domingo, 5 de julho de 2009

A Filha (em) Crise, seu pai Sr. Monetarista e sua mãe, uma “dama” (neo) Liberal

“A Primeira Lei dos Economistas: para cada economista, existe um economista igual e oposto. A Segunda Lei dos Economistas: ambos estão errados”.

Achei que fosse ficar um bom tempo sem falar de crise, após a última postagem sobre a mesma, dois meses atrás, mas como volta e meia em meu círculo de confrades (cachaceiros no bar), vejo dúvidas quanto a real causa da mesma, volto ao tema.
Claro que todos já escutaram pelo menos uma vez, sobre a tal das subprimes, mas podemos imputá-las a culpa? Acredito que as ditas foram apenas à gota d’água, num copo já cheio, ou melhor, conforme extremamente bem explicado pelo monstro da economia Minsky, a instabilidade financeira é algo inerente à estrutura capitalista, sem maiores delongas de economês, há um interesse mútuo, de emprestadores e tomadores, gerando uma expansão do crédito, que foge a regulação das centenas de bancos centrais (ou espremem estes a políticas restritivas), por conta das inovações introduzidas (pelos agentes financeiros) justamente com este objetivo (CDB’s, swaps cambiais, derivativos, securitização, etc.), havendo então criação endógena da moeda.
Onde entra o pai Monetarista então? Monetarismo é a corrente de pensamento que se apóia na chamada Teoria Quantitativa da Moeda, respaldo do mainstream econômico e que conduz a maioria das políticas monetárias, políticas estas, fomentadoras ou sancionadoras de uma ambiente de financeirização, onde o Estado acaba ficando subordinado ao mercado e perdendo autonomia em conhecido conluio com a mãe, neoliberal, que objetiva um Estado cada vez menor, condena o excesso de gastos do mesmo em relação à tributação, que no caso gera endividamento público e segundo eles emissão monetária com conseqüente inflação. Mas se tivermos uma visão crítica, o controle dos gastos privados e subvenção do Estado via taxas de juros não serão responsáveis por queda no crescimento e desemprego, como vemos há anos?
Voltando a Minsky, o mesmo afirmava que o sistema financeiro capitalista era um contínuo viver na beira de um penhasco, que bastaria uma leve instabilidade para tudo ir por água abaixo. Ele construiu sua hipótese (muito apropriada) para o caso de uma economia ser aprisionada em excessivo endividamento, onde intermediários financeiros captam a prazo curto e emprestam a prazo longo, assim tendo seu ganho (o spread bancário), porém, a fragilidade surge dessa operação, pois os retornos dos ativos são incertos, enquanto os pagamentos dos passivos contratados são certíssimos.
Desta forma, na economia de endividamento de Misnky, um dos agentes quebrando o contrato (no bom português: dando o calote), levaria a roldão todos os outros interligados a ele. É o que na televisão, os comentaristas econômicos chamam de risco sistêmico.
O assunto é longo, existem alternativas a Teoria Quantitativa, Misnky merece livros e mais livros, eteceteretal, mas como disse Machado de Assis, Deus desgostoso de sua obra, passou a mesma ao diabo pelo custo e o mesmo organizou uma sociedade anônima...
(Continua)
Desenho de Frank Miller, HQ 300

3 comentários:

Jens disse...

Oi Renato.
Valeu a aula professor. Artigos desta natureza são sempre bem vindos. Eu, que sou uma nulidade em economia (meus credores que o digam), saio daqui, depois da leitura, um pouco menos bronco em relação ao tema.
Uma observação, ou melhor, um desejo: espero que dona Crise seja estéril e, solteirona, se recolha o quanto antes aos seus tricôs.

Um abraço.

Marcelo F. Carvalho disse...

Enfim, Renato, estamos perdidos! hehehehe...
Bem, se depender de boa vontade político-econômica, então...

Passageira disse...

Sempre me achei burríssima pra este tipo de texto. É que leio com a maior atenção e no final ico me perguntando se entendi. Normalmente, tento colocar o que apreendi em termos domésticos. E me vejo dentro da teoria deste (desconhecido pra mim) Sr. Minsky, como dançando à beira do abismo! Mas quem pode dizer que tem os pés plantados em solo fértil? Não agora, em plena crise, né?
Enfim, foi bom te ler. Já tenho assunto pra discutir com meu sócio-hiper-capitalista! rs...
Beijocas