sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma Carta do Sociólogo ao Economista

O amigo Renato Fialho é amigo há mais de 40 anos e isso basta para, acredito, confirmar tanto a liberdade em reproduzi-lo como os saudáveis (porém poucos) papos que temos batido via “email”. Algum tempo atrás lhe respondi um email, sobre um artigo cujo tema era as igrejas evangélicas, ele mandou outro que acabou numa bela carta publicada em seu blog, que reproduzo breve, junto com os emails (que acredito originou a mesma).
Primeiro o email que Fialho me enviou:

Em 12/12/2011 18:44, rfialhojr < rfialhojr@uol.com.br > escreveu:
Agora, a Globo também tem seu braço evangélico!

http://odia.ig.com.br/portal/rio/html/2011/12/informe_do_dia_louvor_oficial_211729.html


Informe do Dia: Louvor oficial
POR FERNANDO MOLICA
Rio - A conta do louvor foi rachada entre todos os cariocas: a Riotur, empresa da prefeitura que cuida de turismo, pagou R$ 2,9 milhões pelo patrocínio do Festival Promessas, o espetáculo gospel ocorrido ontem no Aterro.

Promovido pela Rede Globo, que exibirá trechos do show no dia 18, o festival foi batizado com o nome de uma coleção de CDs evangélicos da Som Livre, gravadora das Organizações Globo. A organização do Promessas coube à Geo Eventos, que recebeu a verba da prefeitura. A empresa pertence às Organizações Globo e ao Grup o RBS.

Outros contratos

Em 2011, a Riotur patrocionou outros dois eventos organizados pela Geo:destinou R$ 15 milhões para o sorteio dos grupos das eliminatórias da Copa e R$ 4 milhões para uma etapa do circuito mundial de surfe, o Billabong Rio Pro.

Turismo divino

Uma visita ao Rio Transparente — site que registra receitas e despesas da prefeitura — mostra que a Riotur é ecumênica. Também em 2011, deu R$ 3,206 milhões para a Mitra Arquipiscopal, que representa a Arquidiocese do Rio.

Então respondi:

Xará,
Sabemos a "lição de casa" que onde há $$$$ existe a possibilidade de multiplicá-lo (quem sabe da mesma forma que o filho de Maria fez com os peixes?). Desta forma, o poder na sua forma midiática (mas nem por isso gostando menos de dindin) fica babando sangue toda vez que percebe uma nova oportunidade (leia-se mercado), pois dada a saturação dos existentes, qual a única forma de expanção? Senão a conquista de novas "colônias" ?
O velho e barbudo Mouro escreveu, assim como um ícone do liberalismo (nem por isso o "cara" não foi um dos melhores economistas...): Schumpeter, com sua visão do empreendedorismo e da busca da inovação, como forma de perpetuação da utilidade do capital. A palavra utilidade (tradução de nãoseioquedealemão) é conceito econômico, próximo de "lucro do lucro", seria um valor % superior a taxa de empréstimo bancário, etc..., desta forma um tanto diferente do conceito de mais-valia, que você domina melhor do que eu. Enquanto um determina que o capitalista "usa"(explora seria melhor) o valor trabalho do proletariado o outro determina que o capitalista "usa" (também) a poupança interna do sistema. Mas de onde surge essa poupança interna, já que o proletariado ganha somente para seu sustento? Kalecki explica, que a poupança interna não passa de uma "reinvenção" da mais-valia obtida anteriormente, ou seja, novamente temos a multiplicação como mágica. Mas até quando eles podem pedalar essa bicicleta? Indefinidamente (para tristeza de Marx), já que novos mercados não param de surgir (este foi o brilhante insight de Schumpeter). Você tem celular? Gastou quanto com ele? Pensava em comprar um há 20 anos atrás? E DVD? E a pasta de dente que clareia os dentes? Você acredita em deus? Tenho um livro óóóóóotimo aqui, quer comprar? E este CD Gospel, tem aquela música do $ilas Malafaia...
Aí você pode argumentar que o DVD somente substituiu o vinil, sim, o trabalhador do vinil ficou desempregado, sujeitou-se a um salário menor, e salário menor = mais-valia maior, e a bicicleta continua...
Cadê aquele chopp ?????

Abraços,

Couto

No próximo post, reproduzo "Carta ao Economista e Amigo Renato Couto"

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