quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Esboço de Uma Teoria (do Fim ) dos Lucros


Um dos meus professores, certa vez, apresentou a tese de que existem cinco tipos de pessoas, com algumas variações entre os tipos específicos, são estes: O tipo I, que compreende os formuladores de teorias, ou seja, tem algo “novo” a ser dito à sociedade, por exemplo, Keynes, tanto com sua Teoria Geral; o tipo II seria, aproveitando o gancho, a professora Joan Robinson, que apesar de tantos livros, se não me falha, não apresentou nada de original (isso não é um demérito), mas sim “traduziu” brilhantemente as idéias do primeiro. O tipo III são em sua maioria, os professores universitários medianos (para baixo) que ao não conseguirem decifrar o pensamento dos primeiros, recorrem aos segundos e seus livros que “traduzem” os primeiros. O tipo IV são os estudantes em formação, que bóiam solenemente face os primeiros, entendem apenas algo dos segundos e necessita dos terceiros frente um quadro. O tipo V são os que não entendem nada, mas são influenciados imensamente no seu cotidiano pelas idéias (e ideais) dos primeiros, formadores de opinião sobre este último grupo, apenas massa dançando ao vento.

Lembrei disso, ao (re) ler Adrian Wood e seu ótimo “Uma teoria dos Lucros”, que seria do tipo II, “traduzindo” vários (Keynes, Marx, Schumpeter) e acabei voltando à fonte Schumpeter. Na fonte destes dois (Adrian e Schumpeter) bebi para rabiscar abaixo, também contando com uma ajuda luxuosa do pároco Malthus e seu conhecido pessimismo.

Se temos no conjunto de empresas da sociedade, o somatório de empresas individuais, é o somatório de crescimento destas, que representará o crescimento do PIB. Assim é imperioso, que a maioria das empresas da sociedade, apresente não só lucro, mas que o mesmo seja reinvestido na própria empresa.

O lucro de qualquer empresa apresenta-se como resultado entre os valores recebidos subtraído dos valores pagos, dizendo de melhor forma, entre sua Receita e seu Custo:

L = R – C

Como a maioria da empresas não sobrevive sem investimento e sendo os bancos, a principal fonte de intermediação entre os poupadores e tomadores, temos os bancos, como as principais fontes de capital para as empresas. Em suas obras, Schumpeter considera a importância do crédito para o crescimento da economia. E de quem vem à maioria do crédito? Se não dos bancos?

Mas vamos voltar à simplória fórmula acima, agora colocando números:

R = 100,00; C= 90,00, então se R – C = L, temos: 100,00 – 90,00 = 10,00

Ou seja, se temos um custo (mensal, por exemplo) de 90 e a empresa consegue vender seus produtos totalizando 100, tem um Lucro de 10. Vamos colocar que a tx bancária de empréstimos seja de 5%, para uma tx de 1% de remuneração aos aplicadores, assim, uma margem para empresa de 10% seria bem satisfatória. Os números me parecem bem próximos de nossa realidade.

Como o custo 90,00 foi financiado via crédito, ao fim do primeiro período, teríamos que do Lucro de 10,00, ter separado 45% do lucro (4,50) somente para pagar o juro, sem mexer com o principal do empréstimo, assim, restaria de Lucro ao empresário:

10 – 4,5 = 5,5

Para qualquer empresa crescer, é necessário que reinvista parte de seu lucro na própria empresa, assim, o primeiro passo é num crescente ir além de pagar o juro, também amortizar o principal, então nesse primeiro período além do juro, seria pago 1,00 do principal, no período seguinte, o lucro de 10,00, corresponderia ao mesmo custo de 90,00, porém somente 89,00 via crédito.

Porém se os bancos estão tendo lucros cada vez maiores, é bom ou ruim? Dado que os bancos também fazem parte do conjunto de empresas, precisam ter lucro para realimentar o sistema, mas seu excesso seria nocivo, já que poderia concluir que as empresas (e as pessoas físicas, como “empresas” individuais) estão pagando cada vez mais juros sobre o crédito conseguido?

Que os bancos realizam lucros cada vez maiores é fato noticiado (e cobrado pelos acionistas), como saber em relação à demanda de crédito? Pois se a demanda de crédito representar que 51% para cima das empresas, estão demandando cada vez mais sem amortizar nada do principal, este número levará inexoravelmente ao rompimento de uma bolha de crédito!

É claro que este é um raciocínio simplista, um modelo, como os economistas gostam de falar, pois não envolve percentual de inadimplência, nem relações de câmbio.

O BACEN (http://www.bcb.gov.br/?indeco) acompanha este crescimento, ao calcular o “multiplicador” (aqui voltamos a Keynes), que é a capacidade que os bancos têm de ampliar a base monetária (já falei do assunto no post "A Fantástica Fábrica de Ganhar Dinheiro") e o mesmo vem se mantendo estável, saindo de 1,25 de janeiro/2011 para 1,26 em agosto/2011. Porém e a inadimplência? Ela reflete imediatamente na não capacidade de honrar não somente o juro, mas também o principal das operações e os números não são bons. Cresceu 22% no primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado e no site do BACEN temos que também subiu entre janeiro e julho, apesar da manutenção do multiplicador.

Temos ruídos ou sinais?

*Desenho: Caeto

2 comentários:

Frederico Matias Bacic disse...

Olá Renato!
Ótimo post!
Sempre achei que deveria existir apenas um banco estatal com a finalidade de gerar crédito para a população e empresas a uma baixa taxa de juros. Pelo menos assim acho que estaríamos menos expostos a crises.
Mas enfim,parabéns pelo texto! Seu blog sempre é uma boa fonte de inspiração.
Abraços

há palavra disse...

Renato primo e amigo,

como já notou a Fayga Ostrower, todo campo de conhecimento/saber, e não apenas a arte, convida à criatividade... Interessante a teoria dos cinco tipos, já li algo semelhante aplicado à criação artística, só que em três "níveis": criadores, divulgadores e diluidores...

Abraços, bons caminhos... criativos!