sábado, 19 de julho de 2014

Pequenas Considerações sobre Mercados, Crise, Consumo e Crédito...

Delfim Netto na introdução de “O espírito animal” de Akerlof e Shiller (2010), sugere que devemos abandonar a suposta racionalidade dos mercados, para com base nas teorias do comportamento coletivo (...) entender o comportamento de manada, quando o consumidor voraz passa a ser parcimonioso e o empresário excessivamente prudente.
 
[Qual] a razão pela qual a coerência deixa de existir, de tempos em tempos, ou seja, o motivo que torna a economia tão suscetível a ameaças ou até mesmo a verdadeiras e profundas depressões?(MINSKY, 2010, p.161).
 
À medida que a euforia do boom se propaga, as empresas aceitam planos de financiamentos cada vez mais arriscados. A partir daí, o menor choque, aparentemente acidental, já revela este desequilíbrio latente entre rendimento financeiro e rendimento de capital produtivo e precipita uma crise (BOYER, 1990, P. 32).
 
Da mesma forma que a teoria do multiplicador keynesiano explica como cada dinheiro pode ser criado, também elucida como a cada dinheiro não gasto, corresponderia uma cadeia de corte de despesas. O mesmo multiplicador, que foi denominado antes por Marx de capital fictício, quando haveria uma necessidade de estender e transpor os obstáculos da circulação e da esfera da troca, mas não somente em função especulativa de mercado de capitais, mas em razão também da valorização das marcas, pois a aceitação tácita desta valorização, necessariamente ajudaria o capital a transpor os limites da sua necessidade de multiplicação.
 
Podemos enxergar tanto determinado fetiche marxista, observações de Smith sobre a emulação das classes sociais, questionamento sobre a perenidade da demanda agregada keynesiana, o modo de despertar o desejo de consumir na visão schumpeteriana, last but not least, o fomento ao crédito de Kalecki. Porém perguntas sempre ficarão no ar: até que pondo poderá ir à desigualdade do consumo?
A atual vem sendo combatida (e também o foi em 1929) por vigorosos incentivos governamentais e no Brasil estímulo a tomada de crédito, objetivando alavancar a demanda, face que em nossas observações, a dificuldade não está em fazer comprar, mas sim em como conseguir pagar, pois será que este desejo de consumir não é latente na maioria de nós?
 
O que faremos, nesta brincadeira de dança das cadeiras, quando a música parar?
(Eu acredito que) a prosperidade exige mais do que livres mercados...



Referências (Além da óbvias: Marx, Kalecky, Keynes e Schumpeter) :

BOYER, Robert. A teoria da regulação – Uma análise crítica, São Paulo: Nobel, 1990.

MINSKY, Hyman P., Estabilizando uma economia instável, São Paulo: Novo Século Editora, 2010.

SCHILLER, Robert, AKERLOF George, O espírito animal: como a psicologia humana impulsiona a economia e a sua importância para o capitalismo global, Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.