domingo, 28 de agosto de 2011

Um dia em 5 atos

Um (ao ler os jornais pela manhã)

Em dias de tormenta
a poesia
me alimenta.

Dois (ao embarcar no metrô pela manhã)

Não uso walkman
ou seus descendentesmodernos
Tampouco uso óculos escuros,
olhos as pessoas nos olhos
querendo escutar o que elas tem a me dizer.

Três (no trabalho)

Realizo,
generoso que sou com minha mais-valia.

Quatro (ao ir embora)

Sonho acordado
com minha particular Passárgada.

Cinco (à noite)

Escuto,
e vejo.
Se falo? Sempre rijo.


R. Couto

*Desenho de Gérard DuBois

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Poesia depois dos 40

Poesia depois dos 40

Depois dos quarenta,
quase cinquenta;
Aprendi que na vida,
o bilhete é só de ida.
E não adianta ilusão:
- Não haverá gavetas
em nosso caixão.
Hoje me consola,
tanto perdoar
como pedir perdão.
Pego os meninos pela mão
(que dá uma boa rima)
e ensino o inútil da vida.
Ah! Como tenho saudades,
dos dias em que fui invencível.

R. Couto (01/08/2011)

domingo, 17 de julho de 2011

Uma Fábula sem Moral

Em certa vida natural, muito parecida com a nossa, tão parecida, que por não saber o nome das espécies que lá habitam, utilizarei a nossa como referência. Existem três espécies de animais, uma delas, extremamente predatória, que poderíamos comparar a um tubarão com asas, mesmo desnecessários adjetivos, repetiria: faminto, feroz, complexa e perfeita máquina de matar. Outra espécie, assemelhada ao dócil coelhinho, também vive por lá, de fácil reprodução, naturalmente presa fácil e parte da cadeia alimentar da primeira. A terceira espécie, em nada deve ao nosso homo-sapiens, tanto em inteligência como em burrice. Raras vezes inteligente, raras vezes consegue enfrentar e sobreviver ao ataque da primeira. Também devora a segunda, porém, não devia, pois é uma dieta que via de regra lhe leva a morte por indigestão, assim como também faz parte da cadeia alimentar do primeiro, sendo o prato principal, com o bom coelhinho sendo um mero antepasto.

Porém, o forte também tinha seu ponto fraco: a reprodução. A mesma ferocidade em devorar também tinha em copular, desta feita, rapidamente tinha-se uma enorme população de tubarões voadores, população esta que rapidamente dizimou todos os que faziam parte de sua cadeia alimentar, ou pelo menos, grande parte.

Vendo-se sem comida, a espécie com grande senso de sobrevivência, acabou no canibalismo, se alimentando uns dos outros.

Mas alguns homens e coelhinhos haviam sobrevivido e quando os tubarões voadores não mais espreitavam em cada canto, em virtude da seleção natural que havia sido implantada pelo canibalismo, estes voltaram aos poucos, ao convívio da vida em comum e retomaram o ciclo natural.

Sagaz leitor substitua homem por trabalho, coelho por ignorância e tubarão por capital. O tempo do verbo, a sintaxe e a correta aplicação gramatical deixo ao seu encargo, a mim já me basta uma fábula sem moral, que passou há existir muito tempo depois de Esopo.

Os desenhos, mais que luxuosos, são do MESTRE Luiz Gê, feitos
por ocasião do disco "Tubarões Voadores" de Arrigo Barnabé.


domingo, 10 de julho de 2011

Algo sobre Monopólios e Crises

Em recente postagem do Professor Toni, na qual ele encerrava com quatro perguntas, comentei algo (um pouco) do que escrevo abaixo, sobre a dicotomia entre monopólios e livre concorrência. Engrossei um pouco o caldo e faço minha própria postagem. Vamos lá:

Com quem (ou o que) se preocupa o capitalismo? Seria com os consumidores (da primeira pergunta)? Com os trabalhadores (da segunda)? Com o equilíbrio do mercado (da terceira)? Com o dinheiro público (da quarta)? Respondo, com auxílio luxuoso do “Mouro”, que observou ser a passagem do capitalismo competitivo ao monopólio (na verdade ele anteviu, já que em sua época não havia este) apenas uma forma do sistema retornar ao seu equilíbrio (dele, sistema – ou seja, apesar da “forma”, o sistema é o mesmo, seja livre concorrência ou monopólio), perdido em eventual crise, isto é, do modo pelo qual se livra do excesso de capital, existente. Sim! Neste caso excesso atrapalha e sempre haverá uma nova forma de se estabelecer um novo ciclo de valorização deste (capital).

Em resumo, as crises também acabam sempre levando o sistema a criação de monopólios!

As crises sistêmicas não são uma “falha” de mercado e sim é o modo pelo qual o mercado funciona. Este brilhante insight é de Schumpeter, que junto com Keynes, completa minha santíssima trindade.

Quando se torna insuficiente a poupança gerada pelo fluxo circular da economia, há a necessidade irrefutável de se recorrer ao crédito para fornecimento dos recursos demandados pelo empresário (na abordagem de Schumpeter, o “empreendedor”), via capitalista, via de regra, os bancos, porém, a maximização irrestrita dos lucros (possíveis ou não – por que não dizer ganância?) via alavancagem irresponsável, acaba sempre criando um monstro, ao qual damos o nome de crise. Nenhuma expansão de crédito dura para sempre, certamente diria Minsky.

Marx também tem sua abordagem quando coloca que a própria competição, vai levar a destruição dos mais fracos em favor dos mais fortes, assim criando naturalmente uma situação monopolística.

Por quê? Por conta da fragilidade da alavancagem! Se uma empresa com capital de 10 milhões toma emprestado 1 milhão, não para capital de giro (pois o valor seria elevado), mas para investimento, porém, a mesma não consegue determinado retorno que pague este 1 milhão adicional, tendo um prejuízo de 10% sobre seu capital (por causa de uma recessão, por exemplo), a empresa estará perdendo 20% do seu capital (1 milhão de prejuízo + 1 milhão que não conseguiu “realizar”). Se a empresa, para piorar a situação, fizer “apostas” erradas no mercado financeiro (como a Sadia, por exemplo), acaba quebrando e sendo absorvida pela concorrente.

Olhando para o Brasil atual, temos cerca de 70% do consumo concentrado em 10 empresas “gigantes”, quando até mesmo O Globo não consegue mascarar, via a reportagem de hoje, no seu caderno de economia (infelizmente menos lido que o da TV – clique no link).

Temos (eles e não nós): AmBev, BRF-Brasil Foods, Coca-Cola, Hypermarcas, JBS, Kimberly-Clark, Nestlé, Procter&Gamble, Reckitt Benckiser e Unilever.

Não reconhece os nomes? Que tal estes: Omo, Kibon, Seda, Lux, Hellmann's, Arisco e Knorr, algumas “marcas” somente da Unilever, presente em 86% dos lares tupiniquins. Que tal Sadia, Perdigão e Resende, marcas da BRF-Brasil Foods, responsáveis por 90% do salame e outros quitutes que nos entram goela abaixo, conhece?

No meio acadêmico, onde a teoria da livre concorrência ou concorrência perfeita, na qual se baseia os economistas clássicos, é ótima para introduzir o aluno na matéria, mas não corresponde ao mundo real, em decorrência do irrealismo de suas hipóteses (paro por aqui para não me alongar mais no economês), porém, o ideal é o inimigo do bom e o monopólio (em teoria) é a visão do inferno para um mercado livre (para quem não o tem, maioria), sendo que ninguém em sã consciência acredita que ele possa ser corrigido ou controlado pelo governo, senão, obviamente não haveria o monopólio, pois bastaria ao governo somente encorajar a competição e o próprio governo abster-se de criar seus próprios.

Como vemos, ainda existe muita garrafa para ser vendida...

sábado, 25 de junho de 2011

Insensato Coração

A ambição desmedida do banqueiro corrupto Horácio Cortez que se dá bem no mundo dos derivativos tóxicos que levaram o capitalismo especulativo ao desastre financeiro global se nutre da euforia da frivolidade que busca todas as formas de realização na exploração comercial da beleza feminina alienada e desesperada Natalie Lamour pela afirmação da personalidade por meio do dinheiro. Propaganda e especulação, as armas da mentira. Eis a composição do enredo dramático que educa o telespectador sobre como as relações humanas se desenvolvem sob o sistema ancorado na busca exclusiva do lucro, para que surjam as mais caras manifestações da afirmação social dos vencedores no mundo do capital no qual o pobre mira para construir a sua fantasia, sabendo que ela é uma mera miragem que o estimula ao exercício da mediocridade ou da libertação moral. É pegar ou largar.
$$$

Este texto e muito mais sobre a novela das oito, personagens, considerações críticas e até mesmo um link com Machado de Assis (sobre o tema dramaturgia), encontrei no blog: Independência Sul Americana, um tanto sectário talvez (sem conotação pejorativa na palavra), mas algumas vezes, é um mal necessário, senão, como acender uma lanterna para os afogados?

sábado, 18 de junho de 2011

O Rap de Keynes x Hayek (quase tudo que você queria saber sobre economia e crises e nunca entendeu...)

Acabei de ver o "clip" abaixo, no blog Economidiando (link também abaixo - vale a pena) e o capturo devido a ser (talvez) a melhor aula de economia que já vi na minha vida...

domingo, 12 de junho de 2011

Guevara, Quadrinhos e eu

Link
Sempre um fã dos quadrinhos, faço este post (principalmente) para aclamar uma obra-prima: Che – Os Últimos dias de um Herói, com roteiro de Héctor Oestherheld e arte de Alberto e Enrique Breccia. Andando pelos sebos do Rio de Janeiro, deparei com este álbum, uma HQ publicada na Argentina três meses após a morte de Guevara e republicada pela Conrad em 2008. Encontrei uma HQ tão desconcertante (embora totalmente parcial a causa guerrilheira), que os militares argentinos (da época) não perdoaram, acabando por matar não só o roteirista , como também suas filhas. Da família, sobraram apenas a esposa e um neto. ¨Demos um sumiço nele por ter feito a mais bela história de Che que já foi escrita¨, disse um militar argentino, no melhor (ou pior?) estilo natcht und nebel erlass (decreto da noite e névoa), de Hitler, ao estipular detenções secretas e sumiços...

Lembrei então de meu amigo Fialho, prometendo uma passada em sua casa para emprestar o dito álbum. Um assunto puxa o outro e relembramos nosso tempo de quadrinhos. Ele perguntou se eu ainda tinha algum exemplar da revista MURO, com nossos desenhos. Revirei, revirei, mas infelizmente não achei, somente um exemplar de outra : Art&Manha, revista feita por e para estudantes universitários e secundaristas do Rio, onde meu primo Raul brilhava, tendo Fialho e eu como meros coadjuvantes (Ah!Eu sou rencomotta, autor do desenho aí embaixo, inspirado em texto de Gil Vicente). Este nº 6 foi financiado por um projeto da FUNARTE, de apoio ao quadrinho estudantil, em 1980 (acho)...


*clica no desenho (que ele aumenta) e leia os balões...

1- O que procura?

2-Meu nome é Todo Mundo e passo o meu tempo todo a procurar dinheiro.

3-Pois meu nome é Ninguém e passo todo o meu tempo a procurar a consciência.

4-Esta é boa! Todo o Mundo procura dinheiro e Ninguém a consciência!

5-Ninguém: "Eu nunca minto..."

Todo o Mundo:"Saco..."