domingo, 10 de março de 2013

A águia e a galinha (resenha crítica)





A águia e a galinha 
(resenha crítica do livro de Leonardo Boff)

Inicialmente o autor faz um relato “científico” sobre as águias e seus hábitos. Com relativo espanto descreve o relacionamento sexual da espécie – espanto pela fidelidade e pela não obrigatoriedade do acasalamento visar filhos – quando poderia o ato buscar prazer?
Explica que “o filhote mais velho (...) bica o irmãozinho recém-nascido até matá-lo”, um ato de “crueldade” - porém, poderíamos imputar “crueldade” a um animal, já que o mesmo age por instinto?
Continuando, o autor conta a saga da águia, ainda filhote, ferida e cega, que colocada no meio das galinhas, comporta-se como tal.
O “empalhador”, personagem que realizou tal ato, incomoda-se com a “situação” da águia, sonhando com o dia em que a mesma irá “despertar em si” e “buscar o sol”. Este mesmo sol, que várias vezes é colocado como metáfora de liberdade, renascimento, etc.
Mas quem deseja a “vida”, não é a águia e sim “o empalhador”. Não estaria também o homem buscando o mesmo “sol”, realizando-se através do alheio? Lembrando um pai que busca ser o que não foi através do filho. Não será também a figura do “empalhador” - aquele que imobiliza a vida – representativa deste paradoxo? Não seremos nós mesmos, empalhadores? De nossa própria vida e da vida alheia?
Desde o título, o autor nos apresenta o mote: “uma metáfora da condição humana”, quando segundo este  “todos” seríamos águias, porém, vivendo como galinhas – dado o caráter impositivo do sistema vis-à-vis resignada aceitação do mesmo. Entretanto a alienação não seria tanto imposta, como docilmente aceita, em nossa porção de pão e circo – ta qual o milho jogado no galinheiro?
E se fosse o contrário?
Se formos todos galinhas “sonhando” em sermos águias, quando fisicamente impossível, só conseguiríamos voar em nossas mentes? Afinal, o “tal sistema” (família, educação, trabalho, mídia, etc.) nos educa para sermos águias ou galinhas? E se este mesmo processo tem sucesso (lógico que existem exceções – mas francamente, que é?) seríamos então, uma maioria de qual espécie?
Enfim, Boff nos (de) mostra o quanto temos de águia e galinha dentro de nós, principalmente nos fazendo pensar e tal qual um grifo – o ser mitológico, cabeça de águia e corpo de leão – somos assim, simbióticos humanos, cabeça de galinha e corpo de águia – ou vice-versa – conforme nossa conveniência, dado não termos o atavismo animal, sempre será nossa escolha, sempre dependendo do tamanho do nosso conformismo.