A águia e a galinha
(resenha crítica do livro de Leonardo Boff)
Inicialmente o autor faz um
relato “científico” sobre as águias e seus hábitos. Com relativo espanto
descreve o relacionamento sexual da espécie – espanto pela fidelidade e pela
não obrigatoriedade do acasalamento visar filhos – quando poderia o ato buscar
prazer?
Explica que “o filhote mais velho
(...) bica o irmãozinho recém-nascido até matá-lo”, um ato de “crueldade” -
porém, poderíamos imputar “crueldade” a um animal, já que o mesmo age por
instinto?
Continuando, o autor conta a saga
da águia, ainda filhote, ferida e cega, que colocada no meio das galinhas,
comporta-se como tal.
O “empalhador”, personagem que
realizou tal ato, incomoda-se com a “situação” da águia, sonhando com o dia em
que a mesma irá “despertar em si” e “buscar o sol”. Este mesmo sol, que várias
vezes é colocado como metáfora de liberdade, renascimento, etc.
Mas quem deseja a “vida”, não é a
águia e sim “o empalhador”. Não estaria também o homem buscando o mesmo “sol”,
realizando-se através do alheio? Lembrando um pai que busca ser o que não foi
através do filho. Não será também a figura do “empalhador” - aquele que
imobiliza a vida – representativa deste paradoxo? Não seremos nós mesmos,
empalhadores? De nossa própria vida e da vida alheia?
Desde o título, o autor nos
apresenta o mote: “uma metáfora da condição humana”, quando segundo este “todos” seríamos águias, porém, vivendo como
galinhas – dado o caráter impositivo do sistema vis-à-vis resignada
aceitação do mesmo. Entretanto a alienação não seria tanto imposta, como
docilmente aceita, em nossa porção de pão e circo – ta qual o milho jogado no
galinheiro?
E se fosse o contrário?
Se formos todos galinhas
“sonhando” em sermos águias, quando fisicamente impossível, só conseguiríamos
voar em nossas mentes? Afinal, o “tal sistema” (família, educação, trabalho,
mídia, etc.) nos educa para sermos águias ou galinhas? E se este mesmo processo
tem sucesso (lógico que existem exceções – mas francamente, que é?) seríamos
então, uma maioria de qual espécie?
Enfim, Boff nos (de) mostra o
quanto temos de águia e galinha dentro de nós, principalmente nos fazendo
pensar e tal qual um grifo – o ser mitológico, cabeça de águia e corpo de leão
– somos assim, simbióticos humanos, cabeça de galinha e corpo de águia – ou
vice-versa – conforme nossa conveniência, dado não termos o atavismo animal,
sempre será nossa escolha, sempre dependendo do tamanho do nosso conformismo.
Um comentário:
Realmente gostei desse livro mas acho que a crítica é muito relevante, diz o que todos pensam. Eu trabalho como um distribuidor de Frontline e lei o livro enquanto eu esperava a meus clientes.
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