sábado, 28 de setembro de 2013

Engels, o bom companheiro

A foto ao lado não faz justiça ao alegre Friedrich, pois foi caçada no Google, onde já o encontramos no inexorável naufragar da velhice. Assim não nos leva a imaginar um homem que gostava de esgrima, de cavalgar numa caçada e que atravessava a nado o rio Weser quatro vezes, sem intervalos para descanso.

Mas não só de valores físicos ele foi agraciado pela mãe natureza: Inteligente, dizem que gaguejava em vinte idiomas, tendo somente dificuldade com o árabe, em vista de suas quatro mil raízes verbais.

Gostava dos prazeres burgueses da vida, bom no carteado, tinha excelente paladar para bons vinhos, alto, elegante e bonito, tinha passagem certa na cama de várias damas, tanto as do proletariado, como da alta sociedade londrina.

Quando jovem, demonstrou um incurável pendor para a poesia, que seu pai beato, calvinista e rico industrial não tolerou, despachando-o para Bremen, a fim de morar com um clérigo e aprender finanças e comércio, pois segundo seu pai: Religião e ganhar dinheiro eram excelentes remédios para almas românticas.

Assim, Engels começou sua vida dupla, de um lado o perspicaz negociante e respeitável figura da Bolsa de Valores de Manchester, de outro o leitor voraz de novas idéias revolucionárias, sujeito de alma rebelde, um inconformado com a ordem existente, onde a classe operária vivia em estado de miséria e desespero, se dopando com gim e evangelismo, para agüentar uma vida sem esperança.

Foi quando publicou: The Condition of the Working Class in England in 1844, o mais terrível libelo que já se ergueu contra as favelas do mundo industrial e chamou a atenção de outro jovem, mais radical ainda, chamado Karl. Amigos inseparáveis, Engels abasteceria toda sua vida, com cheques e generosas doações à família Marx, além de em grande gesto de camaradagem, ter assumido como seu filho, uma incursão que o jovem Karl fez na classe operária fora do casamento, quando engravidou a própria empregada de sua família..
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Ele visionariamente escreveu: “... as causas finais das mudanças sociais e das revoluções políticas devem ser vistas, não na mente dos homens nem em seu crescente impulso em direção da eterna verdade e justiça, mas sim nas mudanças das maneiras de produção e de troca; devem ser vistas não por meio da filosofia, mas sim da economia...”.

sábado, 14 de setembro de 2013

Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno




O autor questiona a “lógica do crescimento sistemático e irrestrito” (introdução), de certa forma, alinhando seu discurso aos economistas austríacos (e alguns monetaristas): “Compram-se a prazo o carro, a casa, a geladeira, o sobretudo, os sapatos. Uma hora, contudo, será preciso pagar a conta” (apud Paul Hazard, p. 1), porém, não é assim a lógica do sistema? “A crise não é uma falha do sistema, mas a forma pela qual ele funciona”, mais uma vez citando Heilbroner.

“Sabe-se que a mera diminuição da velocidade de crescimento mergulha nossas sociedades na incerteza” (p.5) e vemos isso quase que diariamente, quando notícias de desaceleração na economia chinesa ou no mercado consumidor, leva negativamente junto os índices das bolsa de valores de “todo o mundo”, ocorrendo um derretimento dos ativos.

Desenvolvimento sustentável seria “ao mesmo tempo um pleonasmo na definição e de um oximoro no conteúdo”, porque “o desenvolvimento já é um self-sustaining qrowth (crescimento sustentável por si mesmo” segundo Rostow, daí o pleonasmo e oximoro porque “o desenvolvimento não é duradouro”, consequentemente não é sustentável! (p.8)

O autor relembra que este questionamento remonta a Malthus (p.13), firmando que “quem acredita que um crescimento infinito é possível em um mundo finito, ou é louco ou é economista” (apud Kenneth Bouldind, p. 16). “Nosso crescimento econômico excessivo choca-se com os limites da finitude da biosfera” (p. 27)

Apud Bernard Maris (p. 16), tal qual Schumpeter, nos diz que “toda a atividade dos comerciantes e dos publicitários consiste em criar necessidades (...) [exigindo] uma taxa de rotatividade e de consumo”

“Três ingredientes são necessários para que a sociedade de consumo possa prosseguir na sua ronda diabólica: a publicidade, que cria o desejo de consumir, o crédito, que fornece os meios; e a obsolescência acelerada e programada dos produtos” (p.17-18)

“A publicidade constitui o segundo maior orçamento mundial depois da indústria de armamentos” (p. 18), “mais de 500 bilhões de despesas anuais”, considerando o conjunto do globo.

Os modernos aparelhos são programados para quebrar, atestamos isso quando percebemos que “em prazos cada vez mais curtos, os aparelhos e equipamentos, as lâmpadas elétricas, [enfim, tudo] entra em pane devido a uma falha intencional de um elemento, sendo na maioria das vezes “impossível encontrar uma peça de reposição ou alguém quem conserte” (p. 21).

“A uma taxa de crescimento de 3%, multiplica-se o PIB por 20 num século, por 400 em dois séculos, por 8 mil em três séculos! Se este crescimento produzisse mecanicamente o bem- estar, deveríamos viver hoje num verdadeiro paraíso” (p.25).

A solução para o autor, teria que acontecer inexoravelmente pela via da redistribuição, com uma “reestruturação das relações sociais”, seja entre Norte e Sul, classes sociais e gerações. Esta reestruturação/redistribuição teria um “efeito positivo sobre a redução do consumo”, pois diminuiria a “incitação ao consumo ostentatório”, quando na ótica de Thorstein Veblen (uma idéia que ao extremo desampararia o conceito de lutas de classes marxista) “o desejo de consumir depende menos da existência de uma necessidade do que do desejo de afirmar seu status imitando o modelo daqueles que estão acima de nós” (p. 48)

Latouche, Serge. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009