domingo, 29 de novembro de 2015

Dívida Pública



“Todos os economistas respeitam as evidências empíricas porque sabem que elas são a única forma de dar utilidade a disciplina que cultivam” (Delfim Netto, 17/11/2015, Valor Econômico)

A restrição orçamentaria do Governo se dá porque em determinado período de tempo, este não só terá seus gastos para este período, como também já “carregará” seus déficits do período passado. Assim, o valor presente dos seus gastos, acrescido do valor presente de sua dívida inicial, deve ser menor ou igual ao valor presente das receitas dos impostos (renda líquida do governo).

O valor presente da dívida é dado em função da taxa de juro real do período, utilizada exponencialmente, que pela equivalência irá se configurar em uma operação de desconto; seria a representação de cada valor de juros a cada período, descontado ao longo do tempo, daí que matematicamente utilizamos integrais para representar a taxa ao longo do tempo.

Entretanto esta restrição não é definitiva, pois não impede o Governo de continuar acumulando déficits. Ao que a dívida aumenta com o tempo (déficit crescente), a restrição será atendida se a taxa de juro real aumentar mais que a dívida.

Desta forma, percebemos porque obter o SUPERAVIT PRIMÁRIO é tão importante, para que o Governo tanto contenha o aumento da dívida pública, como se possível reduzir este estoque da dívida.

A restrição orçamentária de não crescer o estoque da dívida se dará ao que o resultado do valor presente do SUPERAVIT PRIMÁRIO for maior ou igual ao déficit inicial.

A taxa de variação do estoque da dívida, iguala a diferença entre as despesas e receitas do Governo, acrescentadas a taxa de juros real que o Governo “paga” pela manutenção da dívida:

Ḋ(t) = [G(t) – T(t)] + r(t)D(t)

Destarte, a taxa de juro – a depender das expectativas dos agentes (leia-se confiança) – quanto maior a expectativa de elevação da dívida para determinado período futuro, levará o Governo a pagar juros mais altos, “exigidos” pelos agentes.

A utilização da taxa de juros como principal instrumento para a obtenção da meta de inflação e o fato de grande parte da dívida pública estar indexada a esta mesma taxa, faz com que haja uma perigosa reciprocidade entre a condução da política monetária e o gerenciamento da dívida pública.

Política monetária voltada para desinflação pode provocar um efeito negativo junto ao equilíbrio fiscal, caso não gerencie adequadamente o perfil da dívida pública.

O Brasil a partir de 2002 aumentou a participação de títulos pré-fixados e indexados ao índice de preços e assim, evitou uma maior deterioração da razão dívida/PIB:

As principais recomendações para o gerenciamento da dívida pública podem ser resumidas:

- Necessidade de alongamento do prazo da dívida;
- Aumento da parcela da dívida pré-fixada e indexada ao índice de preços;
- Redução da parcela da dívida em títulos com correção via Selic e Câmbio.

Calvo e Guidotti (1990) parecem ser de grande influência na formulação da estratégia brasileira para gerenciamento da dívida: tomam como restrição uma função de perda social em função da carga tributária e da inflação, avaliando o impacto e o grau de otimização da composição de nosso portfólio da dívida, seja em maturação ou em estrutura de correção.

Sargent e Miller (1981) apontam que um Governo sem credibilidade para neutralizar choques (seja uma “crise” ou um choque de oferta) e que já possuam uma elevada relação dívida/PIB, pode acabar por gerar uma taxa de juros real mais alta que a taxa de crescimento econômico.

As evidências empíricas revelam que a estratégia de alongar o prazo média da dívida pública não tem se mostrado eficiente -  no nosso caso – ao que está implicando em um aumento da taxa de juros, ou seja, incrementando a razão dívida/PIB, entretanto o aumento de participação de títulos indexados ao índice de preços e pré-fixados (ex: NTN-B), vem conseguindo reduzir esta mesma “pressão” de aumento sobre a razão dívida/PIB.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O que nos leva a escolher fazer coisas certas e não erradas? (Ética para infantes)




Platão, quase quatrocentos anos antes de Cristo, já nos contava (na verdade contava aos seus contemporâneos) a história de um pastor que encontrou um anel mágico e quando usava o anel, ficava invisível. O pastor era bom e honesto, mas será que o pastor “de Platão” resistiu à tentação de fazer tudo o que quisesse, mesmo que algo fosse errado, já que ninguém poderia descobrir? 

A história de Platão chama-se: O anel de Giges, onde um determinado anel tornaria que o usasse invisível sempre que desejasse… É um anel mágico, que um pastor encontra por acaso. Basta virar a pedra do anel para dentro da palma para se tornar totalmente invisível, e virá-la para fora para ficar novamente visível… Giges, que antes era tido como um homem honesto, não foi capaz de resistir às tentações a que esse anel o submetia: aproveitou seus poderes mágicos para entrar no palácio, seduzir a rainha, assassinar o rei, tomar o poder, exercê-lo em seu único e exclusivo benefício. Platão – o filósofo -  conclui que o bom e o mau, ou os assim considerados, só se distinguem pela prudência ou pela hipocrisia, em outras palavras, por e pelo quanto o ser humano consegue esconder e dissimular suas atitudes erradas...

Isso equivale a sugerir que a moral não passa de uma ilusão, de uma mentira, de um medo maquiado de virtude. Bastaria poder ficar invisível para que toda proibição sumisse e que, para cada um, não houvesse mais que a busca do seu prazer ou do seu interesse egoístas.

Imagine aquele motorista que só para no sinal vermelho quando há um guarda controlando, o outro que não excede o limite de velocidade só no trecho que tem radar, ou aquele que consome bebida alcoolica e mesmo assim dirige, só porque não há blitz nesse dia. Será que essas pessoas só se preocupam com a vida quando há alguém vigiando? Se não tivesse lei, nem guarda, nem câmeras: você sempre faria o que é certo?

Entretanto existem coisas “só um pouquinho erradas”? 

É certo fazer essas coisas um pouco erradas se você também não puder ser pego?

Você faz as coisas certas porque gosta, ou por causa da opinião dos outros?

Fazer coisas boas e corretas deixa você mais feliz? Por quê?

Se achasse uma carteira com dinheiro, ou se fosse comprar seu biscoito favorito e recebesse um pacote a mais. Mesmo sem ninguém vendo, você se sentiria melhor devolvendo ou ficando com essas coisas? Por quê?

Se num dia de prova, o professor tivesse que sair da sala por alguns minutos, o que você faria? Praticaria uma transgressão, abrindo o caderno para olhar a matéria?  Será que você somente faz as coisas certas na escola, quando o professor está tomando conta?


Pense sobre as escolhas que temos que fazer a toda hora, a cada instante de nossas vidas.

Não se trata de dirigir o tema para lições moralistas sobre o que é certo ou errado. Explicar o porquê de seus atos e suas escolhas, refletir sobre os valores, de que não há respostas certas ou erradas. O mais importante são as perguntas que fazemos para nós mesmos e as atitudes que tomamos com essas “perguntas”.

Quem diz o que é bom ou mau, certo ou errado? Se somos livres, o que nos leva a escolher entre o bem e o mal? A lei, ou a nossa consciência? Quem é o juiz da sua vida: Deus? Sua família? Você mesmo?

Muitas vezes as crianças dizem “Eu faço isso, porque afinal todo mundo faz”. Ora, porque todo mundo faz, algo passa a ser correto?

Se “ser ético” é um aprendizado de toda uma vida, então como se ensinar ética?

Ensina-se aquilo que se é. Ética se transmite. O que será apreendido e processado pelos filhos não é o que advém de um discurso verbal, de uma pregação ou de um sermão, mas sim o que eles captam no pensamento e na ação de seus pais. 

Não se trata de ensinar o filho a ser “bonzinho”, pois ele corre o risco de ser bobo, mas sim de torná-lo um ser responsável por suas ações, desde os primeiros tempos de vida. Como pais, cumpre dar exemplo de autonomia e liberdade interna para fazer escolhas e assumir posições e se responsabilizar por elas. Uma pessoa só é ética quando se orienta por princípios e convicções.

As crianças precisam ser ensinadas a “ver a verdade” e sobretudo respeitar “a verdade”.

 “Eu não quero que meu filho minta” — essa é a expressão do desejo de todos os pais.
Mas quando um filho percebe que os pais estão mentindo...por exemplo: Quantas pessoas, quando toca o telefone, dizem para o filho: “Fala que eu não estou”? Quantas vezes as pessoas ensinam uma coisa e praticam outra? Quantas vezes se lida com a ética como se ela fosse algo maleável, adaptável a cada contexto?

Mentindo, os adultos ensinam seus filhos a mentir, pois eles perdem a referência do que é certo ou errado. Nada justifica uma mentira, não existem “mentirinhas”, mentiras “piedosas” nem mentiras “politicamente corretas” — todas fazem mal. É falso tentar fazer separações entre mentira boa e mentira ruim. Toda mentira já por si só é ruim. E isso precisa ser transmitido às crianças. Falar a verdade implica ser honesto consigo mesmo e com os outros e assumir as consequências de seus atos. Essa é a base da ética o que é certo e o que é errado, o que faz bem e o que faz mal. Ser ético é ser responsável.

Outro ponto importante é “saber” que diferente não é sinônimo de errado. Diferente é apenas diferente. Isso nos ajuda a perceber que você pode ter amigos respeitando eticamente as diversidades de raça, crença, sexo, nacionalidade. Fica difícil para uma criança ter o aprendizado da ética quando os pais, em casa, zombam de uma pessoa por ser de raça ou nacionalidade diferente.
No esporte também se forma a ética da criança (lembre-se sempre: a criança é o futuro adulto). Vencer sempre será nosso objetivo. Para isso se faz a contenda, entretanto jamais se deve admitir ganhar mediante fraude ou algum tipo de trapaça. “Jogo é jogo” é um dito popular, que reafirma que deve ganhar o melhor ou quem teve mais sorte. 

E não existe melhor vitória, do que a conquistada graças as nossas virtudes! Essa é única vitória que vale!

Infelizmente nossa época é pobre em ética. Modelos de corrupção, de indignidade, de desonestidade, de sonegação são numerosos em nossa sociedade. Porém, a ética é essencial, ao que princípios e valores sempre foram e continuarão a ser o que caracteriza a humanidade no homem e continuarão imprescindíveis para nos manter o minimamente civilizado.

Não nascemos com moral e ética. Tornamo-nos éticos e com moral ao longo de nossas vidas...E quanto antes começamos: melhor!