quarta-feira, 30 de julho de 2008

Misto-Quente 2 (continuação)

...Ao final de sua canja, cuja música não lembro, apenas que fora acompanhado por outro cara, bom pacas de viola, que estava com um doze cordas puro aço, Evandro devolveu-me o violão e na sua forma característica de falar disse:
Pô cara, bom demais teu violão e seu som também, m-a-n-e-i-r-o, me amarrei quando você encheu a boca e disse: c-a-b-a-ç-o. Putz! Os jurados ficaram se olhando, até parecia que ninguém sabia o que era...
Estendeu-me a mão, num aperto malandreado e sincero:
– Aquele a-b-r-a-ç-o, mano!
Nesta época, a Blitz estava recém desfeita, mas Evandro continuava um popstar nacional e até hoje quando o vejo na telinha, lembro deste dia no Circo Voador e tantas outras histórias dos anos oitenta. Voltei a tocar outra vez por lá, desta vez numa festa do Partido Verde, não o monstrengo que está hoje aí, com tantas notícias de maracutaias, notas fiscais forjadas para encobrir retiradas desonestas, chegando ao ponto de casa alugada para festas estilo Palocci.
Bem, assim me relata meu amigo Coelho, ativista verde, que comprou o sonho e vive hoje um pesadelo (expulso do partido "a la" Heloísa Helena, no PT ) por denunciar a turma do Sirkis (que até escreveu um bom livro-Os Carbonários). Não sei se as denuncias procedem, mas o Coelho é meu amigo e dos amigos eu tomo partido.


Uma das coisas que me intriga e irrita é isso: Onde foram parar aqueles ideais todos? O que está errado? O sonho de uma sociedade melhor, mais humana e justa ou não vale a pena apostar no homem em si? São tantos exemplos de personas, que tinham um determinado discurso e quando os vemos na prática, a coisa muda de figura, não pela teoria ser errada (vai daí a teoria do valor de Marx, ser melhor observada como ideologia do que como teoria econômica), mas por absoluta falta de caráter. Será que Lord Acton estava certo e "todo poder corrompe?"


Sem suas listras, o tigre deixará de ser tigre?

terça-feira, 29 de julho de 2008

Misto-Quente

Conrad em seu livro JUVENTUDE, que não é tão bom livro assim, mas o autor de "No Coração das Trevas" merece nosso respeito, diz lá pelas últimas páginas, que temos saudades de coisas e fatos da juventude, não por serem necessariamente coisas boas, mas sim por termos saudades de quando éramos jovens. Quando eu tinha mais ou menos vinte, achei que era compositor e andei fazendo coisas como essa aí embaixo, que apresentei num festival de música no Circo Voador. Lógico que era um blues...
Depois, Evandro Mesquita que estava entre os jurados, apareceu e pediu meu violão emprestado, ele daria uma canja enquanto escolhiam as finalistas. Não fui selecionado, talvez estivesse meio chapado neste dia...

Misto-Quente


Quando me torra o saco
Este pano no pescoço
Comprimindo artéria e osso
Eu desabafo e danço fora do compasso
Como Rimbaud
Sento a beleza no meu colo
Só que eu gosto, me melo e gozo
Se a história é melhor de se fazer
Do se contar
Doce, como se fosse fruta
Rosa na direção da lua
Eu provei dos teus peitos menina
Borboletas no oceano
Guelras do inseto (em delírio)
Respirando soltas
Afinal são mil infernos
Queimando desejos
Maldades, tesão
Minha língua te lavando
Arrepiando
Expulsando os cabaços dos preconceitos tolos
Eu sou isto
Eu sou misto
Logicamente quente
As vezes inconseqüente
Legiões de Punks
Materialistas
Junks
Easy-Rider
On the Road
Forever Young.

sábado, 26 de julho de 2008

Inflação, Juros e Alergia

Venho lá do blog do Prof. Toni ( vide Vale a Pena ) onde o mesmo fez uma postagem em cima de um texto do Luis Nassif ( Vale a Pena idem), como acabei me estendendo nos comentários, aproveitei e faço este post, no final falo em um filme, irei assistir : Antes que o diabo saiba que você está morto...
Nassif é um craque e volta e meia, falo isso, quando diz que o "BC não aposta na dinâmica da economia", realmente não aposta, mas não aposta por que? Por faltar conhecimento técnico ou por outros interesses? Como a turma que "toca" a economia nacional a varios anos é composta também por "feras", vai daí a pergunta, qual o interesse de manter esta política (economica)? Simples fidelidade aos argumentos de Keynes? O estudo economico é dinâmico (por isso volta e meia falo contra a teoria de valor de Marx, mas isso é assunto para um outro dia...) e inflação não é o "aumento generalizado nos preços", como dizem no primeiro ano da faculdade, mas sim a depreciação do poder de compra da unidade monetária - algo bem diverso, portanto. Dessa forma, o que causa a depreciação no poder de compra da moeda, será mesmo agente causador da inflação, então caminhamos e chegamos ao aumento na oferta de unidades monetárias (Juscelino foi uma caso clássico). E quem pode fazer isto? Somente o Estado, pois é o monopolista da impressão de dinheiro.

Porém (e existe sempre um porém...) temos outro tipo de "moeda", que não está sob o total controle do Governo ou das autoridades monetárias (uma falha da teoria quantitativa, mas isso não é assunto para não-iniciados): a moeda creditícia. Esta é gerada pelo sistema bancário em momentos de expansão econômica, ou seja, a moeda tanto é criada de dentro pra fora, como de fora pra dentro...Afinal, o que o banco vende ( e pra vender, tem que produzir), se não dinheiro?
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Em um contexto de livre mercado, onde não há expansão artificial da moeda, um aumento de preços setorial (digamos nos alimentos) não implica inflação, mas sim em aumento RELATIVO no preço dos produtos alimentícios. Todos os demais produtos da economia permanecem os mesmos. Porém, agora, as pessoas demandarão mais recursos para adquirir a mesma quantia de alimentos que antes, o que necessariamente implicará uma redução de consumo dos outros bens, pressionando seus preços para baixo, havendo, por fim, um ajustamento que não implicará num "aumento generalizado nos preços". Porém, se o Estado quiser "salvar" a economia (como rezam os keynesianos), mantendo a prosperidade através da emissão de moeda, isto acarretará em inflação. Caso haja continuidade desta política, necessariamente decorrerá um período de expansão artificial (pois o crescimento não é sustentado em poupança, mas em notas de dinheiro pintado). Cedo ou tarde, o governo terá que rever este artificialismo com o aumento dos juros para refrear o conjunto de investimentos insustentáveis, por causa da própria inflação, que passa a corroer o poder de compra da moeda.
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Com isso, os banqueiros gargalham, pois o aumento dos juros não representa (na prática) uma contenção creditícia e sim somente alargamento dos prazos, vide a 4 anos atrás, o financiamento máximo de um veículo zero km, era de 48 meses e hoje chega a 72 meses !
Uma situação como esta, não pode ser infinitamente sustentada, acaba em caos monetário, como o médico que receita Dimeticona para reduzir uma dor abdominal, por causa de uma gastrite e o paciente sendo estremamente alérgico a este composto acaba todo "empipocado", tendo que tomar Cloridrato de Fexofenadina, senão corre o risco de um Edema de Glote. Não, não sou médico, apenas já sofri na pele, (literalmente) a coçeira interminável de uma alergia...Resumo da ópera: Começaram por um caminho errado e agora fica difícil voltar a estrada certa.Putz!Professor, comecei na economia, entrei na alergia e hoje é sábado, deixa eu ver se tem algum filme bom no cinema...
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PS: Acabei fazendo algumas alterações/correções da postagem original dos comentários no blog do Prof. Toni
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Charge: Angeli

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Joe Louis

Joe Louis, o famoso pugilista, certa vez inquerido por um amigo, porque não havia "metido a mão" num baixinho folgado, quando de uma briga de trânsito, respondeu:

- Será que Caruso canta uma ária, toda vez que discute com alguém?



Seja no Karate de Oyama, no Karate de Funakochi ou no Aikido de Ueshiba, o verdadeiro aprendizado não se limita apenas na aplicação de técnicas ou etiquetas de academia, o aprendizado deve ser perseguido durante toda a vida, dando frutos quando associado à vida cotidiana.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Férias em St. Tropez


Folheando uma revista, cujo nome sinceramente não lembro, talvez Caras ou outra semelhante, li que Glória Maria está tirando 2 anos de férias, este tempo corresponde à 24 anos de trabalho de milhares de brasileiros, isto é, aqueles que conseguem trabalho com carteira assinada, ininterruptamente todo este tempo.
Continuando a leitura, Glória irá gozar estas férias dando voltas ao mundo, isto mesmo, no plural, voltas, sendo seu "porto-seguro" a cidade de St. Tropez, provavelmente um lugar mágico, onde existe (segundo a mesma reportagem) uma boate, freqüentada somente por príncipes, pilotos de F1, bilionários russos, top-models ( do naipe de Naomi Campbell, que ancorou seu iate do tamanho de um prédio de 12 andares) e nossa gloriosa (talvez uma antevisão que justifique seu nome) Glória. Lugar onde uma garrafa de champanhe custa 300 mil (dólares, sempre dólares) e pela manhã (não tão manhã assim), todos vão à praia, onde custa 50 dólares o aluguel de uma cadeira e um guarda-sol.
Lá ninguém vê televisão, muito menos soube do menino João, que teve seu carro (de sua mãe) fuzilado por mais de 15 tiros, por conta da política de "enfrentamento" (efetivamente tem que enfrentar, mas antes PENSAR) do governo do Rio (acho melhor trocar política por tática, pois política anda vindo carregada com muita tinta pejorativa), lá também não é necessário passar por tantos mendigos, todas as manhãs quando vou a padaria, tantos que se pagasse uma média (café + leite + pão com manteiga) para cada um todos os dias (somente os dias úteis), gastaria 300 reais por mês, ao dólar de hoje, são 4 cadeiras alugadas na praia em St. Tropez ou 1 ml de Champanhe. Duvida? Basta fazer as contas...
Mas Glória não tem culpa disso, vive de seu salário, não irei opinar sobre as questões da alienação ou questões "morais/legais" de seu empregador. O fato é que ela recebe um salário e com certeza seu empregador, uma empresa da iniciativa privada, tem lucro sobre ele, afinal, qual empresa dá emprego a alguém se não obtiver alguma rentabilidade sobre ele(a)?
O Estado sim, este tem culpa, pois não é responsabilidade do Estado a gestão da segurança, da educação e da saúde? Assim como promover a distribuição da renda, por meio dos impostos competentes? O Estado deve prover onde a iniciativa privada (mercado) não atende a sociedade, assim, educação de qualidade a baixo custo, saúde idem (por que pagamos INSS-só por conta da aposentadoria?) e segurança (melhor seria escrever SEGURANÇA). O que temos hoje é uma total inversão, com os planos de saúde, para todos os bolsos, planos que vão de 20,00 a 500,00 por mês-considerando a mesma idade, colégios públicos abandonados, forçando a parcela mais ou menos da população a colocar seus filhos em escolas particulares e a segurança, nas áreas carentes (favelizadas ou quase) temos as milícias e nas mais abastardas, os condomínios com sua segurança particular. Ou seja, a iniciativa privada está operando em cima da ineficiência do Estado (com suas obrigações) e não ao contrário, como seria de se esperar, com o Estado intervindo onde a iniciativa privada não vicejasse.

Charge: http://www2.uol.com.br/angeli/chargeangeli/i/chargeangeli307.gif

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Filmes que Valeram o Ingresso 5 e 6

" Eu já matei mulheres e crianças. Já matei quase tudo que caminha ou rasteja por aí. E agora estou aqui para matar você, Little Bill..".

O Cavaleiro Solitário (Pale Rider – 1985)
Os Imperdoáveis (Unforgiven – 1992)

Gene Hackman é Little Bill e o assassino é Will Munny, um atormentado, que Eastwood interpreta como se estivesse atolado nos pecados da própria existência. É um filme soturno, onde cachaceiros, ladrões, assassinos e putas, são os personagens. Unforgiven não é a estória de um vencedor. Conta a estória de um vencido.
Talvez ao filmar Pale Rider, Clint ainda não estivesse "pronto" para fazer Unforgiven, sendo este primeiro filme, um ensaio para o segundo...
O tipo monossilábico da trilogia com Leone (a quem o filme é dedicado, com Siegel) também está aqui, o anjo vingador dos céus-cavaleiro do apocalipse, representado pelo (falso) pastor de Pale Rider idem, mas o tempo passou e por motivações diferentes, Will Munny – mais velho e com a mente pertubada por toda uma vida de horrores – é todos aqueles tipos, desde o primeiro western de Leone, mas agora inexoravelmente está no fim da linha.
Personagem e filme se confundem , onde Clint Eastwood e Will Munny são uma só pessoa...

A foto, não é foto, é uma pintura do craque Sebastian Krüger, pinçada no endereço abaixo:
Acrylic on canvas by Sebastian Krüger; December 2006. - 2 meters x 1.2 meters (79 x 47 inches)
http://photos1.blogger.com/x/blogger/3128/3555/400/505402/The_Good_%28one%29_RGB_in.jpg

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Onde está o juiz?

Charge do Angeli, um craque, pescada no seu Blog: http://www2.uol.com.br/angeli/
Pedro do Coutto (Tribuna da Imprensa)
http://www.tribunadaimprensa.com.br/pedro.asp em 16/07/08
"Criou-se no País uma atmosfera efetivamente contrária ao presidente do Supremo. A impressão deixada por Mendes junto à opinião pública, sem a qual ninguém consegue exercer nada de positivo, é a de que ele, Mendes, considera antecipadamente Daniel Dantas inocente. Isso porque ao defender a liberdade do banqueiro não fez qualquer ressalva quanto ao julgamento definitivo que inevitavelmente terá que ocorrer.
Daniel Dantas, inclusive, como todos tomaram conhecimento, é acusado também de tentativa de suborno do delegado Protógenes Queiroz. Só parte para tentativa de suborno quem, tacitamente, se considera culpado(...)

Prof. Toni
http://proftoni.blogspot.com/
"(...) Claro que a figura do político corrupto, tão presente no noticiário e no anedotário popular, é a cereja do bolo, mas é de fácil percepção que, independente dos políticos, a máquina de corrupção e de criminalidade viceja na iniciativa privada, principalmente nas rodas de finanças(...)"

terça-feira, 15 de julho de 2008

Juros ou como o sapato apertado cria calo

Logo de cara quero deixar bem claro, não sou contra os juros, mas não aceito a agiotagem, ou seja, se você tem algum dinheiro e empresta, acho justo que ganhe alguma remuneração por este empréstimo, já que você "poupou" ou guardou de alguma forma seu capital, para horas difíceis, ou aquisição de algo de maior valor e tendo que repassar parte desta quantia, para alguém que não teve a mesma atitude precavida ou que gastou mais do que recebeu, recebendo quem emprestou, alguma forma de compensação, os juros, por ocasião do pagamento, ou amortização da dívida.
Assim é em pequena escala como em grande escala, na sua vida pessoal, na sua empresa ou nas contas nacionais, se você gasta mais do que recebe, ou eventualmente passa por algum aperto, tem que "pegar emprestado", seja com algum tio rico ou com os bancos, pois com estes últimos é que começa a doer o calo, criado por um sapato apertado, usado por tempo em demasia. Como dito por "Bob Fields", o crédito é a mais diabólica das invenções humanas e os governos assim que aprendem meios e modos de arranjar dinheiro emprestado, não param mais, variando apenas o grau de descontrole. Mas ao chegar na última estação, quem paga a passagem do trem?
Vejamos a conta simples, nos últimos 06 anos de governo Lula, as exportações cresceram de 70 para 140 bilhões e as importações de 68 para 100 bilhões (dólares, sempre dólares), rapidamente vemos que estamos "recebendo" mais do que "pagando" 40 bilhões, a diferença entre as exportações e as importações, a isso damos o nome de superávit. Mas o que fazemos com ele? Este valor, seria como receber um salário de 1400 (reais, para nós mortais) e tendo uma despesa de 1000 (aluguel, escola, farmácia, etc.), sobraria no fim do mês 400, uma beleza, pois com essa sobra poderíamos "investir" em algum curso, gastar um pouco com lazer, ou seja, faríamos o que quisesse com esta "sobra". Mas se já tivéssemos além das nossas despesas mensais, um saldo negativo no banco, um valor que já viéssemos "arrastando" de longa data, pagando juros em cima de juros? Não poderíamos destinar NADA desta dita sobra, para nada além de pagar estes juros. Pois bem (mal), hoje, temos uma dívida interna de 1 trilhão e 150 bilhões (reais), tendo no Diário Oficial de 30 de junho, o secretário do Tesouro, Sr. Fábio de Brasil Camargo, ao apresentar o balanço financeiro mensal do governo, revelado que a estimativa de gastos com juros, este ano, é de 152,2 bilhões de reais, ao câmbio atual são 92,2 bilhões de dólares. Fácil observar, que da nossa "sobra" inicial de 40 bi, já temos que "pagar" mais que 90 bi. Se antes tínhamos a ilusão que estava sobrando, graças a dívida antiga e aos juros, já está faltando. Isso sem contabilizar que este superávit, vem dos últimos seis anos e o montante da dívida é somente do último ano.
Mas como na lei de Murphy ou nos nossos políticos, nada é tão ruim, que não possa piorar, em março, segundo relatório do IPEA, houve deterioração nas transações correntes por conta das remessas líquidas de lucros e dividendos. Em maio, o acumulado no ano já totalizava um déficit de US$15,6 bilhões. "O crescimento da remessa de lucros e dividendos ao exterior é reflexo, basicamente, da expansão da atividade econômica, do elevado estoque de capital estrangeiro investido no país e da taxa de câmbio".
Vamos observar a expressão: "capital estrangeiro investido no país". Do que se trata? Sem me estender em demasia, pois uma postagem em um blog, acredito, tem como função mais acender fogueiras e despertar discussões, fazendo pensar, do que efetivamente dar o caminho da pedras, temos por exemplo, recentes notícias do maior volume na Bolsa de São Paulo, capital este a ser investido ou especulado? O investidor estrangeiro (ou não) deve estar no mesmo diapasão dos projetos nacionais de desenvolvimento, ganhando seu quinhão, justo, porém com soberania do Estado na administração financeira nacional. Sempre será interessante a liberalização de investimentos "diretos" em instalação de equipamentos, além de haver, claro, transferência de tecnologia, mas sabemos da dificuldade de escapar à inata volatilidade dos capitais financeiros meramente especulativos, muito difícil, escapar e ao mesmo tempo não engessar o mercado de capitais. O Brasil tenta, via manipulação da IOF, baixando-o para incentivar o influxo, ou elevando-o, para conter a fuga de capitais, porém, o excesso de burocracia acaba também espantando os desejáveis investimentos diretos. Mas olhando para o próprio umbigo e para quem paga o pato, como considerar justo que o sistema financeiro cobre taxas médias de juros de 80% a.a. para pessoas físicas e 48% a.a. para pessoas jurídicas quando a expectativa de inflação do próprio sistema para os doze meses seguintes encontra-se abaixo dos 6%? Como esperar a senda justa, quando reduzidíssima minoria responde pela maioria da riqueza nacional e controla os caminhos para esta (riqueza), tanto por meio político como econômico?

sábado, 12 de julho de 2008

Confissão

Às vezes crio coragem e escrevo, às vezes crio muito mais coragem e confesso...

Eu não faço poemas todo dia
Não gasto à toa minha poesia
Guardo
Como um vinho antigo
Compartilho
Como um jantar com velas
Gozo
Esperando a hora certa.

R. Couto

NÃO HÁ VAGAS - Ferreira Gullar

Hoje, estava programando três coisas, para analisar e postar no blog, ler o relatório do IPEA (um estudo sobre erros de previsão) , dar uma "marretada" na entrevista que o Professor Edmar Bacha, economista dos Planos Cruzado e Real, deu ao jornal Folha de São Paulo em 07/07, identificando que a causa principal da inflação estar rondando nosso quintal, seria o excesso de demanda interna, porém o ilustre professor não menciona um pingo, quanto mais uma palavra, sobre a influência dos juros cobrados pelos bancos...E "colocar lenha na fogueira", na troca de postagens com o Professor Toni, em seu ótimo blog:

Mas olhando minha estante, vi um livro amarelo, não pelo tempo, mas somente a cor da capa e dele prefiro trazer este poema:

NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira

Ferreira Gullar

domingo, 6 de julho de 2008

Quase agnóstico

"Não basta que seja pura e justa a nossa causa, é necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós" (Agostinho Neto)

O recente resgate (seja via pagamento ou ação militar, não importa) da senadora Ingrid Betancourt e o posicionamento das FARCs, nestas selvas tropicais, me fez lembrar de Agostinho Neto, lembrança esta pelo oposto do que este defendia e representava, ao atual molde "revolucionário" desta pseudo-guerrilha...

Mais eu queria hoje, neste domingo, dia que as vovós vão à igreja, falar de outra coisa:

Assim como "algumas doenças devem ser curadas com a ignorância dos pacientes"(Sêneca), o melhor caminho para a religião vem diretamente do latin, religare, conectar novamente, quanto maior a ignorância quanto aos "livros sagrados", melhor, pois quanto mais nos informamos deles, discrepância vemos, onde um afirma, outro desmente, onde um guerreia, outro pede amor.
"O que sai da boca procede do coração e é isto que torna o homem impuro"(Mateus). Coração é a palavra-chave, quando mais buscamos pela leitura (olhos-livros sagrados) ou pela pregação alheia (ouvidos-falsos pastores, e são tantos, não?), mais nos distanciamos do verdadeiro conhecimento, pois o final, é conectar-se com si mesmo, escutar a voz do coração, onde lembro a música do Walter Franco, onde "tudo é uma questão de manter a mente quieta".

Então o que não pode ser encontrado, transforma-se em constante procura, mas procurar onde? Procurar no melhor de nós mesmos, um grande ciclo, onde todos sem exceções, acabariam por ter uma vida mais justa (e melhor).

Mas onde estará Deus?
Nas flores, nas estrelas e na batida das ondas contra as pedras? Deixo a cargo do Universo, que sempre soube cuidar de si, apesar de nossa interferência humana, onde na maioria das vezes, mostrou seu pior lado.

"É próprio da reles criatura humana sofrer com a felicidade alheia e ver na infelicidade alheia uma fonte de satisfação"(Fausto Wolff)
Obs1.: Conheci a poesia de Agostinho Neto, no livro "Poemas de Angola", editado pela finada Codecri; Putz! Tenho que achar este livro, perdido em algum lugar da minha estante...
Obs2.: A frase do Fausto Wolff, não lembro de qual livro, se do "Lobo Atrás do Espelho" ou "A Mão Esquerda".

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Coca e a "Curva de Demanda Quebrada"

Li no blog do Jean Scharlau:

"Não, é só o Nordeste, onde tudo (exceto os senadores) é mais barato. E o preço na tampa do refri não é fruto de ditadura comunista, é só a velha ditadura do mercado, onde a giga Coca-Cola, para concorrer contra os micros Dore, Simba, Saci, água de coco e sucos naturais, tabelou o preço ao consumidor, o percentual do bodegueiro (seis centavos na pequena), do distribuidor e do fabricante, no melhor estilo Stálin."
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Na verdade não existe concorrente para a Coca-Cola (talvez a Pepsi, em alguns lugares), ou alguém francamente acha que os guaranás Tobi ou Simba são concorrentes da Coca? Concorrência existe, quando por preços semelhantes você escolhe o produto A ou B pelo seu "diferencial". Este caso específico da Coca colocar preço nas tampas, obrigando a "ponta de venda" a pratica-lo, é um caso típico de "kinked demand curve", que poderíamos fazer uma tradução livre como "curva de demanda quebrada", pulando a explicação matemática(vulgo economês), diz que determinados produtos não são muito sensíveis a variação de preço. Você que almoça todos os dias com uma Coca? Vai passar a beber duas, se o preço abaixar? Este caso de redução, gera apenas um "efeito substituição". Acho que é uma estratégia (não diria suja, mas forte, pelo poder de mercado, traduzindo:MONOPÓLIO) da Coca, para forçar a redução de preço da concorrência e assim "quebrar" quem não aguentar as margens espremidas. Se buscarmos informações neste mercado, provavelmente a Coca deve até estar dando prazo maior que a pseudo-concorrência, fazendo o que for possível para afundar os "nanicos"...Nada legalmente ou economicamente proibido, mas pelo seu tamanho, onde consegue até uma maior "manipulação" da carga tributária (isenção de IPI, IR, Cofins, etc...), como sobreviver sendo micro-empresa?