quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Para entender (um pouco) a crise Grega

Comecemos pelo fim: Não basta dar peixes, é necessário ensinar a pescar.

A Grécia, berço de deuses e também da democracia, apesar desta última, vem de longa data de uma sucessão de troca de feudos no poder: seja a família atual no poder - Papandreou ou a família do governante anterior – Karamanlis. Ambos, off course, educados em excelentes universidades de políticas e economia neoliberal, tanto americanas como inglesas. Assim, permanecem os deuses no Olimpo, com a patuléia incensando os mesmos.

Essa patuléia que hoje, contando inclusive recém nascidos, acorda todos os dias com uma dívida pública de US$ 40.000,00 per capita. Cruzes! Imagine-se você, ao acordar amanhã e descobrir que deve quarenta mil doletas! Onde você gastou todo este dinheiro? Foi tudo no ralo da Olimpíada de 2004? Mesmo com eventuais omissões, nossa "Lei de Responsbilidade Fiscal" de 2000, nos salva de muita coisa (ACM e Michel Temer se opuseram a mesma na época, por que será?).

Amigos relatam que na terra de Leônidas, não o diamante negro, mas o comandante espartano, existe uma infinidade de comércio popular, informais obviamente, traduzindo: sem pagar impostos, algo assim como várias e gigantes 25 de março em São Paulo ou Rua do Saara no Rio de Janeiro. Outra: 40% das terras gregas são “ocupações”, leia-se novamente sem pagar impostos.

A Grécia tem um enorme déficit em seu balanço de pagamentos, traduzindo: ela compra mais do exterior do que vende. Paga mais do que arrecada. Mas qual é o produto que a Grécia vende? Hmmm...A Grécia hoje é uma monocultora de paisagens, ou seja, vive basicamente de seu turismo. Se já é complicado para um país sobreviver à custa de uma mercadoria, imagine ser dependente de um serviço. O setor naval grego, antiga potência, faz tempo naufragou no que tange a tarifação, pois os grandes armadores gregos (grande palavra da língua portuguesa: armador) continuam atuando, porém com suas fortunas protegidas em paraísos fiscais, os petroleiros gregos, segundo lugar em tonelagem no mundo, navegam sob bandeiras de conveniência, como Libéria e Panamá, assim, a receita dos fretes não chega nem perto de Atenas.

Assim, ano após ano, para pagar a diferença entre o gasto e o recebido, a Grécia foi se endividando, chegando hoje aos 300 bilhões de euros, com enormes gastos públicos (para onde foi esse dinheiro? Faço novamente a pergunta), baixa receita de impostos e baixa receita de venda de produtos e serviços.

Passe boa parte de sua vida, gastando mais que seu salário e verá que logo, logo o banco corta seu cartão e o limite de seu cheque especial.

Uma pitada no mérito da entrada apressada da Grécia na zona do euro, com isso passando a ter uma moeda valorizada e perdendo competitividade na exportação. Se se chegou a esse ponto, a solução seria a saída, sair do euro e voltar ao dracma, sua antiga moeda, que então melhoraria sua competitividade externa (lembre: exportar é o que importa)? Um buraco no dique do euro, ah! Tudo que os americanos sonham para um retorno triunfal da hegemonia do dólar, pois atrás da Grécia, viria Portugal, Irlanda, Espanha e quem sabe Itália. Cabe então a Alemanha, França e Inglaterra bancarem esse prejuízo.

Vamos entrar no economês um pouco. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo, é ABC do liberalismo econômico (globalização, vá lá...) e está dando isso que lemos desde 2008. Na realidade (o que eu acredito), o que vigora nestas relações, é uma espécie de “desvantagens reiterativas”, cuja semente está na especialização. Aconteceram com o Brasil no café, países árabes com o petróleo, etc., pois é o mercado internacional é que forma o preço – apesar do caso petróleo, a relativa influência da OPEP. Leiam o livro do Chang: “Chutando a Escada”.

Talvez um Furtado ou Prebisch salvassem a Grécia, mas isso interessa aos atuais deuses do Olimpo?

O FMI está vindo com sua velha cartilha ortodoxa: só a recessão salva! Recessão não se traduz em austeridade e sim em d-e-s-e-m-p-r-e-g-o, e este é o fator que determina os outros, aprendi com Lord Keynes, pois será o emprego ( o nível de ) que irá determinar a produção (oferta), o consumo (demanda), a quantidade de moeda e por fim a taxa de juros.

Próximas postagens, sobre a industrialização do Brasil, relatam nosso caminho, com Juscelino e os militares.

Não poderia terminar, sem o dito de Heilbroner; “Crise não é uma falha do capitalismo e sim a forma pelo qual ele funciona”.

Bom dia dos Mortos.

Um comentário:

Amóes Xavier disse...

Olá! Gostei do seu blog. Vou seguir e volto outras vezes. Conheça meu blog e siga-me se gostares. Valeu!