sábado, 25 de julho de 2009

Por que o ciclo do café não gerou riquezas para o Brasil?

Paulo Leminski, poeta paranaense, tem uma bela poesia (ou hai-kai?) onde ele diz que não erra uma vez, duas ou três, erra quatro, cinco e seis, até o erro aprender que ele também tem vez, desculpando-me pela não apresentação na "forma" poética, mas pela idéia em si, da repetição do erro, assim sem a desculpa da crise de 29, que de alguma forma (e muito) afetaria, mas houve a repetição de erros, que contrário ao que o poeta diz (acho) fazer bem, como aprendizado, porém em economia o preço pago pelo excesso de erros, como a descabida corrida por áreas de plantio, endividamento por descontrole de caixa e desequilíbrio por desconhecimento de demanda, leva ao empobrecimento e ao subdesenvolvimento. Isso sem contar a submissão a determinados interesses internacionais, onde pouco houve de transferência de renda proveniente da lavoura para a indústria e quando aconteceu, não por motivação própria de crescimento e sim "empurrada" por fatores externos.
Não foi fomentado um setor de bens de capitais (máquinas e equipamentos) que livrasse o país da dependência das importações e criasse as bases internas capazes de, por si só, assegurar a reprodução do capitalismo no Brasil – este não se desenvolveu, nos deixando a sina de país agrícola.
O crescimento econômico, do início do período cafeeiro, onde temos as seguintes informações: "É suficiente dizer que, em 1906, São Paulo respondia por 40% das exportações brasileiras, realizando, no entanto, apenas 19% das importações", " (...)em 1907 de 30 espécies de artigos manufaturados, de grande consumo, a nossa indústria já supria 78% das necessidades nacionais, figurando apenas a importação com 22%" e informações (positivas) do ensaio de Antonio Barros de Castro, sobre o Censo de 1907, vemos a relação café-indústria de forma imensamente proveitosa tanto para um, como para outro e assim para o país como um todo.
Deste "início" promissor, passamos para o seguinte quadro: "De 1920 a 1928, enquanto as exportações totais cresceram 8,5%, as importações se elevaram em 71,9%."
Assim, apesar do crescimento econômico registrado após 1860, o montante de empréstimos contraídos no exterior não diminuiu. Até 1861, os empréstimos destinavam-se a cobrir o déficit da balança comercial e a efetuar o pagamento de dívidas contraídas no período de primeira crise. A partir de 1861, o saldo da balança comercial passou a cobrir quase exclusivamente o pagamento dos antigos empréstimos. Os recursos para investimentos internos, necessários ao maior desenvolvimento da economia, tiveram então de ser buscados no exterior, dificultando a acumulação de capital no país, criação de poupança interna além de contribuir para a elevação cambial e, portanto, desvalorização progressiva, embora lenta, da moeda nacional.
Os mecanismos que geraram o crescimento pós-crises estavam nitidamente ancorados em um regime cambial e monetário que não suportaria uma crise internacional, dada a dependência deste mecanismo quase que absoluta do fluxo de capital externo e do comportamento das exportações.
Quando a ameaça de uma grande guerra sobreveio, o Brasil se imaginava forte e sadio, mas um câncer econômico o devorava as entranhas, com a depressão americana, não sobrou tempo, se espalhando feito rastilho de pólvora mundo afora e os Estados Unidos, já assumindo a hegemonia capitalista, tombado pela "bolha", o castelo de cartas erguido a custa desta dependência e fragilidade, talvez inocência econômica, ruiu.
Carlos Heitor Cony, no final de seu romance Pilatos (Civ. Brasileira, 1975), escreveu: " (...) eles não estão felizes, são somente mal informados."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Mulheres - Palimpnóia

O excelente Blog Papimpnóia está terminando, então reproduzo texto que mui feliz publiquei entre estas feras, nos idos de fevereiro...
Mulheres

Determinados convites são irrecusáveis, soam como elogio, tal qual o Chico me convidar para bater uma bolinha com a turma do Polyteama. Significa que além de ser medianamente boleiro, seria também bom copo e companhia. Assim o convite para um texto no Palimpnóia, afagou o ego, saber que escrevo acima da média de milhões de brasileiros analfabetos funcionais não é vantagem, mas participar deste tour blogueiro, sim, é uma festa.
Porém, e a vida sempre os tem, o tema não seria nada fácil: Mulheres. Não imagino porque pensaram em mim para tal tema, ou pensaram no tema e pensaram em mim? Se fosse para falar de economia e a tão em voga crise, entenderia, mas mulheres? Por que eu? Seria por conta das últimas postagens? Um poema bocagiano, depois uma revelação de meus manuscritos secretos, como melhorar a virilidade e finalmente, uma comparação da crise atual, com uma suruba (literalmente)?
O fato é que estando nesta semana de Carnaval, esticado nas areias de Búzios, sorvendo em doses homeopáticas várias caipiuvas de vodka, fico pasmo de como a espécie feminina consegue ser tão bela. È um ir e vir de maravilhosas pernas, seios e bundas, num desfilar cadenciado, junto ao bater das leves ondas, que me inebria mais que as doses que tomo e aí vem este convite, me pedindo justamente para falar de mulheres...
Não seria justo com elas, pareceria um chauvinista, obcecado por sexo e mais sexo. Injusto com as mulheres inteligentíssimas que conheço, com as outras, bondosas tal qual Madre Teresa de Calcutá, com as de liderança inquestionável e irrefutável, com as que fazem do ofício de mãe, algo tão natural, que parecem que cresceram para o serem. Para as mulheres, que enfim, são exemplos, não só de mulher, mas de ser humano.
Porém, e a vida não deixa de ter, aqui na praia de Geribá, só consigo lembrar de C. e seu maravilhoso oral, sugando todo o meu leite, tempos depois só igualado pela M. irmã da M. que mesmo amiga de minha namorada, após uma carona fez o mesmo, deliciosamente. Lembro de outra C. que mesmo grávida (não de mim), pediu que eu a fudesse, pois o marido não estava querendo nada com ela, estando cheio de pudores com sua gravidez, babaca, achava que mãe não era mulher e como ela gemeu gostoso, quando eu entrei...
Assim é vida, desculpem se não consigo escrever bem sobre mulheres, talvez sejam tantas doses me deixando acima do nível do mar, mas dou como desculpa, o pouco tempo dado, para falar de algo que merece todo o tempo do mundo.

domingo, 12 de julho de 2009

Marx, Mais-Valia e a Crise, com uma pequena refutação Liberal

“Economia é o único campo no qual duas pessoas podem dividir um Prêmio Nobel, dizendo coisas opostas (Hayek e Myrdal em 1974)”

Assim como as religiões, as teorias econômicas são uma espécie de frutos de uma mesma árvore, se buscarmos lá atrás, haverá pontos semelhantes entre os clássicos, keynesianos, marxistas, austríacos, liberais, turma de Chicago, monetaristas, bulhonistas, desenvolvimentistas, estruturalistas, “pós” isto, “neo” aquilo e por aí vai.
Como uma infinidade de correntes, por certo, todas atreladas a determinado ponto de vista ideológico. Mas inexoravelmente, a melhor razão para estudar economia, é podermos falar de dinheiro mesmo não tendo nenhum.
A senhorita Crise, ainda vai dar trabalho e como sei que esta não foi sua primeira (crise), acredito também que não será a última (apesar do tio Karl esperar ansioso por esta), pois o sistema permanece em eterno desenvolvimento, sendo submetido a constante tensão, necessária esta (tensão) a manutenção de sua “força-destrutiva-criadora”. Mas cabe a pergunta: Necessitamos de direção ou liberdade?
Talvez Marx tivesse uma visão pessimista, por sua vida ser razoavelmente uma merda e engana-se quem acredita que ele inventou a “teoria do valor-trabalho”, esta foi exposta muito tempo antes por Smith e Ricardo e outro alemão, Rodbertus corroborou, dizendo “todos os bens, economicamente considerados, são apenas o produto do trabalho, e só custam trabalho”, p-o-r-é-m afirma que na estrutura social, os trabalhadores recebem somente parte do valor de seu produto, em forma de salário, enquanto os donos do capital, recebem todo o resto em forma de renda, assim segundo “Rod”, toda renda é fruto de exploração. Como o ditado italiano, que todos os dias, o bobo e o esperto saem para “trabalhar”, então se encontram e realizam “um negócio”...
O tio Karl lapidou estas idéias e chamou de “mais-valia”, esta fração de trabalho não pago, mas a pergunta que não se cala: por que acontece isso? Simples, o capitalista monopoliza os meios de produção, possuindo as máquinas e equipamentos.
Mas estes (donos do capital) também competem entre si, por maior acumulação e pela forma de melhor expandir sua produção e a priori, na época de Marx, pela força de trabalho, assim, existindo maior procura do que oferta, os salários tendem a subir, em conseqüência, a mais-valia tende a diminuir. A taxa de lucro entra em uma espiral descendente, empresas menores quebram, ocorre desemprego, daí excesso de estoque, a produção não casa mais com o consumo, então, surge à crise (lembre-se, na ótica de Marx).
Mas a crise não é o fim do sistema, mas parte dele: Os trabalhadores sem emprego são forçados a aceitar trabalho com salários aviltados, como há equipamentos “sobrando”, os capitalistas podem comprá-los por preços abaixo do seu valor, ou seja, depois de algum tempo, reaparece a mais valia.
A crise renova a capacidade de expansão do sistema, sendo a forma pelo qual ele funciona, não o modo pelo qual falha.
Esta propensão para crises foi uma previsão audaciosa de Marx – chamando de “ciclos econômicos”. Lembremos que em 1867, quando O Capital apareceu, grandes empresas eram exceções e não regra.
Por fim, Marx acreditava que haveria esta dita “crise final”, com um inevitável conflito entre as classes envolvidas: proletariado e capitalistas.
Interrompendo, nesse momento, chega o tio Liberal, irmão da D. Liberal, cunhado do Sr. Monetarista e refuta:
- Mas Karl! O capitalismo provou ao longo dos anos ser uma estrutura econômica de irrefutável adaptação, com distribuição de renda, programas estatais, de saúde pública, vide o Brasil, com o seu “Bolsa-Família”. Sei que na sua época, nada disso existia e como a princípio reduzem o lucro do capitalista, você não os imaginou possíveis.
Além disso, esta tese do “valor-trabalho”, usada desde vovô Smith, está um tanto ultrapassada, não?
O valor de alguma coisa depende de sua utilidade para a satisfação de um propósito de uma determinada pessoa, assim os preços, refletem puramente a interação entre ofertantes e demandantes. Você inverteu as coisas, não sendo o trabalho ou de modo geral, o custo de produção que determina o valor e o preço. É justamente o contrário: o preço projetado determina o custo de produção.
Há que considerar a influência do TEMPO no processo produtivo, Gil já cantou: “Tempo-rei! Oh! Tempo-rei...”
A produção demanda tempo, do início até a venda do produto há uma demora, sem falar no RISCO do produto não ser vendido.
Assim os trabalhadores recebem sua parte, sem partilhar os riscos, dito de outra forma, eles preferem bens presentes a bens futuros, mas os bens presentes sofrem um DESCONTO, recebendo menos agora do que receberiam no futuro, livres de risco, assumido pelo empresário e pelos poupadores que lhe outorgaram seus recursos – Este desconto se chama: juro.
Marx rebate:
- Tentar demonstrar que nesta sua economia de mercado não existe mais valia nem exploração, não é o mesmo que dizer que exploração não existe...Alguém em sã consciência pode afirmar isso? Quando damos algo em troca de nada ou pouco, qual o nome que damos?
(continua...)
Desenho Rafael Sica

domingo, 5 de julho de 2009

A Filha (em) Crise, seu pai Sr. Monetarista e sua mãe, uma “dama” (neo) Liberal

“A Primeira Lei dos Economistas: para cada economista, existe um economista igual e oposto. A Segunda Lei dos Economistas: ambos estão errados”.

Achei que fosse ficar um bom tempo sem falar de crise, após a última postagem sobre a mesma, dois meses atrás, mas como volta e meia em meu círculo de confrades (cachaceiros no bar), vejo dúvidas quanto a real causa da mesma, volto ao tema.
Claro que todos já escutaram pelo menos uma vez, sobre a tal das subprimes, mas podemos imputá-las a culpa? Acredito que as ditas foram apenas à gota d’água, num copo já cheio, ou melhor, conforme extremamente bem explicado pelo monstro da economia Minsky, a instabilidade financeira é algo inerente à estrutura capitalista, sem maiores delongas de economês, há um interesse mútuo, de emprestadores e tomadores, gerando uma expansão do crédito, que foge a regulação das centenas de bancos centrais (ou espremem estes a políticas restritivas), por conta das inovações introduzidas (pelos agentes financeiros) justamente com este objetivo (CDB’s, swaps cambiais, derivativos, securitização, etc.), havendo então criação endógena da moeda.
Onde entra o pai Monetarista então? Monetarismo é a corrente de pensamento que se apóia na chamada Teoria Quantitativa da Moeda, respaldo do mainstream econômico e que conduz a maioria das políticas monetárias, políticas estas, fomentadoras ou sancionadoras de uma ambiente de financeirização, onde o Estado acaba ficando subordinado ao mercado e perdendo autonomia em conhecido conluio com a mãe, neoliberal, que objetiva um Estado cada vez menor, condena o excesso de gastos do mesmo em relação à tributação, que no caso gera endividamento público e segundo eles emissão monetária com conseqüente inflação. Mas se tivermos uma visão crítica, o controle dos gastos privados e subvenção do Estado via taxas de juros não serão responsáveis por queda no crescimento e desemprego, como vemos há anos?
Voltando a Minsky, o mesmo afirmava que o sistema financeiro capitalista era um contínuo viver na beira de um penhasco, que bastaria uma leve instabilidade para tudo ir por água abaixo. Ele construiu sua hipótese (muito apropriada) para o caso de uma economia ser aprisionada em excessivo endividamento, onde intermediários financeiros captam a prazo curto e emprestam a prazo longo, assim tendo seu ganho (o spread bancário), porém, a fragilidade surge dessa operação, pois os retornos dos ativos são incertos, enquanto os pagamentos dos passivos contratados são certíssimos.
Desta forma, na economia de endividamento de Misnky, um dos agentes quebrando o contrato (no bom português: dando o calote), levaria a roldão todos os outros interligados a ele. É o que na televisão, os comentaristas econômicos chamam de risco sistêmico.
O assunto é longo, existem alternativas a Teoria Quantitativa, Misnky merece livros e mais livros, eteceteretal, mas como disse Machado de Assis, Deus desgostoso de sua obra, passou a mesma ao diabo pelo custo e o mesmo organizou uma sociedade anônima...
(Continua)
Desenho de Frank Miller, HQ 300