O catching-up tecnológico não é fácil, sobretudo se os detendores de tecnologia de ponta não forem generosos no compartilhamento, ou seja, uma série de conhecimentos não são facilmente transferíveis, vide a época da Revolução Industrial, onde se tentava solucionar este problema com a importação de mão-de-obra especializada, pois nesta época ela incorporava a maior parte das tecnologias-chave.
Até recentemente, a redução ou isenção de tarifas de importação a certos bens de capital (que, curiosamente, coexistiam com restrições a importações de outros) foram um dos instrumentos-chave da política industrial dos países do Leste Asiático.
Num período marcado pela crescente incorporação de conhecimentos nas atividades produtivas, a inovação passou a ser entendida como variável ainda mais estratégica para a competitividade de organizações e países.
Economistas do “peso” de Joseph Schumpeter colocaram o processo de inovação no centro de suas teorias de desenvolvimento, com a evolução econômica se caracterizando por rupturas e descontinuidades com a situação presente se devendo à introdução de novidades na maneira de o sistema funcionar, ou seja, inovações.
O desenvolvimento dessa idéia leva Schumpeter a procurar estabelecer de onde provêem as inovações, quem as produz e como são inseridas na atividade econômica. Do plano, Schumpeter descarta a hipótese de que elas se originem no âmbito dos desejos e necessidades dos consumidores, esses atores são passivos em relação à pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos e processos. No que se refere a quem vai tomar a iniciativa dessa mudança, Schumpeter credita a um personagem particular: o empresário. O empresário é uma figura que se distingue na sociedade por ser portador de uma energia e capacidade de realizar coisas novas que não estariam presentes de maneira (proposital ou não?) difundida entre a população (muitas vezes “enfiada” goela abaixo, porém, digerida pelo nosso pacato populacho).
[A]s inovações no sistema econômico não aparecem, via de regra, de tal maneira que primeiramente as novas necessidades surgem espontaneamente nos consumidores e então o aparato produtivo se modifica sob sua pressão. Não negamos a presença desse nexo. Entretanto, é o produtor que, igualmente, inicia a mudança econômica, e os consumidores são educados por ele, se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar. Portanto, apesar de ser permissível, e até mesmo necessário, considerar as necessidades dos consumidores como uma força independente e, de fato, fundamental na teoria do fluxo circular, devemos tomar uma atitude diferente quando analisamos a mudança (Schumpeter, 1911, p. 48)
Nesse sentido, a ênfase dada à industrialização como elemento propagador do processo de desenvolvimento por autores como Furtado e Presbisch é exatamente a mesma que aquela dada à revolução das novas tecnologias pelos neo-schumpeterianos.
O papel do Estado é fundamental para o desenvolvimento. Nega-se a visão neoclássica tradicional - que considera os mercados como se surgissem espontaneamente, caracterizados por uma pretensa auto-organização. Para cepalinos e neo-schumpeterianos, a emergência dos mercados é resultado de intervenções de política estabelecidas tanto do lado da oferta (desenvolvimento de instituições, quadro de referências legal, estabelecimento de infra-estrutura, etc.), quanto do lado da demanda.
Cabe ao Estado o caráter pró-ativo voltado para coordenação e indução dos processos de transformação produtiva, visando internalizar os benefícios potenciais proporcionados por tecnologias de um novo paradigma tecnológico, afinal, quem está no topo da cadeia alimentar internacional, pois mais que negue, chegou lá assim e não pelo cantado laissez-faire...
2 comentários:
O Estado, sempre presente. Há uma lição aí, para a turma do "Estado Mínimo".
Abraço.
Renato, há um trecho na sua citação de Schumpeter, que faço questão de reproduzir:
"consumidores são educados por ele [empresário], se necessário; são, por assim dizer, ensinados a querer coisas novas, ou coisas que diferem em um aspecto ou outro daquelas que tinham o hábito de usar.
E aí vem o papel da publicidade...
Eu, que sou um tapado em Economia, tenho gostado de ler esses seus textos.
Um abraço.
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