Estávamos jogando bola, futebol de salão no quartel da PM, que generosamente abria suas portas, para as peladas da rapaziada e quando garotos ainda nos deixavam filar uma bóia, quando o Marcelo Massuda veio puxar papo, falou que estava treinando Kung-Fu, estava se amarrando, coisa e tal e que além de toda parte física também havia alguns ensinamentos espirituais, essa coisa assim, meio budista, falou que o tanto que me conhecia que eu iria gostar. Realmente, eu fora fissurado na série Kung-Fu, com o David Carradine, bem novinho, centos anos antes de ser o Bill, do Kill Bill, na época em que ele ainda era o Gafanhoto, jovem aprendiz de monge Shaolin. Ele me falou o dia e a hora e eu fiquei de ir assistir uma aula.
Era uma casa velha, muito velha, na rua nada víamos do que acontecia lá dentro, toquei a campainha, um jovem suado abriu a porta e disse:
- É lá em cima.
Subi as escadas, Marcelo já fazia (o que hoje sei) um aquecimento, outras pessoas, mas ou menos perto das paredes, fazendo movimentos semelhantes, alongando, se esticando e com isso deixavam o centro do cômodo livre, onde um jovem executava graciosos movimentos, sob o olhar atento de Marcos, o professor, em chinês tendo a denominação de Sifu, sei que em português a analogia com “sifudeu” é inevitável, mas fazer o que?
Os movimentos executados eram muito plásticos, circulares, às vezes lembrando um pouco modernos passos de dança; quem viu o belo filme: “O sol da meia-noite” com Barishnikov? Isso me fez ter vontade de rir, pois minha idéia de arte-marcial, era algo com maior virilidade, mas como amigo é amigo, resolvi encarar uma primeira (e gratuita) aula.
Começamos com um aquecimento, dando ênfase no alongamento, muito puxado, onde o corpo já tremia e transpirava, depois passamos a uma etapa de flexões, não as convencionais, mas com as pontas dos dedos, lado invertido da mão e com a ponta dos ossos para calejar, mais tarde saberia o nome, em japonês seiken.
Trago desta época, a lembrança de meu corpo jovem, onde não havia limites para tentar vencê-lo, chutes altos, chutes com saltos giratórios, alongar até abrir as pernas em cento e oitenta graus, mas principalmente, na primeira aula, onde somos colocados na posição de cavalo, ou cavaleiro (em japonês kiba-dachi), as pernas abertas o máximo possível, os pés paralelos, por um tempo que parece não ter fim, onde somos avisados que antes de aprender qualquer técnica, devemos nos fortalecer, que uma árvore não é forte sem raízes fortes, que um prédio não se sustenta sem alicerces fortes e principalmente (isso só depois do primeiro mês), todo este estágio é no intuito de desestimular aqueles que estão ali para aprender a brigar em vez de lutar, um amansa ego, literalmente torrar o saco, fazer desistir quem não estiver imbuído do verdadeiro espírito para conhecer o caminho do guerreiro. Tinha dezesseis e apesar de me desviar do caminho inicial, ou seja o Kung-Fu, estilo Hung-Gar (garra de tigre), seja praticando Karatê Kyokushin, Aikido ou Kenjutsu, bebendo um pouco em cada fonte, onde meu objetivo final nunca foi a graduação de faixa e sim o conhecimento de novas técnicas, aliado ao conhecimento de mim mesmo, trazendo como dito por Funakoshi, os conhecimento do Dôjo para a vida cotidiana, pois só assim dão frutos. Sei que não teria andado tanto pelo caminho do combate (literalmente muito soco, chute e porrada na cara) se não fosse aquela primeira aula, onde eu quase ri, com os movimentos do jovem shaolin.
Era uma casa velha, muito velha, na rua nada víamos do que acontecia lá dentro, toquei a campainha, um jovem suado abriu a porta e disse:
- É lá em cima.
Subi as escadas, Marcelo já fazia (o que hoje sei) um aquecimento, outras pessoas, mas ou menos perto das paredes, fazendo movimentos semelhantes, alongando, se esticando e com isso deixavam o centro do cômodo livre, onde um jovem executava graciosos movimentos, sob o olhar atento de Marcos, o professor, em chinês tendo a denominação de Sifu, sei que em português a analogia com “sifudeu” é inevitável, mas fazer o que?
Os movimentos executados eram muito plásticos, circulares, às vezes lembrando um pouco modernos passos de dança; quem viu o belo filme: “O sol da meia-noite” com Barishnikov? Isso me fez ter vontade de rir, pois minha idéia de arte-marcial, era algo com maior virilidade, mas como amigo é amigo, resolvi encarar uma primeira (e gratuita) aula.
Começamos com um aquecimento, dando ênfase no alongamento, muito puxado, onde o corpo já tremia e transpirava, depois passamos a uma etapa de flexões, não as convencionais, mas com as pontas dos dedos, lado invertido da mão e com a ponta dos ossos para calejar, mais tarde saberia o nome, em japonês seiken.
Trago desta época, a lembrança de meu corpo jovem, onde não havia limites para tentar vencê-lo, chutes altos, chutes com saltos giratórios, alongar até abrir as pernas em cento e oitenta graus, mas principalmente, na primeira aula, onde somos colocados na posição de cavalo, ou cavaleiro (em japonês kiba-dachi), as pernas abertas o máximo possível, os pés paralelos, por um tempo que parece não ter fim, onde somos avisados que antes de aprender qualquer técnica, devemos nos fortalecer, que uma árvore não é forte sem raízes fortes, que um prédio não se sustenta sem alicerces fortes e principalmente (isso só depois do primeiro mês), todo este estágio é no intuito de desestimular aqueles que estão ali para aprender a brigar em vez de lutar, um amansa ego, literalmente torrar o saco, fazer desistir quem não estiver imbuído do verdadeiro espírito para conhecer o caminho do guerreiro. Tinha dezesseis e apesar de me desviar do caminho inicial, ou seja o Kung-Fu, estilo Hung-Gar (garra de tigre), seja praticando Karatê Kyokushin, Aikido ou Kenjutsu, bebendo um pouco em cada fonte, onde meu objetivo final nunca foi a graduação de faixa e sim o conhecimento de novas técnicas, aliado ao conhecimento de mim mesmo, trazendo como dito por Funakoshi, os conhecimento do Dôjo para a vida cotidiana, pois só assim dão frutos. Sei que não teria andado tanto pelo caminho do combate (literalmente muito soco, chute e porrada na cara) se não fosse aquela primeira aula, onde eu quase ri, com os movimentos do jovem shaolin.
2 comentários:
particularmente, sempre gostei mais do judô. Tanto pra mim qto pro meu filho - que chegou a ser campeão estadual na adolescência e depois se encantou pelas porradas, chutes e socos...rs
uma pergunta que não cala: vc é japonês ou descendente?
curiosa né? rs...
beijo!!
"Sou brasileiro de estatura mediana..." (Edu Lobo) heheh
O japão, é só uma vontade de visitar...A verdade é que acabei lutador, por ser ruim de bola, hehehe...
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