II - (Primeiro manuscrito – Salário do trabalho)
O próprio título: “Manuscritos Econômicos Filosóficos” índica que são textos com um caráter tanto econômico quanto filosófico, assim, alguns trechos serão segmentados para análise, começando com a primeira frase do primeiro manuscrito, sobre “Salário do trabalho”, onde Marx escreve que uma “luta árdua entre o capitalista e o trabalhador” é que determina o salário, com uma compressão do salário deste último, quando “o proprietário e o capitalista podem completar os seus ganhos com os lucros da indústria”.
Este início faz-me parecer que a época em Marx escreveu (1844), o capitalismo era bem diverso do capitalismo de nossos dias, tanto na questão do preço do salário, quando o que determina o mesmo é o “quanto” o consumidor está disposto a pagar (sendo bem óbvio e diretamente proporcional no que tange a serviços) – exceção nos monopólios (que também eram poucos ou nenhum na época de Marx) com demanda inelástica. Gostaria de fugir ao máximo do economês, mas aceitar ou refutar determinados conceitos econômicos marxistas, ou não, implicará em usá-los e tentar “traduzi-los”. A demanda é inelástica quando um aumento do preço não gera diminuição significativa na demanda e sendo monopólio não há substituição perfeita, tampouco próxima do bem. Marx mistura o capitalista com o proprietário, talvez o preço de ter escrito ainda jovem (ou de sua época), quando os bancos não eram o que são hoje, tendo a maioria dos proprietários como reféns dos juros via adiantamentos e desconto de títulos, assim, nem sempre o proprietário realizará seu lucro, dado o risco do negócio (talvez a grande crítica liberal), contrario ao capitalista, que sempre receberá na frente (seja via prêmio de risco, hedge, etc.). É claro que existem proprietários/capitalistas, o dono do banco, que “vende” dinheiro, os donos da ANBEV, da Vale, empresários do porte de Eike Batista, mas raramente não terão poder de monopólio, mas também existem os proprietários não capitalistas, que dependem de capital de terceiros para gerirem seus negócios. Na época de Marx, formou-se uma casta via acumulação de capital, a burguesia, que buscou ao máximo a multiplicação deste mesmo capital, sendo então uma só: proprietária e capitalista. Somente depois, aqueles que sonham em serem proprietários, não fazendo parte da “luta árdua” de Marx, mas sim sonhando em emular, segundo Thorstein Veblen: “As classes mais baixas não estão querendo brigar com as mais altas (...) não procuram destruir seus dominadores; eles procuram emulá-los (...) seu objetivo não é se livrar de uma classe superior, mas sim ascender até ela.”
Schumpeter e sua figura do empreendedor são cruciais para entender este ponto, para além de Marx, apesar de que Schumpeter (nascido no ano que Marx morreu) parece ter buscado inspiração em vários trechos do “Manifesto Comunista”, como veremos à frente. O empreendedor é aquele que sem recursos, irá até o capitalista e pagará o prêmio de risco pelo capital necessário para seu negócio, que sendo sucesso, realimenta com mais lucro (e capital) este mesmo sistema. Vejamos que aqui este lucro não se dá por conta de mais-valia, mas por conta de maximização do mesmo, dada a “novidade” do empreendedor e sua capacidade de capturar a demanda do consumidor.
Mas aqui fico numa encruzilhada. Não será o consumidor, também o trabalhador? Quando o consumidor está sendo explorado, não estará também sendo explorado o trabalhador de forma indireta, já que a exploração se dá não pela produção em si, mas pela venda, com maximização do lucro? Talvez o grito final do Manifesto deve-se ser: Consumidores de todos os países, uni-vos!
Porém, algumas coisas não mudam e “o trabalhador transformou-se numa mercadoria e terá muita sorte se puder encontrar um comprador”, não difere dos nossos dias, com poucas exceções, dado algumas especializações e formações.
Marx continua com várias citações da obra de Smith (A Riqueza das Nações), nas quais não o contesta explicitamente do ponto de vista econômico, mas sim do filosófico.
A idéia de preço corrente e preço natural acabou evoluindo para a busca de lucro máximo via igualar o preço corrente ao custo marginal, em situação de livre concorrência, que sendo utópica nos leva a situação de lucro máximo em monopólio, ou seja: Rmg = Cmg. Marx referenda Smith, com a observação de que se o capitalista perde, o trabalhador perde, porém se o capitalista ganha, o trabalhador não tem seu “plus” por conta desse ganho adicional. Nada mais verdadeiro, porém Marx não aborda a questão do risco até então.
$$$
(continua...)
Este início faz-me parecer que a época em Marx escreveu (1844), o capitalismo era bem diverso do capitalismo de nossos dias, tanto na questão do preço do salário, quando o que determina o mesmo é o “quanto” o consumidor está disposto a pagar (sendo bem óbvio e diretamente proporcional no que tange a serviços) – exceção nos monopólios (que também eram poucos ou nenhum na época de Marx) com demanda inelástica. Gostaria de fugir ao máximo do economês, mas aceitar ou refutar determinados conceitos econômicos marxistas, ou não, implicará em usá-los e tentar “traduzi-los”. A demanda é inelástica quando um aumento do preço não gera diminuição significativa na demanda e sendo monopólio não há substituição perfeita, tampouco próxima do bem. Marx mistura o capitalista com o proprietário, talvez o preço de ter escrito ainda jovem (ou de sua época), quando os bancos não eram o que são hoje, tendo a maioria dos proprietários como reféns dos juros via adiantamentos e desconto de títulos, assim, nem sempre o proprietário realizará seu lucro, dado o risco do negócio (talvez a grande crítica liberal), contrario ao capitalista, que sempre receberá na frente (seja via prêmio de risco, hedge, etc.). É claro que existem proprietários/capitalistas, o dono do banco, que “vende” dinheiro, os donos da ANBEV, da Vale, empresários do porte de Eike Batista, mas raramente não terão poder de monopólio, mas também existem os proprietários não capitalistas, que dependem de capital de terceiros para gerirem seus negócios. Na época de Marx, formou-se uma casta via acumulação de capital, a burguesia, que buscou ao máximo a multiplicação deste mesmo capital, sendo então uma só: proprietária e capitalista. Somente depois, aqueles que sonham em serem proprietários, não fazendo parte da “luta árdua” de Marx, mas sim sonhando em emular, segundo Thorstein Veblen: “As classes mais baixas não estão querendo brigar com as mais altas (...) não procuram destruir seus dominadores; eles procuram emulá-los (...) seu objetivo não é se livrar de uma classe superior, mas sim ascender até ela.”
Schumpeter e sua figura do empreendedor são cruciais para entender este ponto, para além de Marx, apesar de que Schumpeter (nascido no ano que Marx morreu) parece ter buscado inspiração em vários trechos do “Manifesto Comunista”, como veremos à frente. O empreendedor é aquele que sem recursos, irá até o capitalista e pagará o prêmio de risco pelo capital necessário para seu negócio, que sendo sucesso, realimenta com mais lucro (e capital) este mesmo sistema. Vejamos que aqui este lucro não se dá por conta de mais-valia, mas por conta de maximização do mesmo, dada a “novidade” do empreendedor e sua capacidade de capturar a demanda do consumidor.
Mas aqui fico numa encruzilhada. Não será o consumidor, também o trabalhador? Quando o consumidor está sendo explorado, não estará também sendo explorado o trabalhador de forma indireta, já que a exploração se dá não pela produção em si, mas pela venda, com maximização do lucro? Talvez o grito final do Manifesto deve-se ser: Consumidores de todos os países, uni-vos!
Porém, algumas coisas não mudam e “o trabalhador transformou-se numa mercadoria e terá muita sorte se puder encontrar um comprador”, não difere dos nossos dias, com poucas exceções, dado algumas especializações e formações.
Marx continua com várias citações da obra de Smith (A Riqueza das Nações), nas quais não o contesta explicitamente do ponto de vista econômico, mas sim do filosófico.
A idéia de preço corrente e preço natural acabou evoluindo para a busca de lucro máximo via igualar o preço corrente ao custo marginal, em situação de livre concorrência, que sendo utópica nos leva a situação de lucro máximo em monopólio, ou seja: Rmg = Cmg. Marx referenda Smith, com a observação de que se o capitalista perde, o trabalhador perde, porém se o capitalista ganha, o trabalhador não tem seu “plus” por conta desse ganho adicional. Nada mais verdadeiro, porém Marx não aborda a questão do risco até então.
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