quarta-feira, 1 de junho de 2011

Jeff Healey, o menino branco, loiro e cego que tocava blues



“Oh! He´s my man! My man!”
Blues Boy King gritava eufórico, por não acreditar no que via e tampouco escutava. O garoto do Canadá, branco, loiro e cego, que tocava sentado e cantava como cria do Mississipi.
Eric havia avisado ao mestre o quanto iria se surpreender, mas não houve preço.

O vi pela primeira vez ao vivo num show no falecido Noites Cariocas, quando este foi berço do rock nacional dos anos 80, onde também vi nascer Cazuza, Renato Russo, Capital e outros, tanto vivos como mortos.
Nesta época, no meu mundo, havia mais roqueiros que economistas, mas foram estes últimos que finalmente, após tanta andança, me ajudaram a compreender (tentar) este mundo sem deus.

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
I look at the floor and i see it needs sweeping
Still my guitar gently weeps
I don't know why nobody told you how to unfold your love
I don't know how someone controlled you
They bought and sold you.

Mas voltando ao garoto branco e cego. Fui ao cinema para ver um bom filme de porrada. Sabia que Patrick Swayze, além de dançarino, mandava bem nas artes marciais, então fui conferir se ele merecia a alcunha de Matador de Aluguel. Pois sim, o cara era bom, mas o que me deixou chapado, foi não só a trilha do filme, quando lá pelas tantas, aparece o branco descrito acima: sentado, loiro, branco e cego, num improvável blues rasgando o delta e me fazendo procurar o disco do moço, na primeira sobra de uns caraminguás.

Desde que nasceu, lutou contra um tipo raro de câncer, que lhe levou a visão: retino-blastoma. Que nome filho-da-puta! Que doença filha-da-puta! Cego antes de um ano e faz três anos, lhe tirou um pedaço da perna, um pulmão e por fim, levou-o inteiro. Cego (não me canso de dizer, talvez por não acreditar), tocava com a guitarra deitada sobre seu colo, contrariando as regras da execução do instrumento, não dedilhando, mas como se fosse um piano. Depois dele, só Stanley eu veria tocar assim, mas em pé.

I look at the world and i notice it's turning
While my guitar gently weeps
With every mistake we must surely be learning
Still my guitar gently weeps
I dont know how you were diverted
You were perverted too
I dont know how you were inverted
No one alerted you.

Em 1985 foi montou a The Jeff Healey Band, quando passou a tocar com as grandes lendas do blues como King, Stevie Ray Vaughan e Clapton. Hoje ele também é uma.

Hell to Pay, de 1990, trouxe a faixa While My Guitar Gently Weeps, composta por Harrison para o Álbum Branco, que foi lançado dois anos após Healey nascer, com a canção que ficou divinizada por ter os solos de guitarra feitos por Eric Clapton, já apaixonado pela mulher de George. Na voz e guitarra de Healey, esta canção foi novamente algo mais que um grande sucesso.

Realizava sonhos. Talvez seja mais fácil de sonhar com os olhos fechados, ou sem os mesmos, que nunca abriram. Alguns poderão dizer que fez pacto, tal qual Robert Johnson, com o capeta, para tocar guitarra daquela forma, mas qual cego não faria um pacto, sim, para enxergar o que nunca viu. Nunca, digo, pois com cegueira antes de um ano, do que lembraria? Será que preferiu a guitarra aos olhos?

I look at you all see the love there that's sleeping
While my guitar gently weeps
Look at you all . . .
Still my guitar gently weeps.

Nasceu em 66, não na rota, mas no ano e em 2008 foi fazer uma Jam session, não sabemos onde, mas se está na companhia de Johnson e Stevie Ray, desconfiamos, afinal, em harpas celestiais não cabem distorções.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A quem interessa o aumento do juro?

Chega de hipocrisia! Quando volta e meia, surge na mídia (sinhá-mídia, como gosta o Pirata - cadê você?) um novo trailer sobre o filme: Inflação, o retorno – uma penca de economistas (às vezes nem o são) de plantão televisivo (adiciona-se aí a Sra. Leitão) e políticos hidrofóbicos ululam favoráveis ao aumento da taxa de juros, como única e salvadora forma de conter a sanha consumista. Será (a única) verdade?

Quem me lê, já desconfia que não.

Primeiro, vamos entender como funciona o mecanismo do aumento e redução dos juros.

O juro não aumenta ao bel prazer do governo. O juro é determinado pelo mercado, visto que podemos traduzi-lo como o “preço do dinheiro”, ou seja, só existe juro se existir empréstimo, assim, o juro é o “aluguel” do dinheiro, dado pelo poupador ao tomador, intermediado pelos bancos. O problema (ou solução, dependendo do ponto de vista), é que o poupador recebe 1%, o tomador paga 10% e o banco fica com a diferença de 9%, a qual chama singelamente de spread.

Seja no Brasil ou qualquer lugar do mundo, a taxa de juros média, dependerá se existem mais poupadores ou tomadores no mercado.

Vamos ao nosso caso: No Brasil, existem mais tomadores, sendo o Governo um grande cliente, assim, quando ouvimos na televisão sobre SELIC, a mesma não é determinada pelo Governo, o mesmo apenas aponta o quanto (de juro) está sendo praticado no mercado interbancário. E o que é este mercado interbancário? Diariamente, os bancos são obrigados (pelo BACEN) a fechar suas posições zeradas (para frear a alavancagem), assim, uns emprestam aos outros todo santo dia. Tudo bem, a coisa é mais complexa, mas isso aqui é um post e não uma aula de economia...

Segundo, quem ganha e quem perde com o juro alto? Se a taxa de juros é um mau negócio para a maioria que vive da produção (empresários e trabalhadores), por outro lado, ela é um excelente negócio para aqueles que vivem da especulação. O aumento da taxa de juros se traduz em transferir riquezas dos que produzem para os que atuam nos mercados financeiros.

Esta defesa do aumento da taxa de juros, se a mesma acaba não se realizando (nos percentuais que a especulação sonha), acaba ao menos, dando para realizar alguns trocados, seja numa arbitragem de câmbio ou movimento de bolsa de valores, após uma notícia especulativa ou diria até mesmo terrorista.

Qual seria o estágio final de uma expansão (a qual o aumento do juro tentaria frear)? Uma retração! Nada é mais certo, que ao fim de um período de expansão, haverá uma contração na economia, sempre foi assim, não?

Quase concluindo com as palavras de Keynes em TGEJM (p.250): “(...) a elevação da taxa de juros como antídoto para a situação (...) pertence à categoria dos remédios que curam a doença matando o paciente.”

Desta forma, se o perigo é o pico, ou o boom, deve-se tentar manter a economia (a produção, o consumo e tudo que orbita na mesma) numa situação de “quasi-boom” (p.249). Sei que seu carro pode chegar a 200km/h, mas se basta 120km/h para concluir a viagem, por que fundir o motor? Ou como diriam alguns banqueiros na crise mexicana de 95: “Não é a velocidade que mata, mas sim a freada brusca.”

Mas como não aumentar o juro, se como dito, ele obedece à lei da oferta e procura (uma lei tão poderosa quanto à gravidade) e o Governo talvez seja o maior responsável pelo lado da procura? Quase que austriacamente (ave Hayek e Von Mises!) seria óbvio recomendar contenção nos gastos deste e equilibrar suas receitas com suas despesas. Mas aí, quem seria o indutor do multiplicador de trabalho (ave Keynes!), responsável por nosso irrefutável crescimento e inexorável competência em enfrentar a última das crises financeiras mundiais?

Não existe resposta simples. Por fim, o post era apenas para expor a quem (muito) interessa o aumento dos juros...

domingo, 15 de maio de 2011

Terras Raras, O Estado Indutor e uma a aula de economia do Prof. Delfim



Abaixo. Dois “pedaços” de posts recentes: o primeiro explicando o que são as “Terras Raras”, o segundo, uma aula do Prof. Delfim, sobre o porquê e “quando” do estado-indutor em lugar de uma economia de mercado “pura”. Leia os dois e entenda um pouco da boa economia, sem modelos e verdadeiramente aplicada a nossa prática cotidiana. Ah! Quando Delfim escreve “inovação”, fica impossível não pensar em Schumpeter...

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“Se os árabes têm petróleo, a China tem terras raras”. Lendas urbanas creditam essa frase a Deng XiaoPing, líder político chinês entre 1978 e 1992. Fato é que hoje a China domina o mercado mundial dessas “terras raras”, como é chamado o conjunto de 17 elementos químicos, utilizados para aplicação em alta tecnologia, como a dos ímãs que transformam energia elétrica em energia mecânica e em produtos high tech como notebooks, telefones celulares, trens-bala, iPods, fibras óticas e painéis solares.

O mercado dos 17 elementos químicos individualizados é da ordem de 5 bilhões de dólares anuais e, mais que isso, é estratégico. O significado da palavra estratégico ficou muito claro em 2010, quando a China anunciou que imporia cotas de exportação destas terras raras, jogando os preços para o céu (...)” (Fernando Landgraf em 26/04/2011)

“(...) Não importa qual o modelo que organiza nossas economias, o desenvolvimento é basicamente alimentado pelas inovações, e todos devem poder apropriar-se dos benefícios resultantes do seu trabalho. As regras dentro das quais o jogo se realiza são definidas pela Constituição do Estado onde ele ocorre. Elas devem propiciar um ambiente institucionalmente amigável para atender às condições anteriores.

O problema é que, como inúmeros exemplos históricos comprovam, as decisões tomadas pelo setor privado apenas olhando as condições presentes tendem, frequentemente, quando não estimuladas por um Estado-Indutor adequado, a ignorar os benefícios futuros de atividades que não parecem eficientes no curto prazo. Os mercados e seus agentes costumam ser míopes e oportunistas, por conta da própria opacidade do futuro. É claro que as inovações não podem ser antecipadas nem por eles nem pelo Estado-Indutor. Essa incerteza explica por que é difícil para o mercado coordenar com eficácia as decisões de longo prazo.

Um dos exemplos mais marcantes dessa falha, quando o mercado é deixado a si mesmo para escolher o futuro, talvez seja o que aconteceu na questão das terras raras. Há 30 anos, os EUA eram os maiores produtores do mundo, mas não havia mercado para acolher a produção e, logo, estímulos a novos investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Os chineses, usando mão de obra barata, métodos primitivos e incentivos apropriados, aproveitaram a oportunidade.

Aumentaram a sua oferta a preços que eliminaram a produção americana. O mercado revelou sua miopia e oportunismo: transferiu toda a sua demanda para a China! Os chineses aperfeiçoaram a tecnologia da sua produção, organizaram-na e mantiveram seus incentivos. Hoje, representam 97% da oferta mundial. Controlam a sua exportação, reservando-as para uso doméstico, o que lhes dá vantagem competitiva nas tecnologias de última geração (...)” (Delfim Netto, Carta Capital de 21/03/2011)

domingo, 1 de maio de 2011

Abolição

Já havia postado parte deste texto, ano passado, mas com a continuidade do estudo sobre o tema (na verdade, um mosaico sobre o período cafeeiro), enxertei no mesmo, colocações descaradamente marxistas. Irrefutavelmente, quando tentamos analisar desigualdades sociais, não podemos deixar de utilizar a ótica marxista, pois a teoria social de Marx é de grande força, apesar de em outras situações e análises serem extremamente (no mínimo) discutível, como o “valor-trabalho”, por exemplo, base de sua argumentação em relação à “mais-valia”.

A abolição da escravidão no Brasil, em 1888, não foi um evento estanque em si. Começa pelo menos 40 anos antes e quanto ao seu término, prender os negros e açoitá-los, podemos historicamente aceitar como não havendo mais à partir da Lei Áurea, mas a questão da escravidão, tanto social como econômica, deve ser analisada com mais cuidado, ante o que escreveu Rodbertus:

“...quase sempre a fome substitui a chibata, e o que antes era chamado ração dos escravos agora se chama salário.”

Em 1850, cessa o tráfico negreiro no país (oficialmente), quando contáva-mos com uma população de dois milhões de escravos, algo em torno de 25% do total de nossa população, que pelo fim e/ou redução das atividades econômicas no nordeste e em Minas Gerais, deslocava-se para o novo setor dinâmico da economia, as lavouras de café de São Paulo.
Naturalmente, obedecendo a leis econômicas de escassez, oferta e demanda, o preço do escravo sofre acréscimos sucessivos, desta forma, tornando-se irracional seu uso predatório, tão característico e usual, bastando atentar para a expectativa de vida do escravo brasileiro, que no último quarto de século XIX, variava em torno de 19 anos, não de “utilização”, mas de idade.
Obviamente, sem o tráfico legalizado, a reposição contínua da escravaria, morta aos milhares a cada ano não se sustentaria.
O café já era então, o principal produto de exportação na década de 1840, como visto, antes da abolição e até mesmo antes da proibição do tráfico, porém, sendo o momento em que o Rio de Janeiro está deixando de ser o único e grande produtor (até mesmo por conta das características da planta), compartilhando e posteriormente perdendo o posto (com folgas) para São Paulo.
A produção continuava apoiada no trabalho escravo, em 1855 conforme pesquisa, havia 55.834 escravos para 62.226 trabalhadores nas plantações de café, porém com a Lei Eusébio de Queiróz (1850), ao invés de ingressarem da África 30.000 escravos em média por ano, passa há entrar um pouco menos que 10% deste número.
Assim surge o problema: Como encontrar a força de trabalho necessária à rápida expansão das plantações?
O Brasil desde 1850 já adotava um processo gradual de abolição. Após a proibição do tráfico, vem em 1871 a “Lei do ventre livre”, porém, pode-se imaginar a liberdade de que dispunha filhos de escravos nas fazendas dos proprietários de seus pais e em 1884, outra lei declara “homem livre” todo escravo com mais de 60 anos de idade. Conforme já visto na expectativa de vida do mesmo, além do registro de nascimento dos escravos serem deficientes e não confiáveis, quantos realmente seriam beneficiados com tal lei?
Antevendo a inexorável abolição em um futuro próximo, já em 1850 começam as primeiras imigrações, não só por conta da expansão cafeeira, mas, sobretudo porque grande parte da maioria da mão de obra escrava da época, provavelmente estaria morta na data marco da libertação destes, que ocorreria 38 anos depois.
Mas por que esta opção paulista pela imigração como solução para o problema da mão de obra? O trecho da obra de Joaquim Nabuco (O Abolicionismo) ilustra:

“A população do nosso interior foi por mais de três séculos acostumada a considerar o trabalho do campo como próprio de escravos. Saída quase toda das senzalas, ela julga aumentar a distância que a separa daqueles, não fazendo livremente o que eles fazem forçados”

E mais, se antes os capitalistas de então, detinham o fator de produção trabalho, via posse dos escravos, com a “Lei das Terras” de 1850 (vejamos a incrível coincidência, de ser no mesmo ano que cessa o tráfico), proibia o acesso as mesmas aos que não pudessem comprar, assim impedindo o ex-escravo ou o recém chegado imigrante, o acesso legal a uma gleba, ou seja, para o “fim do cativeiro de seres humanos, era tornar cativa a terra” (MARTINS). Marx estudou que o capital necessitava para seu crescimento, separar o trabalho livre das condições objetivas de sua efetivação, ou seja, nesta situação, acima de tudo, separar o trabalhador da terra.
Havia enorme e preconceituosa resistência ao trabalhador livre nacional, visto como preguiçoso, não confiável e o pior: privado de mentalidade burguesa, já que ao se satisfazer com muito pouco, tampouco seria também mercado, afinal passaria a receber salários.
A elite paulista acreditava piamente, que o homem de cor negra, só se submeteria pela força e pelo chicote, assim, como exerceriam controle e manteriam a disciplina usando somente incentivos pecuniários?
Seria necessário um enorme aparato policial ou então milícias particulares, para obrigar os “vadios e vagabundos” a vender sua força de trabalho, contra ameaça de prisão e castigos, mas era um momento em que todo e qualquer capital estava comprometido diretamente com a lavoura cafeeira.

“Um dos pressupostos do trabalho assalariado e uma das condições históricas do capital é o trabalho livre e a troca do trabalho livre por dinheiro, com o objetivo de reproduzir o dinheiro e valorizá-lo...” (MARX)

Após 1870, o governo de São Paulo tomou a seu cargo a responsabilidade da imigração e entre 1887 e 1897 chegou ao Brasil cerca de 1.300.000 imigrantes. Em 1888, quando a escravidão é totalmente abolida, a imigração já era massiva, com grande parte de italianos (65%), que viviam dias difíceis após a Unificação Nacional na Itália. Como colocou Florestan Fernandes:

“Por paradoxal que pareça, motivações econômicas puramente capitalistas originam, assim, de modo recorrente, fortes obstáculos à expansão do capitalismo...”

Desta forma, a abolição gradual, vistas a que o capital imobilizado em escravos não desaparecesse de súbito, não foi suficientemente concomitante com a introdução progressiva do trabalho assalariado, vide o lapso temporal entre o início da primeira e a torrente imigratória. Dentre os dados relativos ao período em questão, temos que em 1850 o Brasil exportou 8,1 (em milhões de libras) e somente em 1890 este valor sobe para 30,0. Rosa Luxemburgo, analisou muito bem a necessidade da transformação de capital monetário em capital produtivo, seja por que caminho for. Para bancar a entrada dos imigrantes, recorreu-se a empréstimos internacionais, tanto como para fomentar as estradas de ferro, assim, o capital acumulado nos “países antigos” encontravam novo campo de ampliação, destarte, o fim da produção capitalista não é o desfrute, mas a realização da ampliação, uma acumulação ao qual Marx chamou de mais-valia. Em 1888 havia ainda cerca de 700 mil escravos no Brasil, “culpados” pelo atraso na passagem ao trabalho assalariado, talvez por conta disto, nossas elites estejam até hoje “cobrando a conta”.

E qual o preço desta fatura? O juro! O capital inglês entrava no Brasil bancando, seguiam-se exportações, para pagamento das mesmas, porém, com a entrada de recursos provenientes das exportações, não aliviava-se o serviço da dívida e sim ampliavam-se as importações. Tugan Baranowski apontou que em 1825, os países da América do Sul, compraram o dobro do que em 1821. De onde veio o dinheiro? Os recursos vieram da banca internacional de Londres, sejam bancos, ou operações de mercado futuro na Bolsa de Londres (no nosso caso, o café). No fim, os empréstimos acabavam pagando a importação das mercadorias, num ciclo que quando chega em sua parte mais baixa, chamamos de crise. E sabemos, que mais dia, menos dia, a corda arrebentará sempre no seu lado mais frágil.

Referências:

BOHM-BAWERK, Eugen Von. A teoria da exploração do socialismo-comunismo (cópia) .

CARDOSO, Adalberto. Escravidão e sociabilidade capitalista. Acesso: http://novosestudos.uol.com.br/acervo/acervo_artigo.asp?idMateria=132

FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Global Editora, 2008.

MARTINS, José de Souza. O Cativeiro da terra. São Paulo: C. Humanas, 1979.

MARX,Karl. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. São Paulo: Paz e Terra, 1986.

NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.

SCHWARTZ, Stuart. A América Latina na época colonial (cópia).

SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Férias chegando

Sempre, ou melhor, desde que me entendo por gente, gosto de histórias em quadrinhos, cartuns e semelhantes. Tendo inclusive, uma vasta seleção, com antigos Fradins, Balão, Luis Gê, a imprensa nanica dos anos 80, Mosca, Roleta, Ovelha Negra, um velho Pasquim que publicou um desenho meu (eu tinha que contar!), Nicoliélo, livros como Antologia Brasileira de Humor I e II, com vários feras nacionais entre outras raridades. Vivo me prometendo que irei scanear (que palavra) alguma coisa e colocar na internet, mas aí vem o direito autoral e me assombra. Este aí em cima, foi genialmente criado pelo LAERTE, e eu, só pensando nas férias que estão chegando, me sinto voando até mesmo para fora dos limites do retângulo...

* Clica na imagem que ela aumenta

sábado, 26 de março de 2011

Eu grito, porque o instante existe

Às vezes acordo doido para falar um poema,

mas prendo, não faço, calo, engulo.

- mais nada*

Porém, hoje ele saiu,

feito peido que não foi peido

e sim diarréia.

Ah! Pensava que era coisa séria?

Vai pra puta que o pariu!

É somente um grito contra minha miséria.

Depois misturo água com cimento

e bebo um copo cheio.

Sossego minhas vísceras.

Irmão das coisas fugidias”*

Só na próxima lua cheia.


R. Couto (março/2011)


* Trechos do Poema:Motivo (Cecília Meireles)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mercados em Colisão

O livro de Mohamed El-Erian (título do post), tem alguns insights interessantes. Apesar de eventuais discordâncias quanto a teoria econômica (e qual economista não discorda de outro?), o fulano escreve muito bem, misturando boas citações com excelentes metáforas e pelo que já li, foi o primeiro a colocar esta evidência, do choque entre a velha economia, dominada pelos EUA, e pela nova, com a ascensão dos mercados emergentes.

Como ele publicou o livro em janeiro de 2008, sabemos então, que muita água ainda iria ( e vai) rolar.

Um economista, além de uma formação rigorosa na matéria em si, deve também ter domínio da matemática financeira e sobretudo ser street smart, ou seja, terá sabedoria das ruas, pois é a conjugação desses três fatores que irá determinar a perspicácia para distinguir um ruído de um sinal e Mohamed, pelo seu vasto currículo, indo do FMI à administração de carteiras de trilhões de verdinhas (além do fato, de ser um "terceiromundista" no meio dos "homi") ,parece ter predicados de sobra, para escrever o que escreve.

Sobre Keynes

“Keynes lembrava que a economia é um método e não uma doutrina...”

“Como disse Keynes: A dificuldade está não em ter novas idéias, mas em escapar das antigas...”

“A maior parte das economias emergentes está em posição de se tornar keynesiana (...) a natureza sólida dos balanços de pagamentos – historicamente incomum – dá a eles a capacidade de estimular o consumo e investimento internos...”

Comportamento de manada

“...lembra a maneira como as crianças de cinco sete anos jogam futebol: elas tendem a perseguir a bola como se fossem uma manada barulhenta. São, com efeito, totalmente dependentes de dados. Sua abordagem contrasta de modo agudo com o comportamento de crianças mais velhas. Ancorados em melhor compreensão do jogo e com disposição mental mais estratégica, jogadores mais velhos procuram manter posições no campo e confiam mais em deixar que a bola faça também sua parte.”

O déficit americano

“O tamanho do déficit dos Estados Unidos constituiu um sinal claro de desequilíbrio. A disposição de países em desenvolvimento de bancar esse déficit de forma barata tornou-o estável (...) A situação levou u grupo de economias emergentes a se tornar credor dos Estados Unidos...”

A loucura das taxas de juros

“...alcançou tal grau que a curva de resultados se inverteu – as taxas de juros de longo prazo caíram abaixo das de vencimento em curto prazo...”

“A razão era simples. Ao se depararem com inesperada melhora (...) os Bancos Centrais de países em desenvolvimento (...) compraram os instrumentos financeiros de menor risco e maior liquidez possível, ou seja, letras do Tesouro norte-americano...”

“o velho adágio de que existem épocas em que você tem de se preocupar mais com o retorno do seu capital do que com o retorno sobre o seu capital...”

O fim do FMI

“Como as reservas mundiais de moeda estrangeira serão em breve 20 vezes maiores que os recursos do Fundo, os dias em que ele era capaz de ditar regras a países importantes já ficaram para trás...”

De onde vem (parte) (d)o nosso dinheiro?

“...carry trades (que significa pegar emprestado a juros baixos e investir a juros mais altos, ganhando assim um positive carry). Esses negócios predominam em particular no câmbio externo, onde os investidores pegam emprestado as moedas de países com taxas baixas de juros (o Japão por exemplo) e investem em moedas de países com altas taxas de juros...”

Reprimir ou não o consumo?

“Quando a música parar, em termos de liquidez, as coisas vão se complicar. Mas enquanto a música estiver tocando você tem de levantar e dançar...”

Cobiça

“Lembre-se do discurso de Gordon Gekko, personagem (...) no filme Wall Street, de 1987, aos acionistas das Teldar Paper: A questão (...) é que a cobiça – por falta de um termo melhor – é boa. A cobiça está certa (...) A cobiça em todas as suas formas – cobiça pela vida, por dinheiro, por amor, conhecimento – tem marcado o movimento ascendente da humanidade.”

Cisne Negro

“Essa cegueira para ver cisnes negros, resulta de uma tendência universal que prefere descartar a possibilidade de grandes desdobramentos mesmo que eles possam via a ter grandes conseqüências...”

“A tendência humana é procurar refúgio em explicações ex post...”

“O ambiente da economia financeira lembra a medicina medieval (...) que costumava matar mais pacientes do que salvar...”

A década perdida

“O crescimento da região despencou e o comércio encolheu. O nível de pobreza aumentou á medida que vários governos foram forçados a cortar despesas num clima de pânico, que teve impacto desfavorável nos setores sociais...”

Economias emergentes

“Economias emergentes já são contribuição mais importante para o crescimento global (...) ao fornecerem mão-de-obra de baixo custo para a rede global de produção (...) e a maneira pela qual alocam seus ganhos em reservas internacionais impactou as taxas de juros...”

“(...) a caracterização de muitas economias emergentes vai transformá-las de máquinas exportadoras em consumidoras (...) em estímulo dos componentes internos da demanda agregada, além de incentivo ao abandono de taxas de câmbio subestimadas...”

China

“Na primeira década de 2007 o aumento nos gastos do consumidor (em dólar) na China e na Índia, juntas, contribuiu mais para o crescimento do PIB global do que o aumento registrado nos EUA...”

“...quando combinado com Índia e China, o grupo de economias emergentes responde por mais da metade do resultado global...”

O fim da supremacia dos EUA

“Por vários anos, a economia global se parecia com um avião voando com um só motor (...) agora o motor está engasgando. Mas o avião será capaz de manter altitude porque um bom número de motores menores estão entrando em ação...”

Desenvolvimento (in)sustentável ?

“Conforme as economias emergentes mantiverem suas altas taxas de crescimento, se tornarão consumidores maiores de recursos naturais (...) o impacto dessa demanda não será compensado (...) as economias emergentes são usuárias menos eficientes de recursos naturais...”

“(...) grandes aumentos de preços estão coincidindo com grandes colheitas de cereais – situação incomum. A crescente riqueza dos emergentes, está cevando a um maior consumo de carne, com os fornecedores reagindo aumento a produção, o que pressiona o consumo de grãos para alimentar os animais...”

Sistema bancário, para o bem

“O sistema bancário é o centro nervoso do sistema econômico e financeiro. Eu o comparo ao óleo do automóvel. A gente não pensa muito nele. Mas qualquer falha nesse aspecto vai fazer o carro parar (...) e será um risco para seus ocupantes e para os demais veículos se ele parar no meio da estrada...”

Sistema bancário, para o mal

“Foram necessários tomadores de empréstimos tolos, investidores tolos e intermediários espertos, que convenceram os primeiros a pegar emprestado o que não tinham condições de pagar e os últimos, a investir no que não compreendiam.”

Agora, junte a pedras, monte o quebra-cabeça e veja, se são ruídos ou se são sinais...