domingo, 29 de março de 2009

Respostas, Keynes e a Febre de 40º

Desempregados fazem fila para tomar a sopa gratuita em Chicago (EUA), durante a crise econômica da década de 1930.

Respostas ao último post

Jens disse...
http://tocadojens.blogspot.com/
Oi Renato.Excelente texto. Com concisão e fluidez consegues transmitir o pensamento de Monsieur Quesnay. Um hábil exercício de didatismo. Abaixo o economês! Parabéns. Só lamento que as idéias do doutor estejam fora de moda. Seus conselhos são extremamente utéis e pertinentes no mundo de hoje. O Brasil, por exemplo, possivelmente viveria uma outra realidade se o Princípe dos Sociólogos tivesse seguido as máximas 29 e 30.Um abraço.

Jens, obrigado pelo abaixo o economês, é isso que me proponho, apesar de ser às vezes inevitável. O Príncipe seguia inexoravelmente outra cartilha, não fui contra todas as privatizações (das teles, por exemplo, totalmente à favor), mas as siderúrgicas, doadas da forma que foram...Putz! Por pouco não perdemos a Petrobrás...

Disimo disse...
http://pensamentos2010.blogspot.com/
Falando em Adam Smith...Por onde anda a "mão invisível da Economia"?Excelente texto!Abraços

Dísimo, a mão invisível é um conceito rudimentar da economia, realmente do próprio Smith. Modernamente é insustentável, simplesmente porque o excelente modelo teórico não se aplica na prática, em vista de que na concorrência, como uns devoram os outros, acaba por fim surgindo a figura do monopolista...

Halem Souza disse...
http://sinistrasbibliotecas.blogspot.com/
"Que não se esperem obter recursos para as necessidades extraordinárias de um Estado, senão através da prosperidade da nação, e não através do crédito dos financistas, porque as fortunas pecuniárias são riquezas clandestinas que não conhecem rei ou pátria. ".Alguma coisa a ver com o tal "capital especulativo" de hoje em dia - que querem agora regular, depois da crise - e que eu tanto ouço falar (mas não entendo "lhufas")? Ou estou falando besteira?Um abraço.

Halem, amigo, é por aí, mais ou menos, porque na época de Quesnay, era Estado financiando Estado. Os conhecidos (hoje) capitais transnacionais, começaram aqui no Brasil com os ingleses Rotchild, lembra deles? Se associaram ao Barão de Mauá, usaram seu conhecimento do mercado nacional (apesar de Mauá, também, de certa forma querer usar os ingleses) e depois lhe deram um chute na bunda, enfim, prevaleceu o mais esperto e os ingleses estavam anos a nossa frente no mercado financeiro (como ainda estão...)

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Keynes e a Febre de 40º

Crise em voga (Ah! O quanto ainda se escreverá sobre ela...), Keynes com força total na mídia e os colegas neoclássicos (será melhor dizer neoliberais?), adeptos do “deixa quebrar”, que o mercado se autoajusta (o novo acordo gramatical está me f., será assim agora?) um tanto de “barbas de molho”, afinal, são tantos de pires na mão, pedindo ajuda do “Grande Irmão”.
Como Jack, o estripador, vamos por partes:
a) Realmente, como afirmam os neoliberais, o mercado sempre “tende” ao equilíbrio, vamos entender equilíbrio, analisando o desequilíbrio: Se o quilo da carne passa a custar 100,00/Kg, pouquíssimos irão consumir, não compensando nem para produtores, nem para consumidores e se passa a custar 1,00/Kg, rapidamente o estoque à venda, se esgotará de mercados e açougues, porém, não compensará mais produzir (em razão da despesa, ser maior que a receita), assim, perdem novamente tanto consumidores, como produtores. Desta forma, o preço e as decorrências deste, quantidades produzidas, emprego, consumo, etc., tendem sempre ao ajuste entre o ofertado e o demandado.
Só que não estamos falando de uma “parte” do mercado e sim deste como “um todo”, com ênfase no seu lado mais sinistro e sombrio (e importante): O financeiro.
b) Se o seu filho tem febre, o que você faz? Deixa a febre por si só e seu maravilhoso exército de anticorpos enfrentando a infecção? Ou dá uma mãozinha, com antibióticos, anti-inflamatórios e antitérmicos?
Assim é a economia, um “corpo vivo”, onde não podemos sacrificá-lo, esperando uma redução não induzida da febre, o Governo tem que dar uma ajuda (intervenção), principalmente quando a febre é de 40º. Claro que devemos ter cuidado com a dosagem do remédio, afinal sempre existem alguns danosos efeitos colaterais, mas isso é assunto para outro post...

domingo, 22 de março de 2009

Idéias (não tão) Novas de Economistas Mortos (2): François Quesnay

O sujeito de nome irrefutavelmente francês era francês. Até aí nada de novo, mas algumas de suas idéias, lá do tempo em que cagar sentado era novidade, continuam de boa prática. Ressaltando o fato de Adam Smith, a lenda em pessoa, ter conhecido Quesnay em Paris, quando fazia um "bico" de tutor de um jovem nobre inglês, uns quinze anos antes de publicar seu clássico The Wealth os Nations (1776) e ficou deveras impressionado com o doutor. Sim, ele não era (somente) um economista, mas um médico da corte de Luís XV, que cuidava pessoalmente de Madame Pompadour. Vixe!
Se bem que se consideramos que a economia começou como ciência com Smith, diríamos que Quesnay era um pré-economista. Ele confeccionou alguns conceitos hoje ultrapassados (porém, outros atualíssimos-no fim do post), como pensar que a riqueza de um país origina-se de sua produção, mas somente a produção agrícola, talvez (obviamente) por conta da economia essencialmente agrícola de sua época, especialmente a economia francesa. Mas foi graças a esta idéia inicial, que Smith teve seu grande insight, de que o trabalho e não a natureza, era a verdadeira fonte de “valia” (idéia esta que passou depois pelo colo de Ricardo, chegando finalmente em Marx), talvez por Smith ter crescido no meio do efervescente comércio inglês, o oposto de Quesnay, vivendo (como já dito) numa economia agrária, francesa.
Mas o que eu quero, verdadeiramente ressaltar são alguns dos trinta axiomas que o médico francês teceu em suas “Máximas Gerais do Governo Econômico de um Reino Agrícola”, escrito em 1767:

XIX
"Que não se acredite que a redução dos preços dos alimentos seja benéfica para as camadas inferiores da população...reduz o salário...diminui bem estar...trabalho...aniquila a renda da nação."

XX
"Que não se reduza o bem estar das classes inferiores dos cidadãos...faria diminuir a renda da nação."

XXVIII
"Que a administração das finanças, seja através da cobrança dos impostos, seja através dos gastos governamentais, não acarrete fortunas pecuniárias que subtraiam uma parte de suas rendas à circulação, à distribuição e à reprodução."

XXIX
"Que não se esperem obter recursos para as necessidades extraordinárias de um Estado, senão através da prosperidade da nação, e não através do crédito dos financistas, porque as fortunas pecuniárias são riquezas clandestinas que não conhecem rei ou pátria. "

XXX
"Que o Estado evite os empréstimos que geram rendas financeiras que o sobrecarregam de dívidas devoradoras e ocasionam o tráfico de finanças...”

sexta-feira, 20 de março de 2009

Tipo Revista de Sexta-Feira

P o e s i a
PAULO LEMINSKI

LÁPIDE 1
epitáfio para o corpo

Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito,
são suas obras completas.

Paulo Leminski

C A R T U M
Reinaldo

M ú s ic a
Amy Winehouse - "Rehab" Live on David Letterman



domingo, 15 de março de 2009

Idéias (não tão) novas de economistas mortos I: Keynes

Conforme escrito pelo próprio, em artigo defendendo sua Teoria Geral, publicado no Quartely Journal of Economics, em fevereiro de 1937: “... as minhas razões para divergir da teoria tradicional vão muito, além disso. Elas são de um caráter extremamente geral, e pretendem ser definitiva”..
Keynes, já havia em 1930, em seu Treatise of Money, buscado razões porque a economia por vezes se tornava instável, alternando prosperidade e depressão, evidenciando no curso do comércio uma sucessão de expansões e contrações, antes mesmo do colapso de 1929, “na Inglaterra, por exemplo, os negócios foram ruins em 1801, bons em 1802, ruins em 1808, bons em 1810 e assim por diante, por mais de cem anos”, expondo uma gangorra entre poupança e investimento, mas não explicando como uma economia poderia se encontrar em um estado de prolongada depressão, o que inexoravelmente aconteceu na Grande Depressão, onde os juros caíram, mas nada aconteceu.
Em 1936 publica The General Theory of Employment, Interest and Money, completando o caminho teórico de seu livro anterior, onde percebe para além de quando a poupanças são espremidas, com rendimentos contraídos, quando todos estão sem dinheiro, efetivamente não há (excesso de) poupança, como visionariamente Malthus havia questionado no fim do séc. XVIII: “Não seria possível que a poupança tornasse a demanda de mercadorias menor que a oferta?”, na época do livro, não havia a tal “pletora de poupanças”, pois como poupar quando todos estão sem dinheiro? Por fim, toda a indústria fica limitada ao tamanho do mercado que abastece.
The General Theory, vinha referendar uma política já adotada nos Estados Unidos, pelo presidente Roosevelt (tendo Keynes como mentor), logo após sua eleição de 1933, um programa de intervenção estatal, onde se as empresas não tinham meios (nem mercado) para se expandir, o governo procuraria estimular o consumo, o degrau onde se apóia qualquer atividade econômica, assim gerando um novo ciclo virtuoso, desta forma corrigindo o problema de ausência de investimentos e seu perverso sintoma, o desemprego.
A utilização de uma política monetária, visando o aumento do produto, transformando moeda-ativo em moeda meio de troca, transferindo moeda do meio financeiro, para a circulação industrial.
Uma máquina somente é adquirida quando o seu rendimento esperado é superior à taxa de juros[1], assim Keynes cunha o termo eficiência marginal do capital, na Teoria Geral, para nomear a taxa de rendimentos esperados de um ativo de capital.
Os trabalhadores sempre irão preferir trabalhar a não trabalhar, mesmo diante de uma queda do salário real. Assim o princípio da demanda efetiva, determinante do nível de emprego e produto da economia, pode ser resumido nas seguintes proposições: “(i) a renda depende do nível de emprego da economia e (ii) a quantidade de mão-de-obra que os empresários decidem empregar é função de duas quantidades, a saber: o valor monetário esperado que será gasto em consumo e o valor esperado que será gasto na forma de novos investimentos.”[2]
Este mesmo princípio, explicaria porque a demanda por moeda, reduz a demanda por bens e serviços, causando o “desemprego involuntário” de Keynes, pois esta acumulação de riqueza monetária, reduz o consumo, ou a demanda por outros bens e serviços, a priori bens de capital. “Os empregos perdidos porque bens de capital são produzidos em menor quantidade não são compensados pelo aumento na produção de dinheiro”.[3]
Porém, o próprio Keynes em sua Teoria Geral, mostra-se cético, no capítulo 12, quanto ao êxito de uma política monetária, simplesmente orientada para a taxa de juro. “O Estado tendo condições de calcular a eficiência marginal dos bens de capital a longo prazo (deve)...assumir uma responsabilidade...na organização dos investimentos”.[4]
Keynes procura justificar, teoricamente, a intervenção dos governos na economia: quando o dinheiro deixa de circular, seja por receio ou seja por profunda depressão (isto é, não há dinheiro), interrompendo o fluxo “natural” dos negócios, reduzindo a dita “demanda agregada”, causando ou perpetuando o estado de recessão. A hipótese (provada com o New Deal), é que os governos gastando mais do que arrecadavam, podem “reflacionar” a demanda e aumentar o emprego.
Porém, tal estratégia econômica, também foi posta em prática, empiricamente, é claro, à partir de 1933, com o governo de Adolph Hitler...

[1] Carvalho, Fernando e outros, Economia Monetária e Financeira, Ed. Campus, 2007
[2] idem
[3] idem, pág. 47
[4] Keynes, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, cap. 12, pág. 119

domingo, 8 de março de 2009

Voltando ao Tema: Injustiça Social = Injustiça Tributária

Tendo passado o mês de fevereiro mais envolvido em textos além economia, talvez por uma fase meio Spock, deixa-me explicar: Na série Star Treck (escreve assim?), o vulcano Spock, passava o ano todo alheio a sentimentos, próprios e de terceiros, inclusive desejos sexuais, mas de tempos em tempos, o caboclo tomava-se de uma fúria incontrolável, ansioso por despejar seus espermas orelhudos na primeira (terrestre ou vulcaniana) que aparecesse. Assim fiquei fevereiro, talvez por ventos carnavalescos ou mera crise quarentona de auto-afirmação, enfim...sei lá.
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Voltando ao tema, entramos o ano (sim, o ano de 2009 começou agora) mantendo os maiores empecilhos para o crescimento econômico e da democracia tupiniquim, ansiosos pela tal distribuição de renda. Enquanto houver interesses particulares (são tantas mansões ultimamente) incrustados no Estado: senadores, partidos, deputados, lobbies, empresários viciados em abocanhar sua parte da reserva de mercado e os sindicatos (heheh-eles existem?) mais próximos do guichê do banco, onde se depositam as contribuições obrigatórias e longe dos trabalhadores, nada irá mudar, ou quem sabe (somente) infelizmente para pior. Afinal dia a dia comprovamos a lei de Murphi, de que nada é tão ruim que não possa piorar.
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E o nosso regime tributário? Merece um livro, execrando o mesmo. Inicialmente irei ser didático: Existem três tipos possíveis de regime (nos países utilizados de forma conjugada ou não), que são o progressivo, o regressivo e o neutro. Por exemplo de progressivo, temos o Imposto de Renda, onde quem ganha mais, paga mais, proporcionalmente (esta é a palavra chave) e dentro dos limites, é um imposto justo, onde quem ganha salário mínimo, não paga nada de IR e quem ganha acima de determinada faixa, começa a pagar. Vamos ao final, o dito neutro, tendo, por exemplo, a extinta CPMF, onde TODOS pagam proporcionalmente, assim quem emitia um cheque de 1000,00 pagava 0,038% de 1000,00 e quem emitia um cheque (ou sacava) 400,00, pagava proporcional a este valor (0,038% de 400,00).
Agora vamos ao imposto realmente INJUSTO, onde não existe nenhuma PROPORCIONALIDADE: O imposto regressivo (e abundante no Brasil). Tome uma cesta básica, composta de diversos produtos e consumida por todos os brasileiros, afinal, quem não consome: açúcar, café, sal, arroz, etc? Esta cesta que custa em média 50,00, tem uma carga tributária média (pois cada produto tem um imposto específico) de 20%, assim, quem ganha 450,00 e compra uma cesta básica, paga 10,00 de imposto. Levando em conta, quem ganha 450,00, “consome” todo o seu salário com mercado, luz, água e outros, pagará em média 90,00 de imposto, ou seja, paga 20% de impostos. Comparando com quem “consome” o mesmo valor, porém ganha dez vezes mais (4.500,00), este último pagará 2% de impostos. É o chamado imposto indireto, o imposto regressivo, perverso e injusto, inimigo número um da distribuição de renda. Distribuição importante, não só para quem defende uma economia mais planificada, mas também para um mercado mais sadio, afinal não existe economia de mercado sem consumo. O assunto é longo, volto outro dia com ele...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Pequenas Coisas

Pequenas Coisas

Sei que vivemos de pequenas coisas
e as coisas pequenas parecem se perder na imensidão,
mas só parecem,
só parecem,
parecem,
só.

R. Couto
Sempre bisbilhotando no universo dos quadrinhos, achei este caboclo aí em cima, Rafael Sica. Um traço diferente, melancólico, não sei se o traço, seus temas, ou ambos, ou seja, sincronismo total entre o desenho e a idéia. Parecem saídos diretamente de uma mente não muito sadia (isto é um elogio), assim como sua assinatura, estilo em vias de alfabetização. Genial, valendo a máxima: uma imagem equivale a mil palavras. Mas aviso, se for dar uma olhada nos desenhos do moço, leve um anti-depressivo, no meu caso, optei por uma vodka on the rocks.