sexta-feira, 25 de maio de 2012

G- 20 (Algo mais sobre...)

Clique no mapa e acesse um atlas interativo contendo informações sobre os países que formam o G-20.

Em 2 de abril de 2009, pertinente a reunião do grupo em Londres, na mesma data, o célebre escritor português, José Saramago questionou em seu blog:

“Quê?
   Para quê?
     Para quem?” 

Ideologicamente de posição antagônica ao liberalismo econômico, Saramago não só posicionava-se, mas levava ao questionamento de “para que” e “para quem” serve e servem as políticas implantadas e defendidas pelo grupo: eliminação de restrições no movimento de capital internacional, idem no comércio internacional, condições flexíveis do mercado de trabalho e outras tantas, que parecem saídas diretamente da cartilha do “Consenso de Washington”.
Ao defender determinadas “boas práticas”, o grupo de 19 países mais a União Européia (constituída de 27 países), se são responsáveis por 85% do PIB mundial, 80% do comércio no mundo, com 2/3 da população entre suas fronteiras, está de alguma forma também defendendo esta mesma população, como um todo? Ou está defendendo a manutenção de o status-quo de uma elite mundial?
Sua composição, de ministros da área econômica e presidentes de bancos centrais, dá a dimensão do que é discutido e arregimentado no grupo: decisões financeiras e comerciais. Se as decisões do grupo são para o bem de todos, ninguém paga a conta?

Mas existe consenso neste grupo? Questões aparentemente simples, como o câmbio, são extremamente complexas e tratadas ponto a ponto segundo os interesses de cada país, que normalmente são diferenciados. Por exemplo: A diferença de posição entre a China e os EUA quanto à adoção do câmbio flutuante. Enquanto os EUA forçam nesta direção, o que melhoraria seu balanço de pagamentos com a China, esta não abre mão do controle sobre as cotações do Iuan, sua moeda, mantido valorizado e chave da porta das importações chinesas, assim como maior protetor de sua indústria.
O G-20 foi criado meramente para preservação do Capitalismo, reunindo seus principais sócios ou para manutenção do poder e influência dos países já tidos como desenvolvidos, trazendo para seu bojo os países em desenvolvimento, com a inclusão dos BRICS (e outros) no G-8? Alguém em sã consciência pode considerar a China ainda como país em desenvolvimento? Maior credora dos EUA pode-se imaginar o estrago caso os chineses pararem de “pedalar sua bicicleta”?
Vale-me a metáfora de Mohamed El-Erian, economista e autor do livro “Mercados em Colisão”, à respeito da entrada dos emergentes no cenário econômico mundial:

“Por vários anos, a economia global se parecia com um avião voando com um só motor (...) agora o motor está engasgando. Mas o avião será capaz de manter altitude porque um bom número de motores menores estão entrando em ação...”

Em suma, O G-20 é uma tentativa um pouco mais ampla de coordenação e preservação de uma ordem internacional que parece estar caducando, segundo a ótica do não pouco renomado Nobel de 2008, Paul Krugman (New York Times, artigo em 27/10/2011):

"(...) vale a pena examinar o quadro mais amplo, ou seja, o fracasso retumbante de uma doutrina econômica – uma doutrina que provocou danos enormes tanto à Europa quanto aos Estados Unidos.
A doutrina à que me refiro consiste na afirmação de que, após uma crise financeira, os bancos precisam ser resgatados, mas a população tem que pagar o preço do resgate. Assim, a crise provocada pela desregulação transforma-se em um motivo para que haja um deslocamento ainda maior para a direita; um período de desemprego em massa, em vez de estimular a adoção de medidas governamentais para a criação de empregos, transforma-se em uma era de austeridade, na qual gastos governamentais e programas sociais são cortados."

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