quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Mensagem de Ano Novo

Sempre, ou melhor, desde que me entendo por gente, gosto de histórias em quadrinhos, cartuns e semelhantes. Tendo inclusive, uma vasta seleção, com antigos Fradins, Balão, Luis Gê, a imprensa nanica dos anos 80, Mosca, Roleta, Ovelha Negra, um velho Pasquim que publicou um desenho meu (eu tinha que contar!), Nicoliélo, livros como Antologia Brasileira de Humor I e II, com vários feras nacionais entre outras raridades. Vivo me prometendo que irei scanear (que palavra) alguma coisa e colocar na internet, mas aí vem o direito autoral e me assombra. Mas este aí abaixo, foi postado pelo Alan Sieber, em seu genial blog (22/12) e imediatamente virou minha mensagem de Feliz Ano Novo ! Todo mundo já deve saber, mas não custa repetir, quem não conseguir ler, clica no desenho que ele aumenta, ou então vai lá no blog do Alan...

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Carta para minha Amiga Oculta

E assim se...

Normalmente não gostamos de lugares comuns, principalmente nós que (pensamos) que escrevemos, pois queremos algo novo, diferente, porém, em nosso dia a dia, os lugares comuns nos dão aconchego, o tal porto-seguro, como o abraço de um filho ou o chato ato de empunhar uma vassoura e varrer a sala.
Sonhamos com lugares e situações incomuns, queremos o por-do-sol de Bali ou Hawaii, uma dúzia de ninfas ou gregos apolíneos (conforme o gosto, of course) a saciar nossas fomes, quem dera ao som dos melhores vinhos e sabor das melhores músicas...
Mas nos falta coragem, quando nem tentamos, nunca ousamos, onde fazemos das palavras nossas tentativas, às vezes frutíferas outras áridas e por fim deitamos nossos cabelos de bom shampoo, nos travesseiros da boa conformidade.
Há uma música do Barão Vermelho, com a permissão da falha, de não saber o autor, mas que diz assim: "Saudações aos que tem coragem, aos que estão aqui, pra qualquer viagem...", pois este é meu presente de Natal, um "tiquinho" de coragem e se esta frutificar, me dê uma sementinha...
Ah! Não me entenda mal, não te chamo de covarde, mas sei (imagino) que em nossas vidas, coragem sempre faz falta.
A tira lá em cima, é uma da melhores que eu já vi ( li ), estava escondidinha no caderno de informática da Folha de São Paulo...
Feliz Natal.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Relembrando Bob Fields, O Grande Golpe de Nixon ou Uma Economia de Maiakóvski

Após 10 dias sem internet, por conta deste excelente serviço prestado pela Embratel, são vários emails para ler, vários blogs (de amigos-vide vale a pena) para sorver; Comecemos os trabalhos postando sobre um assunto que parece que irá demorar a acabar...

“O bem que o Estado pode fazer é limitado;
o mal, infinito.
O que ele nos pode dar
é sempre menos do que nos pode tirar.”
(Roberto Campos)

Os gritos já começaram:
- A crise é culpa de um sistema falido!
- O mercado não funciona!
Será? Vamos mais uma vez “ver” onde tudo começou...

A crise dos dias atuais começou nos anos 90, quando o governo yankee adotou através do Fed, políticas monetárias irresponsavelmente frouxas, onde chegou a ponto de manter por mais de um ano a taxa de juro nominal em 1%, o que, descontada a inflação, significa a imposição, por parte do próprio Estado, de uma taxa de juros negativa.
Após a adoção destas políticas, os gringos criaram duas empresas: A Fannie Mae e a Freddie Mac, entrando de sola no mercado de construção de imóveis e sua contrapartida financeira, o de hipotecas. Assim, o americano médio, “deitadão” no sofá, bebendo sua beer e fazendo seu churrasco no quintal, em vez de adquirir bens e serviços, que mantém acesso o fogo da economia, resolveu comprar sua casa, diante da enorme facilidade irresponsavelmente oferecida.
Estes bens e serviços passaram então a serem financiados, cada vez mais por diversas linhas de crédito (assim como as casas) e assim vai o trem...
Só que quando a estrada é por demais sinuosa e a velocidade muita, uma hora ele descarrila. Ou se preferirem outra analogia, uma hora a bolha estoura. Não é a velocidade que mata, mas sim a parada brusca.

Onde tudo começou? Não houve ausência de governo e sim um excesso deste!
O professor da PUC-SP, Ladislau Dowbor, vai mais longe que os anos 90, do início do post, ele vai até 1971, quando em jogada de mestre, Richard Nixon conseguiu que o dólar deixasse de ser ancorado em ouro – Foi quando Bretton Woods começou a morrer – diz o professor Dowbor. Os americanos emitiram moeda a vontade e foram as compras no resto do mundo (obviamente isso não pode ser provado, nem nunca será), só não passaram a perna no francês De Gaulle, mas isso é outra história. Este excesso gringo foi referendado, na época, pelo resto do mundo, ou seja, outros governos. Além do francês, quem mais chiou?

De volta para o futuro, onde agora a fila anda: Primeiro ajuda aos bancos, depois as montadoras, quem serão os próximos?
Se houve boa intenção do Estado Americano (e o inferno está cheio de pessoas bem intencionadas, além de ser muito difícil, qualquer boa intenção yankee, quanto a economia alheia), ao reduzir artificialmente a taxa de juros (lembremos que juros não se baixam por decreto, mas sim obedecem à lei da oferta e procura de dinheiro), este bem inicial, com aquisição da sonhada casa própria, já custou à própria casa (tomada pelos bancos), custou o dinheiro já pago (tomado pelos juros) e já está custando o e-m-p-r-e-g-o das famílias, tomado pela crise.
Assim relembrei do autor de “Lanterna na Popa”, que obstante seu apoio a sinistra ditadura, era um tremendo economista, apesar de também ter defendido despudoradamente o livre mercado, em excesso, assim como quem defende irresponsavelmente as intervenções do Estado. O caminho do meio, do equilíbrio, não vale só no zen-budismo, vale também na zen-economia. Uma economia sem ideologias, mais próxima de uma poesia de Maiakóvski, se permitindo apenas precisão das fórmulas matemáticas.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Até o meio-dia


Até o meio-dia

Amanhã é feriado aqui no Rio
(Será no resto do Brasil?),
Como diz a música:
-Valeu Zumbi, o grito forte de Palmares...
*
Amanhã não quero falar de economia!
*
Quero acordar tarde (sem culpa)
e fazer amor
até o meio-dia,
amor não,
que é coisa meio bicha,
quero fuder,
como meio bicho.

R. Couto


Desenho do blog de Matthias Lehmann , um monstro francês do desenho...

sábado, 15 de novembro de 2008

Peter Schiff - Guru



Em agosto de 2006, Peter Schiff (1) previu a atual crise financeira com inacreditável precisão, vendo suas mais terríveis previsões se concretizarem este ano. Confirme assistindo ao vídeo acima, em que o economista da Escola Austríaca, debate contra um arrogante Arthur Laffer(2), onde este afirma que nada abalará os "pilares da economia americana". Schiff já vinha falando do rumo errado, por parte da economia yankee, desde 2002, conforme esta outra entrevista: http://www.youtube.com/watch?v=rhJaVEWAG24.

(1)Peter Schiff, presidente do Euro Pacific Capital em Connecticut-EUA: "Nossa economia está um completo desastre. Eu acredito que a recessão - melhor chamá-la de depressão - que enfrentaremos fará com que os ganhos corporativos entrem em colapso". Ele também afirma: "O fim ainda está muito distante."

(2)Arthur Betz Laffer, nascido em 1940, é um economista americano, professor da Universidade da Califórnia, que construiu, nos anos 1970, um modelo gráfico popularizado nos Estados Unidos na década de 1980, onde relaciona a alteração da alíquota de imposto com as receitas tributárias.
A Curva de Laffer foi colocada em prática em 1978 - na Califórnia sob o Governo de Ronald Reagan - quando foi aprovada a Proposição 13, também conhecida como a “Revolta dos Contribuintes”, onde a drástica redução do imposto predial aumentou o recolhimento referente a este imposto.
Com o sucesso econômico e eleitoral, a Proposição 13 respaldou a eleição de Ronald Reagan para presidente dos Estados Unidos. Assim Arthur Laffer foi nomeado Conselheiro de Políticas Econômicas dos Estados Unidos, de 1981 a 1989.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Lethal Weapon

Tendo recebido módica bonificação em meu trabalho, como todo pobre metido a besta, resolvi (talvez) comprar uma televisão de LCD, daquelas grandes, bem grandes, que trataria de ocupar toda a parede de minha humilde choupana. Como economista que se preza, iniciei a primeira etapa: Pesquisar preços.
Como próximo do meu local laboral existem diversas lojas de eletrodomésticos, estas que anunciam compulsivamente na televisão, fui pesquisar em cada uma, para no final, obviamente, pechinchar o melhor.
Ao entrar na primeira, fui imediatamente abordado por uma gentil senhora, talvez por conta de minha imponente estampa ou por conta de vendas magras, não sei, porém, ao identificar-me rapidamente como potencial comprador, já que eu disse o que queria, ela abriu seu sorriso de mármore e me encaminhou a uma determinada TV, dizendo:
- Essa aqui está com um preço óóóótimo! Inclusive, financiamos em até 36 vezes...
Eu ainda não podia saber se o preço estava bom ou ruim, afinal preço, ou melhor, dizendo, valor, é relativo. Temos o exemplo clássico, que no meio do deserto, um copo de água, para quem está morrendo de sede, vale mais que um diamante.
Assim, curioso, quis saber quanto seria a taxa de juros, no caso de um financiamento, ao que ela me respondeu:
- É baratinho, mais ou menos 4% ao mês...Espera aí que vou calcular...
Então a gentil vendedora pegou sua máquina de calcular, dessas bem simples, com as quatro operações, fez algumas contas e disse:
- Realmente, é isso aí...
Até este momento, eu não tinha apresentado minhas credenciais, mas ao comparar o preço à vista e as prestações, pude de imediato ver que havia alguma divergência na taxa de juros e que aquela gentil dama não poderia ter calculado a taxa, em cima de um valor à vista e conhecidas prestações, utilizando somente uma “simples” maquininha de calcular. Bem, até poderia, mas teria que conhecer uma determinada equação de matemática financeira, onde se tem os valores de PMT, PV e conhecendo n = período, acha-se i = taxa. Acho que não seria o caso.
Foi então que abri meu paletó e saquei minha arma (foto), efetuei o devido calculo e achei: 8% ao mês. Ao mostrar o visor da máquina para a senhora, ela respondeu:
- É...Dá um pouco mais...
Fui embora, depois de receber o cartão da loja, imediatamente jogado fora...

Nas nossas escolas, tanto me lembro, que ensinam geometria aos baldes, devendo imaginar uma nação de futuros engenheiros civis, mas “neca de pitibiriba” de matemática financeira, tão útil, para que o povo não fosse sumariamente enganado, nas lojas de eletroeletrônicos, bancos e financeiras, que andam sugando os aposentados com descontos em folha.
Afinal, eu uso apenas uma dita máquina financeira, para agilizar diversos cálculos no dia a dia, mas nada que uma simples e boa fórmula, não possa ser aplicada, nada mais ou menos complexo que uma equação do segundo grau ou teorema de Pitágoras, que todos, tenho certeza, sabem de cor e salteado.
Ou não? Ah! Desculpem, acabei de ser informado que ainda existem crianças na sexta série, que não sabem nem escrever o nome...Esqueçam o que eu escrevi acima, vou recomeçar:
Eu tenho cinco laranjas, se der uma laranja para o Jean, uma para a Dora e uma para a Loba, com quantas ficarei?

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira 2

Lendo uma indicação de amigo, o livro Strategy Safari, de Henry Mintzberg e outros, conta em suas primeiras páginas com parte de um antigo poema, onde é relatada a história de alguns homens cegos e um elefante. Como já havia escutado algo a respeito da mesma, dei uma bisbilhotada na Internet e encontrei a mesma história, em vários sites, com ligeiras modificações, inclusive em sites buditas, Hare-Krishna, de Administração e Psicologia. Portanto, não vou distinguir a fonte de onde coletei a história, pois ela é a mais heterogênea possível...
Pelo que entendi, um americano espertalhão, John Godfrey Saxe(1816-1887) escreveu o poema-parte abaixo (e publicado no livro de Mintzberg), contando a aventura de seis homens cegos ao encontrar um elefante e ganhou fama graças a este, que na realidade é baseado numa antiga e interessante, sobre vários prismas, história do folclore Hindu...
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The blind man and the elefante

"It was six men of Indostan
To learning much inclined,
Who went to see the Elephant
(Though all of them were blind),
That each by observation
Might satisfy his mind
The First approached the Elephant,
And happening to fall
Against his broad and sturdy side,
At once began to bawl:
“God bless me! but the Elephant
Is very like a wall!”
The Second, feeling of the tusk,
Cried, “Ho! what have we here
So very round and smooth and sharp?
..."
E assim continua o poema, cada cego emitindo sua opinião sobre "o que é" o elefante, desnecessário e longo, copiá-lo todo, basta dar uma busca na internet, para quem se interessar...
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OS CEGOS E O ELEFANTE
(História do Folclore Hindu)

Numa cidade da Índia viviam sete sábios cegos. Como os seus conselhos eram sempre excelentes, todas as pessoas que tinham problemas recorriam à sua ajuda.
Embora fossem amigos, havia uma certa rivalidade entre eles que, de vez em quando, discutiam sobre qual seria o mais sábio.
Certa noite, depois de muito conversarem acerca da verdade da vida e não chegarem a um acordo, o sétimo sábio ficou tão aborrecido que resolveu ir morar sozinho numa caverna da montanha. Disse aos companheiros:
- Somos cegos para que possamos ouvir e entender melhor que as outras pessoas a verdade da vida. E, em vez de aconselhar os necessitados, vocês ficam aí discutindo como se quisessem ganhar uma competição. Não aguento mais! Vou-me embora.
No dia seguinte, chegou à cidade um comerciante montado num enorme elefante. Os cegos nunca tinham tocado nesse animal e correram para a rua ao encontro dele.
O primeiro sábio apalpou a barriga do animal e declarou:
- Trata-se de um ser gigantesco e muito forte! Posso tocar nos seus músculos e eles não se movem; parecem paredes...
- Que palermice! - disse o segundo sábio, tocando nas presas do elefante. - Este animal é pontiagudo como uma lança, uma arma de guerra...
- Ambos se enganam - retorquiu o terceiro sábio, que apertava a tromba do elefante. - Este animal é idêntico a uma serpente! Mas não morde, porque não tem dentes na boca. É uma cobra mansa e macia...
- Vocês estão totalmente alucinados! - gritou o quinto sábio, que mexia nas orelhas do elefante. - Este animal não se parece com nenhum outro. Os seus movimentos são bamboleantes, como se o seu corpo fosse uma enorme cortina ambulante...
- Vejam só! - Todos vocês, mas todos mesmos, estão completamente errados! - irritou-se o sexto sábio, tocando a pequena cauda do elefante. - Este animal é como uma rocha com uma corda presa no corpo. Posso até pendurar-me nele.
E assim ficaram horas debatendo, aos gritos, os seis sábios. Até que o sétimo sábio cego, o que agora habitava a montanha, apareceu conduzido por uma criança.
Ouvindo a discussão, pediu ao menino que desenhasse no chão a figura do elefante. Quando tateou os contornos do desenho, percebeu que todos os sábios estavam certos e enganados ao mesmo tempo. Agradeceu ao menino e afirmou:
- É assim que os homens se comportam perante a verdade. Pegam apenas numa parte, pensam que é o todo, e continuam tolos!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O mendigo 2

Ao meu grande amigo Juninho, passei um email, relatando o meu "encontro" com a figura do post abaixo e perguntei se ele tinha notícias, ao que ele me respondeu e tomo a liberdade de amigo de transcrever:
"Ele teve aqui na área semana passada conversando com o Liberal..Ele tá maluco e cada dia que passa mais pirado !!!! Deve estar passando fome e mendigando mesmo...Que pena...Outro dia apareceu aqui na área e fcou conversando com meu irmão, pediu dinheiro e parecia que estava cheirado e bêbado...Ficou rebolando no meio da rua...Lamentável...Patético...Tá cada vez mais magro e raquítico...Pobre Big. Apareça pra gente conversar. Abraços. Germano "

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Mendigo

Ontem à noite, vi caminhando pela Avenida Rio Branco, a principal rua do centro da cidade do Rio de Janeiro, uma das figuras da qual falei em outra postagem.
Não via a figura há muito tempo, somente tendo escutado algo a seu respeito. Ele era da “turma dos mais velhos”, mas apesar do andar arrastado, pude reconhecê-lo vindo em minha direção.
Propositalmente fui de encontro e a cada passo que eu dava, me aproximava, percebendo seu olhar perdido, seus pés sujos, calçando velhos chinelos, sua roupa chinfrim, um tosco chapéu de palha e uma grande sacola plástica às costas, levando sabe-se lá o quê...
Cruzei por ele lentamente, encarei-o e ele a mim, mas não com ar desafiador, mas sim com ar manso. Não sei se não me reconheceu ou se teve vergonha de falar, por quem já havia sido e pelo que era hoje: Mendigo.
Eu também não falei. Perplexo com o destino, mudo fiquei e só agora, aqui na madrugada, com a maquininha, tento dividir o que não sei...
Percebo que nunca soube seu nome, só seu apelido...
Nunca foi meu amigo, só um conhecido de bar, da “turma dos mais velhos”...
Assim, eu tento aplacar minha consciência.
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Torço para os meninos acordarem logo e que digam:
- Vamos jogar xadrez, papai?
A tempestade se aproxima e eu estou de volta ao ventre do bicho...
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Obs.: Aos amigos blogueiros, prometo entrar em todos vocês (no bom sentido) no fim de semana, com fartos comentários. Como disse acima, estou de volta ao "ventre do bicho", portanto com muito trabalho...

domingo, 26 de outubro de 2008

Espelho



Findo o curso, fomos procurar um canto para despedidas e beberagem, não necessariamente nesta ordem. Claro que de uma turma de vinte e cinco pessoas, de várias cidades e várias idades, indo dos 20 aos 55 (este último não sou eu), a formação heterogênea influenciava na escolha do lugar. Após breves desistências, por parte dos (mal?) casados e dos mais controlados financeiramente, fomos inicialmente a uma pizzaria, onde o farto rodízio preencheu nossos estômagos, mas não meu espírito, ainda necessitando de ser preenchido por um tanto de álcool.

Em seguida, o grupo dissolveu-se, com alguns voltando para o hotel, impressionante como há um inexorável medo do Rio de Janeiro, especialmente à noite, por parte de algumas pessoas. Outro(a)s, por conta de seus relacionamentos, não poderiam se estender na bebida e na camaradagem noite adentro, também foram embora. Quem sabe os pares destas pessoas, um dia compreendam que possuir uma pessoa, não é possuir seu tempo e sua presença ou possuir seus relacionamentos “fora relação”, mas sim, possuir sua alma, de uma forma sadia, sem medo, quem sabe vejam um dia que amor e liberdade não são incompatíveis.

Mas voltando, aos heróis que sobravam, obviamente eu fazia parte e nosso grupo caminhou até a Lapa, a velha Lapa dos boêmios e não tão velha Lapa das putas e travestis. Só que esta Lapa, está revitalizada, com vários bares, vários estilos, jovens em profusão e uma saudosa “velha guarda” ainda marcando terreno.
Procuramos um bar que atendesse a todos os gostos dos que lá estavam, pois o grupo, apesar de reduzido, ainda era um pedaço heterogêneo (continuava) do grande grupo inicial. Após algumas análises, resolvemos entrar onde nos pareceria mais aconchegante, com boa música (escutável) e onde poderíamos também conversar.Acertamos.
Meu pecado foi não ter anotado o nome do Bar, mas digo que tocava uma música luxuosa, fomos recebidos com “O Mundo é um Moinho” de Cartola, falar mais o que? Em seguida, um repertório de primeira, onde pude criar coragem e pedir um dos meus sambas favoritos: Espelho.
Peguei um guardanapo, escrevi e após dez minutos o cantor, um negro de meia idade e forte, disse:
- Atendendo a pedidos, vamos tocar uma do João Nogueira...

“...Um dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
Me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Ê vida à toa, vai no tempo, vai
Eu sem ter maldade
Na inocência de crianca de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai

Assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambam da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Ê vida voa, vai no tempo, vai
Ah, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai

Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso

E o meu medo maior é o espelho se quebrar”

sábado, 18 de outubro de 2008

Curso

Amigos blogueiros desculpem estes dias, onde até demorei a colocar os comentários, mas estou em curso pelo trabalho, portanto, com pouco acesso à micro (Internet). Assim não ando lendo vossos textos e poemas, mas prometo depois do dia 25, voltar a normalidade...
O problema é que nestes cursos, terminada a aula, existem sempre umas pessoas que conseguem me influenciar a beber uma cerveja e como sou altamente sugestionável nesta parte, acabo ficando "nos bares da vida" até tarde, mas tudo em prol do bom relacionamento e cordialidade, já que algumas pessoas do curso, não são deste estado, devendo ser devidamente ciceroneadas...
Portanto, nos próximos dias, posso ser encontrado na Lapa, nos bares da Rua do Lavradio ou nos bares do Arco do Telles.

domingo, 12 de outubro de 2008

Recife and Lenine



Lá pelos anos 80, fui passar um mês de férias na capital de Pernambuco, por convite de meu amigo Caé, que na época vivia na cidade, graças ao seu início de carreira futebolística, onde jogava no Santa Cruz. Coincidentemente, calharam minhas férias bancárias com o carnaval e imagine, se carnaval é bom em qualquer lugar (menos no hospital e no presídio), pense como será em Recife...
Lá além do que já esperava: Trios, frevo, birita, alguns alucinógenos e muitas mulheres, pude presenciar alguns shows sensacionais, vide que ao passar um mês em Recife, cheguei antes do carnaval e fui embora um pouco depois. Por lá vi Geraldo Azevedo e seu Dia Branco, Alceu Valença e seu Cavalo Doido e um desconhecido para mim, na época: Lenine.
De lá trouxe a camaradagem do futebol, com peladas sensacionais com a turma do Sport e do Santa em plena praia de Boa Viagem, devorei deliciosas “mão-de-vaca”, regada a muita cachaça de Vitória do Santo Antão, tive a hospitalidade de Dona Amara, mãe do amigo Caé e sua (e) terna paciência com meus porres e seus deliciosos cuscus e outros quitutes de lanche e café da manhã...Putz! Tanta coisa boa.
Mas a razão do post é falar do moço que canta aí em cima, pois ao ver este vídeo no Youtube, me fez lembrar disso tudo e mais, lembrar que o vi, ainda jovem, fazendo um show na cidade natal e pensar: Com tanta bosta tocando lá no Rio, como esse cara ainda não explodiu por lá? Esse cara é bom demais...
Talvez o motivo, é que no ido dos 80, a rádio estava massificada demais pelo tal de “rock Brasil” e Lenine já fazia uma coisa mais à frente, pegava uma levada também rock, mas com uma sonoridade b-r-a-s-i-l-e-i-ra, além de melodias e arranjos sofisticados demais pra época, extremamente pobre nesse quesito. Em Recife também deixei um grande amor, ainda falo mais dessa viagem...

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Bodhidharma

Até hoje, a história da origem das artes marciais orientais, não se encontra totalmente elucidada e talvez nem seja, já que são ancestrais demais seus fundamentos. Uma das versões (resumida), é que um monge indiano, chamado Bodhidharma, numa de suas viagens, hospedou-se no templo Shaolin e lá transmitiu alguns de seus ensinamentos, que seriam uma espécie de ginástica, para fortalecer o corpo, no intuito de resistir aos enormes períodos de meditação. Essa dita ginástica, seriam movimentos inspirados nos próprios movimentos dos animais. Todo o resto desenvolvido, foi a partir daí...Esta é uma versão de "origem" chinesa, existem outras, de origens japonesa, coreana, tailandesa, etc. Mas o que eu queria mesmo era (re) lembrar uma história atribuída a este monge, Bodhidharma. O caçula dos três filhos de um rei, aos oito anos já afirmavam ser um iluminado, situam sua vida lá pelo ano de 500 DC e esta precocidade nos lembra as histórias do Nazareno (que acabei lembrando por conta do filme de Saramago e seu outro livro-O Evangelho Segundo Jesus Cristo). Havia um velho monge (sempre há) que servia de tutor aos três príncipes e certa vez, de posse de um imenso diamante, presente do rei, perguntou se conheciam algo mais valioso que aquela pedra? O príncipe mais velho e o "do meio" responderam que não havia, que somente o mestre poderia ter aquele belo presente e outras bajulações semelhantes ao que o pequeno Bodhidharma disse: - Realmente meus irmãos estão certos, pois é um belo tesouro, mas compreender o valor, é uma sabedoria sem preço, portanto compreender que um diamante vale muito mais que um caco de vidro, é de grande valia tanto quanto a pedra em si.Porém, é um conhecimento vazio, tratando-se apenas do conhecimento material do mundo, a verdadeira sabedoria consiste em compreender-nos a nós mesmos.
Assim como as artes marciais, no fundo, são galhos da mesma árvore, escutamos tantas histórias (similares) das religiões, que nos levam a crer o mesmo. Quantas histórias do pequeno "Bodhi" são similares as do pequeno filho de Maria ou do jovem Sidarta?
Outro aspecto é a colocação do pequeno Buda quanto ao valor, tanto do vidro, como do diamante e do conhecimento. Observa-se um importante rascunho da teoria econômica de utilidade marginal, para desgosto dos que colocam todas as fichas na teoria de valor de Marx, mas isso é outra história, afinal eu já misturei demais alhos com bugalhos...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Tirei uns dias de folga, vou curtir as crianças, colocar os "filmes" em dia e os livros não necessito colocar, pois não me deixam mesmo, talvez deve-se eu deixa-los um pouco, mas como? Se ouço vozes vindo da estante a me chamar. Ontem fui assistir Ensaio Sobre a Cegueira, já havia lido faz tempo. Seria babaquice de minha parte falar de Saramago, o final do nome já diz tudo, mas o filme achei muito bom e não entendi a razão de algumas críticas negativas, talvez porque alguns esperavam um filme a altura do livro, o que seria inexoravelmente difícil. O próprio Saramago achou o filme ótimo, destacando que a obra escrita é uma e a filmada é outra, que se o filme fosse cópia fidelíssima de um livro, qual a razão de filma-lo? Bem, talvez para ser "visto" por aqueles que não sabem ler. E se Saramago (sabiamente) colocou esta blindagem no filme, que bom não é Meirelles? Os críticos é que sentem em suas confortáveis poltronas, pois é mais fácil bater que colocar a cara para apanhar.

Lembrei de uma parábola zen, na qual vinham dois homens pela floresta, um deles cego, sendo guiado pelo outro. Uma escura floresta, numa fria montanha de densa vegetação, quando de repente um demônio assomou no caminho. O cego não experimentou o menor receio, mas o companheiro ficou paralizado de medo, totalmente apavorado! Foi então que o cego passou a conduzir o amigo...

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Culpa é do Gerente ou Quanto "custa" US$ 1,00 ?

Desempregados fazem fila para tomar a sopa gratuita em Chicago (EUA), durante a crise econômica da década de 1930.

Houve, como em qualquer período de expansão econômica, extraordinários ganhos privados, agora, na fase de contração, iremos socializar as perdas... (Ubiratan Iorio - Ferrenho defensor da Escola Austríaca )
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A história da crise em voga, não difere em sua essência, daquela de 1929, sendo carinhosamente plantada pelas políticas do Fed ao manter as taxas de juros artificialmente, numa tentativa de aceleração forçada da prosperidade, com as autoridades americanas colocando a idéia errada de que, se qualquer pessoa desejasse um empréstimo para comprar uma casa, o governo teria a obrigação de concedê-lo (logo eles?), mesmo que indiretamente, idéia que operacionalizou criando a Freddie Mac e a Fannie Mãe.
Inexoravelmente, as empresas de financiamento imobiliário sofreram os impactos desta política irresponsável, com a inadimplência das hipotecas, pois como conciliar o aumento previsto em contratos da taxa de juro (os juros eram mais baixos nos primeiros anos do contrato, sendo depois reajustados para taxas mais altas), com o aumento do custo de vida, afinal tudo sobe, mesmo lá, planos de saúde, gasolina, alimentos, etc? Os tomadores destes créditos acreditavam que o preço das casas iria subir e assim realizar novas hipotecas, reajustando seus valores, desta forma “rolando a dívida”, porém (e sempre existe um), esta alta dos preços era uma “bolha” especulativa e como toda bolha estourou, com os preços das casas caindo. Assim as famílias não conseguiram pagar suas casas e o banco não conseguiu reaver o dinheiro emprestado (mesmo tomando de volta a casa), pois esta não vale mais o quanto foi pago.
Em meados de 2007, a crise se transmitiu aos títulos lastreados naqueles empréstimos e no início de 2008 a contaminação atingiu também os mercados de crédito (os bancos fazem uma espécie de “seguro”, agrupando as hipotecas em papéis e fazendo um rateio no setor financeiro, no intuito de dividir o risco).

É como se existissem duas economias, uma real (produção) e outra imaginária (financeira), o problema é que a segunda tem gerência sobre a primeira. A grosso modo, é como se uma fábrica de carros construísse 30 carros, vendem-se os 30, mas somente recebe-se o valor correspondente a um carro. Onde está o dinheiro dos outros 29? É dinheiro virtual, a base de financiamentos de ambas a partes, tanto a que compra, como a que fabrica e vende.
Aqui na terra dos índios (não é Jens?), não deve haver muito impacto sobre os bancos, já que estes atuam somente no mercado interno, mas a nossa produção, girando em torno de 90% de matérias-primas (comodittes), ficará comprometida, não para agora, mas lá na frente, com a falta de liquidez (dinheiro) no mercado internacional, quem comprará nossos produtos? E quando comprar a que preço será? O que faremos com toda essa soja, aço, álcool...

No mundo real não existe “a” taxa de juros, mas centenas delas, uma para cada tipo de operação e prazo.

A culpa é de quem? Quem não soube entender que dinheiro também tem preço e obedece a lei da oferta e da procura, ou pior, entende e maldosamente concedeu crédito fácil, porém, não calculando que fosse estourar tão cedo a crise, antes das eleições, afinal uma economia feliz e próspera seria um bom cabo eleitoral para uma reeleição republicana, não? Lembro minha mãe, aqui no Rio, que sempre votou no César Maia, por conta da liberação de crédito na Prefeitura, para aquisição de casa própria...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Igreja, Hitler e Bolsa

No livro The Myth of Hitler's Pope do Rabino David G. Dalin, temos interessante (e importante) refutação de outros livros (já traduzidos), que afirmam que houve determinada sinergia entre o nazismo e a igreja católica, tais como "O Vaticano e Hitler" e "O Papa de Hitler". Por que os livros que "detonam" a igreja católica, são prontamente traduzidos e um que a defende, sendo escrito por um "rabbi" (grande paradoxo), permanece com acesso restrito a meia-dúzia que professa a língua do bardo? Clicando no link, tem-se uma prévia do mesmo, pois apesar de toda a inquisição e diversas outras barbaridades da santa igreja, continuo com o filho do carpinteiro, dizendo que apenas a VERDADE liberta. Ah! Eu sou ateu, confesso, portanto não tenho nada a ver ou ganhar defendendo os "come-hóstias"...
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Sobre a crise no(s) mercado(s), ainda estou em fase de análise, para não falar besteira, mas se você tem algum na bolsa, a hora é de vender, comprar agora, só para os bobos, isso segundo o livro (muito bom): Os Axiomas de Zurique, autoria de Max Gunther, que tem como terceiro axioma a esperança:
“Quando o barco começar a afundar, não reze, abandone-o”.
Apesar de alguns "coleguinhas" acharem este livro "o máximo" como cartilha de investimento (prefiro falar especulação), acredito que o autor quis na verdade tirar uma grande sarro do dito mercado...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Um longo amanhecer - cinebiografia de Celso Furtado

"Eu me pergunto:quem manda neste país? Por que se conservam estas taxas de juros de fantasia, que sangram o país, deixando pequena margem para o crescimento? É difícil dirigir um país como este."

Indagações de Celso Furtado, no documentário "Um longo amanhecer", cinebiografia do mesmo, dirigida por José Mariani.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Veja, não é de hoje...

Recentemente tivemos (ainda estamos tendo), o caso do banqueiro Daniel Dantas. Onde antes o ex-delegado da Polícia Federal Paulo Lacerda, era alçado aos píncaros (pela própria revista), por conta de outras investigações, bastou entrar em rota de colisão com o banqueiro, para passar a ser execrado pela revista. No mínimo havendo grave manipulação de informações, como no recentíssimo caso dos "grampos", quando o responsável pela ABIN, disse textualmente: "pode haver, tudo é possível", a Veja colocou como manchete: "Há grampos...".

Do nosso passado recente, temos o exemplo das matérias do dia 22 de novembro de 1989, na ante-sala da eleição do Presidente da República, com os textos: "O prodígio das urnas" e "A arrancada de Lula". Analisemos o primeiro texto, que faz referências ao ex-presidente Collor, então candidato, mantendo uma apresentação totalmente positiva do mesmo, com pouquíssimas tintas negativas, quase invisíveis.
No primeiro parágrafo diz "ele se consagrou como o campeão das pesquisas eleitorais, em seguida segue a tônica, de quando faz uma ligeira crítica, vir logo em seguida, rebatendo a mesma, no intuito de apagá-la: "...não compareceu a nenhum dos debates com os concorrentes da televisão..."(negativo), "...ignorou os salões da elite política e econômica" (positivo), ratificando o marketing de "caçador de marajás". Em seguida, temos uma chuva de adjetivos e elogios: "dinâmico, audacioso e com uma brutal dose de confiança em si mesmo", logo depois, a revista dá ênfase ao caráter popular do candidato: " conseguiu arrastar para as praças mais de 1,5 milhão de pessoas, na maior parte eleitores pobres", novamente o seu marketing de comprometimento com os menos favorecidos, como ele mesmo dizia "os descamisados". A revista fecha o primeiro parágrafo apoteoticamente: " Fernando Collor de Mello pode ser algo ainda maior que Fernando Collor de Mello".
O tom continua o mesmo no segundo parágrafo: " Collor já é o político que recebeu o maior número de votos na História do país", "praticamente não foi mal em lugar nenhum", "prodígio" e "Collor é um fenômeno".
No terceiro, novamente um ligeiro desagravo: "lugar comum...compará-lo a Jânio Quadros...no tom estridente" (negativo), mas como antes, apressa-se a corrigir: "mas de fato não tem nada de semelhante" (positivo), finalizando: " candidatou-se praticamente sem apoio algum".
O que a revista estava fazendo, então?
No quarto parágrafo, a mesma estratégia, um ligeiro toque negativo: "Há apenas uma ano...estava...terceira divisão da política...", mas da mesma forma, rebate: "foi o protagonista de comícios apoteóticos...indiscutivelmente, tornou-se um político da primeiríssima divisão". Como era de se esperar, o final do texto deveria ser grandioso, então temos: " político nordestino...estado pobre...de onde saiu...Deodoro da Fonseca...com a Proclamação da República", fica bem nítida a comparação entre o marechal Deodoro, que havia proclamado a República e Collor, que prometia a proclamação de uma "Nova República".
O segundo texto: "A arrancada de Lula", como o próprio título explicita, contextualiza negativamente o então candidato Lula. Começa sempre denominando antes do nome, o ainda candidato Luis Inácio Lula da Silva com o substantivo "operário", desta forma, continuamente o (des)qualificando, pois se Lula é o operário, quem é o administrador, senão Collor? Logo em seguida cita maldosamente sua pouca preparação acadêmica: "conseguiu um diploma de madureza do curso colegial", digo maldosamente por causa da palavra "conseguiu" e fecha o primeiro parágrafo com: "o torneiro mecânico de São Bernardo...nenhuma pessoa de sua classe jamais sonhou" e continua: "provocaria uma reviravolta", já dando indícios para onde o texto caminharia, tentando induzir que a eleição de Lula, provocaria algum tipo de "clima de terror" ou insegurança pública.
No segundo parágrafo, temos quase uma repetição do infeliz apelido que Leonel Brizola havia dado, "sapo barbudo": "um operário barbudo" e nova crítica, atém hoje comum na mídia: "que fala português errado".
No terceiro, (re)lembrando os tempos do marcatismo norte-americano, ou da ditadura nacional, com os chavões do "comunista que come criancinhas", a revista cita a revolução soviética (lembremos que no texto de Collor, citou a própria Proclamação da República), como paradigma de tomada de poder por parte dos trabalhadores, fala em luta armada e escreve: "só pode entusiasmar quem ainda acredita na URSS como modelo para alguma coisa". Volta a nomear o candidato (sem citar seu nome, estratégia usada para "esconder" uma campanha) como: "o candidato operário" e compara a votação de Lula, como uma votação rasteira, sinônimo de fraca: "a geologia eleitoral de Lula...desenho semelhante...nível do mar...".
Fechando este penúltimo parágrafo, uma pequena folga, com um pequeno elogio: "em seu berço político, a região do ABC...lhe deu um momento de glória", mas só aparente, pois logo depois vem várias marteladas: "Em compensação, enfrentou a penúria de eleitores onde o PT conquistou a prefeitura em 1988". E outra: "o Estado de São Paulo, na verdade, Lula colheu um resultado decepcionante – foi folgadamente batido por Collor".Justamente o inverso do texto de Collor, onde após ligeiríssima crítica, havia entusiasmado afago.
Continua, saindo um pouco de São Paulo e indo para outra importante praça eleitoral: Minas Gerais, dizendo: "em Minas Gerais...também ficou muito atrás de Collor.".
Observe que o texto de Collor, não faz tantas referências as diferenças de votação entre Lula e Collor, deixando estas para o texto de Lula, colocando-o sob a ótica de perdedor antecipado. Estranhamente o texto não menciona o Rio de Janeiro, por que será? Basta lembrar que no Rio de Janeiro, assim como no Rio Grande do Sul, o vencedor foi Leonel Brizola, com quase 50% dos votos.
E fechando: "a respeito do PT...constatação...melancólica". Melancolia? Sentimento inerente a um perdedor, maliciosamente adjetivado pela Veja.

Parte da mídia passou a se valer de um ambiente promíscuo, como instrumento seletivo de poder, porém, chegando a um ponto de risco, para a própria imagem da mídia, por conta de ser tão desvelado, o conluio entre a mesma e o que de mais podre há na República.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Henfil

Ainda guardo em algum lugar do armário, minha coleção de "Fradins", não me faltando a memória, completíssima. Já pensei em vende-la, mas vi que não tinha preço. Foi colecionada comprando exemplares em banca, sendo que os primeiros números, que eu não tinha, foram garimpados em saudosas livrarias (por exemplo: a livraria Muro, da praça General Osório em Ipanema), que vendiam quadrinhos, mas a miúde, vendiam também (as únicas!) revistas da então "imprensa nanica", da década de oitenta: Mosca, Balão, Ovelha Negra, Roleta, Boca...
Nesta época, Henfil já era um ícone. Esta charge foi pescada na internet, de lá pra cá, nada mudou...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Para Fausto Wolff

Eu quero falar de economia, não para meus poucos pares economistas, mas sim para meus muitos pares que estão nas calçadas, indo de um lado para outro , como se não tivessem as rédeas de seu destino. Do que me adianta apresentar a discussão sobre a força opressiva de um monopólio contra a distribuição teórica de um mercado livre, para quem tem 5,70 no bolso, procura um emprego e faz a seguinte conta:
2,60 ônibus para ir
2,60 ônibus para voltar
0,50 uma dose de cana, para acalmar a fome...
Eu quero falar de poesia, não para meus poucos pares poetas, mas sim para meus muitos pares que estão nas calçadas, indo de um lado para outro , como se não tivessem as rédeas de seu destino. Do que me adianta escrever a força opressiva de um pôr do sol contra a liberdade do nascer de um novo dia, para quem tem 5,70 no bolso, procura um emprego e faz a seguinte conta:
2,60 ônibus para ir
2,60 ônibus para voltar
0,50 uma dose de cana, para acalmar a fome...

Como consigo fazer isso?
Quem souber me diga ou ao menos me passe um email, porque Fausto se foi...

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sangue Negro ou Nem todo o petróleo é nosso

Cartaz do filme There Will Be Blood de 2007 ,
traduzido como Sangue Negro,
com interpretação magistral de Daniel Day-Lewis
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O Brasil, como qualquer outro país pobre que se preza, deseja muito aumentar sua participação na nova (velha) ordem mundial, uma das características deste processo é deixar de ser (meramente) um país exportador de matérias-primas e produtos com baixa intensidade tecnológica em troca da importação dos ditos produtos, tecnologicamente superiores. Até aí é chover no molhado, pois é assim desde ciclos ancestrais do ouro e do café, onde desculpem o trocadilho infame, perdemos uma chance de ouro, fato contado em post bem anterior, de 17/06 /08.

Recentemente, o jogo de poderosos interesses se maximizou após a comprovação da existência de petróleo na camada do pré-sal, mobilizando grupos econômicos internacionais do setor de petróleo e seus agentes nacionais.
Do livro "Nem todo o petróleo é nosso"(Autores: Sérgio Xavier Ferolla (engenheiro pelo ITA e brigadeiro-do-ar) Paulo Metri (engenheiro e presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro), com prefácio do economista Carlos Lessa) , tiro importantíssimas informações, explicando de forma simples como o Brasil vem entregando ano após ano o petróleo do país às empresas multinacionais, via rodadas de licitação da ANP. Licitações estas, que estavam suspensas em 2008, mas segundo o Ministro Lobão, voltariam a ser realizadas, porém, não incluindo áreas na camada do pré-sal.

Segue então, resumo mais que resumido:

Tivemos, na década de 50, o movimento "O petróleo é nosso". Nessa época, houve a aprovação e promulgação da Lei 2004, que criou o monopólio estatal e logo depois a criação da Petrobrás, em 1953. O setor de petróleo é estratégico, pois lida com uma fonte extremamente importante para o nosso próprio desenvolvimento. Daí, a importância (estratégica) do monopólio da Petrobrás, pois as empresas estrangeiras, além de auferirem lucros extraordinários (o que por si é ruim, pois lucro de monopólio/oligopólio não é repassado a sociedade, dado que só o mercado perfeitamente competitivo traz esse tipo de benefício), passariam a privilegiar mercados externos (pior ainda, pois atrasaria nosso desenvolvimento). Um monopólio estatal pode ser socialmente controlado, o que é muito difícil de ocorrer com um oligopólio privado.
As petrolíferas estrangeiras conseguiram fazer uma mudança na Constituição Federal, até hoje inexplicável. Porque não acabaram com o monopólio (no texto constitucional), mas a Lei 9.478, criada no governo FHC, acabou com o mesmo, porque você tem no país hoje, por exemplo, a Shell produzindo petróleo em Bijupirá-Salema e mandando toda a sua produção – 70 mil barris – para o exterior. Nós ligamos no Jornal Nacional e ouvimos falar de tudo, mas sobre as rodadas de licitação só aparece ,no dia, uma notícia de 15 segundos, 30 segundos. Sempre falam da arrecadação de bônus, "não sei quantos milhões de dólares", como se isso fosse bom para a economia do país, mas vende-se o petróleo que foi encontrado no subsolo do país por milhões de dólares e depois que for exportado, a empresa dona do petróleo vai auferir bilhões de dólares. Quer dizer, arrecadam-se milhões de dólares, mas alienam-se reservas que são medidas em bilhões de dólares. É por isso que nem todo o petróleo é nosso.
As agências reguladoras são imposição externa, para que as transnacionais, oligopolistas ou seja o nome que for, possam atuar com segurança dentro dos países dominados pelo poder financeiro. A agência é planejada para ser desvinculada do governo eleito – isso é maquiavélico, mas é real. Os mandatos são, em geral, de quatro anos. E os dirigentes das agências não podem ser demitidos, a menos que sejam flagrados em roubo ou alguma coisa bastante comprovada. Mas o presidente da República não pode exonerá-los, como exonera o presidente de uma estatal, sem dar explicação. Eles só são nomeados – isso a sociedade brasileira não sabe – se forem indicados pelas empresas que atuam no setor. O mais grave é que não há indicação de diretor de nenhuma agência que não seja feita por empresas do setor. É a idéia da raposa tomando conta do galinheiro. Isso não é colocado no papel, obviamente. As agências são organismos que não são do governo brasileiro, elas não fazem parte do Brasil. São organismos do capital internacional instalados em diversos países do mundo. Empresas estrangeiras não vêm para o país se sentirem que há controle demais sobre elas. Os cartéis são incontroláveis...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Até quando esperar



Em recente postagem no blog do Prof. Toni (vide vale a pena) , em 30/08, (mais uma vez) me estendi nos comentários e aproveito para postar este, parte já havia sido colocada anteriormente (20/06/08), então aproveito para engrossar um pouco o caldo...

Prezados, deixa eu "tentar" esclarecer algo, puxando a brasa para minha sardinha, antes de olhar para Capitalismo e Socialismo, como "política", deve-se olhar como modelo econômico, pois a primeira (forma política), vem da estruturação da sociedade na segunda. Vide a China atual, que ainda se auto-proclama comunista, mas pode?
A complexidade do estudo econômico é tal, que até mesmo, entre nós economistas, existem profundas divergências, portanto elocubrações sobre o melhor sistema (econômico), é isso, troca de idéias e ideais...Há os que são contra o livre mercado, taxado de impossível e injusto, pois é inerente ao homem a exploração, dividem o mundo em países exploradores e países subdesenvolvidos (explorados), um conceito (entre alguns economistas) totalmente ultrapassado. Outros olham o mundo (em TEORIA) de forma harmônica, onde as forças atuantes, levam a longo prazo, a redução do lucro e eficiência na distribuição (estes seriam favoráveis ao mercado livre). Claro que esse mundo de laissez-faire poderá não se afinar com nosso senso particular de justiça distributiva, mas sempre será possível ao Estado ajustá-lo, sem atrapalhar o livre jogo. E sim! Com possibilidade de FORMAÇÃO DE RIQUEZA e não simples (e simplista idéia) de transferência. Porém (e aí é que a porca torce o rabo, não é Professor?), o nosso mundinho moderno fica bem distante dos belos edifícios matemáticos, projetados por nós economistas (sim, mea culpa)...

O ponto básico (ao meu ver, claro), é que a busca pelo lucro máximo, quando praticada pelo pequeno empresário (cuidado com esse conceito de pequeno), conduz a uma harmonia natural do sistema, mas quando posto em prática pelo monopolista ou oligopolista, dará margem a consideráveis distorções na (má)distribuição de renda, necessitando obviamente da dita intervenção governamental, visando conciliação, ou simplesmente coibir monopólios. Mas como? Se por várias vezes, o Estado é o primeiro a estimular os mesmos? Temos um ciclo infernal...Voltando: Os pontos centrais da controvérsia, entre os méritos dos regimes capitalista e socialista, envolvem questões éticas, jurídicas e filosóficas muito mais amplas do que as questões puramente econômicas, apesar (como dito antes) das segundas (questões) serem fruto da primeira. Só um adendo (mais um) Professor: Marx e Smith, são bons para estudar HISTÓRIA econômica, porém, economicamente (pelo viés matemático, concordo que chato,mas que sem ele NÃO existe economia), seus estudos são ultrapassados, não discordando do "velho Karl", do ponto de vista ideológico.
Em seu livro "A História do Pensamento Econômico", Robert Heilbroner, classifica o livro de Engel " The Condition of the Working Class in England in 1844", como o mais terrível líbelo contra as favelas do mundo indústrial, neste período, Engels andou por toda Manchester (berço da revolução industrial), vendo em que condições se encontrava a recente massa de trabalhadores. Certa vez, comentando sobre a miséria da cidade e as "bases" em que ela havia sido construída, com um cavalheiro, seu amigo, ouviu como resposta:"E no entanto, ganha-se uma fábula de dinheiro aqui; tenha um bom dia, sir".
O que mudou de lá para cá? Acredito que nós estamos aqui para isso...
É necessário analisar a economia, não como apologia da ordem existente (ou objeto do desejo), mas com uma visão equilibrada, realçando o positivo e combatendo o negativo de cada "tratado" econômico, buscando corrigir as distorções do sistema, seja ele qual for. Devemos buscar:
Determinado grau de intervenção governamental sem um corpo de burocratas;
A vitalidade (competitiva) do capitalismo, sem uma classe de poderosos capitalistas;
Uma bolsa de valores, sem um cassino...
Cada um deste ítens, deve ser esmiuçado, mas não são assuntos para uma só postagem de blog...

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Estratégia - Musashi

Estátua de Miyamoto Musashi em Kumamoto - Japão

Em recente trabalho com amigos, sobre estratégia, onde fugi um pouco da economia e entrei na administração, elaboramos alguns tópicos sobre estrategistas famosos, onde acabei indo para minha "outra praia", o caminho da espada, tentando traçar um paralelo entre técnicas marciais com seus correspondentes "práticos", ao nosso cotidiano ou histórico ocidental. Aí vai...

Estratégia
Miyamoto Musashi


Baseado no livro “Go Rin No Sho” – Um Livro de Cinco Anéis

O livro de Musashi está profundamente carregado de filosofia Zen, Xinto e pelo Confucionismo, não apresentando simplesmente (o que já seria muito) uma tese sobre estratégia de luta e sim, nas palavras de Musashi, “uma orientação para os homens que desejam aprender estratégia”, assim, de uma forma mais ampla e estando sempre além da nossa compreensão imediata.

Foi escrito dois anos antes de sua morte, quando se isolou para viver em uma caverna, aproximadamente aos cinqüenta anos de idade. Musashi dividiu seu livro em cinco partes:

Terra: Onde destaca que o caminho da estratégia, não é apenas o caminho da esgrima, deve-se separar um simples lutador de espada, do verdadeiro estrategista, pois o segundo estuda todas as coisas, desde as menores, como as maiores. Realiza um pequeno esboço de seu livro, comparando o ofício do guerreiro a outros, como o ofício do comerciante e do carpinteiro. Afirma que aquele que derrota um homem pode derrotar dez e aquele que derrota dez, pode derrotar cem, assim sucessivamente, demonstrando a estratégia em larga escala;
Água: Inicia nesta parte, suas aplicações técnicas (para os que conhecem Kendô, fica bastante claro), com técnicas onde “nos moldamos” ao adversário, assim como a água, que adota qualquer forma;
Fogo: Nesta parte, o combate torna-se mais feroz, destaca a importância da velocidade nas decisões, escreve “o treinamento para matar, se faz por meio de muitas lutas”. Destaca-se o conceito de esmagar, onde diz que quando houver a possibilidade e o inimigo mostra-se fraco, não deve haver clemência, devendo-se esmagá-lo de uma vez por todas, “sem respeito e sem lhe conceder espaço para respirar”;
Vento: Descreve o caminho e técnicas de outras escolas de sua época, pois o guerreiro deve conhecer a técnica de seus oponentes, assim Musashi registra os pontos insatisfatórios, um a um;
Nada: Com linhas extremamente filosóficas diz: “No Nada está a virtude e nenhum mal. O Caminho tem existência, o espírito é o vazio”. De difícil compreensão, grosso modo, Musashi nos leva a procurar não um Nada existencial, que nada possui, mas o Nada como a possibilidade do Tudo, como a antiga parábola zen da xícara de chá...

Conhecer simplesmente as técnicas ou estratégias não é o suficiente, é o modo de aplicá-las, quando frente a frente com o inimigo, que lhe dá a verdadeira eficiência. Musashi apresenta centenas de estratégias, algumas de imediata compreensão, outras nem tanto. Seguem algumas e suas respectivas "traduções":

MAAI – Distância

A diferença entre um principiante e o mestre, é que o segundo dominou a arte de usar o espaço a seu favor, manipulando, movendo-se sutilmente, o suficiente para não ser atingido, nem mais, nem menos e aproveitando-se da proximidade, contra-atacar sem defesa. É importante saber até onde o inimigo pode atacar, até onde sua arma alcança, seja na relativa proximidade de uma espada ou na distância de uma flecha.
O presidente de uma multinacional, tem muito mais poder no país onde tem sua sede, na medida que se afasta de sua sede, sua influência irá diminuindo. Dentro de sua empresa, existem executivos que sentam a seu lado, nas reuniões por exemplo, com maior poder que executivos distantes, por causa da proximidade.

TOKOSHI – Cruzar a longa distância com velocidade

Quando se está em TOMA (longa distância), deve-se tomar a iniciativa de aproximação, pois a única segurança na guerra, é avançar e destruir o inimigo. O principiante recua quando atacado, o que é um grave erro.
Nós ocidentais usamos a máxima: “a melhor defesa é o ataque”. Às vezes não basta ser agressivo, mas ser agressivo o suficiente, não dando chance ao revide.

SHIKOTAI – Perto do inimigo

Chegar tão perto do inimigo, que ele não tenha tempo para manobrar.
Como negociantes, que abrem um negócio próximo do concorrente, sendo que os próprios anúncios e propagandas deste, servirão para vender os produtos do estrategista.

FUKURAMI - Expandir o inimigo

Fazer com que aquele, que está entrincheirado, saia e se expanda, assim tornando-se fraco.
A Alemanha nazista, lutando em diversas frentes, perdeu sua força e foi derrotada.

SHUKOTAI – Manter a arma mais próxima

Esta estratégia ensina que devemos manter nossa arma, mais próxima do corpo que o normal, assim diminuindo a distância entre nós e o nosso inimigo, obviamente válida, desde que o inimigo não perceba, estando assim sujeito a um ataque de surpresa.
Estocar um determinado produto, antevendo um aumento da demanda, imediatamente satisfazendo-a, quando os concorrentes ainda terão que efetuar pedidos de compra.

HYOSHI – O tempo de execução

Cada coisa no universo tem seu ritmo. Um homem grande tende a ser mais lento que um homem pequeno, assim é fundamental conhecer o ritmo do inimigo, para escolher a estratégia vencedora.
O mesmo conceito é válido para as empresas pequenas e empresas grandes, pois não são as grandes derrotando as pequenas e sim as rápidas derrotando as lentas.

KATSURI – Mudar de velocidade

Pode-se ganhar, mudando de velocidade, forçando o inimigo a um ritmo que não seja seu ritmo natural.
Os debatedores ou vendedores, costumam muitas vezes falar rapidamente, de modo a não dar tempo ao interlocutor racionar, desta forma, aceitando seus argumentos.

MINARI – Aparência

Uma imagem ou aparência forte pode amedrontar o inimigo, fazendo que ele cancele seu plano de ataque, pois a melhor vitória é quando vencemos sem a necessidade do combate. Devemos considerar não nossa aparência real, mas como nosso inimigo nos vê.
O negociante sabe que uma aparência próspera é um importante sinal de lucros. Muitas empresas sobrevivem às crises, não porque eram bem sucedidas, mas porque aparentavam ser. Veja a diferença de conseguir captar algum recurso (num banco, por exemplo), indo de short e chinelo ou indo de terno e gravata.

UTSURAKASHI - Contagiar

As emoções são contagiantes. Ao adotar uma expressão tensa, podemos induzir nosso adversário a este estado de tensão, porém, atacamos tranqüilos e relaxados. Ou parecemos despreocupados e desinteressados pelo combate, assim, quando o adversário relaxar, atacamos furiosamente e o destruímos. O objetivo é levar o adversário a ter o mesmo tipo de sentimento que (aparentemente) temos. As crianças, inconscientemente usam esta técnica.

ZENTAI – Corpo total

Deve-se atacar o corpo todo do inimigo e não somente uma parte. Não dirigir a ação somente para as mãos, ou para a cabeça e sim enxergar o oponente como um todo.

KADO – Cortar um canto

Quando não puder atacar com um golpe contundente, ataque o que puder.
Os pugilistas usam esta estratégia, ao golpear sucessivamente o fígado do adversário, até extinguir por completo a resistência deste, propiciando o nocaute.

MAKURA OSAE - Manter sob pressão um travesseiro

Usa-se esta estratégia, quando se quer controlar o oponente através da restrição do movimento de sua cabeça.
Nas tomadas de poder, usa-se esta estratégia, eliminando sumariamente os líderes oposicionistas, assim foi feito em Cuba, no Chile e outros países.

SUTEMI - Sacrifício

Estratégia do sacrifício, onde se aceita uma pequena ferida, em troca da derrota total do inimigo. Uma pequena perda momentânea, por uma vitória final.
Os kamikazes japoneses foram um exemplo deste tipo de estratégia, apesar de não ganharem a guerra, graças a ela, mantiveram-se nela por mais tempo, até que os Estados Unidos, usaram KOKOROZUKI.

KOKOROZUKI - Golpe fatal

O objetivo é o coração do inimigo, para o golpe fatal e decisivo.
No final da 2ª Grande Guerra, os Estados Unidos, usaram sem clemência a bomba atômica, para ganharem e terminar a guerra

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Aprendiz de Homero - Nélida Piñon

Reproduzo parte do texto, de Pedro do Coutto, que apesar do nome, não é parente, publicou na Tribuna da Imprensa em 17/04/08...
*
"Em Aprendiz de Homero, seu mais recente livro, Editora Record, Nélida Piñon parte em busca do grande poeta épico(...) Talvez - suponho - todos os grandes artistas da palavra tenham de algum modo tentado alcançar Homero. Aprendizes dele, como agora se define a romancista(...)."

"Aliás, todos os dias, de uma forma ou de outra, nos deparamos com usinas do pensamento humano. Incansáveis, inesgotáveis, criativas, produtivas, construtivas, resultado da ansiedade por saber e transmitir. Impulso muito comum também aos jornalistas. Escrever é produzir, é transmitir, é traduzir situações e interpretar afirmações. Clarificando-as para milhões, até bilhões de leitores no planeta, que necessitam e esperam pela produção e pelo consumo. Esperam por nós. Por isso acho que os que se sentam para escrever, seja qual for o conteúdo, estarão sempre praticando um ato solidário. "

"Os escritores e os jornalistas, com as penas de ontem, como Machado de Assis e Oto Maria Carpeaux, com as teclas leves e sensíveis de hoje, são movidos pelo compromisso de chegar a um ponto, encontrando-se consigo mesmos, através dos outros, como na bela e insuperável definição de Simone de Beauvoir, quando se refere à procura da mulher pelo homem. Que é busca de si mesmo por intermédio da imagem feminina. Procuramos, todos nós, na vida, na arte, no jornalismo, aquilo que ela também interpretou como o impulso à busca da exatidão de uma idéia(....)"

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os normais (nem tanto) da Barão de Mesquita

Numa recente postagem, onde falei de figuras doidas de minha juventude, alguns doces outros nem tanto, a amiga Dora (http://pretensoscoloquios.zip.net/) escreveu: "Cada "tipo" passou pela sua infância e adolescência! E o curioso é que têm muito em comum: a bebida, a malandragem, o gosto pelas "ervas"...". Fiquei eu aqui, encafifado: Será que só conheci doido? Então relembro aqui, para ser justo, também sete figuras, um pouco mais "normais" da Rua Barão de Mesquita. É claro, que normalidade, depende do ponto de vista de cada um:

Nélson: Teria que falar primeiro do Nelson, não por ele ter sido um bom amigo, mas por ser desta lista, o único que já morreu. Nunca fumou (nem do careta), bebia comportadamente, não participando de nossos porres, à tardinha, a base de Coca-Cola e cachaça, o popular sambinha e sempre mostrou-se um cara muito equilibrado. Foi quem me mostrou o primeiro disco do James Taylor e enquanto a maioria era Beatlemaniaca, nós dois éramos fãs do Bob Dylan. Formou-se em engenharia e depois arquitetura (ou vice-versa) e após aquele período bravo, na busca do primeiro emprego, encontrou-se na área financeira de uma multinacional, chegando rapidamente a diretor, migrando (à peso de ouro) logo após para outra. Casou, dois filhos e realizava alguns sonhos que o dinheiro pode comprar. Mas a genética, implacável, que havia levado sua mãe ainda jovem, através de um câncer (acho que no pâncreas), fez o mesmo com meu amigo...Antes dos trinta e cinco...

Juninho: Praticamente foi quem me ensinou a tocar violão. Ouvido privilegiado, enquanto eu sofria com as cifras, ao J. bastava escutar a melodia e tirar a mesma das cordas. Me apresentou o disco "O Último Concerto de Rock", onde ouvi pela primeira vez Neil Young (foto) cantando Helpless (http://www.youtube.com/watch?v=FxGcAm0EkTU) e eu nunca mais fui o mesmo. Como hoje (ainda), é um dos meus melhores amigos, não posso falar mais dele, senão falaria mal...

Portuga: Mesmo depois, já adulto, não conheci uma pessoa que gostasse tanto de dinheiro. Enquanto a turma, na maioria, falava das meninas, futebol e cerveja, o Portuga já falava de Bolsa de Valores, concurso público e seu sonho de trabalhar na Petrobrás. Nos rachas, nas mesas dos bares, ele era sempre o último a "casar" algum, na expectativa de levar a melhor. A última vez que o encontrei, ele estava na estatal. Filho de professora, sempre estudou muito, determinação é isso aí...

Pitinini: Aos quinze anos, já tinha dois metros de altura, o que causava um certo desconforto. Também filho de professora (assim como eu e o Portuga), sentia-se obrigado a ser CDF e sentar nos primeiros bancos escolares (e eu nos últimos), porém, por causa da altura, era sempre colocado para trás. Também por causa da altura, foi segurança do metrô, seu primeiro emprego e sempre me passou ser um cara extremamente correto, digo isso, pois na época em que a loucura se instalou na rua, ele se afastou e foi cuidar (sabiamente) da sua vida. Volta e meia o encontro, hoje ele é sócio de uma creche. Os pais e mães podem ficar tranqüilos...

Diabo Loiro: Sempre foi o mais forte da turma, pois fazia musculação desde os treze anos. Forte, mas não covarde, nunca o vi meter a mão em alguém sem uma boa justificativa. Pelo seu tamanho corpóreo e cabeleira loira, chamava a atenção, além de ser um bagunceiro de carteirinha (daí o apelido), fato este que nos aproximou, além de sermos bons alunos e não CDF's, o que (acho) irritava a maioria...O reencontrei na faculdade, ele estudando Direito e eu Economia, onde às vezes, bebíamos uns chopes e jogávamos conversa fora, relembrando os tempos de escola. Hoje é Delegado de Polícia e quando lhe perguntei a última vez, se não tinha saudade da época que era fortão, ele me respondeu: "Hoje eu não brigo mais, só uso o dedo..."

Careca: Ganhou o apelido, ao passar para a escola técnica e ganhar o inexorável trote. Casou com a primeira namorada "séria" e dos amigos somente ele e Evandro ainda estão casados com as primeiras mulheres. As duas merecem um troféu. Careca hoje é professor do estado e da mesma escola técnica, onde pode ver outros "carecas" e lembrar de si mesmo...

Wilver: Era da turma um pouco mais velha, aquela dos "malucos", mas nunca o foi. Somente começou a beber depois de velho, quando deu uma relaxada (acho). Antes a vida devia lhe cobrar muito, pois eram somente ele, a mãe e a irmã. Um por todos e todos por um. Guri, entregava remédio de bicicleta, às vezes também lá em casa, quando minha mãe dava uma "caixinha" e falava: "O Wilver é muito responsável...". Foi tesoureiro de banco, motorista de taxi e hoje acho que se encontrou como psicólogo, onde desenvolve um belo trabalho junto à menores de rua...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Coringa

“Eu sou um agente do caos, porque é o caos que provoca o medo(...)A loucura é igual a gravidade, precisa apenas de um empurrão (...) ”

Domingo passado, fui ao cinema com os moleques, meio a contra-gosto, não pelo cinema e as companhias, mas pelo filme, pois apesar de fã das histórias em quadrinhos, as recentes adaptações para o cinema, tanto do aracnídeo, como do meu ídolo-mor Demolidor, o homem sem medo, deixaram muito a desejar...mas lá fui eu. Para meu espanto, digo, pois apesar de já ter lido algumas críticas sobre a atuação desse moço, pintado aí em cima na foto, o Coringa de Heath Ledger (esse é o nome do ator), está i-m-p-r-e-s-s-i-o-n-a-n-t-e! Não é só merchandising de róliude, querendo faturar algum às custas da morte alheia. Colocou a interpretação de Jack Nicholson no bolso, com folga. O dito cujo, que morreu de uma overdose recentemente, um tanto mal explicada ( dizem que foi com remédios, ninguém falou de heroína...), mostra um Coringa totalmente surtado, seria ele o reflexo de Gothan City, que por sua vez, um reflexo do nosso mundo atual? Polícia corrupta até o talo, bandidos sem o seu famoso "código de ética", tão comum no cinema, o tal corporativismo da bandidagem, lá em Gotham, não existe, pois é bandido roubando bandido, polícia matando polícia, altos executivos roubando bandidos (com investimentos nebulosos), tudo no mesmo saco...

Então aparece o tal Coringa, como diz o Pirata (http://www.zinedopirata.blogspot.com/), sacudindo e sacudido, botando pra F...Lá pelo meio do filme, Batman, sempre atormentado, com sua crise de identidade, afinal ele é Bruce Wayne que finge ser Batman ou Batman que finge ser Bruce Wayne? Num diálogo com o fiel Alfred (Michael Caine, menos canastrão que o costume), questionando, quem seria e o que desejaria afinal este "Coringa", tem como resposta do mordomo: "Determinadas pessoas não são movidas pelo dinheiro ou pelo poder, simplesmente querem ver o circo pegar fogo..."

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Figuras da Rua Barão de Mesquita

"...Neste passeio sentimental lembrei de algumas figuras da geração anterior à minha, que pontificavam quando eu ainda não era um delinqüente juvenil, apenas um gurizinho bonitinho e fofinho que jogava bola, pescava nos arroios, assassinava passarinhos a fundaços e já gostava de apedrejar as casas da vizinhança. Na época, eles eram os muito-loucos..."

Naquele prazer de ir de blog em blog, deparei com este: TOCA DO JENS (http://tocadojens.zip.net/ em 21/07/08), de fino trato e escrita, onde ele retratou algumas personas de sua juventude. Inevitável, após ler o post (parte transcrita acima, entre aspas), não lembrar também de algumas figuras da minha...

BRECHINHA: Houve uma batida de carros bem na frente do bar, nada de mais, um ligeiro encostar de pára-choques, mas deu aquele bafafá, formando aquela rodinha, doida pra ver uma briga. Enquanto os motoristas discutiam, Brechinha sorrateiramente entrou em um dos carros, ligou a ignição e partiu em disparada, cantando pneus. O dono do carro ficou louco, começou a gritar, desesperado, assim a pseudo-briga acabou imediatamente. Logo depois ele aparece, galhofeiro, contando para a rapaziada que havia abandonado o carro a dois quarteirões dali. Ele desmontou sua bicicleta e montou um monociclo, tipo aqueles de palhaço de circo, com o qual ficava indo e vindo, se equilibrando numa roda só. Aos dezoito, servindo o exército, fez parte dos motoqueiros da PE, fazendo acrobacias na moto, ficando em pé, plantando bananeira e outras loucuras. Em torno dos vinte e cinco, voltando de uma festa, muito louco, com sua Yamaha RD350, famosa no mundo todo como a moto assassina, bateu em cheio num carro que havia avançado o sinal. Fui ao seu enterro, depois pedimos ao dono do bar que a rapaziada freqüentava, que mudasse o nome para "Brechinha’s Bar", pedido atendido e assim ficou até o Japonês, o dono, também morrer e sua esposa vender...

MACARRÃO: Morreu ao bater com a cabeça no mictório (aquele lugar onde os homens fazem xixi em pé). Chegava no bar já se mordendo, pedia um cachorro magro (cachaça com limão, sem açúcar) e falava coisa com coisa. Volta e meia cantarolava o mesmo blues: " O império do visgo, tchum,tchum,tchum, passou por aqui, tchum,tchum,tchum". De sua autoria, claro, mas a letra não saía disso. Eu nunca soube o que é o visgo... O conheci "normal", caixa do extinto banco Nacional. Quando eu tinha quinze, fui ao seu casamento, ele deveria estar com uns vinte e poucos. No enterro do Brechinha, ele ainda não estava pirado, acho que o Macarrão foi levado pelo pó...

FRANK: A família havia vindo do Acre, ele baixinho, cara de índio, totalmente versado na arte de apertar um bagulho, seus dedos pareciam automáticos. A turma "dos mais velhos", da qual eu, moleque, não fazia parte, ia para sua casa escutar George Harrisson cantar My Sweet Lord e Dylan soprar seu Hurricane. Ainda jovem voltou para o Acre, para tratamento, ninguém mais soube dele...

ALCATRA: Motoqueiro, tinha uma CB400, sempre de jaqueta de couro, era um pequeno comerciante local, revendendo pó e fumo na sua casa. Filho de um coronel da reserva, foi solto pelo menos duas vezes, por conta do pai. Maluco ao extremo, após entrar com a moto pela janela de uma boate (sim, ele conseguiu) foi expulso dos Hell’s Angel’s (sim, ele conseguiu também), que passaram a considera-lo elemento de alto risco, o famoso chave de cadeia. Pelo que sei, ainda continua micro-empresário...

CAPILÉ: Lembrava o Visconde de Sabugosa, bêbado a maioria do tempo, atravessa a rua, para o bar do outro lado, sem olhar, sem pensar e nunca foi atropelado. Certa vez, Fred, um amigo que havia alugado um apartamento nas imediações, pediu ao Capilé que este pintasse o sala e quarto. Fred ao chegar do trabalho, encontra a porta do apartamento escancarada, achou que havia sido roubado, quando entra, vê na sala, Capilé dormindo pelado e abraçado a uma mendiga que dormia todas as noites em baixo da marquise...Faz pouco tempo, o vi, relativamente sóbrio, os pés inchados, mas ainda bebendo...

THE BOY: Bem mais velho que todos nós, tinha a fama de faixa-preta de caratê, bom de porrada, embora eu nunca o tenha visto brigar. Às vezes penso: Será que hoje, é essa fama que tenho, com a molecada aqui da rua? Boa pinta, vivia nas rodas de samba... Há muito tempo atrás, o vi no Jornal Nacional, cobrindo o rosto, outro dia soube que tentava trocar um cheque nas imediações...

AROLDO: Tenho uma terna lembrança de Aroldo, baixinho, folgado, mas de um coração gigante. Foi quem me levou a primeira vez numa boate, daquelas em que as moças dançam quase como vieram ao mundo e ficam passeando entre os clientes, pedindo que lhe paguem uma bebida. Eu, duro igual uma porta, ficava na aba dele, na base do gin-tônica e olhando maravilhado as "meninas". Quando íamos jogar bola, de manhã cedinho, enquanto a maioria ainda estava com gosto de pão com manteiga na boca, Aroldo já tomava um Sprite com 51, no botequim, nosso ponto de encontro. Hoje está irremediavelmente perdido, não bebe mais, não conversa mais, mal sai de casa...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

China ou Darcy Ribeiro Contra as Muralhas da Ignorância

A China vem se abrindo econômica e politicamente, isso todo mundo sabe, cantado aos quatro ventos, atualmente os líderes chineses não podem mais se perpetuar no poder. Há na constituição um artigo que impede que os líderes sejam reeleitos por mais de dois mandatos para o mesmo posto.
As relações de trabalho – e a economia como um todo– abandonaram os dogmas socialistas e hoje a economia chinesa se aproxima muito mais de uma economia capitalista do que de uma economia planificada.
A grande preocupação da população é econômica e não política. O nível de vida está aumentando, mas como toda economia capitalista do mundo real, haverão pessoas que serão excluídas desse processo. O medo do desemprego passou a preocupar muito mais do que a liberdade de expressão, mesmo com certos assuntos ainda sendo doloridos, por exemplo temos o movimento separatista do Tibete.
Acusam a China de controlar a imprensa. De fato, existe um controle claro do governo, vários repórteres estão provando isso na pele, nesta cobertura olímpica, porém, nos países ocidentais, esse controle existe, mas não explicitamente, pois servem aos interesses das classes dominantes, havendo assim um controle dissimulado. A verdade é que a China ainda não está preparada para a democracia. A China nunca teve tradição democrática. As coisas sempre foram impostas de cima para baixo e o povo se acostumou a isso. Qualquer coisa imposta pelo presidente Mao, era irrefutavelmente acatada por toda a população, pois estava acostumada a isso, assim como estava acostumada as ordens do Imperador, elemento de coesão há mais de dois mil anos, em um país que sempre foi profundamente hierarquizado.
O processo de democratização, será obrigatoriamente lento. As mudanças gradativas foram a fórmula de sucesso da China. Por que mudar isso agora? Só para agradar os ocidentais? Deng Xiaoping, por exemplo, dizia que as instituições chinesas precisam ser reformadas e previu que a população chinesa estaria preparada para eleições presidenciais em 2049. É um prazo bem longo para os nossos padrões, mas na China (assim como no Japão) não existe este culto ao imediatismo, não há pressa para o sucesso, culturalmente sabe-se que naturalmente, o mais capacitado prospera. Sobre o crescimento na (da) indústria privada oriental (Japão, Coréia e China), na década de oitenta, William Ouchi, escreveu um excelente livro chamado Teoria Z.
Os chineses têm uma grande curiosidade sobre o mundo ocidental, mas a mentalidade de hoje já não é a mesma de vinte anos atrás, onde muitos jovens eram partidários (escondidos) da democracia e acreditavam que os Estados Unidos eram uma espécie de paraíso onde o nível de vida era mais alto e havia liberdade de expressão. Isso mudou porque a mentalidade dos jovens também mudou. A maioria dos chineses não enxergam mais os Estados Unidos como o modelo ideal. Os americanos, este sim, atualmente vêem a China como ameaça à sua hegemonia econômica(pois a China deixou de ser puramente mercado e passou a ser concorrente) e usam a bandeira da democracia para proteger seu mercado, aliás, o que sempre foi feito, vide a política extremamente protecionista praticada pelos yankees, em relação a tudo e a todos.
A China é o exemplo do país subdesenvolvido que caminhou para frente. Os chineses não se conformaram, acreditaram e acreditam continuamente que podem melhorar. Qualquer universidade da China, num sábado à noite, está repleta de estudantes nas salas de aula estudando.
O caminho, já se sabe, falta a vontade de alguns para trilha-lo. Faz uns vinte anos, o professor Darcy Ribeiro, deu a senda...