sábado, 12 de julho de 2008

NÃO HÁ VAGAS - Ferreira Gullar

Hoje, estava programando três coisas, para analisar e postar no blog, ler o relatório do IPEA (um estudo sobre erros de previsão) , dar uma "marretada" na entrevista que o Professor Edmar Bacha, economista dos Planos Cruzado e Real, deu ao jornal Folha de São Paulo em 07/07, identificando que a causa principal da inflação estar rondando nosso quintal, seria o excesso de demanda interna, porém o ilustre professor não menciona um pingo, quanto mais uma palavra, sobre a influência dos juros cobrados pelos bancos...E "colocar lenha na fogueira", na troca de postagens com o Professor Toni, em seu ótimo blog:

Mas olhando minha estante, vi um livro amarelo, não pelo tempo, mas somente a cor da capa e dele prefiro trazer este poema:

NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira

Ferreira Gullar

4 comentários:

Anônimo disse...

A troca foi perfeita: meu ganho particular foi trocentas vezes maior. Fazia tempo eu não lia Ferreira Gullar e agora me dou conta do pecado que estive cometendo.
Beijo

Renato Couto disse...

Loba:
O bom de Gullar, entre outras qualidades, é o trânsito fácil, entre vários estilos, todos fazendo de forma primorosa.

Prof Toni disse...

Belo achado! Linkei seu blog nos meus favoritos...

Renato Couto disse...

Prof:
Obrigado, "linkando" também, valeu...