domingo, 1 de maio de 2011

Abolição

Já havia postado parte deste texto, ano passado, mas com a continuidade do estudo sobre o tema (na verdade, um mosaico sobre o período cafeeiro), enxertei no mesmo, colocações descaradamente marxistas. Irrefutavelmente, quando tentamos analisar desigualdades sociais, não podemos deixar de utilizar a ótica marxista, pois a teoria social de Marx é de grande força, apesar de em outras situações e análises serem extremamente (no mínimo) discutível, como o “valor-trabalho”, por exemplo, base de sua argumentação em relação à “mais-valia”.

A abolição da escravidão no Brasil, em 1888, não foi um evento estanque em si. Começa pelo menos 40 anos antes e quanto ao seu término, prender os negros e açoitá-los, podemos historicamente aceitar como não havendo mais à partir da Lei Áurea, mas a questão da escravidão, tanto social como econômica, deve ser analisada com mais cuidado, ante o que escreveu Rodbertus:

“...quase sempre a fome substitui a chibata, e o que antes era chamado ração dos escravos agora se chama salário.”

Em 1850, cessa o tráfico negreiro no país (oficialmente), quando contáva-mos com uma população de dois milhões de escravos, algo em torno de 25% do total de nossa população, que pelo fim e/ou redução das atividades econômicas no nordeste e em Minas Gerais, deslocava-se para o novo setor dinâmico da economia, as lavouras de café de São Paulo.
Naturalmente, obedecendo a leis econômicas de escassez, oferta e demanda, o preço do escravo sofre acréscimos sucessivos, desta forma, tornando-se irracional seu uso predatório, tão característico e usual, bastando atentar para a expectativa de vida do escravo brasileiro, que no último quarto de século XIX, variava em torno de 19 anos, não de “utilização”, mas de idade.
Obviamente, sem o tráfico legalizado, a reposição contínua da escravaria, morta aos milhares a cada ano não se sustentaria.
O café já era então, o principal produto de exportação na década de 1840, como visto, antes da abolição e até mesmo antes da proibição do tráfico, porém, sendo o momento em que o Rio de Janeiro está deixando de ser o único e grande produtor (até mesmo por conta das características da planta), compartilhando e posteriormente perdendo o posto (com folgas) para São Paulo.
A produção continuava apoiada no trabalho escravo, em 1855 conforme pesquisa, havia 55.834 escravos para 62.226 trabalhadores nas plantações de café, porém com a Lei Eusébio de Queiróz (1850), ao invés de ingressarem da África 30.000 escravos em média por ano, passa há entrar um pouco menos que 10% deste número.
Assim surge o problema: Como encontrar a força de trabalho necessária à rápida expansão das plantações?
O Brasil desde 1850 já adotava um processo gradual de abolição. Após a proibição do tráfico, vem em 1871 a “Lei do ventre livre”, porém, pode-se imaginar a liberdade de que dispunha filhos de escravos nas fazendas dos proprietários de seus pais e em 1884, outra lei declara “homem livre” todo escravo com mais de 60 anos de idade. Conforme já visto na expectativa de vida do mesmo, além do registro de nascimento dos escravos serem deficientes e não confiáveis, quantos realmente seriam beneficiados com tal lei?
Antevendo a inexorável abolição em um futuro próximo, já em 1850 começam as primeiras imigrações, não só por conta da expansão cafeeira, mas, sobretudo porque grande parte da maioria da mão de obra escrava da época, provavelmente estaria morta na data marco da libertação destes, que ocorreria 38 anos depois.
Mas por que esta opção paulista pela imigração como solução para o problema da mão de obra? O trecho da obra de Joaquim Nabuco (O Abolicionismo) ilustra:

“A população do nosso interior foi por mais de três séculos acostumada a considerar o trabalho do campo como próprio de escravos. Saída quase toda das senzalas, ela julga aumentar a distância que a separa daqueles, não fazendo livremente o que eles fazem forçados”

E mais, se antes os capitalistas de então, detinham o fator de produção trabalho, via posse dos escravos, com a “Lei das Terras” de 1850 (vejamos a incrível coincidência, de ser no mesmo ano que cessa o tráfico), proibia o acesso as mesmas aos que não pudessem comprar, assim impedindo o ex-escravo ou o recém chegado imigrante, o acesso legal a uma gleba, ou seja, para o “fim do cativeiro de seres humanos, era tornar cativa a terra” (MARTINS). Marx estudou que o capital necessitava para seu crescimento, separar o trabalho livre das condições objetivas de sua efetivação, ou seja, nesta situação, acima de tudo, separar o trabalhador da terra.
Havia enorme e preconceituosa resistência ao trabalhador livre nacional, visto como preguiçoso, não confiável e o pior: privado de mentalidade burguesa, já que ao se satisfazer com muito pouco, tampouco seria também mercado, afinal passaria a receber salários.
A elite paulista acreditava piamente, que o homem de cor negra, só se submeteria pela força e pelo chicote, assim, como exerceriam controle e manteriam a disciplina usando somente incentivos pecuniários?
Seria necessário um enorme aparato policial ou então milícias particulares, para obrigar os “vadios e vagabundos” a vender sua força de trabalho, contra ameaça de prisão e castigos, mas era um momento em que todo e qualquer capital estava comprometido diretamente com a lavoura cafeeira.

“Um dos pressupostos do trabalho assalariado e uma das condições históricas do capital é o trabalho livre e a troca do trabalho livre por dinheiro, com o objetivo de reproduzir o dinheiro e valorizá-lo...” (MARX)

Após 1870, o governo de São Paulo tomou a seu cargo a responsabilidade da imigração e entre 1887 e 1897 chegou ao Brasil cerca de 1.300.000 imigrantes. Em 1888, quando a escravidão é totalmente abolida, a imigração já era massiva, com grande parte de italianos (65%), que viviam dias difíceis após a Unificação Nacional na Itália. Como colocou Florestan Fernandes:

“Por paradoxal que pareça, motivações econômicas puramente capitalistas originam, assim, de modo recorrente, fortes obstáculos à expansão do capitalismo...”

Desta forma, a abolição gradual, vistas a que o capital imobilizado em escravos não desaparecesse de súbito, não foi suficientemente concomitante com a introdução progressiva do trabalho assalariado, vide o lapso temporal entre o início da primeira e a torrente imigratória. Dentre os dados relativos ao período em questão, temos que em 1850 o Brasil exportou 8,1 (em milhões de libras) e somente em 1890 este valor sobe para 30,0. Rosa Luxemburgo, analisou muito bem a necessidade da transformação de capital monetário em capital produtivo, seja por que caminho for. Para bancar a entrada dos imigrantes, recorreu-se a empréstimos internacionais, tanto como para fomentar as estradas de ferro, assim, o capital acumulado nos “países antigos” encontravam novo campo de ampliação, destarte, o fim da produção capitalista não é o desfrute, mas a realização da ampliação, uma acumulação ao qual Marx chamou de mais-valia. Em 1888 havia ainda cerca de 700 mil escravos no Brasil, “culpados” pelo atraso na passagem ao trabalho assalariado, talvez por conta disto, nossas elites estejam até hoje “cobrando a conta”.

E qual o preço desta fatura? O juro! O capital inglês entrava no Brasil bancando, seguiam-se exportações, para pagamento das mesmas, porém, com a entrada de recursos provenientes das exportações, não aliviava-se o serviço da dívida e sim ampliavam-se as importações. Tugan Baranowski apontou que em 1825, os países da América do Sul, compraram o dobro do que em 1821. De onde veio o dinheiro? Os recursos vieram da banca internacional de Londres, sejam bancos, ou operações de mercado futuro na Bolsa de Londres (no nosso caso, o café). No fim, os empréstimos acabavam pagando a importação das mercadorias, num ciclo que quando chega em sua parte mais baixa, chamamos de crise. E sabemos, que mais dia, menos dia, a corda arrebentará sempre no seu lado mais frágil.

Referências:

BOHM-BAWERK, Eugen Von. A teoria da exploração do socialismo-comunismo (cópia) .

CARDOSO, Adalberto. Escravidão e sociabilidade capitalista. Acesso: http://novosestudos.uol.com.br/acervo/acervo_artigo.asp?idMateria=132

FERNANDES, Florestan. Sociedade de classes e subdesenvolvimento. São Paulo: Global Editora, 2008.

MARTINS, José de Souza. O Cativeiro da terra. São Paulo: C. Humanas, 1979.

MARX,Karl. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. São Paulo: Paz e Terra, 1986.

NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.

SCHWARTZ, Stuart. A América Latina na época colonial (cópia).

SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1976.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Férias chegando

Sempre, ou melhor, desde que me entendo por gente, gosto de histórias em quadrinhos, cartuns e semelhantes. Tendo inclusive, uma vasta seleção, com antigos Fradins, Balão, Luis Gê, a imprensa nanica dos anos 80, Mosca, Roleta, Ovelha Negra, um velho Pasquim que publicou um desenho meu (eu tinha que contar!), Nicoliélo, livros como Antologia Brasileira de Humor I e II, com vários feras nacionais entre outras raridades. Vivo me prometendo que irei scanear (que palavra) alguma coisa e colocar na internet, mas aí vem o direito autoral e me assombra. Este aí em cima, foi genialmente criado pelo LAERTE, e eu, só pensando nas férias que estão chegando, me sinto voando até mesmo para fora dos limites do retângulo...

* Clica na imagem que ela aumenta

sábado, 26 de março de 2011

Eu grito, porque o instante existe

Às vezes acordo doido para falar um poema,

mas prendo, não faço, calo, engulo.

- mais nada*

Porém, hoje ele saiu,

feito peido que não foi peido

e sim diarréia.

Ah! Pensava que era coisa séria?

Vai pra puta que o pariu!

É somente um grito contra minha miséria.

Depois misturo água com cimento

e bebo um copo cheio.

Sossego minhas vísceras.

Irmão das coisas fugidias”*

Só na próxima lua cheia.


R. Couto (março/2011)


* Trechos do Poema:Motivo (Cecília Meireles)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mercados em Colisão

O livro de Mohamed El-Erian (título do post), tem alguns insights interessantes. Apesar de eventuais discordâncias quanto a teoria econômica (e qual economista não discorda de outro?), o fulano escreve muito bem, misturando boas citações com excelentes metáforas e pelo que já li, foi o primeiro a colocar esta evidência, do choque entre a velha economia, dominada pelos EUA, e pela nova, com a ascensão dos mercados emergentes.

Como ele publicou o livro em janeiro de 2008, sabemos então, que muita água ainda iria ( e vai) rolar.

Um economista, além de uma formação rigorosa na matéria em si, deve também ter domínio da matemática financeira e sobretudo ser street smart, ou seja, terá sabedoria das ruas, pois é a conjugação desses três fatores que irá determinar a perspicácia para distinguir um ruído de um sinal e Mohamed, pelo seu vasto currículo, indo do FMI à administração de carteiras de trilhões de verdinhas (além do fato, de ser um "terceiromundista" no meio dos "homi") ,parece ter predicados de sobra, para escrever o que escreve.

Sobre Keynes

“Keynes lembrava que a economia é um método e não uma doutrina...”

“Como disse Keynes: A dificuldade está não em ter novas idéias, mas em escapar das antigas...”

“A maior parte das economias emergentes está em posição de se tornar keynesiana (...) a natureza sólida dos balanços de pagamentos – historicamente incomum – dá a eles a capacidade de estimular o consumo e investimento internos...”

Comportamento de manada

“...lembra a maneira como as crianças de cinco sete anos jogam futebol: elas tendem a perseguir a bola como se fossem uma manada barulhenta. São, com efeito, totalmente dependentes de dados. Sua abordagem contrasta de modo agudo com o comportamento de crianças mais velhas. Ancorados em melhor compreensão do jogo e com disposição mental mais estratégica, jogadores mais velhos procuram manter posições no campo e confiam mais em deixar que a bola faça também sua parte.”

O déficit americano

“O tamanho do déficit dos Estados Unidos constituiu um sinal claro de desequilíbrio. A disposição de países em desenvolvimento de bancar esse déficit de forma barata tornou-o estável (...) A situação levou u grupo de economias emergentes a se tornar credor dos Estados Unidos...”

A loucura das taxas de juros

“...alcançou tal grau que a curva de resultados se inverteu – as taxas de juros de longo prazo caíram abaixo das de vencimento em curto prazo...”

“A razão era simples. Ao se depararem com inesperada melhora (...) os Bancos Centrais de países em desenvolvimento (...) compraram os instrumentos financeiros de menor risco e maior liquidez possível, ou seja, letras do Tesouro norte-americano...”

“o velho adágio de que existem épocas em que você tem de se preocupar mais com o retorno do seu capital do que com o retorno sobre o seu capital...”

O fim do FMI

“Como as reservas mundiais de moeda estrangeira serão em breve 20 vezes maiores que os recursos do Fundo, os dias em que ele era capaz de ditar regras a países importantes já ficaram para trás...”

De onde vem (parte) (d)o nosso dinheiro?

“...carry trades (que significa pegar emprestado a juros baixos e investir a juros mais altos, ganhando assim um positive carry). Esses negócios predominam em particular no câmbio externo, onde os investidores pegam emprestado as moedas de países com taxas baixas de juros (o Japão por exemplo) e investem em moedas de países com altas taxas de juros...”

Reprimir ou não o consumo?

“Quando a música parar, em termos de liquidez, as coisas vão se complicar. Mas enquanto a música estiver tocando você tem de levantar e dançar...”

Cobiça

“Lembre-se do discurso de Gordon Gekko, personagem (...) no filme Wall Street, de 1987, aos acionistas das Teldar Paper: A questão (...) é que a cobiça – por falta de um termo melhor – é boa. A cobiça está certa (...) A cobiça em todas as suas formas – cobiça pela vida, por dinheiro, por amor, conhecimento – tem marcado o movimento ascendente da humanidade.”

Cisne Negro

“Essa cegueira para ver cisnes negros, resulta de uma tendência universal que prefere descartar a possibilidade de grandes desdobramentos mesmo que eles possam via a ter grandes conseqüências...”

“A tendência humana é procurar refúgio em explicações ex post...”

“O ambiente da economia financeira lembra a medicina medieval (...) que costumava matar mais pacientes do que salvar...”

A década perdida

“O crescimento da região despencou e o comércio encolheu. O nível de pobreza aumentou á medida que vários governos foram forçados a cortar despesas num clima de pânico, que teve impacto desfavorável nos setores sociais...”

Economias emergentes

“Economias emergentes já são contribuição mais importante para o crescimento global (...) ao fornecerem mão-de-obra de baixo custo para a rede global de produção (...) e a maneira pela qual alocam seus ganhos em reservas internacionais impactou as taxas de juros...”

“(...) a caracterização de muitas economias emergentes vai transformá-las de máquinas exportadoras em consumidoras (...) em estímulo dos componentes internos da demanda agregada, além de incentivo ao abandono de taxas de câmbio subestimadas...”

China

“Na primeira década de 2007 o aumento nos gastos do consumidor (em dólar) na China e na Índia, juntas, contribuiu mais para o crescimento do PIB global do que o aumento registrado nos EUA...”

“...quando combinado com Índia e China, o grupo de economias emergentes responde por mais da metade do resultado global...”

O fim da supremacia dos EUA

“Por vários anos, a economia global se parecia com um avião voando com um só motor (...) agora o motor está engasgando. Mas o avião será capaz de manter altitude porque um bom número de motores menores estão entrando em ação...”

Desenvolvimento (in)sustentável ?

“Conforme as economias emergentes mantiverem suas altas taxas de crescimento, se tornarão consumidores maiores de recursos naturais (...) o impacto dessa demanda não será compensado (...) as economias emergentes são usuárias menos eficientes de recursos naturais...”

“(...) grandes aumentos de preços estão coincidindo com grandes colheitas de cereais – situação incomum. A crescente riqueza dos emergentes, está cevando a um maior consumo de carne, com os fornecedores reagindo aumento a produção, o que pressiona o consumo de grãos para alimentar os animais...”

Sistema bancário, para o bem

“O sistema bancário é o centro nervoso do sistema econômico e financeiro. Eu o comparo ao óleo do automóvel. A gente não pensa muito nele. Mas qualquer falha nesse aspecto vai fazer o carro parar (...) e será um risco para seus ocupantes e para os demais veículos se ele parar no meio da estrada...”

Sistema bancário, para o mal

“Foram necessários tomadores de empréstimos tolos, investidores tolos e intermediários espertos, que convenceram os primeiros a pegar emprestado o que não tinham condições de pagar e os últimos, a investir no que não compreendiam.”

Agora, junte a pedras, monte o quebra-cabeça e veja, se são ruídos ou se são sinais...

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Eu, Etiqueta

Continuo no ventre do bicho. Acho que nunca mais sairei dele, até me aposentar. Talvez até intercale com algumas aulas, mas será sempre do ventre deste, que sairá meu sustento. Venho para contar, em sussurro: a torneira está fechada. Mas a miúde, falarei mais...por enquanto é só, deixando a poesia de um, que virou estátua sentada na praia de Ipanema...
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EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio intinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar a minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar, ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
da minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante, mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

Carlos Drummond de Andrade,
O Corpo. Rio de Janeiro, Record, 1984, p.85-87


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Retrospectiva das 10 postagens mais visualizadas (que palavra)

Não tendo nada de novo para contar, faço uso do serviço do blog, de verificação de acessos e visualizações de páginas...

25/12/2008, 9 comentários

786 Visualizações de página









14/05/2010, 3 comentários

408 Visualizações de página









14/03/2010, 2 comentários

327 Visualizações de página









22/06/2008, 2 comentários

247 Visualizações de página









06/09/2009, 3 comentários

148 Visualizações de página









07/10/2009, 1 comentário
117 Visualizações de página










30/04/2010, 2 comentários

94 Visualizações de página









01/03/2010, 7 comentários

88 Visualizações de página









18/04/2010, 1 comentário
81 Visualizações de página










12/06/2008, 1 comentário
70 Visualizações de página