terça-feira, 29 de maio de 2012

Catastroika

O termo "catastroika" foi cunhado pelo acadêmico francês Jacques Rupnik para indicar os efeitos das privatizações sobre a sociedade russa no fim dos anos 1980, porém, a palavra tem um sentido peculiar na Grécia de hoje, governada pela troika FMI (Fundo Monetário Internacional), BCE (Banco Central Europeu) e UE (União Europeia). Desde junho de 2011 opera no país o "Fundo pelo desenvolvimento da propriedade privada do Estado", que tem o objetivo de privatizar serviços e bens públicos...
Enfim, veja o filme/documentário que trata das privatizações a que a Grécia será submetida no futuro próximo, analisando como o processo de apropriação de instituições e bens públicos por entes privados já se deu em vários países, sempre com o mesmo resultado: milhares de desempregados, empobrecimento social e a criação de novas e poderosas oligarquias...
Não poderia terminar, sem o dito de Heilbroner; “Crise não é uma falha do capitalismo e sim a forma pelo qual ele funciona”.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

G- 20 (Algo mais sobre...)

Clique no mapa e acesse um atlas interativo contendo informações sobre os países que formam o G-20.

Em 2 de abril de 2009, pertinente a reunião do grupo em Londres, na mesma data, o célebre escritor português, José Saramago questionou em seu blog:

“Quê?
   Para quê?
     Para quem?” 

Ideologicamente de posição antagônica ao liberalismo econômico, Saramago não só posicionava-se, mas levava ao questionamento de “para que” e “para quem” serve e servem as políticas implantadas e defendidas pelo grupo: eliminação de restrições no movimento de capital internacional, idem no comércio internacional, condições flexíveis do mercado de trabalho e outras tantas, que parecem saídas diretamente da cartilha do “Consenso de Washington”.
Ao defender determinadas “boas práticas”, o grupo de 19 países mais a União Européia (constituída de 27 países), se são responsáveis por 85% do PIB mundial, 80% do comércio no mundo, com 2/3 da população entre suas fronteiras, está de alguma forma também defendendo esta mesma população, como um todo? Ou está defendendo a manutenção de o status-quo de uma elite mundial?
Sua composição, de ministros da área econômica e presidentes de bancos centrais, dá a dimensão do que é discutido e arregimentado no grupo: decisões financeiras e comerciais. Se as decisões do grupo são para o bem de todos, ninguém paga a conta?

Mas existe consenso neste grupo? Questões aparentemente simples, como o câmbio, são extremamente complexas e tratadas ponto a ponto segundo os interesses de cada país, que normalmente são diferenciados. Por exemplo: A diferença de posição entre a China e os EUA quanto à adoção do câmbio flutuante. Enquanto os EUA forçam nesta direção, o que melhoraria seu balanço de pagamentos com a China, esta não abre mão do controle sobre as cotações do Iuan, sua moeda, mantido valorizado e chave da porta das importações chinesas, assim como maior protetor de sua indústria.
O G-20 foi criado meramente para preservação do Capitalismo, reunindo seus principais sócios ou para manutenção do poder e influência dos países já tidos como desenvolvidos, trazendo para seu bojo os países em desenvolvimento, com a inclusão dos BRICS (e outros) no G-8? Alguém em sã consciência pode considerar a China ainda como país em desenvolvimento? Maior credora dos EUA pode-se imaginar o estrago caso os chineses pararem de “pedalar sua bicicleta”?
Vale-me a metáfora de Mohamed El-Erian, economista e autor do livro “Mercados em Colisão”, à respeito da entrada dos emergentes no cenário econômico mundial:

“Por vários anos, a economia global se parecia com um avião voando com um só motor (...) agora o motor está engasgando. Mas o avião será capaz de manter altitude porque um bom número de motores menores estão entrando em ação...”

Em suma, O G-20 é uma tentativa um pouco mais ampla de coordenação e preservação de uma ordem internacional que parece estar caducando, segundo a ótica do não pouco renomado Nobel de 2008, Paul Krugman (New York Times, artigo em 27/10/2011):

"(...) vale a pena examinar o quadro mais amplo, ou seja, o fracasso retumbante de uma doutrina econômica – uma doutrina que provocou danos enormes tanto à Europa quanto aos Estados Unidos.
A doutrina à que me refiro consiste na afirmação de que, após uma crise financeira, os bancos precisam ser resgatados, mas a população tem que pagar o preço do resgate. Assim, a crise provocada pela desregulação transforma-se em um motivo para que haja um deslocamento ainda maior para a direita; um período de desemprego em massa, em vez de estimular a adoção de medidas governamentais para a criação de empregos, transforma-se em uma era de austeridade, na qual gastos governamentais e programas sociais são cortados."

domingo, 20 de maio de 2012

Celular

Continuando a postagem de28/08/2011, certas coisas me incomodam muito pela manhã, muito mais do que o simples fato de estar indo trabalhar.

Celular (es)

As pessoas indo e vindo,
Com seus celulares,
Cada vez mais:

Falando, falando, falando,
falando, falando, falando,
falando, falando e falando.

Segunda, terça, quarta, quinta,
Sexta, sábado e domingo.

As pessoas indo e vindo,
Com seus celulares,
Cada vez menos:

Conseguem,
Ficar sozinhas consigo mesma. 

(R.Couto 19/05/2012)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Árabes x Israelenses (Algo mais sobre...)

Uma abordagem, deixando de lado o viés religioso e a intolerância difundida entre os dois lados, tanto árabes muçulmanos e israelenses, onde ambos possuem sobras, façamos a pergunta: “Qual a importância do petróleo”?
O óleo e seus derivados, são empregados em quase todas as atividades humanas, seja da gasolina, que faz mover os automóveis, aviões e outros motores, à nafta, que serve ao diesel, de caminhões e das automotrizes e àqueles gigantescos propulsores dos navios. Do petróleo, pode-se obter até eletricidade: nas centrais termoelétricas, os dínamos que produzem energia são acionados também pelo óleo negro. Asfaltos e os betumes são empregados na construção de rodovias, mas não é tudo: do petróleo obtém-se, hoje, até matérias plásticas. E isso é só um pouco, afinal, quase tudo a nossa volta cheira a petróleo e seus derivados, se não diretamente, com certeza indiretamente.

Quadro 1:
Desta forma, assim como o ouro do Brasil acabou em Londres, nosso minério nos EUA e nosso café na Alemanha, o petróleo do Oriente Médio, responsável por quase 64% (quadro 1) das reservas comprovadas no mundo, suscitam a cobiça, não só dos países dependentes, porque todos somos, mas dos países que detêm o poder, ocorrendo um agravante, vejam no quadro dois, que se todos dependem, um país depende mais do que os outros, sendo este, notoriamente, o país com mais força do cenário mundial.

Quadro2:
Se na antiguidade tínhamos os bravos Templários como defensores da fé católica (e das rotas comericiais - claro) junto ao Oriente bárbaro e pagão, hoje temos os valorosos Marines defendendo nossa preciosa liberdade (e também os objetivos do Grande Capital).
Delineamos então o governo dos EUA como o principal interessado nas reservas do Oriente Médio (vide Quadro 2, onde o americano consome um elefante de petróleo por ano!), traçando uma política tanto junto a Israel como a países Árabes (os sauditas e os emirados do Golfo Pérsico). Rezando sempre na cartilha estratégica de Maquiavel (acho que antes dele, Alexandre "O Grande" também tinha essa estratégia) , “conquistar com a política e a diplomacia é sempre preferível que conquistar pela guerra”, ou seja, é melhor deixar um Estado intacto do que destruí-lo, apesar de que em situações recentes, na visão americana, não houve alternativa, ou melhor, houve também a possibilidade de auferir ganhos espressivos para a indústria bélica, conhecida sócia do Pentágono no desenvolvimento de tecnologia.
Se hoje temos os EUA como principal potência mundial, em relação a região, vemos que antes da Segunda Guerra, havia uma preponderância inglesa e francesa, sendo que após a Segunda Guerra, há uma divisão de poder entre os EUA e a URSS, com a hegemonia americana acontecendo pós a dissolução da URSS.
Porém, não podemos apenas ter uma visão maniqueísta deste conflito, colocando os EUA e as grandes potências, como grandes vilões, Camargo coloca com bastante propriedade que existe um “leitmotiv próprio e poderoso”, porém, este foi e continua sendo utilizado numa estratégia de conveniência da desagregação entre árabes e israelenses, numa política de conquistar pela mesma. Imaginem o incomodo que seria um Oriente Médio, unido e forte, dono das maiores reservas e capaz maximizar a rentabilidade, impondo preço de monopólio ao resto do mundo?
As batalhas sucedem desde a criação do Estado de Israel em 1948, precisamente no dia seguinte, assim, fica clara a dificuldade de qualquer acordo.
Amóz Oz escreveu que seria necessário um compromisso doloroso, porque ambos os povos amam o país, com ambos possuindo raízes históricas e emocionais, porém, se os principais interessados não quebrarem este poderoso paradigma da intolerância, não serão os EUA e Europa que ajudarão de forma efetiva. A estes basta não haver guerra, porém que haja conflitos.

Referências:
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Rio de janeiro: Saraiva, 2010.
CAMARGO, Cláudio. In: MAGNOLI, Demétrio (organizador). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2003.
OZ, Amós. Contra o fanatismo. Rio de janeiro: Ediouro, 2004.