terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre Gaza: Um pouco (muito) de Umberto Eco

Sempre que vejo na telinha, as notícias de morte das guerras modernas, seja na Bósnia, Iraque, ou o recentíssimo conflito na faixa de Gaza, corro para a estante e me escondo nas palavras do mestre Umberto Eco, no seu pequeno (grande) livro: Cinco Escritos Morais. O trecho abaixo, está nas "páginas" da intolerância, na minha edição, começa na cento e onze:

"...Mas aí está o desafio. Educar para a tolerância adultos que atiram uns nos outros por motivos étnicos e religiosos é tempo perdido. Tarde demais. A intolerância selvagem deve ser, portanto, combatida em suas raízes, através de uma educação constante que tenha início na mais tenra infância, antes que possa ser escrita em um livro, e antes que se torne uma casca comportamental espessa e dura demais."

E ele continua, com relação a mídia (imprensa), Papa, globalização dos conflitos, papel do Judiciário, fascismo e outros, mas apesar da variedade dos temas, sempre terá como ponto comum o caráter ético, ou como dito pelo próprio: "...referem-se àquilo que seria justo fazer, àquilo que não se deveria fazer ou àquilo que não se pode fazer em hipótese nenhuma."

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Engels, O Bom Companheiro

A foto acima não faz justiça ao alegre Friedrich, pois foi caçada no Google, onde já o encontramos no inexorável naufragar da velhice. Assim não nos leva a imaginar um homem que gostava de esgrima, de cavalgar numa caçada e que atravessava a nado o rio Weser quatro vezes, sem intervalos para descanso.
Mas não só de valores físicos ele foi agraciado pela mãe natureza: Inteligente, dizem que gaguejava em vinte idiomas, tendo somente dificuldade com o árabe, em vista de suas quatro mil raízes verbais.
Gostava dos prazeres burgueses da vida, bom no carteado, tinha excelente paladar para bons vinhos, alto, elegante e bonito, tinha passagem certa na cama de várias damas, tanto as do proletariado, como da alta sociedade londrina.
Quando jovem, demonstrou um incurável pendor para a poesia, que seu pai beato, calvinista e rico industrial não tolerou, despachando-o para Bremen, a fim de morar com um clérigo e aprender finanças e comércio, pois segundo seu pai: Religião e ganhar dinheiro eram excelentes remédios para almas românticas.
Assim, Engels começou sua vida dupla, de um lado o perspicaz negociante e respeitável figura da Bolsa de Valores de Manchester, de outro o leitor voraz de novas idéias revolucionárias, sujeito de alma rebelde, um inconformado com a ordem existente, onde a classe operária vivia em estado de miséria e desespero, se dopando com gim e evangelismo, para agüentar uma vida sem esperança.
Foi quando publicou: The Condition of the Working Class in England in 1844, o mais terrível libelo que já se ergueu contra as favelas do mundo industrial e chamou a atenção de outro jovem, mais radical ainda, chamado Karl. Amigos inseparáveis, Engels abasteceria toda sua vida, com cheques e generosas doações à família Marx, além de em grande gesto de camaradagem, ter assumido como seu filho, uma incursão que o jovem Karl fez na classe operária fora do casamento, quando engravidou a própria empregada de sua família...
Ele visionariamente escreveu: “... as causas finais das mudanças sociais e das revoluções políticas devem ser vistas, não na mente dos homens nem em seu crescente impulso em direção da eterna verdade e justiça, mas sim nas mudanças das maneiras de produção e de troca; devem ser vistas não por meio da filosofia, mas sim da economia...”.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Reencontro

Jogávamos bola na esquina da Silva Telles com Barão de Mesquita, eu, Zezinho e Roberto, foram meus primeiros amigos na nova rua, a rua Silva Telles, eles moravam perto, na Barão, mas tinha uma turma de pelada boa nesta esquina, nesta época ainda não jogávamos salão no quartel da PM. O Marquinho ainda era magro e nem sonhava em me dar o calote de duas garrafas de whisky, tempos depois no restaurante. O Roberto era o melhor amigo do Zé, nesta época, talvez por serem dois negros nos meio de um bando de garotos brancos, ainda não o chamávamos de Negadão, algo derivado de Negão, provavelmente.
Nada se falava, ou se discutia, era um formar times e jogar o dia todo, parando somente para a passagem dos carros ou de uma senhora mais idosa. Estava com meus onze anos e havia me distanciado (apesar de morar na rua ao lado) do Evandro e do Afonso, pois com nossa diferença de idade, nesta época eles estavam com treze e quatorze, ou seja, enquanto eles começavam a se acabar na punheta e pensar 24 horas em mulher (até sonhando e acordando esporrado), eu só queria jogar bola.
Passados uns três anos, onde solitário em casa, devorei todos os livros e enciclopédias, andando de bicicleta, dando a famosa volta ao quarteirão, vi um bando de garotos jogando futebol de salão na quadra da igreja dos Mórmons, reconheci imediatamente o Evandro e o Zé, entrei pelo portão lateral da igreja, que dava acesso direto à quadra e também vi o Afonso, no gol, um tremendo talento, o cara que eu mais vi jogar bola, excluindo uns poucos craques que eu vi no Maracanã.
Quando mudamos de São Cristóvão para Tijuca, meu primeiro amigo foi o Evandro, morava numa vila em frente ao meu prédio, tinha também o Luiz Henrique, que morava na casa ao lado. É engraçado quando somos crianças e brincamos em determinado lugar, no caso a vila do Evandro, achava um espaço enorme, anos depois, quando fui até lá, me surpreendi com a diminuta dimensão do local, aos olhos de uma criança o pequeno se torna grande e quando adultos devemos fazer o contrário, onde muitas vezes devemos transformar o grande em pequeno, é uma forma de enfrentar os problemas e também amansar o ego.
Fui recebido com grande festa pelos três e participei logo de uma partida, entrando no time de fora, não sei se ganhei ou perdi, não importa, foram logo me avisando que no dia seguinte teria também pelada no quartel da PM, mas que era uma pelada “mais dura”, onde também jogava a turma mais velha. Neste dia me apresentaram o Caé, seu irmão Napoleão, Massuda, que eu conhecia de vista da escola Affonso Penna e o Juninho.
Com este reencontro do Evandro e novas amizades, passei a ficar direto jogando conversa no bueiro, em frente ao prédio do Juninho, nosso “point”, depois viria a ser o botequim, mas por enquanto nos contentávamos em ir ao mercado, comprar uma garrafa de vodka (onde trocávamos o preço pela de cachaça, mais barata, nessa época ainda não havia os códigos de barra, nem os leitores óticos nos caixas, bastando passar com o produto pelo caixa) e uma de Coca-Cola. O Juninho subia, pegava uma cambuca de gelo e estava feita a festa.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Relendo Sêneca

Mais um ano se inicia, meio pauleira, pois venho tentando escrever algo sobre os "ciclos economicos" e não consigo terminar, a doce mãe de primeira, desse filho de segunda, realizou uma cirurgia delicada (passa bem!), então sofri todas as inexoráveis aflições...
Aniversariei em dezembro e sempre lembro deste grego, pois aos 44 anos, torna-se normal a busca de realizações através dos filhos, algo como um espelho do que não fomos, ou queríamos ser. Mas tentarei, até a última força, fugir desse lugar comum, pelo menos enquanto houverem calos a serem cultivados.
Um escritor, imagino em parte, agir assim também com seus personagens. Seremos então (muitas vezes) personagens de nós mesmos?
Não há outro meio, senão traçar metas exíguas.

"Não temos uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela" (Sêneca)