois devido ao crédito, os capitalistas antes mesmo de lucrarem gastam em investimento. Aí temos um problema, pois se o investimento não se “realiza”, ou seja, se o investimento não paga o juros esperado ao capital (a eficiência marginal do capital abordada por Keynes), temos quebra no elo da corrente e, portanto crise. Enquanto isso não ocorre, é como a brincadeira da dança das cadeiras, enquanto a música estiver tocando, corre-se em torno das mesmas.

Desta forma, os clássicos não abordaram de forma razoável sobre os juros, já que no tempo de Smith e posteriormente Marx, o investimento produtivo era a única forma de valorização rentável do capital. Keynes e Schumpeter deram muito mais atenção ao papel dos bancos (o capitalista “puro”) no sistema, tanto que Marx escreve, “só quem é realmente rico pode subsistir do juro sobre o dinheiro. Todos os outros tem de aplicar o capital no negócio ou no comércio”, ou seja, somente grandes fortunas gerariam escala para aplicação, dado o baixo rendimento, diverso dos dias atuais, quando pequenos poupadores sobrevivem com seus ganhos, cabendo aos bancos a intermediação entre estes poupadores e os tomadores.

Marx en passant fala que alguns capitalistas poderão emergir da classe operária e que também capitalistas médios mergulharão na classe trabalhadora. De certa forma, esta permuta, com o empreendedor ascendendo de classe e o empresário incompetente falindo, nos remete mais uma vez a Schumpeter com seu emblemático empreendedor e sua destruição criadora.

3) “Em um país que alcançou o último nível possível de riqueza”. Marx apud Smith apesar olhar para a Inglaterra de sua época, quando “a competitividade pelo emprego (...) diminui os salários do trabalho”, está escrevendo um fato de todas as épocas, referendando a lei de oferta e procura de um bem, no caso, este bem é à força de trabalho. Quando a este “último nível de riqueza”, onde estará? Marx já esboça a idéia de mais-valia, em “o trabalhador recebe apenas a parte mínima e absolutamente indispensável do produto; exatamente tanto quanto precisa para subsistir como trabalhador, não como homem...”. Parece que Kalecki também se apóia aqui ao fundamentar o seu “consumo do capitalista”, já que na visão marxista, o trabalhador somente consome para sua sobrevivência. Neste ponto, me parece que a burguesia e seu braço moderno chamado marketing foram mais espertos. Tome a utilização de celulares, Tv’s de plasma, adoçantes e todas as “modernidades” nos impostas como absolutamente essenciais a nossa sobrevivência.

Marx expõe duas feridas ao escrever que “é unicamente por meio do trabalho que o homem aumenta o valor dos produtos naturais”, ou seja, somente agregando valor as commodities se obtêm crescimento. Esta foi a receita inglesa, junto ao algodão indiano e temos também um exemplo local, pois enquanto o Brasil é o maior exportador de café verde, a Alemanha é a maior exportadora de café industrializado no mundo (ainda nos dias de hoje), etc. Friedrich List, economista alemão e contemporâneo de Marx, desenvolveu mais amiúde este conceito, em seu livro “Sistema Nacional de Economia Política” de 1841, base da CEPAL de Furtado e Prebisch, apesar de Marx criticar com certa ironia a obra deste em “Contribuição à crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, acusando List de ter uma teoria “astuta”, neste caso Marx fez um trocadilho com o nome de List, pois em alemão astuto é escrito “listingen”: “...na França e na Inglaterra. A ordem antiga e podre, contra a qual estas nações se revoltam teoricamente (...) é saudada na Alemanha como a aurora de um futuro glorioso (...) a custo ousa mover-se de uma teoria astuta para uma prática implacável.” Marx parece acreditar que o escrito e defendido por Smith, passa da teoria a prática, enquanto List cunhou com muita propriedade o termo “chutando a escada”: “É um expediente muito comum e inteligente de quem chegou ao topo da magnitude chutar a escada pela qual subiu a fim de impedir os outros a fazerem o mesmo. Não é outro o segredo da doutrina cosmopolita de Adam Smith.”
List acredita que os países ricos são adeptos da filosofia: Façam o que eu digo, mas não façam o que eu fiz, desta forma esconderiam a fórmula que os fizeram se desenvolver.
Assim, países em desenvolvimento seriam pressionados pelos países desenvolvidos a adotar o que chamam de "boas políticas e boas instituições", capazes de promover o desenvolvimento econômico e não é isto que vemos hoje, com Consenso de Washington, FMI e Banco Mundial? O que dizer da crise européia e a pressão para a Grécia (estamos em 2012) aceitar o pacote de medidas? Marx poderia ter dado um pouco mais de atenção a seu compatriota e não somente ao escocês.

Outra ferida: “o proprietário de terras e o capitalista (...) estão acima do trabalhador e lhe impõe leis”. Quem não senão estes dirigem os destinos de qualquer país? A família Sarney (e outras), por exemplo, não corresponde a esta afirmação, soberanos no Congresso?


Marx antes de ser a voz econômica, é a voz da liberdade. Liberdade não é um valor, mas algo a ser perseguido, já que Marx procura acender a lanterna e mostrar que os homens ainda vivem em determinada escravidão (“o crescente progresso da sociedade, torna o trabalhador cada vez mais dependente do capitalista”). Mas o que falta para estes se libertarem? Como soltar o grilhão? Este grilhão é puramente econômico? Seria dentro do próprio país e depois de um país para com o outro?
Mais perguntas: O que é liberdade? Liberdade será nossa escolha? Nossa opção? O mundo capitalista nos tira isso, a escolha, ao nos obrigar a horas e horas de trabalho, ou não? Podemos trabalhar menos tempo e manter nossa sobrevivência? Marx enfoca o capitalismo com uma espécie de fanatismo religioso e não como uma busca moral e econômica. Assim conheço alguns detratores do marxismo e defensores ferrenhos da igreja liberal, porém, todas as moedas têm dois lados e alguns marxistas possuem o mesmo tipo de fanatismo dogmático.
Rosa Luxemburgo sempre me salva, quando disse, referindo-se à ditadura estabelecida pelos bolcheviques (apesar do seu apoio a mesma), em 1917: “Liberdade apenas para os que apóiam o governo, apenas para os membros do partido, não importando quantos sejam, não é absolutamente liberdade. Liberdade é sempre a exclusivamente a liberdade de quem diverge do nosso modo de pensar”.

continua...

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Notas sobre Karl Marx (continuação)

Notas sobre Karl Marx
II - (Primeiro manuscrito – Salário do trabalho)

O próprio título: “Manuscritos Econômicos Filosóficos” índica que são textos com um caráter tanto econômico quanto filosófico, assim, alguns trechos serão segmentados para análise, começando com a primeira frase do primeiro manuscrito, sobre “Salário do trabalho”, onde Marx escreve que uma “luta árdua entre o capitalista e o trabalhador” é que determina o salário, com uma compressão do salário deste último, quando “o proprietário e o capitalista podem completar os seus ganhos com os lucros da indústria”.

Este início faz-me parecer que a época em Marx escreveu (1844), o capitalismo era bem diverso do capitalismo de nossos dias, tanto na questão do preço do salário, quando o que determina o mesmo é o “quanto” o consumidor está disposto a pagar (sendo bem óbvio e diretamente proporcional no que tange a serviços) – exceção nos monopólios (que também eram poucos ou nenhum na época de Marx) com demanda inelástica. Gostaria de fugir ao máximo do economês, mas aceitar ou refutar determinados conceitos econômicos marxistas, ou não, implicará em usá-los e tentar “traduzi-los”. A demanda é inelástica quando um aumento do preço não gera diminuição significativa na demanda e sendo monopólio não há substituição perfeita, tampouco próxima do bem. Marx mistura o capitalista com o proprietário, talvez o preço de ter escrito ainda jovem (ou de sua época), quando os bancos não eram o que são hoje, tendo a maioria dos proprietários como reféns dos juros via adiantamentos e desconto de títulos, assim, nem sempre o proprietário realizará seu lucro, dado o risco do negócio (talvez a grande crítica liberal), contrario ao capitalista, que sempre receberá na frente (seja via prêmio de risco, hedge, etc.). É claro que existem proprietários/capitalistas, o dono do banco, que “vende” dinheiro, os donos da ANBEV, da Vale, empresários do porte de Eike Batista, mas raramente não terão poder de monopólio, mas também existem os proprietários não capitalistas, que dependem de capital de terceiros para gerirem seus negócios. Na época de Marx, formou-se uma casta via acumulação de capital, a burguesia, que buscou ao máximo a multiplicação deste mesmo capital, sendo então uma só: proprietária e capitalista. Somente depois, aqueles que sonham em serem proprietários, não fazendo parte da “luta árdua” de Marx, mas sim sonhando em emular, segundo Thorstein Veblen: “As classes mais baixas não estão querendo brigar com as mais altas (...) não procuram destruir seus dominadores; eles procuram emulá-los (...) seu objetivo não é se livrar de uma classe superior, mas sim ascender até ela.”

Schumpeter e sua figura do empreendedor são cruciais para entender este ponto, para além de Marx, apesar de que Schumpeter (nascido no ano que Marx morreu) parece ter buscado inspiração em vários trechos do “Manifesto Comunista”, como veremos à frente. O empreendedor é aquele que sem recursos, irá até o capitalista e pagará o prêmio de risco pelo capital necessário para seu negócio, que sendo sucesso, realimenta com mais lucro (e capital) este mesmo sistema. Vejamos que aqui este lucro não se dá por conta de mais-valia, mas por conta de maximização do mesmo, dada a “novidade” do empreendedor e sua capacidade de capturar a demanda do consumidor.
Mas aqui fico numa encruzilhada. Não será o consumidor, também o trabalhador? Quando o consumidor está sendo explorado, não estará também sendo explorado o trabalhador de forma indireta, já que a exploração se dá não pela produção em si, mas pela venda, com maximização do lucro? Talvez o grito final do Manifesto deve-se ser: Consumidores de todos os países, uni-vos!

Porém, algumas coisas não mudam e “o trabalhador transformou-se numa mercadoria e terá muita sorte se puder encontrar um comprador”, não difere dos nossos dias, com poucas exceções, dado algumas especializações e formações.
Marx continua com várias citações da obra de Smith (A Riqueza das Nações), nas quais não o contesta explicitamente do ponto de vista econômico, mas sim do filosófico.
A idéia de preço corrente e preço natural acabou evoluindo para a busca de lucro máximo via igualar o preço corrente ao custo marginal, em situação de livre concorrência, que sendo utópica nos leva a situação de lucro máximo em monopólio, ou seja: Rmg = Cmg. Marx referenda Smith, com a observação de que se o capitalista perde, o trabalhador perde, porém se o capitalista ganha, o trabalhador não tem seu “plus” por conta desse ganho adicional. Nada mais verdadeiro, porém Marx não aborda a questão do risco até então.

$$$
(continua...)

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Hino ao Sono

No blog do camarada Halem, achei esta postagem (clica no link) sobre o poeta João Paulo Paes, que apesar de escrever "em Quem, eu?: um poeta como outro qualquer", de forma alguma, digo. Fiquei sim, embasbacado e navegando atrás de outros poemas, procurando livros, deparei com esse, alimentando minha noite insone.

HINO AO SONO

sem a pequena morte
de toda noite
como sobreviver à vida
de cada dia?

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Notas sobre Karl Marx

Notas sobre Karl Marx

I - Prefácio

Após a conclusão do curso de economia, descobre-se que aquele que quiser conhecer um pouco sobre Marx deve caminhar por conta própria, não que seja má vontade do professorado, pois também não existe nenhum aprofundamento em Hayek, Mises ou Friedman, mas por absoluta falta de tempo. O curso regular deve caminhar pelo “caminho comum”, cabendo ao aluno fazer suas escolhas. Calma, apressado leitor, não fiz uma escolha marxista, tampouco austríaca (a escola mais liberal da economia), mas sim, escolhi conhecer o que me for possível de economia, ambos os lados, todas as escolas, todos os “modelos”, pois o que já é me dado compreender, temos coisas boas e ruins em ambos (todos).
Voltando a Marx, tentarei discutir algo do mesmo, após leitura dos “Manuscritos Econômicos Filosóficos” e do “Manifesto Comunista”, além de citações de ”O Capital” feitas por Kalecki e Rosa Luxemburgo, autores que sendo “tradutores” do pensamento marxista, sem seres dogmáticos, em muito ajudam, numa busca imparcial de conhecimento e posicionamento. O primeiro com seu viés matemático e Rosa profundamente humanista.
Espero ao fim destas primeiras notas, estar pronto para mergulhar diretamente no “O Capital”, especialmente o Livro I, publicado ainda quando Marx estava vivo.
“Neste mundo, só possuímos aquilo que podemos vender”, esta é uma frase, a meu ver, ícone não só da peça “A morte do caixeiro-viajante”, como de uma análise de Marx e do capitalismo e longe de pensar em Marx ou o comunismo como redenção, pois nestas primeiras horas de análise, onde me valem as notícias de jornais (mesmo que parciais) tanto o quanto os livros científicos, a falência tanto da ex-URSS, como do comunismo fake chinês (alguém pode me definir aquilo?) e da oprimida (tanto por dentro como por fora) Cuba, o dito de que “o capitalismo é a exploração do homem pelo homem e o comunismo é o oposto”, não me parece apenas piada de mau gosto, mas um humor negro, de penosa realidade, pois o comunismo que se apresentou ao mundo até agora, me parece divergir do comunismo sonhado por Marx e é isso que pretendo auferir.
$$
(Continua...)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Thorstein Veblen, Bucetinhas e A Revolução Marxista


As instituições não são novidade, vide que os economistas clássicos já pensavam claramente em instituições; a escola histórica alemã foi explicitamente institucionalista; e nos Estados Unidos, no começo do Século XX, houve uma escola com esse nome, cujo principal representante foi Thorstein Veblen (este cara aí da foto, parecido com o Tom Selleck-Magnum).

Principal figura, (figura não! Figuraça!) desta Escola, Thorstein Bunde (que de bundão não tinha nada) Veblen foi um filósofo, sociólogo e economista altamente controvertido.

Nasceu em Wisconsin de pais de origem norueguesa. Estudou nas universidades John Hopkins, Cornell e Yale, onde obteve o doutorado em 1884. Veblen trabalhou nas universidades de Chicago (de onde foi expulso por manter relações sexuais com alunas), Stanford (de onde lhe obrigaram a ir embora por sua atitude crítica para com os homens de negócio) e Missouri (desta não foi posto para correr?), sendo que, em nenhum caso, pôde superar o nível de professor auxiliar (porém, com várias bucetinhas no currículo). Apesar de crítico do "stablishment", foi escolhido, por seus colegas de profissão, para a presidência da American Economic Association, provavelmente porque todos também olhavam, para além das curvas de oferta e demanda, olhavam para as curvas (nem tanto, pois sabemos o quanto as americanas pré-silicone são “retas”) das alunas...

Com Veblen, o estudo das instituições ganhou este espaço, por conta de sua importância dada, visto que os homens perceberam com mais clareza que, através delas, podem alcançar resultados sociais e liberdade, o bem-estar e a justiça.

Chang em seu estimulante “Chutando a Escada”, destaca quais seriam as ditas “boas” instituições que levariam (e levaram) ao desenvolvimento, os países hoje assim classificados.

A Escola Institucionalista surge como forma de compreender a interação humana, uma crítica implícita à Escola Neoclássica (e ao laissez-faire). As instituições fornecem sustentação à sociedade, são sistemas de regras estabelecidas e que organizam as interações sociais, mesmo quando as mesmas instituições, restringem (de alguma forma) a interação humana, seja por restrições formais (regras, leis, constituições) ou restrições informais (normas de comportamento, convenções e códigos de conduta auto-impostos).

O Velho Institucionalismo Americano (Old Institutional Economics – OIE), do qual as figuras centrais foram (o citado) Thornstein Veblen e (também) John Commons, destacava a importância central das instituições e da mudança institucional rejeitando o enfoque no indivíduo e dando atenção primordial ao coletivo e na sua preponderância sobre o agente individual, destarte, os próprios mercados deveriam ser vistos como instituições.

Se os primeiros economistas não foram tão bem sucedidos em explicar o que mantém a sociedade unida diante dos interesses divergentes, poderíamos então afirmar que a visão marxista estaria certa, face aos interesses (segundo ele) opostos entre capitalistas e proletariado? Então, nesta mesma linha, por que não houve, então, a revolução também preconizada por Marx, diante da falência (novamente, segundo Marx) inexorável do sistema?

Veblen poderia ser a resposta:

“ As classes mais baixas não estão querendo brigar com as mais altas...não procuram destruir seus dominadores; eles procuram emulá-los(...)seu objetivo não é se livrar de uma classe superior, mas sim ascender até ela...”

Resumidamente, as instituições são importantes para o desenvolvimento econômico porque o Estado, enquanto agente fundamental da ação coletiva é uma instituição (primeira-uma espécie de raiz das demais) capaz de promover uma estratégia de desenvolvimento e ao mesmo tempo ser o “juiz” neste ringue formado entre as classes sociais. Assim, o desenvolvimento econômico será quase invariavelmente fruto de uma estratégia nacional.