domingo, 18 de dezembro de 2011

Levante sua Voz



Captei recentemente no blog do Prof. Toni, rastreei e “acho” que o primeiro a postar foi o Brizola Neto no Tijolaço, em dezembro de 2009, ou seja, faz 2 anos. Vídeo imperdível, que infelizmente apesar de toda minha tentativa de estar antenado, eu confesso: perdi.

Veja de forma didática, como e porquê você recebe tanto lixo naquele retângulo que transmite imagem e som, como também no rádio, jornais e revistas

Vamos a um pouco de "teoria": Em filosofia política, fala-se de alienação para designar a condição do trabalhador que, à semelhança de uma peça de engrenagem, integra a estrutura de uma unidade de produção sem ter nenhum poder de decisão sobre sua própria atividade nem direitos sobre o que produz. Transcendendo o âmbito da produção, a alienação se estende às decisões políticas sobre o destino da sociedade, das quais as grandes massas permanecem alijadas, e mesmo ao âmbito das vontades individuais, orientadas pela publicidade e pelos meios de comunicação de massas.

Por fim, a quem interessa tanta alienação?

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

De Geisel até (quase) Collor (continuação da saga desenvolvimentista)



Introdução

Os novos mecanismos de taxas de câmbio flexíveis, adotados pós 73, abriram as portas de uma sistemática especulação com moedas, origem esta dos movimentos bruscos do capital internacional (financeiro), que tornou inoperante os mecanismos de ajuste monetário dos balanços de pagamentos.

Após a ruptura definitiva do padrão monetário internacional (o fim de Breton-Woods), os EUA sofreram um desequilíbrio comercial crescente e adotaram políticas monetárias e cambiais que provocaram uma desvalorização lenta, mas contínua, do dólar até 78.
O choque de juros, promovido de FED em 79, representou uma inflexão das políticas monetária e cambial americana, recolocando o dólar no centro do “sistema financeiro mundial”, porém, gerou uma crise econômica mundial, ao levar várias empresas e países periféricos a bancarrota, forçando os demais países capitalistas industrializados a um ajuste recessivo.

Assim, por conta da progressiva flutuação das taxas de câmbio, como do aumento substantivo das taxas de juros, houve inexorável redução do dinamismo do comércio internacional, além é claro, do fator petróleo, que perfazia 13% das importações em 67, sobe para 20% em 74 e 22% em 75, com esta alta do preço internacional colaborando (e muito!) no rombo da conta financeira do balanço de pagamentos (nossa dívida externa sobe de 3,4 bi US$ em 67, para 17,2 bi US$ em 74).

Além disso, o aumento dos custos correntes (petróleo), conduz à redução dos lucros e a um desestímulo do investimento. Claro que num “ambiente” capitalista, a redução da remuneração tentará ser compensada com reajuste de preços, porém, os produtos importados acabam por possuir elevação superior aos exportados, tanto por necessidade dos primeiros, como por ausência de dinamismo dos segundos, assim, engrossa-se o desajuste das contas nacionais, pois o aumento dos juros passa a ter um componente real, vide que a carga de juros constante passa a requerer para seu pagamento um maior volume de exportações.

Forma-se um círculo sinistro, onde o Brasil paga mais por petróleo, estes “petrodólares” invadem o “euromercado” de câmbio e voltam na forma de financiamento das nossas contas correntes deficitárias (necessário por conta do aumento do juros no mercado internacional).
Esta desestruturação da ordem econômica mundial, ao longo dos anos 70, seria também explicada numa ótica “schumpeteriana”, pelo esgotamento da onda de inovações, que seria um obstáculo ao moto-contínuo expansionista (e fundamental numa estrutura capitalista) ou os EUA não suportavam mais seu imenso déficit público e consagraram uma estratégia visando à manutenção de seu “status-quo” econômico-financeiro, com o fim de Breton-Woods, acionando a maior gráfica do planeta?
Na década de 80, inovações tecnológicas seriam introduzidas pelas principais economias capitalistas, porém, haverá um hiato (tecnológico) de nossa indústria, como veremos adiante...

II PND

As grandes dimensões de várias metas, a massa de recursos necessários internos e externos) envolvida, o reduzido prazo para executá-las (em 5 anos), irrealidade e inconveniência de algumas (programa nuclear, por exemplo), exigiriam (mesmo em 74) uma análise mais profunda sobre a viabilidade do II PND (Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento) no governo Geisel.

Além do mais, em fins de 75 já era claro que a economia mundial estava em grave crise (real e financeira) e que a alta do preço do petróleo não regrediria (pelo contrário, sofrendo novo aumento em 79), o que ocasionaria sérios problemas, por conta do aumento do “juros real”, lembremos que a carga dos juros constantes passa a requerer para seu pagamento um maior volume de exportações.
O II PND partia de uma identificação dos problemas (estruturais) que afetavam a economia nacional em fins de 73:

- Atraso no setor de bens de produção e alimentos;

- Forte dependência do petróleo;

- Tendência a um elevado desequilíbrio externo.

Esperavam resolver estes problemas de forma simultânea, com uma notável expansão do produto agregado, com as principais metas do governo:

- Expansão e modernização agropecuária;

- Expansão da indústria de base;

- Aumento de exportações;

- Maior absorção de tecnologia moderna;

- Desconcentração industrial;

- Reforço ao capital nacional privado e subordinação do capital estrangeiro aos objetivos econômicos fixados.

Neste último ponto, a “porca torce o rabo”, pois significaria uma guinada radical no padrão de acumulação, alterando as estruturas de consumo e de investimento, subordinando (parte) o investimento privado nacional e estrangeiro às metas propostas,bem como o sistema financeiro nacional.

Não só pelo momento (de crise) desfavorável, é fácil perceber a irrealidade política do plano...

Mesmo assim, o governo militar de Geisel, enxergava a necessidade de “apagar” o fracasso recessivo de 64-66 e esta retomada de crescimento, como forma de perpetuação do phoder, of course.

Como instrumentos, tratou de:

- Promover a transferência de parte da poupança privada (então destinada ao financiamento de bens de consumo duráveis) para sustentar os novos investimentos;

- Sob a forma de joint-ventures, atrair investimentos estrangeiros;

- (Re) direcionar os recursos do PIS-PASEP para o BNDE e este fomentar a produção de bens de capital;

- Diminuir a demanda de petróleo, com o programa “Pró-Alcool”;

- Construiu os pólos petroquímicos de Camaçari (Bahia) e Triunfo (RGS), visando a desconcentração industrial (política e econômica de São Paulo);

- Expansão do endividamento externo do setor público (em parte) às custas das Estatais.

Ciranda, cirandinha...

Apesar da ligeira desaceleração, compatível com a tendência mundial, de 74, um pouco acima de 7%, o PIB foi significativamente mais elevado que às economias não-exportadoras de petróleo, tanto desenvolvidas como subdesenvolvidas.
Porém, quanto ao produto industrial, registrou-se queda de 16% em 73, para 4,5% em 75, apesar destes números serem razoalvemente maiores, se confrontados com outros países.
Os sucessivos choques externos (incluindo aí a quadruplicação do preço do petróleo) entre 74 e 80 ampliam o déficit comercial, um desequilíbrio cada vez mais irreversível no comércio exterior.

Além deste (desequilíbrio no balanço de pagamentos), durante o II PND, graças a uma aceleração inflacionaria (erroneamente a inflação foi diagnosticada como inflação de demanda), acabará por generalizar uma indexação da economia.
Simonsen (de quem admiro a força matemática nos quatro volumes de “Teoria Microeconômica” da FGV), malignamente cria o que foi denominado de “ciranda financeira”, ou seja, o governo passa a emitir títulos da dívida, de acordo com os recursos que entram na economia (uma enxurrada de dólares), assim, cresce enormemente a dívida mobiliária. A dívida externa passa a gerar a expansão da dívida interna (lembremos que ao diagnosticar a inflação como de demanda, não se poderia trocar dólares livremente por cruzeiros, contraproducente no caso de uma política monetária restritiva).

Dr. Delfim

Delfim, ao assumir as rédeas da economia em 79, tenta desmontar a engrenagem da “ciranda”, rompendo o circuito dívida externa-dívida mobiliária e desinflar a dívida pública interna, adotando as seguintes medidas:

- Diminuição das reservas cambiais;

- Maxidesvalorização cambial e retirada de incentivos fiscais às exportações;

- Diminuição da taxa de juros.

Entretanto, neste mesmo ano, o II Choque do Petróleo (quem se lembra dos postos fechados nos fins de semana? Por conta do racionamento...) e a subida das taxas de juros internacionais, deteriorando nossa conta corrente que aliado à redução das reservas, gera pressão muito forte sobre o balanço de pagamentos.

O governo joga a toalha e opta por estratégia recessiva, para ajustar o balanço de pagamentos, elevando a taxa de juros internos, aliada a captação de um maior volume de recursos externos.

Entre 81-83, ardíamos em crise, com taxas negativas de crescimento do PIB, do produto industrial, crescente desemprego, queda dos salários reais (ou seja, perdem para tx de inflação). A dívida externa não para de crescer, em função dos empréstimos externos captados pelas estatais e em fins de 82, captulamos integralmente ao FMI, que passa a nos emprestar, somente se adotarmos as medidas aconselhadas (ou impostas?), buscando a qualquer preço o superavit na balança comercial, com uma política monetária e creditícia rígida, reduções e cortes no setor público.

Dança da Garrafa

Para completar o quadro, na década de 80, vivenciávamos um hiato tecnológico, pois o Estado e o setor privado não exerciam atividades de pesquisa e desenvolvimento, com a industria brasileira apresentando baixos níveis de produtividade e custos elevados, assim, perdendo competividade com as economias capitalistas avançadas.
Há profundo desequilíbrio na estrutura produtiva, com “gargalos” nas indústrias produtoras de insumos e intermediários básicos (aço, petroquímicos, celulose, etc.), além de ociosidade em segmentos da indústria de bens de capital, principalmente tratores, maquinas de terraplanagem e construção naval.

Os serviços de infra-estrutura (energia, transportes e comunicações) também constituem-se em gargalos, por conta da redução de investimentos e a defasagem nas tarifas, ao terem como conseqüência a redução da competividade da indústria.
Apesar do “Tcham” ainda não estar nas paradas de sucesso, já descíamos na boquinha da garrafa...

Fim (?)

Fica inexoravelmente impossível, efetuar qualquer análise de nosso subdesenvolvimento, segmentando o país, dentro do contexto internacional. Assim, deve-se tomar como ponto de partida esta totalidade: a economia capitalista mundial. Desenvolvimento e subdesenvolvimento são pólos de um mesmo processo, a acumulação capitalista mundial, onde infelizmente, as relações não são equilibradas.
Collor é eleito com um discurso neoliberal, assim como este (neoliberalismo) campeia em todo o mundo, novos tempos, onde se torna imperativo à abertura comercial e financeira ao capital internacional (para este é claro). O sistema liberal, por trás de enganosa “reciprocidade” ou nas palavras de Raul Prebisch, cujo modelo de vantagens comparativas de Ricardo, são na verdade desvantagens reiterativas...

(continua...)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O Milagre - Última parte de Quase 45 (anos de industrialização)


O final do governo JK foi notoriamente marcado por desequilíbrio no balanço de pagamentos e por fortes pressões inflacionárias, assim com o golpe militar de 64, o governo Castelo Branco lança o PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo), um plano gradualista e que não seguia os moldes rígidos do FMI, evitando assim, aumentar a recessão(como convém ao grande capital), contrariando este e adotando a indexação financeira da economia. Porém, fez forte controle de preços, cortes nos gastos públicos e forte arrocho salarial (estas medidas sim, poderiam ser esperadas por parte de Roberto Campos, então ministro, pois o diagnostico sobre inflação era falaciosamente excesso de demanda).
Não há somente erros, pois os militares procederam à profunda modernização da administração pública, processando uma reorganização do sistema financeiro, com o objetivo de fomentar (em longo prazo) a formação de poupança privada.
Nesta fase, criaram-se o BACEN (a SUMOC foi extinta), o CMN, o FGTS, alteração do sistema tributário (criados ICM, IPI, ISS) e o pós-quebrado BNH, destinado a estimular o setor de construção civil.
O panorama do capitalismo brasileiro de então, em curto prazo, não melhorou, muito pelo contrário, acentuou-se a depressão, porém de forma deliberada, ao serem freados os mecanismos habituais de financiamento, relacionados com a política cambial, de crédito, de salários e do déficit público.
Maria da Conceição Tavares, no entanto, acredita que as medidas adotadas podem ser consideradas “funcionais”, pois o conjunto das reformas (a priori tributária e do mercado de capitais) preparou as bases para uma recuperação forçada e acelerada da economia, que só viria no período seguinte, assim o período de 62-67 é de “saneamento” e de “semeadura” do terreno, para uma retomada da acumulação de capital.
A recuperação da economia começou em meados de 67, sob a influência da política fiscal e monetária mais folgada do segundo governo militar (Costa e Silva), se “folgada” economicamente, profundamente “linha dura” politicamente e repressiva, lembremos que estávamos no tempo de “Pra frente Brasil” e “...ame-o ou deixe-o”.
No primeiro momento (67-70) o PIB cresce à média anual de 10%, liderando a expansão o setor de bens de consumo duráveis – notadamente o automobilístico, estimulado também pelo aumento da concentração de renda e o boom da construção, civil, idem. Dada a grande capacidade ociosa anterior, a industria de bens de capital ficou restringida a reposição e modernização.
No período de 70-74, esgotada a capacidade ociosa, implementa-se uma política de desenvolvimento industrial, porém não dando atenção a questões importantes e urgentes, como a da distribuição de renda (cada vez mais concentrada) e a dos baixos padrões de consumo básico da população menos favorecida.
Estabelecendo um paralelo com o ciclo expansivo anterior, o Plano de Metas de JK, temos:
No PM houve um pacote de investimentos, alterando a estrutura industrial, a citada “onda” quase schumpeteriana, em favor do setor de bens de produção e de bens duráveis, enquanto o Milagre foi calcado com base na estrutura já existente, exceção da industria petroquímica e de alguns bens do setor elétrico.
No período JK o setor dominante foi o de bens de produção, enquanto que o setor de bens de consumo duráveis teve papel subordinado (apesar de também importante), sendo o Milagre o inverso, o eixo de acumulação se dá sobre os bens de consumo duráveis.
Em relação à distribuição de renda, na fase 56-62, o crescimento rápido foi compatível com o aumento da taxa dos salários reais de base, ao inverso, no período do Milagre (68-73), justamente pela dominância dos bens de consumo duráveis, impôs uma diferenciação dos salários.
Com relação ao capital internacional, no Plano de Metas, a entrada foi prioritariamente via investimentos diretos, enquanto na fase do Milagre, houve entrada maciça de empréstimos em moeda.
Em ambos os períodos, o gasto público funciona como acelerador da economia, porém, no primeiro concentrado na formação de infraestrutura e o segundo destinado ao setor automobilístico, rodovias, etc.
Temos que ressaltar as contradições deste período de 68-73, quando houve um desequilíbrio caracterizado pelo atraso do crescimento de bens de produção (máquinas, equipamentos e bens intermediários) com relação ao setor de bens de consumo duráveis, não duráveis e da construção civil.
Nos fins de 70, após a ressaca do tri, o governo se deu conta deste desequilíbrio e tentou eliminá-lo, mediante incentivos aos investimentos privados e públicos diretos em bens de capital e insumos básicos, porém, isso feito a partir da premissa de continuidade do crescimento acelerado do setor de bens de consumo duráveis, idem construção civil.
Mas era condição necessária para que não fosse perdido o fôlego, tanto a existência de capacidade ociosa, como a expansão das margens de endividamento das famílias, todavia, a recuperação da indústria de bens de produção acontece depois do crescimento do setor de duráveis, gerando uma diferença dos ritmos de acumulação.
Por fim, como a base da pirâmide salarial torna-se cada vez maior, o crescimento da indústria de duráveis é curto, pois esta base não tem acesso aos bens produzidos por ela, ou seja, a indústria de duráveis não consegue crescer fechada nela mesma.
O sonho havia acabado, ainda assim, o governo militar tentaria recuperar as taxas de crescimento, de forma infrutífera e muitas vezes por pura demagogia, talvez apenas objetivando a manutenção do poder. Estamos em 1974 e Pelé se recusa a jogar mais uma Copa...

Esta mini série em 3 capítulos, só foi possível graças aos trabalhos dos mestres: Wilson Cano (Soberania e Política Econômica na América Latina), João Cardoso de Mello (Capitalismo Tardio), Carlos Lessa (15 anos de Política Econômica), José Serra (Ciclos e Mudanças Estruturais na Economia Brasileira do Pós-Guerra) e Maria da Conceição Tavares (Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro).

terça-feira, 8 de novembro de 2011

JUSCELINO - PARTE 2 de Quase 45 (anos de industrialização - de Vargas ao "Milagre")


Em 1955, Kubitichek se elege com a bandeira do desenvolvimento e da industrialização e ao contrário do processo restringido, as decisões de investir se deram à frente de qualquer expansão previsível da demanda preexistente.
Enquanto a industrialização restringida configurava um padrão “horizontal” de acumulação, pois a capacidade produtiva não cresceu adiante da demanda, nem muito menos houve grandes e abruptas descontinuidades tecnológicas, entre 1956 e 1961 isso muda, ocorrendo uma verdadeira “onda de inovações” schumpeterianas. De um lado a estrutura do sistema produtivo se altera radicalmente – “salto tecnológico”, de outro, a capacidade produtiva de amplia à frente da demanda.
A indutrialização dita pesada – com um crescimento acelerado da capacidade produtiva do setor de bens de produção ( e do setor de bens duráveis de consumo, paralelamente), só foi possível dado a natureza integrada complementar do Plano de Metas.
A ação do Estado foi decisiva, porque se mostrou capaz de investir maciçamente em infraestrutura e nas industrias de base, onde chamou para si a responsabilidade, estimulando o investimento privado (sobretudo o “novo” capital europeu), não só por oferecer uma economia externa barata, mas também por lhe gerar demanda, com este capital se transferindo sob a forma de capital produtivo.
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Foi a partir de meados dos anos 50, até o início dos 60, que a industrialização brasileira sofreu transformações estruturais decisivas, sob o impulso do governo JK (1956-60) e o seu denominado Plano de Metas, onde houve uma intensa diferenciação industrial, num espaço de tempo relativamente curto, porém aí está o “X” da questão, articulada diretamente pelo Estado.
Instalaram-se no país, diversas indústrias de bens de capital (automobilística, naval e outras máquinas e equipamentos) simultaneamente a expanção de industrias básicas, como a siderúrgica, petróleo, papel e metais nãoferrosos.
Para a concretização deste irrefutável avanço no entanto, era (seria) necessário contar com o investimento de capital estrangeiro, assim (paradoxalmente para alguns) JK rompe com o FMI, que exigia uma política ortodoxa e restritiva (em função do crescente déficit público), pois “o presidente estava convencido de que uma política agressiva de investimentos seria mais eficaz na atração de capital estrangeiro do que a proposta pelo Fundo” (Malan apud Serra).
A conjuntura internacional estava favorável ao Brasil, pois tendo a Europa e o Japão se recuperado dos prejuízos da 2ª Guerra, tinham ambas, disponibilidades de capitais e como de praxe, procuravam oportunidades de investimentos rentáveis, desta forma, as condições (leia-se dificuldades) impostas pelo FMI (leia-se EUA) foram contornadas com estas novas parcerias.
A instrução 113 da SUMOC (1955) permitia a importação de equipamentos sem cobertura cambial, simplesmente registrando-a como capital investido no país;
A instrução 70 da SUMOC (1953), permitia a manutenção de um cambio favorecido para importações consideradas fundamentais.
Assim, sob a batuta da SUMOC (posteriormente viraria Banco Central), estimulava-se a industrialização nas áreas de maior interesse, via medidas que privilegiavam empréstimos externos, como adoção de uma taxa cambial favorável e de facilidades na remessa de lucros para o exterior.
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Objetivamente, os principais mecanismos de financiamento do governo JK para viabilizar o Plano de Metas, estavam ligados a participação direta do setor público (Governo e empresas estatais) e à política de capital estrangeiro (cambial e de comercio exterior).
Os investimentos públicos, na ausência de uma reforma fiscal condizente com as metas e os gastos, foram financiados em parte (pelo menos) pela emissão monetária, pois o governo não tinha condições políticas pra obter estas reformas no Legislativo, assim, optou por caminhos de menor resistência: Fundos especiais, “ágios e bonificações” cambiais e da estrutura tributária herdada do período Vargas.
O BNDE criado em 52 concedia financiamentos a longo prazo com baixa taxa de juros, para desenvolvimento de setores estratégicos;
A política cambial era utilizada sem parcimônia, com manipulação do câmbio e imposição de tarifas, havendo sensível diferença entre as taxas de importação e exportação. Assim, o saldo líquido constituiu uma fonte adicional de recursos para o financiamento de déficit de caixa do Governo.
A instrução 70 da SUMOC, disciplinando a alocação de importações, segundo interesses nacionais/industriais;
A instrução 113 da SUMOC, como expediente para atrair a curto prazo os investimentos estrangeiros diretos.
Para o empresário realizar inversões em atividades de longa gestação, na ausência de um mercado interno de capitais, a “manipulação” destes arbítrios foi imperiosa para o sucesso do Plano.
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A Partir de 1962 houve um irrefutável declínio do rítmo de crescimento da economia, onde “no período de 57-61, o PIB cresceu à taxa anual de 8,2%” e passou-se a ter uma expansão a taxa média caindo mais da metade.
A desaceleração ocorre em grande parte dos fatores de natureza cíclica, relacionados com a conclusão do volumoso pacote de investimentos públicos e privados iniciados em 1956/57.
O conseqüente “boom” tecnológico e o necessário estimulo ao processo de substituição conduziram e solicitaram um certo sopro inflacionário, além do que na ausência de um esquema de financiamento voluntário, utópico em país subdesenvolvido, o esforço industrial exigia a formação de poupanças forçadas e a provável ativação dos mecanismos de propagação destas pressões inflacionárias.
Ex-post, parece fácil buscar termos teóricos por um esquema mais racional, obviamente não esquecendo neste período, em grande medida como conseqüência destas práticas, criaram-se problemas ampliados para a fase posterior, mas o Plano de Metas de JK, em sua formulação inicial adotou atitude indiferente quanto ao problema inflacionário, desequilíbrio monetário, fiscal ou da balança de pagamentos, pois havia um interesse superior: Industrialização.
As tensões geradas neste processo foram passíveis de serem suportadas enquanto do crescimento do produto, enquanto este se manteve em níveis elevados, porém, a desaceleração do crescimento econômico trouxe uma crise política e social, no final de 1962.
Entre 62 e 67, a economia brasileira atravessou sua pior fase do pós guerra no que tange ao crescimento.
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continua...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Para entender (um pouco) a crise Grega

Comecemos pelo fim: Não basta dar peixes, é necessário ensinar a pescar.

A Grécia, berço de deuses e também da democracia, apesar desta última, vem de longa data de uma sucessão de troca de feudos no poder: seja a família atual no poder - Papandreou ou a família do governante anterior – Karamanlis. Ambos, off course, educados em excelentes universidades de políticas e economia neoliberal, tanto americanas como inglesas. Assim, permanecem os deuses no Olimpo, com a patuléia incensando os mesmos.

Essa patuléia que hoje, contando inclusive recém nascidos, acorda todos os dias com uma dívida pública de US$ 40.000,00 per capita. Cruzes! Imagine-se você, ao acordar amanhã e descobrir que deve quarenta mil doletas! Onde você gastou todo este dinheiro? Foi tudo no ralo da Olimpíada de 2004? Mesmo com eventuais omissões, nossa "Lei de Responsbilidade Fiscal" de 2000, nos salva de muita coisa (ACM e Michel Temer se opuseram a mesma na época, por que será?).

Amigos relatam que na terra de Leônidas, não o diamante negro, mas o comandante espartano, existe uma infinidade de comércio popular, informais obviamente, traduzindo: sem pagar impostos, algo assim como várias e gigantes 25 de março em São Paulo ou Rua do Saara no Rio de Janeiro. Outra: 40% das terras gregas são “ocupações”, leia-se novamente sem pagar impostos.

A Grécia tem um enorme déficit em seu balanço de pagamentos, traduzindo: ela compra mais do exterior do que vende. Paga mais do que arrecada. Mas qual é o produto que a Grécia vende? Hmmm...A Grécia hoje é uma monocultora de paisagens, ou seja, vive basicamente de seu turismo. Se já é complicado para um país sobreviver à custa de uma mercadoria, imagine ser dependente de um serviço. O setor naval grego, antiga potência, faz tempo naufragou no que tange a tarifação, pois os grandes armadores gregos (grande palavra da língua portuguesa: armador) continuam atuando, porém com suas fortunas protegidas em paraísos fiscais, os petroleiros gregos, segundo lugar em tonelagem no mundo, navegam sob bandeiras de conveniência, como Libéria e Panamá, assim, a receita dos fretes não chega nem perto de Atenas.

Assim, ano após ano, para pagar a diferença entre o gasto e o recebido, a Grécia foi se endividando, chegando hoje aos 300 bilhões de euros, com enormes gastos públicos (para onde foi esse dinheiro? Faço novamente a pergunta), baixa receita de impostos e baixa receita de venda de produtos e serviços.

Passe boa parte de sua vida, gastando mais que seu salário e verá que logo, logo o banco corta seu cartão e o limite de seu cheque especial.

Uma pitada no mérito da entrada apressada da Grécia na zona do euro, com isso passando a ter uma moeda valorizada e perdendo competitividade na exportação. Se se chegou a esse ponto, a solução seria a saída, sair do euro e voltar ao dracma, sua antiga moeda, que então melhoraria sua competitividade externa (lembre: exportar é o que importa)? Um buraco no dique do euro, ah! Tudo que os americanos sonham para um retorno triunfal da hegemonia do dólar, pois atrás da Grécia, viria Portugal, Irlanda, Espanha e quem sabe Itália. Cabe então a Alemanha, França e Inglaterra bancarem esse prejuízo.

Vamos entrar no economês um pouco. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo, é ABC do liberalismo econômico (globalização, vá lá...) e está dando isso que lemos desde 2008. Na realidade (o que eu acredito), o que vigora nestas relações, é uma espécie de “desvantagens reiterativas”, cuja semente está na especialização. Aconteceram com o Brasil no café, países árabes com o petróleo, etc., pois é o mercado internacional é que forma o preço – apesar do caso petróleo, a relativa influência da OPEP. Leiam o livro do Chang: “Chutando a Escada”.

Talvez um Furtado ou Prebisch salvassem a Grécia, mas isso interessa aos atuais deuses do Olimpo?

O FMI está vindo com sua velha cartilha ortodoxa: só a recessão salva! Recessão não se traduz em austeridade e sim em d-e-s-e-m-p-r-e-g-o, e este é o fator que determina os outros, aprendi com Lord Keynes, pois será o emprego ( o nível de ) que irá determinar a produção (oferta), o consumo (demanda), a quantidade de moeda e por fim a taxa de juros.

Próximas postagens, sobre a industrialização do Brasil, relatam nosso caminho, com Juscelino e os militares.

Não poderia terminar, sem o dito de Heilbroner; “Crise não é uma falha do capitalismo e sim a forma pelo qual ele funciona”.

Bom dia dos Mortos.