segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um homem que não se vendeu



Tomei conhecimento do cidadão acima (e artista abaixo), pelo blog do meu confrade e xará Renato Fialho. Ele, o xará, não fez nenhuma introdução ao tema, mas confiante em seus ideais, cliquei no triângulo e assisti embasbacado quase 10 minutos de vídeo. Como definir Eduardo Marinho? É melhor não tentar, pois tenho a sincera convicção que ele não gostaria de ser definido, pois de alguma forma, ele sempre procurou fugir aos padrões e cárceres da vida e defini-lo, seria de alguma forma aprisioná-lo. Mas ao assisti-lo, aumentou um pouco minha tão baixa esperança no ser humano, sim, quer conhecer mais o cidadão? Clica também em seu espaço (fugi da palavras blog ou site) Observar e Absorver me permitindo a conclusão que é o título da postagem: Um homem que não se vendeu.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O Pai Monetarista, a Mãe Liberal e o Filho Rebelde

Vamos ao ponto: A instabilidade financeira é algo inerente à estrutura capitalista. Sem maiores delongas de economês, há um interesse mútuo, de emprestadores e tomadores, gerando uma expansão do crédito, que foge a regulação das centenas de bancos centrais (ou espremem estes a políticas restritivas), por conta das inovações introduzidas (pelos agentes financeiros) justamente com este objetivo (CDB’s, swaps cambiais, derivativos, securitização, etc.), havendo então criação endógena da moeda.
Onde entra esse pai Monetarista então? Monetarismo é a corrente de pensamento que se apóia na chamada Teoria Quantitativa da Moeda, respaldo do mainstream econômico e que conduz a maioria das políticas monetárias, políticas estas, fomentadoras ou sancionadoras de uma ambiente de financeirização, onde o Estado acaba ficando subordinado ao mercado e perdendo autonomia em conhecido conluio com a mãe, neoliberal, que objetiva um Estado cada vez menor, condena o excesso de gastos do mesmo em relação à tributação, que no caso gera endividamento público e segundo eles emissão monetária com conseqüente inflação. Mas se tivermos uma visão crítica, o controle dos gastos privados e subvenção do Estado via taxas de juros não serão responsáveis por queda no crescimento e desemprego, como vemos há anos?
Minsky (o cara! - Um filho rebelde de Smith) afirmava que o sistema financeiro capitalista era um contínuo viver na beira de um penhasco, que bastaria uma leve instabilidade para tudo ir por água abaixo. Ele construiu sua hipótese (muito apropriada) para o caso de uma economia ser aprisionada em excessivo endividamento, onde intermediários financeiros captam a prazo curto e emprestam a prazo longo, assim tendo seu ganho (o spread bancário), porém, a fragilidade surge dessa operação, pois os retornos dos ativos são incertos, enquanto os pagamentos dos passivos contratados são certíssimos.
Desta forma, na economia de endividamento de Misnky, um dos agentes quebrando o contrato (no bom português: dando o calote), levaria a roldão todos os outros interligados a ele. É o que na televisão, os comentaristas econômicos chamam de risco sistêmico.
O assunto é longo, existem alternativas a Teoria Quantitativa, Misnky merece livros e mais livros, eteceteretal, mas como disse Machado de Assis, Deus desgostoso de sua obra, passou a mesma ao diabo pelo custo e o mesmo organizou uma sociedade anônima...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Esboço de Uma Teoria (do Fim ) dos Lucros


Um dos meus professores, certa vez, apresentou a tese de que existem cinco tipos de pessoas, com algumas variações entre os tipos específicos, são estes: O tipo I, que compreende os formuladores de teorias, ou seja, tem algo “novo” a ser dito à sociedade, por exemplo, Keynes, tanto com sua Teoria Geral; o tipo II seria, aproveitando o gancho, a professora Joan Robinson, que apesar de tantos livros, se não me falha, não apresentou nada de original (isso não é um demérito), mas sim “traduziu” brilhantemente as idéias do primeiro. O tipo III são em sua maioria, os professores universitários medianos (para baixo) que ao não conseguirem decifrar o pensamento dos primeiros, recorrem aos segundos e seus livros que “traduzem” os primeiros. O tipo IV são os estudantes em formação, que bóiam solenemente face os primeiros, entendem apenas algo dos segundos e necessita dos terceiros frente um quadro. O tipo V são os que não entendem nada, mas são influenciados imensamente no seu cotidiano pelas idéias (e ideais) dos primeiros, formadores de opinião sobre este último grupo, apenas massa dançando ao vento.

Lembrei disso, ao (re) ler Adrian Wood e seu ótimo “Uma teoria dos Lucros”, que seria do tipo II, “traduzindo” vários (Keynes, Marx, Schumpeter) e acabei voltando à fonte Schumpeter. Na fonte destes dois (Adrian e Schumpeter) bebi para rabiscar abaixo, também contando com uma ajuda luxuosa do pároco Malthus e seu conhecido pessimismo.

Se temos no conjunto de empresas da sociedade, o somatório de empresas individuais, é o somatório de crescimento destas, que representará o crescimento do PIB. Assim é imperioso, que a maioria das empresas da sociedade, apresente não só lucro, mas que o mesmo seja reinvestido na própria empresa.

O lucro de qualquer empresa apresenta-se como resultado entre os valores recebidos subtraído dos valores pagos, dizendo de melhor forma, entre sua Receita e seu Custo:

L = R – C

Como a maioria da empresas não sobrevive sem investimento e sendo os bancos, a principal fonte de intermediação entre os poupadores e tomadores, temos os bancos, como as principais fontes de capital para as empresas. Em suas obras, Schumpeter considera a importância do crédito para o crescimento da economia. E de quem vem à maioria do crédito? Se não dos bancos?

Mas vamos voltar à simplória fórmula acima, agora colocando números:

R = 100,00; C= 90,00, então se R – C = L, temos: 100,00 – 90,00 = 10,00

Ou seja, se temos um custo (mensal, por exemplo) de 90 e a empresa consegue vender seus produtos totalizando 100, tem um Lucro de 10. Vamos colocar que a tx bancária de empréstimos seja de 5%, para uma tx de 1% de remuneração aos aplicadores, assim, uma margem para empresa de 10% seria bem satisfatória. Os números me parecem bem próximos de nossa realidade.

Como o custo 90,00 foi financiado via crédito, ao fim do primeiro período, teríamos que do Lucro de 10,00, ter separado 45% do lucro (4,50) somente para pagar o juro, sem mexer com o principal do empréstimo, assim, restaria de Lucro ao empresário:

10 – 4,5 = 5,5

Para qualquer empresa crescer, é necessário que reinvista parte de seu lucro na própria empresa, assim, o primeiro passo é num crescente ir além de pagar o juro, também amortizar o principal, então nesse primeiro período além do juro, seria pago 1,00 do principal, no período seguinte, o lucro de 10,00, corresponderia ao mesmo custo de 90,00, porém somente 89,00 via crédito.

Porém se os bancos estão tendo lucros cada vez maiores, é bom ou ruim? Dado que os bancos também fazem parte do conjunto de empresas, precisam ter lucro para realimentar o sistema, mas seu excesso seria nocivo, já que poderia concluir que as empresas (e as pessoas físicas, como “empresas” individuais) estão pagando cada vez mais juros sobre o crédito conseguido?

Que os bancos realizam lucros cada vez maiores é fato noticiado (e cobrado pelos acionistas), como saber em relação à demanda de crédito? Pois se a demanda de crédito representar que 51% para cima das empresas, estão demandando cada vez mais sem amortizar nada do principal, este número levará inexoravelmente ao rompimento de uma bolha de crédito!

É claro que este é um raciocínio simplista, um modelo, como os economistas gostam de falar, pois não envolve percentual de inadimplência, nem relações de câmbio.

O BACEN (http://www.bcb.gov.br/?indeco) acompanha este crescimento, ao calcular o “multiplicador” (aqui voltamos a Keynes), que é a capacidade que os bancos têm de ampliar a base monetária (já falei do assunto no post "A Fantástica Fábrica de Ganhar Dinheiro") e o mesmo vem se mantendo estável, saindo de 1,25 de janeiro/2011 para 1,26 em agosto/2011. Porém e a inadimplência? Ela reflete imediatamente na não capacidade de honrar não somente o juro, mas também o principal das operações e os números não são bons. Cresceu 22% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado e no site do BACEN temos que também subiu entre janeiro e julho, apesar da manutenção do multiplicador.

Temos ruídos ou sinais?

*Desenho: Caeto

domingo, 28 de agosto de 2011

Um dia em 5 atos

Um (ao ler os jornais pela manhã)

Em dias de tormenta
a poesia
me alimenta.

Dois (ao embarcar no metrô pela manhã)

Não uso walkman
ou seus descendentesmodernos
Tampouco uso óculos escuros,
olhos as pessoas nos olhos
querendo escutar o que elas tem a me dizer.

Três (no trabalho)

Realizo,
generoso que sou com minha mais-valia.

Quatro (ao ir embora)

Sonho acordado
com minha particular Passárgada.

Cinco (à noite)

Escuto,
e vejo.
Se falo? Sempre rijo.


R. Couto

*Desenho de Gérard DuBois

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Poesia depois dos 40

Poesia depois dos 40

Depois dos quarenta,
quase cinquenta;
Aprendi que na vida,
o bilhete é só de ida.
E não adianta ilusão:
- Não haverá gavetas
em nosso caixão.
Hoje me consola,
tanto perdoar
como pedir perdão.
Pego os meninos pela mão
(que dá uma boa rima)
e ensino o inútil da vida.
Ah! Como tenho saudades,
dos dias em que fui invencível.

R. Couto (01/08/2011)

domingo, 17 de julho de 2011

Uma Fábula sem Moral

Em certa vida natural, muito parecida com a nossa, tão parecida, que por não saber o nome das espécies que lá habitam, utilizarei a nossa como referência. Existem três espécies de animais, uma delas, extremamente predatória, que poderíamos comparar a um tubarão com asas, mesmo desnecessários adjetivos, repetiria: faminto, feroz, complexa e perfeita máquina de matar. Outra espécie, assemelhada ao dócil coelhinho, também vive por lá, de fácil reprodução, naturalmente presa fácil e parte da cadeia alimentar da primeira. A terceira espécie, em nada deve ao nosso homo-sapiens, tanto em inteligência como em burrice. Raras vezes inteligente, raras vezes consegue enfrentar e sobreviver ao ataque da primeira. Também devora a segunda, porém, não devia, pois é uma dieta que via de regra lhe leva a morte por indigestão, assim como também faz parte da cadeia alimentar do primeiro, sendo o prato principal, com o bom coelhinho sendo um mero antepasto.

Porém, o forte também tinha seu ponto fraco: a reprodução. A mesma ferocidade em devorar também tinha em copular, desta feita, rapidamente tinha-se uma enorme população de tubarões voadores, população esta que rapidamente dizimou todos os que faziam parte de sua cadeia alimentar, ou pelo menos, grande parte.

Vendo-se sem comida, a espécie com grande senso de sobrevivência, acabou no canibalismo, se alimentando uns dos outros.

Mas alguns homens e coelhinhos haviam sobrevivido e quando os tubarões voadores não mais espreitavam em cada canto, em virtude da seleção natural que havia sido implantada pelo canibalismo, estes voltaram aos poucos, ao convívio da vida em comum e retomaram o ciclo natural.

Sagaz leitor substitua homem por trabalho, coelho por ignorância e tubarão por capital. O tempo do verbo, a sintaxe e a correta aplicação gramatical deixo ao seu encargo, a mim já me basta uma fábula sem moral, que passou há existir muito tempo depois de Esopo.

Os desenhos, mais que luxuosos, são do MESTRE Luiz Gê, feitos
por ocasião do disco "Tubarões Voadores" de Arrigo Barnabé.


domingo, 10 de julho de 2011

Algo sobre Monopólios e Crises

Em recente postagem do Professor Toni, na qual ele encerrava com quatro perguntas, comentei algo (um pouco) do que escrevo abaixo, sobre a dicotomia entre monopólios e livre concorrência. Engrossei um pouco o caldo e faço minha própria postagem. Vamos lá:

Com quem (ou o que) se preocupa o capitalismo? Seria com os consumidores (da primeira pergunta)? Com os trabalhadores (da segunda)? Com o equilíbrio do mercado (da terceira)? Com o dinheiro público (da quarta)? Respondo, com auxílio luxuoso do “Mouro”, que observou ser a passagem do capitalismo competitivo ao monopólio (na verdade ele anteviu, já que em sua época não havia este) apenas uma forma do sistema retornar ao seu equilíbrio (dele, sistema – ou seja, apesar da “forma”, o sistema é o mesmo, seja livre concorrência ou monopólio), perdido em eventual crise, isto é, do modo pelo qual se livra do excesso de capital, existente. Sim! Neste caso excesso atrapalha e sempre haverá uma nova forma de se estabelecer um novo ciclo de valorização deste (capital).

Em resumo, as crises também acabam sempre levando o sistema a criação de monopólios!

As crises sistêmicas não são uma “falha” de mercado e sim é o modo pelo qual o mercado funciona. Este brilhante insight é de Schumpeter, que junto com Keynes, completa minha santíssima trindade.

Quando se torna insuficiente a poupança gerada pelo fluxo circular da economia, há a necessidade irrefutável de se recorrer ao crédito para fornecimento dos recursos demandados pelo empresário (na abordagem de Schumpeter, o “empreendedor”), via capitalista, via de regra, os bancos, porém, a maximização irrestrita dos lucros (possíveis ou não – por que não dizer ganância?) via alavancagem irresponsável, acaba sempre criando um monstro, ao qual damos o nome de crise. Nenhuma expansão de crédito dura para sempre, certamente diria Minsky.

Marx também tem sua abordagem quando coloca que a própria competição, vai levar a destruição dos mais fracos em favor dos mais fortes, assim criando naturalmente uma situação monopolística.

Por quê? Por conta da fragilidade da alavancagem! Se uma empresa com capital de 10 milhões toma emprestado 1 milhão, não para capital de giro (pois o valor seria elevado), mas para investimento, porém, a mesma não consegue determinado retorno que pague este 1 milhão adicional, tendo um prejuízo de 10% sobre seu capital (por causa de uma recessão, por exemplo), a empresa estará perdendo 20% do seu capital (1 milhão de prejuízo + 1 milhão que não conseguiu “realizar”). Se a empresa, para piorar a situação, fizer “apostas” erradas no mercado financeiro (como a Sadia, por exemplo), acaba quebrando e sendo absorvida pela concorrente.

Olhando para o Brasil atual, temos cerca de 70% do consumo concentrado em 10 empresas “gigantes”, quando até mesmo O Globo não consegue mascarar, via a reportagem de hoje, no seu caderno de economia (infelizmente menos lido que o da TV – clique no link).

Temos (eles e não nós): AmBev, BRF-Brasil Foods, Coca-Cola, Hypermarcas, JBS, Kimberly-Clark, Nestlé, Procter&Gamble, Reckitt Benckiser e Unilever.

Não reconhece os nomes? Que tal estes: Omo, Kibon, Seda, Lux, Hellmann's, Arisco e Knorr, algumas “marcas” somente da Unilever, presente em 86% dos lares tupiniquins. Que tal Sadia, Perdigão e Resende, marcas da BRF-Brasil Foods, responsáveis por 90% do salame e outros quitutes que nos entram goela abaixo, conhece?

No meio acadêmico, onde a teoria da livre concorrência ou concorrência perfeita, na qual se baseia os economistas clássicos, é ótima para introduzir o aluno na matéria, mas não corresponde ao mundo real, em decorrência do irrealismo de suas hipóteses (paro por aqui para não me alongar mais no economês), porém, o ideal é o inimigo do bom e o monopólio (em teoria) é a visão do inferno para um mercado livre (para quem não o tem, maioria), sendo que ninguém em sã consciência acredita que ele possa ser corrigido ou controlado pelo governo, senão, obviamente não haveria o monopólio, pois bastaria ao governo somente encorajar a competição e o próprio governo abster-se de criar seus próprios.

Como vemos, ainda existe muita garrafa para ser vendida...