sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Os normais (nem tanto) da Barão de Mesquita

Numa recente postagem, onde falei de figuras doidas de minha juventude, alguns doces outros nem tanto, a amiga Dora (http://pretensoscoloquios.zip.net/) escreveu: "Cada "tipo" passou pela sua infância e adolescência! E o curioso é que têm muito em comum: a bebida, a malandragem, o gosto pelas "ervas"...". Fiquei eu aqui, encafifado: Será que só conheci doido? Então relembro aqui, para ser justo, também sete figuras, um pouco mais "normais" da Rua Barão de Mesquita. É claro, que normalidade, depende do ponto de vista de cada um:

Nélson: Teria que falar primeiro do Nelson, não por ele ter sido um bom amigo, mas por ser desta lista, o único que já morreu. Nunca fumou (nem do careta), bebia comportadamente, não participando de nossos porres, à tardinha, a base de Coca-Cola e cachaça, o popular sambinha e sempre mostrou-se um cara muito equilibrado. Foi quem me mostrou o primeiro disco do James Taylor e enquanto a maioria era Beatlemaniaca, nós dois éramos fãs do Bob Dylan. Formou-se em engenharia e depois arquitetura (ou vice-versa) e após aquele período bravo, na busca do primeiro emprego, encontrou-se na área financeira de uma multinacional, chegando rapidamente a diretor, migrando (à peso de ouro) logo após para outra. Casou, dois filhos e realizava alguns sonhos que o dinheiro pode comprar. Mas a genética, implacável, que havia levado sua mãe ainda jovem, através de um câncer (acho que no pâncreas), fez o mesmo com meu amigo...Antes dos trinta e cinco...

Juninho: Praticamente foi quem me ensinou a tocar violão. Ouvido privilegiado, enquanto eu sofria com as cifras, ao J. bastava escutar a melodia e tirar a mesma das cordas. Me apresentou o disco "O Último Concerto de Rock", onde ouvi pela primeira vez Neil Young (foto) cantando Helpless (http://www.youtube.com/watch?v=FxGcAm0EkTU) e eu nunca mais fui o mesmo. Como hoje (ainda), é um dos meus melhores amigos, não posso falar mais dele, senão falaria mal...

Portuga: Mesmo depois, já adulto, não conheci uma pessoa que gostasse tanto de dinheiro. Enquanto a turma, na maioria, falava das meninas, futebol e cerveja, o Portuga já falava de Bolsa de Valores, concurso público e seu sonho de trabalhar na Petrobrás. Nos rachas, nas mesas dos bares, ele era sempre o último a "casar" algum, na expectativa de levar a melhor. A última vez que o encontrei, ele estava na estatal. Filho de professora, sempre estudou muito, determinação é isso aí...

Pitinini: Aos quinze anos, já tinha dois metros de altura, o que causava um certo desconforto. Também filho de professora (assim como eu e o Portuga), sentia-se obrigado a ser CDF e sentar nos primeiros bancos escolares (e eu nos últimos), porém, por causa da altura, era sempre colocado para trás. Também por causa da altura, foi segurança do metrô, seu primeiro emprego e sempre me passou ser um cara extremamente correto, digo isso, pois na época em que a loucura se instalou na rua, ele se afastou e foi cuidar (sabiamente) da sua vida. Volta e meia o encontro, hoje ele é sócio de uma creche. Os pais e mães podem ficar tranqüilos...

Diabo Loiro: Sempre foi o mais forte da turma, pois fazia musculação desde os treze anos. Forte, mas não covarde, nunca o vi meter a mão em alguém sem uma boa justificativa. Pelo seu tamanho corpóreo e cabeleira loira, chamava a atenção, além de ser um bagunceiro de carteirinha (daí o apelido), fato este que nos aproximou, além de sermos bons alunos e não CDF's, o que (acho) irritava a maioria...O reencontrei na faculdade, ele estudando Direito e eu Economia, onde às vezes, bebíamos uns chopes e jogávamos conversa fora, relembrando os tempos de escola. Hoje é Delegado de Polícia e quando lhe perguntei a última vez, se não tinha saudade da época que era fortão, ele me respondeu: "Hoje eu não brigo mais, só uso o dedo..."

Careca: Ganhou o apelido, ao passar para a escola técnica e ganhar o inexorável trote. Casou com a primeira namorada "séria" e dos amigos somente ele e Evandro ainda estão casados com as primeiras mulheres. As duas merecem um troféu. Careca hoje é professor do estado e da mesma escola técnica, onde pode ver outros "carecas" e lembrar de si mesmo...

Wilver: Era da turma um pouco mais velha, aquela dos "malucos", mas nunca o foi. Somente começou a beber depois de velho, quando deu uma relaxada (acho). Antes a vida devia lhe cobrar muito, pois eram somente ele, a mãe e a irmã. Um por todos e todos por um. Guri, entregava remédio de bicicleta, às vezes também lá em casa, quando minha mãe dava uma "caixinha" e falava: "O Wilver é muito responsável...". Foi tesoureiro de banco, motorista de taxi e hoje acho que se encontrou como psicólogo, onde desenvolve um belo trabalho junto à menores de rua...

4 comentários:

Jens disse...

Oi Renato.
Vejo que o passado retornou com força. Legal isto. Lembra o tanto de bom a gente já viveu e tantas pessoas interessantes que passaram por nossa vida. Aproveitando esta volta aos bons tempos, te lanço um desafio: relembrar o primeiro amor, a primeira vez - estas coisas inesquecíveis. Já fiz isto lá na Toca. Acho que teus leitores vão gostar.
Um abraço e bom findi.

RENATA CORDEIRO disse...

Olá, meu xará:
É bom recordar o passado, mas às vezes nos lembramos de coisas que gostaríamos de esquecer para sempre. Dois já leram, isso significa que vale a pena vc ter um Blog. O que acho triste é ter que vir aqui de novo reiterar o convite para que vá ao meu Blog ver o meu novo post. Estou sendo impertinente? Talvez esteja. mas é que conto com vc como um dos meus leitores. Não me deixe só.
Um beijo,
Renata
wwwrenatacordeiro.blogspot.com

Anônimo disse...

Oi, Renato. Ei!!!!! Eu falei sobre a turminha que você descreveu aqui, mas, sem preconceito, pode crer...Achei os rapazes interessantes e "relaxados" , numa boa! rs E é claro que todo tipo de gente passa pela nossa vida! Há os CDFs (eu era, por exemplo...rs), há os super responsáveis, os preguiçosos, os "nerds", os paqueradores inveterados, os sempre sóbrios, os briguentos...É uma galeria de tipos.
Desses, que você traçou o perfil, neste post, eu gostei do Wilver. Deve ser um "grande cara"!
E você tem sorte de ter tantos amigos de quem pode contar a história.
Beijos.
Dora

Anônimo disse...

Adorei!!! E vou fazer a mesma coisa!
É muito interessante a gente fazer um paralelo entre passado e presente. Como vidas caminham diferentes, como nossas opções nos aproximam ou afastam.
Alguém já disse que somos as escolhas que fazemos. Tem um tanto de verdade nisso, né?
Vou fazer coro ao Jens: primeiro amor!!!! rs...
Beijoconas