Quase um ano após publicar a postagem
abaixo (novamente título), “enxergo” um pouco mais e compreendi a razão pela
qual os bancos públicos puxaram a taxa de juro para baixo. Foi pelo motivo da
necessidade de redução da própria taxa de (re)investimento dos excedentes! Como
lidar com o excesso de liquidez? Antes que a bolha cruze com algum prego no
meio do caminho, não será melhor tentar esvaziá-la um pouco? O problema é que
quando o FED fez isso em 2008 (nos EUA), o capital migrou de ativos financeiros
para ativos “reais”, via especulação imobiliária e deu no que deu, com o
retorno do fluxo via derivativos e hipotecas tal qual o mar antes da grande
onda. No Brasil não temos instrumental semelhante, apesar de algum assanhamento
em Letras de Crédito Imobiliário, acenando com isenção de Imposto de Renda, etc...
Recomendo a leitura de “O Enigma do
Capital – e as crises do capitalismo”, onde David Harvey ampliou um pouco mais
meu mediano conhecimento:
“O verdadeiro problema não é a falta de
demanda efetiva, mas a falta de oportunidades para o reinvestimento lucrativo
do excedente conquistado ontem na produção” (p.98).
No final do post do ano passado, o Multiplicador Bancário era de 1,25 em janeiro de 2011. Hoje temos o número de 1,35 (fev/2012), ou seja, os números estão lá, no prórprio site do Bacen (http://www.bcb.gov.br/ftp/progmon/pm-022012p.pdfhttp://www.bcb.gov.br/ftp/progmon/pm-022012p.pdf) não somente para quem quiser ver, mas infelizmente para os poucos que irão compreender...
Esboço de Uma Teoria (do Fim ) dos Lucros (postado em 01/09/2011)
Um
 dos meus professores, certa vez, apresentou a tese de que existem cinco
 tipos de pessoas, com algumas variações entre os tipos específicos, são
 estes: O tipo I, que compreende os formuladores de teorias, ou seja, 
tem algo “novo” a ser dito à sociedade, por exemplo, Keynes, tanto com 
sua Teoria Geral; o tipo II seria, aproveitando o gancho, a professora 
Joan Robinson, que apesar de tantos livros, se não me falha, não 
apresentou nada de original (isso não é um demérito), mas sim “traduziu”
 brilhantemente as idéias do primeiro. O tipo III são em sua maioria, os
 professores universitários medianos (para baixo) que ao não conseguirem
 decifrar o pensamento dos primeiros, recorrem aos segundos e seus 
livros que “traduzem” os primeiros. O tipo IV são os estudantes em 
formação, que bóiam solenemente face os primeiros, entendem apenas algo 
dos segundos e necessita dos terceiros frente um quadro. O tipo V são os
 que não entendem nada, mas são influenciados imensamente no seu 
cotidiano pelas idéias (e ideais) dos primeiros, formadores de opinião 
sobre este último grupo, apenas massa dançando ao vento.
Lembrei
 disso, ao (re) ler Adrian Wood e seu ótimo “Uma teoria dos Lucros”, que
 seria do tipo II, “traduzindo” vários (Keynes, Marx, Schumpeter) e 
acabei voltando à fonte Schumpeter. Na fonte destes dois (Adrian e 
Schumpeter) bebi para rabiscar abaixo, também contando com uma ajuda 
luxuosa do pároco Malthus e seu conhecido pessimismo. 
Se
 temos no conjunto de empresas da sociedade, o somatório de empresas 
individuais, é o somatório de crescimento destas, que representará o 
crescimento do PIB. Assim é imperioso, que a maioria das empresas da 
sociedade, apresente não só lucro, mas que o mesmo seja reinvestido na 
própria empresa.
O
 lucro de qualquer empresa apresenta-se como resultado entre os valores 
recebidos subtraído dos valores pagos, dizendo de melhor forma, entre 
sua Receita e seu Custo:
L = R – C
Como
 a maioria da empresas não sobrevive sem investimento e sendo os bancos,
 a principal fonte de intermediação entre os poupadores e tomadores, 
temos os bancos, como as principais fontes de capital para as empresas. 
Em suas obras, Schumpeter considera a importância do crédito para o 
crescimento da economia. E de quem vem à maioria do crédito? Se não dos 
bancos?
Mas vamos voltar à simplória fórmula acima, agora colocando números:
R = 100,00; C= 90,00, então se R – C = L, 
temos: 100,00 – 90,00 = 10,00
Ou
 seja, se temos um custo (mensal, por exemplo) de 90 e a empresa 
consegue vender seus produtos totalizando 100, tem um Lucro de 10. Vamos
 colocar que a tx bancária de empréstimos seja de 5%, para uma tx de 1% 
de remuneração aos aplicadores, assim, uma margem para empresa de 10% 
seria bem satisfatória. Os números me parecem bem próximos de nossa 
realidade.
Como
 o custo 90,00 foi financiado via crédito, ao fim do primeiro período, 
teríamos que do Lucro de 10,00, ter separado 45% do lucro (4,50) somente
 para pagar o juro, sem mexer com o principal do empréstimo, assim, 
restaria de Lucro ao empresário:
10 – 4,5 = 5,5
Para
 qualquer empresa crescer, é necessário que reinvista parte de seu lucro
 na própria empresa, assim, o primeiro passo é num crescente ir além de 
pagar o juro, também amortizar o principal, então nesse primeiro período
 além do juro, seria pago 1,00 do principal, no período seguinte, o 
lucro de 10,00, corresponderia ao mesmo custo de 90,00, porém somente 
89,00 via crédito.
Porém
 se os bancos estão tendo lucros cada vez maiores, é bom ou ruim? Dado 
que os bancos também fazem parte do conjunto de empresas, precisam ter 
lucro para realimentar o sistema, mas seu excesso seria nocivo, já que 
poderia concluir que as empresas (e as pessoas físicas, como “empresas” 
individuais) estão pagando cada vez mais juros sobre o crédito 
conseguido?
Que
 os bancos realizam lucros cada vez maiores é fato noticiado (e cobrado 
pelos acionistas), como saber em relação à demanda de crédito? Pois se a
 demanda de crédito representar que 51% para cima das empresas (ou simplesmente qualquer "tomador"), estão 
demandando cada vez mais sem amortizar nada do principal, este número 
levará inexoravelmente ao rompimento de uma bolha de crédito!
É
 claro que este é um raciocínio simplista, um modelo, como os 
economistas gostam de falar, pois não envolve percentual de 
inadimplência, nem relações de câmbio.
O BACEN acompanha este crescimento, ao calcular o “multiplicador” (aqui 
voltamos a Keynes), que é a capacidade que os bancos têm de ampliar a 
base monetária (já falei do assunto no post "A Fantástica Fábrica de Ganhar Dinheiro")
 e o mesmo vem se mantendo estável, saindo de 1,25 de janeiro/2011 para 
1,26 em agosto/2011. Porém e a inadimplência? Ela reflete imediatamente 
na não capacidade de honrar não somente o juro, mas também o principal 
das operações e os números não são bons. Cresceu 22% no primeiro 
semestre em relação ao mesmo período do ano passado e no site do BACEN 
temos que também subiu entre janeiro e julho, apesar da manutenção do 
multiplicador. 

 
