domingo, 22 de junho de 2008

Quai Chang Caine

Estávamos jogando bola, futebol de salão no quartel da PM, que generosamente abria suas portas, para as peladas da rapaziada e quando garotos ainda nos deixavam filar uma bóia, quando o Marcelo Massuda veio puxar papo, falou que estava treinando Kung-Fu, estava se amarrando, coisa e tal e que além de toda parte física também havia alguns ensinamentos espirituais, essa coisa assim, meio budista, falou que o tanto que me conhecia que eu iria gostar. Realmente, eu fora fissurado na série Kung-Fu, com o David Carradine, bem novinho, centos anos antes de ser o Bill, do Kill Bill, na época em que ele ainda era o Gafanhoto, jovem aprendiz de monge Shaolin. Ele me falou o dia e a hora e eu fiquei de ir assistir uma aula.
Era uma casa velha, muito velha, na rua nada víamos do que acontecia lá dentro, toquei a campainha, um jovem suado abriu a porta e disse:
- É lá em cima.
Subi as escadas, Marcelo já fazia (o que hoje sei) um aquecimento, outras pessoas, mas ou menos perto das paredes, fazendo movimentos semelhantes, alongando, se esticando e com isso deixavam o centro do cômodo livre, onde um jovem executava graciosos movimentos, sob o olhar atento de Marcos, o professor, em chinês tendo a denominação de Sifu, sei que em português a analogia com “sifudeu” é inevitável, mas fazer o que?
Os movimentos executados eram muito plásticos, circulares, às vezes lembrando um pouco modernos passos de dança; quem viu o belo filme: “O sol da meia-noite” com Barishnikov? Isso me fez ter vontade de rir, pois minha idéia de arte-marcial, era algo com maior virilidade, mas como amigo é amigo, resolvi encarar uma primeira (e gratuita) aula.
Começamos com um aquecimento, dando ênfase no alongamento, muito puxado, onde o corpo já tremia e transpirava, depois passamos a uma etapa de flexões, não as convencionais, mas com as pontas dos dedos, lado invertido da mão e com a ponta dos ossos para calejar, mais tarde saberia o nome, em japonês seiken.
Trago desta época, a lembrança de meu corpo jovem, onde não havia limites para tentar vencê-lo, chutes altos, chutes com saltos giratórios, alongar até abrir as pernas em cento e oitenta graus, mas principalmente, na primeira aula, onde somos colocados na posição de cavalo, ou cavaleiro (em japonês kiba-dachi), as pernas abertas o máximo possível, os pés paralelos, por um tempo que parece não ter fim, onde somos avisados que antes de aprender qualquer técnica, devemos nos fortalecer, que uma árvore não é forte sem raízes fortes, que um prédio não se sustenta sem alicerces fortes e principalmente (isso só depois do primeiro mês), todo este estágio é no intuito de desestimular aqueles que estão ali para aprender a brigar em vez de lutar, um amansa ego, literalmente torrar o saco, fazer desistir quem não estiver imbuído do verdadeiro espírito para conhecer o caminho do guerreiro. Tinha dezesseis e apesar de me desviar do caminho inicial, ou seja o Kung-Fu, estilo Hung-Gar (garra de tigre), seja praticando Karatê Kyokushin, Aikido ou Kenjutsu, bebendo um pouco em cada fonte, onde meu objetivo final nunca foi a graduação de faixa e sim o conhecimento de novas técnicas, aliado ao conhecimento de mim mesmo, trazendo como dito por Funakoshi, os conhecimento do Dôjo para a vida cotidiana, pois só assim dão frutos. Sei que não teria andado tanto pelo caminho do combate (literalmente muito soco, chute e porrada na cara) se não fosse aquela primeira aula, onde eu quase ri, com os movimentos do jovem shaolin.

2 comentários:

Anônimo disse...

particularmente, sempre gostei mais do judô. Tanto pra mim qto pro meu filho - que chegou a ser campeão estadual na adolescência e depois se encantou pelas porradas, chutes e socos...rs
uma pergunta que não cala: vc é japonês ou descendente?
curiosa né? rs...
beijo!!

Renato Couto disse...

"Sou brasileiro de estatura mediana..." (Edu Lobo) heheh
O japão, é só uma vontade de visitar...A verdade é que acabei lutador, por ser ruim de bola, hehehe...